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O lócus escolhido para investigação foi uma empresa privada do setor industrial, localizada no Pólo Petroquímico de Camaçari, município de Camaçari, no Estado da Bahia, pertencente a um grupo nacional de empresas com atividades

industriais diversificadas. Exporta sua produção para outros países do Mercosul, Europa, Ásia e América do Norte, sendo 60% vendidos no Brasil e Mercosul e 40% para os demais.

Trata-se de empresa de sociedade anônima de capital aberto, brasileira, construída em 1979, categorizada como de grande porte tanto pelo seu número de trabalhadores – em torno de mil e oitocentas pessoas, sendo mais de 900 efetivos e mais de 800, terceirizados34 – quanto por sua Receita Bruta anual, acima de um bilhão de reais.

Considerou-se esta empresa como indicada aos objetivos deste estudo por desenvolver projetos na área de Responsabilidade Social Empresarial dentro da filosofia do Instituto ETHOS e por envolver seus trabalhadores ativamente em um destes projetos, o qual está dirigido à prestação de serviços para as comunidades circunvizinhas.

A empresa torna pública a crença em sua função social e sua preocupação com a educação e a cidadania, tendo obtido prêmios ambientais (2002, 2003) e de cidadania corporativa (2002). Informa estar atenta às demandas sociais vindas da comunidade e empenhada, há vinte anos, em melhorar a qualidade de vida da população das cidades vizinhas, com projetos de voluntariado e incentivo ao exercício da cidadania para os trabalhadores, bem como projeto de apoio às necessidades das comunidades na área de educação, saúde e outros que são patrocinados pela empresa e implementados em parcerias com as prefeituras dos municípios e participação dos cidadãos atendidos.

Em seu Balanço Social de 2004, a empresa explicita, resumidamente, as posturas e formas de relacionamento reunidas no Código de Ética e Conduta, as quais descrevem os comportamentos e as atitudes que devem ser observados por todos os empregados nas relações com os demais colegas, fornecedores, parceiros e clientes. Ainda nesse documento define a concepção de ética, presente no código: “se baseia na liberdade de cada um, fundamentada no respeito aos direitos e à liberdade de seu semelhante”, assim como o que é entendido como ética na empresa:

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Desde 2004, a empresa iniciou processo que chama “primeirização” da força de trabalho terceirizada da área de informática, passando os trabalhadores deste setor a serem incorporados ao quadro de efetivos da organização.

“[...] deve refletir a promoção e a defesa do bem comum, fazendo parte, de forma efetiva, das atitudes e comportamentos das pessoas, até o ponto de tornar-se parte das crenças pessoais de cada um” [...] (35)

Os projetos em Responsabilidade Social descritos pela empresa são: ƒ Programa de Apoio à Comunidade

Visa ao desenvolvimento das comunidades localizadas em seu entorno, através da implementação de projetos de apoio comunitário nas áreas de saúde, educação, realizados após pesquisas de levantamento de expectativas e de necessidades junto aos grupos beneficiados.

As ações realizadas pela empresa incluem a construção de escolas para três municípios vizinhos, sendo mantido beneficiamento até os dias atuais através da oferta de materiais para os alunos e patrocínio de reformas estruturais nestas unidades escolares.

ƒ Programa de Voluntariado

Programa coordenado pela empresa para incentivo à participação dos funcionários em atividades de voluntariado em prol de instituições públicas e instituições nos municípios vizinhos à organização e em instituições da cidade de Salvador. A empresa identifica como responsabilidade do setor da empresa que coordena o programa, as seguintes ações:

[...] 1. Criar mecanismos para estimular os empregados da (nome da empresa), empregados de terceiros e as contratadas a se integrarem a essa prática; 2. Cadastrar os voluntários da (nome da empresa), identificando habilidades pessoais e profissionais; 3. Identificar e cadastrar as oportunidades, especialidades e carências nas comunidades; 4. Promover / estimular o “entrelaçamento” entre os dois cadastros anteriores; 5. Desenvolver ambiente propício à sinergia, apoiar, patrocinar, etc, todos os projetos sociais “gerados” pelos citados entrelaçamentos; 6. Orientar os voluntários para melhor realizar as atividades e sempre solicitar a divulgação do nome da Empresa quando de execução das ações.[...] (FOLDER DA EMPRESA DE DIVULGAÇÃO DO PROGRAMA)

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Embora esteja entre aspas e tenha sido retirado de material de divulgação da empresa, assim como outras informações também retiradas de material de divulgação da empresa presentes neste estudo, não será feita citação da fonte devido ao compromisso firmado entre esta pesquisadora e a empresa para total sigilo quanto ao nome e aspectos da empresa que eventualmente venham a colaborar para identificá-la publicamente.

