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vº CAUSE – Seleção de TP defectivo

4.2 VoiceP – O Lugar do Argumento Externo

4.2.3 Ampliação da Proposta de Pylkkänen (2002, 2008)

4.2.3.1 vº CAUSE – Seleção de TP defectivo

É recorrente, entre os estudos que analisam estruturas causativas na Língua Portuguesa (variedade europeia ou brasileira), a evidência de que essas estruturas também se configuram em ECM (Marcação Excepcional de Caso). Desde Chomsky (1981), é considerado que estrutura ECM projeta TP defectivo, uma vez que o verbo da matriz é incapaz de atribuir caso ao elemento sujeito no domínio encaixado.

Chomsky (2001, 2008) assume que a derivação se processa de forma cíclica por fases. Segundo essa teoria, são fases CPs, v*Ps e DPs, já TP não é fase. Como anteriormente mostrado, Pylkkänen (2002, 2008) constata que o núcleo causativo pode selecionar raiz, VP e vP fásico. O desafio que se impõe é a necessidade de assumir que o núcleo causativo seleciona também como complemento uma projeção intermediária entre CP e a primeira fase, ou seja, TP defectivo. Esse contexto, além do PB a ser explanado adiante, é constatado também em outras línguas em que o núcleo causativo se configura em ECM, tal como PE, Espanhol, Udmurt59. Vejamos os exemplos a seguir:

(32) Em PE – exemplo de Gonçalves (1999), anteriormente citado a. O professor mandou [ TP os meninos sair].

b. O professor mandou-os sair.

No Português Europeu, o exemplo (32) mostra que o termo sujeito do infinitivo (os meninos) verifica Caso Acusativo com o verbo mandar no domínio superior. A sentença encaixada é uma projeção reduzida - um TP defectivo, (cf. CHOMSKY, 1986, 1995, 2004 GONÇALVES, 1999; WURMBRAND, 2001).

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Blanco (2010) demonstra que causativas analíticas com make em inglês também apresentam complemento sentencial.

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Udmurt é uma língua minoritária originária da família de língua Uralic, é falada na região Volga-Kama da Federação Russa. As línguas relacionadas mais próximas são Komi e o Komi-Permyak. (ORSOLYA, 2015).

Em Espanhol, contexto similar é observado. O núcleo causativo é complementado por uma estrutura ECM. Nessa configuração, o DP interpretado como causado/sujeito lógico recebe Caso na relação com o ‘vP’ da matriz, conforme indicado a seguir.

(33) Juan la hizo [rechazar el premio]

Juan 3SF.ACC=made reject.INF the prize ‘Juan made her reject the prize.’

‘Juan a fez recusar o prêmio.’

Na Língua Udmurt, o núcleo causativo também seleciona complementação ECM, envolvendo um TP encaixado, segundo Orsoyla (2015). O autor evidencia que a categoria é TP a partir do diagnóstico que mostra o licenciamento de um modificador temporal na cláusula encaixada, conforme demonstrado no exemplo (34) a seguir.

(34) Sasha Masahjez chukaze bibliotekaje vetlyny kosiz. Саша Машаез ӵуказе библиотекае ветлыны косӥз. Sasha.NOM Masha.ACC tomorrow library.ILL go.INF order.PST.3SG ‘Sasha ordered Masha to go to the library tomorrow.’

‘Sasha fez Masha ir à biblioteca amanhã.’

A descrição realizada por Trannin (2010), sobre o Português Clássico, mostra que a estrutura causativa ECM é bioracional, o causado ocorre em posição intermediária entre o verbo causativo e o verbo infinitivo; ocorre a marcação excepcional de caso acusativo ao causado pelo verbo matriz e subida de clítico causado obrigatória para o domínio mais alto. O domínio infinitivo encaixado licencia negação frásica e clíticos complementos. Essa estrutura permanece no PB e é exemplificada, com dados do PB, em (35), a seguir.

