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Parâmetro c-selecão de vºcause

4.2 VoiceP – O Lugar do Argumento Externo

4.2.2 Parâmetro c-selecão de vºcause

Como anteriormente mostrado, o núcleo vºCAUSE pode selecionar como seu

complemento, (PYLKKÄNEN, 2008): I. uma raiz de categoria neutra (i.e. √);

II. um sintagma verbal sem argumento externo (i.e. vP);

III. um vP fásico com argumento externo56.

A seleção de cada tipo de complemento acima mostrado depende das propriedades que ele apresenta. Nesse sentido, a autora descreve as propriedades de cada complemento (Quadro 5) a partir de diagnósticos sintáticos e morfológicos, como traduzido por Camargos, (2013).

Quadro 5 - Propriedades que Predizem os Complementos de voCAUSE

DIAGNÓSTICOS SELEÇÃO

DE RAIZ √ SELEÇÃO DE vP

SELEÇÃO DE

vP FÁSICO

a. Permite modificação adverbial de vP abaixo de voCAUSE? Não Sim Sim

b. Permite morfologia verbal entre voCAUSE e a raiz √? Não Sim Sim

c. Permite modificação adverbial orientada para agente abaixo de vo CAUSE?

Não Não Sim

d. Permite morfologia de aplicativo alto entre vo CAUSE e a

raiz √? Não Não Sim

Fonte: PYLKKÄNEN, 2008, p. 106

No entanto, a análise dos dados da presente pesquisa mostra que a predição de Pylkkänen(2008) não está totalmente correta. Veremos adiante que a ampliação dessa proposta é necessária para contemplar línguas em que o núcleo causativo seleciona categorias mais completas que o vP fásico. Passo a apresentar agora as propriedades da estrutura em que

CAUSE seleciona uma raiz √.

56

De acordo com Pylkkänen, uma fase é uma estrutura que deve hospedar um argumento externo ou um argumento aplicado alto.

4.2.2.1 vºCAUSE– Seleção de Raiz √

Esse tipo de estrutura encaixa uma raiz acategorial diretamente ao verbo e não permite os seguintes contextos: a modificação do evento causado por elemento orientado ao agente; morfema de aplicativo alto entre a raiz e o núcleo vºCAUSE; interveniência de elemento

verbal entre a raiz e o núcleo vºCAUSE e nem que elemento adverbial modifique o evento

causado. Para a autora, essa estrutura apresenta o formato em (21):

(21) vºCAUSE SELECIONA UMA RAIZ

A autora mostra que as causativas lexicais japonesas, que têm a interpretação de adversidade como traço distintivo das causativas produtivas, selecionam raiz. Portanto, não licenciam sintagma adverbial modificador do evento causado. Se isso ocorre, a interpretação de adversidade é perdida, conforme o exemplo em (22). Neste exemplo, o modificador

isagiyoku (bravamente) é o responsável pela mudança estrutural.

(22) Taroo-ga musuko-o isagiyoku sin-ase-ta.

Taro-NOM filho-ACC bravamente morrer-CAUSE-PAST a. ‘Taro corajosamente fez seu filho morrer.’

b. * “Alguma coisa fez Taro ser negativamente afetado por seu filho morrer corajosamente. (PYLKKÄNEN, 2008, p. 108)

A mesma situação ocorre, se qualquer elemento verbal estiver interveniente entre a raiz e o núcleo vºCAUSE. No exemplo em (23), o termo taku está entre a raiz sini e o morfema

causativo {-sase}.

(23) Taroo-ga musuko-o sini-taku-sase-ta. Taro-NOM filho-ACC morrer-des-CAUS-PAST a. ‘Taro fez seu filho querer morrer .’

b. *‘Taro foi negativamete afetado por seu filho querer morrer.’ (adversidade) (PYLKKÄNEN, 2008, p. 109)

Pylkkänen mostra que esse tipo de interveniência não é permitido, de forma geral, na língua Japonesa. Nesse sentido, é explicado que os verbos intransitivos e transitivos, nos exemplos (24) e (25), fazem parte da classe de alternância –e/-as em Kogeru/ kogasu

`queimar (intr.) / queimar (trans.), em que a forma intransitiva do verbo é derivada com o

acréscimo de –e à raiz e a forma transitiva, de –as. Como esse elemento –e é morfologia verbal e define a categoria como verbo e ainda está interveniente entre a raiz e vºCAUSE, a

estrutura causativa não pode ser considerada como vºCAUSE que seleciona raiz.

