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PB – Língua de Sujeito Nulo Parcial

7 ENCAIXAMENTO DA COMPLEMENTAÇÃO CP NO SISTEMA LINGUÍSTICO E

7.1 PB – Língua de Sujeito Nulo Parcial

Uma série de estudos (TARALLO, 1993; DUARTE, 1993, 1995; DUARTE et al, 2012; GALVES, 1993, entre outros) têm demonstrado que o PB está passando por um processo de mudança em sua gramática proveniente de alteração na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo, passando de uma Língua de Sujeito Nulo para uma Língua de Sujeito Preenchido. Nesse estágio intermediário88, é considerado que as línguas carreguem traços de Língua de Sujeito Nulo Parcial. Dessa forma, Kato (1999, 2000, 2009); Holmberg, Nayudu e Sheehan (2009); Biberauer et al (2010) e Kato e Duarte (2014) analisam o PB como Língua

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Remeto o leitor aos estudos de Walkden (2012, 2013) Walkden e Breitbarth (2014). Walkden (2012) mostra que, no ciclo linguístico do sujeito nulo, há três estágios: no primeiro, os pronomes sujeitos são gramaticalizados como marcadores de concordância. No segundo estágio, esses marcadores são reforçados por novos pronomes sujeitos e já no terceiro estágio os marcadores são perdidos e os pronomes se tornam obrigatórios. O sujeito nulo parcial se encontra entre o segundo e o terceiro estágio. Isso demonstra que a Língua de Sujeito Nulo Parcial ocupa, na verdade, uma posição de transição.

de Sujeito Nulo Parcial (doravante LSNP), por apresentar traços de Língua de Sujeito Nulo em co-ocorrência com traços de Língua de Sujeito Não Nulo.

Esse processo de mudança paramétrica se relaciona ao surgimento de novas formas de preenchimento de Spec de TP, novas formas de preenchimento da posição de sujeito, tal como evidenciado por Roberts e Holmberg (2010), Kato (1999, 2000) Buthers (2009), Buthers e Duarte (2012), Avelar e Galves (2011).

Kato defende a ideia de que o PB está passando por uma mudança em progresso em relação ao sujeito nulo e à inversão livre. Em relação à inversão livre, os fatos são constatados por Andrade Berlinck (1989, 1995) em que é mostrado o processo de perda da ordem VS em PB, sendo que esta ordem se mantém resistente apenas com verbos de cópula ou verbos inacusativos. Vale ressaltar, no entanto, que esses tipos de verbos ocorrem em pequeno número em PB, o que, quantitativamente, significa um pequeno número de atualização da ordem VS.

Em relação ao empobrecimento do paradigma flexional, Kato traz à baila constatações de Duarte (1993, 1995) e de Galves (1993). A primeira autora indica que esse enfraquecimento é acionado pela substituição do pronome de segunda pessoa “tu” pelo pronome “você”, o qual estabelece concordância em terceira pessoa. Os estudos de Duarte mostram que o sujeito pronominal de primeira pessoa se apresenta o mais frequentemente preenchido, embora fora do que é esperado por se tratar de termo marcado morfologicamente; seguido dos de segunda pessoa, enquanto os sujeitos pronominais de terceira pessoa apresentam-se com frequência estável.

Galves, por sua vez, mostra que esse fato fez o PB enfraquecer AGR, tornando-o [-pessoa] e transformou T em uma categoria sincrética (T + AGR), característica de língua com concordância fraca. A partir disso, Kato (1999) propõe que a flexão de concordância é o núcleo de um DP, o qual merge com o verbo funcionando como argumento desse verbo.

Kato (1999) aponta também mudanças em PB em relação à perda do sujeito nulo referencial e a substituição do sistema de concordância pronominal pelo pronome nominativo fraco como sujeito gramatical. Em relação à resistência dos sujeitos pronominais de terceira pessoa em continuarem nulos, tal fenômeno é explicado a partir da proposta de existência de um expletivo nulo, afixo neutro, não argumental.

A perda da inversão ou o aparecimento de um processo de ordem mais rígida SVO pode ser explicada, segundo Kato (1999), da seguinte maneira: a categoria de concordância não é mais analisada como [+ pronominal], não pode aparecer como item independente na numeração, vem afixada ao verbo. Os pronomes nominativos fracos e os DPs

plenos podem valorar Caso e traços phi de V+T. Para tanto, os pronomes sujeitos fracos requerem a projeção de TP, traços fortes de D em T, resultando assim na ordem SVO. A obrigatoriedade de projeção de Spec de TP resulta da existência dos pronomes fracos livres, sejam eles pronominais ou locativos. Segundo a autora, língua de sujeito nulo não apresenta essas formas fracas, logo não projeta Spec de TP.

Buthers e Duarte (2012), por sua vez, mostram que LSNP licenciam sujeitos foneticamente nulos, opcionalmente nulos e obrigatoriamente preenchidos a depender do contexto. Esses autores assumem que o acionamento do Parâmetro do Sujeito Nulo está diretamente relacionado com a natureza dos traços [uD] e [uP]89 do núcleo Tº. Esses autores acompanham a proposta de Holmberg (2000) e assumem que AGR relaciona apenas com a valoração do traço [uD] e que o traço [uP] é o responsável por engatilhar o mecanismo de preenchimento de Spec-TP. A proposta é fatorar o EPP nesses dois traços, de forma que a variação entre as línguas, no que diz respeito à satisfação de EPP e ao licenciamento de sujeitos nulos ou não, dependerá de como essas línguas se comportam com os traços citados.

A natureza dos traços [uD] e [uP] do núcleo Tº permite aos autores classificar o PB contemporâneo como uma LSNP. É demonstrado que o PB projeta Spec-TP preenchido, mesmo em contextos considerados como de sujeito nulo obrigatório, conforme os exemplos a seguir.

(1) A chuva tá chovendo forte. Ela chove sem parar.90 (2) A chuva tá chovendo grossa.

(3) Este dia choveu muito. (4) Aqui neva sempre.

Constatou-se que diferentes estratégias são utilizadas para o preenchimento de Spec-TP. Isso se deve ao fato de o PB não ter ainda especializado itens específicos para tal função. Como o preenchimento do sujeito está relacionado ao traço [uP] e, por esse traço ser apenas fonético, é permitido que XPs de natureza semântica variada possam ser inseridos nessa posição.

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Para explicações detalhadas sobre esses traços, remeto o leitor aos textos: Buthers (2009) e Buthers e Duarte (2012).

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Diante disso, os autores interpretam que o PB contemporâneo tem utilizado novas estratégias para a valoração do traço EPP. A mudança paramétrica que o PB contemporâneo exibe ocorre em relação ao traço [uP] que passa a comportar-se como um traço forte.

O núcleo Tº passa a apresentar o traço [uP] forte, o qual precisa ser valorado na sintaxe estrita em construções que não mais apresentam a opcionalidade do sujeito nulo, diferentemente do que ocorre no PB não contemporâneo. (BUTHERS e DUARTE, 2012, p.86)

Por considerar que mudanças paramétricas são encaixadas no sistema linguístico, o fato de o PB exibir o núcleo Tº com o traço [uP] forte gerará efeitos colaterais na gramática dessa língua. Dessa forma, essas alterações em Spec-TP nas sentenças em PB são ecoadas para as construções causativas em que o núcleo causativo faz uma seleção de complemento sentencial, CP. Dessa forma, o contexto para a seleção CP é estabelecido. Diante disso, apresento, a seguir, os efeitos da remarcação paramétrica citada na sintaxe do PB.