(35) Henrique – Protesto, meus senhores. Deixem-me falar, em nome da lei e das garantias do cidadão. (100-7-A)

Diante da assumpção de que o núcleo causativo seleciona um complemento com projeção da Categoria TP incompleto, aplico os diagnósticos60 de licenciamento da negação e

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Guasti (1993) comprova a partir do não licenciamento de negação, de advérbios de tempo e do auxiliar perfectivo ‘avere’ que as causativas, em Italiano, não selecionam TP como complemento.

de advérbios de tempo na estrutura encaixada. Esses diagnósticos foram inspirados pelo trabalho de Guasti (1993), para o Italiano. Considero aqui o PB contemporâneo.

(36) NEGAÇÃO

a) A mãe fez [TP o menino não gritar mais com a avó.]

b) A mãe deixou [TP o filho não ir à escola somente ontem]. Hoje ele deveria ter ido.

c) A professora mandou [TP o aluno não repetir tal gesto.]

(37) MODIFICADOR TEMPORAL

a) O professor mandou-nos ontem [TP apresentar dois textos na próxima semana.]

b) A mãe fez [TP os meninos organizar o quarto no dia seguinte.]

c) O pai deixou [TP as filhas ir à festa amanhã.]

As sentenças em (36) demonstram que a negação se aplica apenas ao evento causado de forma independente do evento da matriz. Da mesma forma, nos exemplos em (37) os modificadores temporais se relacionam apenas ao evento causado, ou seja, ao domínio encaixado. Essa interpretação indica a existência de uma camada TP na estrutura que complementa o núcleo causativo.

Diferentemente do Português, para Guasti (1993), as causativas em Italiano não apresentam estrutura ECM e também não são complementadas por uma projeção TP, como se pode notar na exemplificação61 a seguir.

(38) a. ?*Ció ha fatto non parlare (piú) Maria. That has made not speak (anymore) Mary ‘That made Maria not speak anymore’ ‘Isso tem feito Maria não mais falar’.

b. *Marco fara aver pulito le toilette al generale

Marco make (FUT) have cleaned the toilet to the general ‘Marco will make the general have cleaned the toilet.’ ‘Marco fará o general ter limpado o banheiro’.

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c. #Ieri Marco ha fatto pulire le toilette al generale oggi

yesterday Marco has made cleaned the toilet to the general today ‘Yesterday Marco made the general clean the toilet today.’ ‘Ontem Marco fez o general limpar o banheiro hoje’. (Guasti 1993)

De acordo com Blanco (2011), diante da constatação dos exemplos em (38) da impossibilidade de licenciar a negação, o auxiliar perfectivo e modificadores adverbiais evidenciam que as causativas em Italiano não aceitam uma complementação TP.

Retornando ao fato de que as línguas podem apresentar uma complementação TP ao verbo leve causativo, tal como o PB, apresento a estrutura argumental dessa construção, tendo por base o exemplo a seguir.

(39) Fizeste mal em deixá-lo entrar, mas agora é preciso salvá-lo. (13-1-A-)

No exemplo arrolado acima, o núcleo vºCAUSE seleciona uma sentença com o

núcleo Tº defectivo, incapaz de verificar caso estrutural do DP que se aloca em seu especificador. Além disso, apresenta um argumento que ocupa Spec-TP com caso Acusativo, preenche, assim, a posição de sujeito gramatical e indica que VoiceP pode ser projetado na estrutura.

Em relação à projeção de VoiceP nessa estrutura, isso vai depender do estatuto do verbo infinitivo encaixado. Se esse verbo for transitivo ou inergativo, ambos podem projetar argumento externo e assim projetar posição para esse argumento introduzido por VoiceP. Se tal verbo for inacusativo, o núcleo Voiceº não será projetado. Dessa forma, assumo as seguintes representações sintáticas para a construção causativa em que o núcleo vºCAUSE

CAUSE SELECIONA TP – PRESENÇA DE VOICEP

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CAUSE SELECIONA TP –AUSÊNCIA DE VOICEP

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