Assim, tem-se em (24 a) causativa que não seleciona raiz, na verdade seleciona um vP e a leitura adversativa falha e em (24b) apresenta-se a derivação do verbo intransitivo

Kogeru, no qual o núcleo vºCAUSE não tem uma relação local com a raiz kog. Em (25a) tem-se

causativa que seleciona raiz e em (25b) apresenta-se a derivação do verbo transitivo Kogasu com relação local entre vºCAUSE e a raiz kog.

vOCAUSESELECIONA UM vP

(24a) Taroo-wa niku-o kog-e-sase-ta Taro-TOP carne-ACC queimar-CAUS-PAST

(i) “Taro queimou a carne”

(ii) * “A carne foi queimada em detrimento de Taro” (leitura adversativa) (24b)

vOCAUSESELECIONA UMA RAIZ √

(25a) Taroo-wa niku-o kog-asi-ta

Taro-TOP carne-ACC queimar-CAUS-PAST

(i) “Taro queimou a carne”

(25b)

Pylkkänen (2008, p.109)

Conforme observado por Blanco (2010), essa alternância estrutural e de sentido demonstra que o vPCAUSE pode projetar configurações sintáticas de diferentes tipos, mesmo

dentro de uma única língua, e cada configuração impõe restrições sintáticas e de interpretação. Essa é uma das ideias a ser seguida no desenrolar desta investigação.

4.2.2.2 vºCAUSE– Seleção de VP Não Fásico

Esse tipo de estrutura seleciona um vP como complemento, permitindo a interveniência de elemento verbal entre a raiz e o núcleo vºCAUSE e modificação do evento

causado por item adverbial não agentivo. Essa estrutura não aceita morfologia de introdutor de argumento externo dentro da causativa. Pylkkänen (2008) propõe o formato (26) para essa estrutura.

(26)

Pylkkänen (2008, p.105)

A sentença causativa na língua Bemba seleciona vP, evidenciado por aceitar morfologia verbal entre o afixo causativo {ya} e a raiz; por aceitar advérbios de modo não agentivos no escopo mais baixo e não aceitar advérbios agentivos, em (27a, b) e por não aceitar aplicativo alto abaixo de voCAUSE, exemplificado em (28). Como o caso benefactivo em

Bemba é um aplicativo alto, ele combina com verbo inergativo e assim esse aplicativo apresenta escopo alto.

(27 a) Naa-butwiish-ya Mwape ulubilo. eu. PAST -correr- CAUS Mwape rapidamente (i) ‘Eu fiz Mwape correr rapidamente.’

(ii) *‘Eu rapidamente fiz Mwape correr.’ (Givón 1976, 343, (120))

(27b) Naa-mu-fuund-ishya uku-laanda iciBemba ku-mufulo eu.PAST-ele-aprender-CAUS INFIN-falar Bemba de-propósito

(i) * “Eu fiz ele de propósito aprender a falar Bemba” (ii) “Eu, de propósito, fiz ele aprender a falar Bemba”

(Givón 1976, 329, (18))

(28) *Naa-tem-en-eshya Mwape Mutumba iciimuti. eu. PAST -cortar-BEN- CAUS Mwape Mutumba vara ‘Eu fiz Mwape cortar uma vara para Mutumba.’

(Givón 1976, 345, (136)57

4.2.2.3 vºCAUSE– Seleção de vP Fásico

Esse tipo de estrutura seleciona um vP fásico, ou seja, uma estrutura hospeda um argumento externo ou um argumento aplicado alto. As demais restrições vistas para as causativas que selecionam raiz ou verbo não se aplicam às que selecionam vP fásico. Pylkkänen (2008) propõe o formato (29) para essa estrutura.

(29)

Pylkkänen (2008, p.105)

As evidências partem das línguas Bantu: Venda e Luganda. O morfema causativo {- is} em Venda e o morfema {-sa-} em Luganda aceitam afixo verbal entre esses afixos e a raiz. Essas línguas aceitam também aplicativo alto entre o núcleo causativo e a raiz, conforme exemplificado em (30). Como a posição alta já está preenchida, consequentemente, advérbio de modificação agentiva terá o escopo baixo, como exemplificado em (31).

(30a) Língua: Venda

a. -tshimbila ‘caminhar’

b. -tshimbi-dz-a ‘fazer caminhar’ CAUSE

c. -tshimbil-el-a ‘caminhar para’ APPL

d. -tshimbil-e-dz-a ‘fazer [caminhar para]’ APPL-CAUSE

57

(30b) Língua: Luganda

a. -tambula- ‘caminhar’

b. -tambu-za- ‘fazer caminhar’ CAUSE

c. -tambul-ir-a- ‘caminhar para’ APPL

d. -tambul-i-z-a- ‘fazer [caminhar para]’ APPL-CAUSE (31) Língua: Luganda

Omusomesa ya-wandi-s-a Katonga ne obu nyikivu. teacher 3sg.PAST-escrever-CAUS-fv Katonga com dedicação ‘A professor fez Katonga [escrever com dedicação].’

Pylkkänen (2008, p.119)