A organização informa, em material de divulgação do Programa, que este se apóia na Lei de Voluntariado de 18/02/1998, a qual dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. Registra-se aqui parte do texto da Lei:

[...]Art. 1º – Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física, entidade pública de qual natureza ou instituição privada de fins lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.

Parágrafo único – O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Art. 2º – O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições do seu exercício [...] (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1998).

Hoje, aproximadamente, cem colaboradores participam de ações voluntárias em creches, asilos e escolas com atividades que vão desde a captação de recursos à docência para crianças, organização de festas e de campanhas de arrecadação de donativos e brinquedos.

Algumas ações têm apoio financeiro da empresa, além de disponibilização de estrutura para organização dos eventos (instalações; materiais, profissionais em horário de trabalho dentro da empresa).

Segundo material de divulgação da própria organização, esse Programa tem por objetivo o estímulo à prática de cidadania dos empregados, com vistas a promover o desenvolvimento das comunidades atendidas, bem como para motivar o crescimento da responsabilidade social e fortalecer o nome e imagem da empresa como empresa cidadã.

Além disso, a empresa torna públicas algumas condições prévias para aqueles que desejam realizar estas atividades: “deverão ocorrer preferencialmente fora do horário de trabalho, não interferindo na rotina funcional das pessoas envolvidas”, embora a empresa disponibilize parte da carga horária mensal destes para o voluntariado (desde que até o máximo de oito horas mensais para cada colaborador voluntário), sempre após acordo junto à chefia e cadastro junto à divisão de gestão de pessoal.

ƒ Programa de Agentes Ambientais

Partindo do princípio de que sua atividade produtiva pode gerar poluição atmosférica eventualmente, gerando incômodos às comunidades em seu entorno, a empresa realiza este programa focado em educação e conscientização do público interno e comunidades circunvizinhas de modo a gerenciar impactos sócio- ambientais.

O Programa prevê a participação ativa das comunidades, para antecipar riscos de acidentes por emissão de gases ou vazamento de qualquer outro agente químico produzido pela empresa. Assim, aos primeiros sinais de risco para situações de vazamento ou outros problemas, pessoas da comunidade treinadas pela empresa fazem contato com esta relatando em detalhes os sinais de perigo de acidentes, agilizando uma atuação mais eficiente e precisa por parte das equipes de manutenção e segurança.

Estas pessoas, chamadas de “Agentes Ambientes” (total de 20), são membros das comunidades: professores, líderes comunitários ou estudantes que, após capacitação na organização, passam a exercer papel de fiscal ambiental fora da empresa. Além da capacitação, recebem um Kit (celular, máquina fotográfica, filmes, boné, caderneta) que permite comunicação rápida e direta com os setores importantes da empresa para o trato das questões de segurança e meio ambiente, além dos telefones e nomes de contatos da CETREL (empresa do Pólo que gerencia o monitoramento da qualidade do ar, bem como atua com tratamento de dejetos industriais) e do COFIC (Comitê de Fomento Industrial de Camaçari).

VI

RESPONSABILIDADE

CORPORATIVA:

PERCEPÇÃO

DOS

TRABALHADORES

Dentro da análise de resultados realizada, foram encontrados cinco discursos referentes às concepções existentes na organização quanto ao que seja RSE, os sentidos e significados atribuídos pelos trabalhadores, e que objetivos identificam para que a organização realize ações de RSE. Nestes discursos, os trabalhadores apontam quais problemas sociais e ambientais consideram que podem ser minimizados ou resolvidos pela atuação da empresa. Os discursos encontrados são abordados mais detalhadamente neste capítulo, mas foram resumidamente explicitados na tabela I (Introdução).