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Neste estudo, a teoria das Representações Sociais é tomada como referencial teórico que embasa os procedimentos metodológicos por se considerar que suas premissas permitem compreender o processo pelo qual os indivíduos constroem imagens psíquicas sobre a realidade, desde os aspectos mais individuais e psicológicos aos socialmente determinados.

Segundo Oliveira (2005), em Moscovici, representação social é entendida como “uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (MOSCOVICI apud OLIVEIRA, 2004, p. 47).

Em Macedo (2000), a noção de representação social é colocada como um conceito híbrido na interface entre o psicológico e o social. Lefèvre (2000) afirma ser

legitimo conceber as representações sociais como “a expressão do que pensa ou acha determinada população sobre determinado tema”.

[...] nós, sujeitos sociais, apreendemos os acontecimentos da vida corrente (...) Dessa forma, as representações estão orientadas para a comunicação, a compreensão e o “domínio” do ambiente social, material e ideal.(...) o ato de representação é um ato pensado, pelo qual um sujeito reporta-se a um objeto. Trata-se de um conteúdo cognitivo concreto de um ato pensado, que se liga simbolicamente a alguma coisa [...] (MACEDO, 2000, p. 80).

Minayo (1997), no entanto discorda deste e, ao tratar a questão das representações sociais, salienta a complexidade do conceito que, segundo ela, tem elementos conscientes e inconscientes, ou seja, embora sejam expressas por atores sociais que lhes atribuem significados aparentemente particulares, as representações sociais são, na verdade, reinterpretações que cada indivíduo ou segmento específico da sociedade faz sobre concepções marcadas pela ideologia dominante quanto à realidade, o que é, ao mesmo tempo, produzido e absorvido por cada sujeito nos seus respectivos grupos.

Em seu texto, Oliveira (2004) aponta a importância que Moscovici atribui aos aspectos individuais e sociais da construção de uma representação social, seja de um objeto ou de qualquer conceito a que os indivíduos sejam convidados a conviver e repartir com outros.

Assim, representar um objeto implica fazer sua re-constituição, re- interpretando-o a partir do social, mas com a participação ativa de cada sujeito, que também imprimirá sua significação própria na construção da representação social do objeto. Representar é, então, conhecer, tornar significante, fazer o objeto representado integrar o universo simbólico pessoal.

Como já foi dito no item 2.3, onde se discutiu a dimensão simbólica em que estão inseridos os sujeitos e todas as suas construções sociais, para apropriar-se de uma representação social de um objeto, o sujeito realiza um processo de circunscrição, de modo a apreender psiquicamente este objeto. Processo que é atravessado pela dimensão simbólica da linguagem, a qual, por sua vez, entrelaça os indivíduos em relações interdependentes. Dessa maneira, ao apreender uma representação social de um grupo, cada sujeito colabora para re-interpretar e re- construir esta representação.

Obviamente, fica implicado nesta concepção que as representações sociais não são estanques, imutáveis, do mesmo modo que não o são as culturas e demais

fenômenos humanos. Estão em constante reconstrução, influenciando indivíduos e grupos nas relações que estabelecem entre si.

Assim, se for seguida a concepção de Moscovici, será entendido que os homens não são passivos, nem máquinas indiferentes que registram mensagens e reagem automaticamente a estímulos exteriores, mas possuem o “frescor da imaginação e o desejo de dar sentido à sociedade e ao universo a que pertencem” (MOSCOVICI apud OLIVEIRA, 2004, p. 48), ou seja, cada sujeito é ativo no processo de elaborar uma representação social, o qual implica uma recomposição do objeto em um contexto de valores, normas e regras.

Considerando assim tais aspectos, a representação social não é um equivalente à simples opinião individual, pois cada elemento das Representações Sociais é reinterpretado pelo grupo, influenciando toda a formação de conceitos do indivíduo. E, ainda que se valorize o componente individual da re-interpretação que cada sujeito faz das representações sociais que sua coletividade engendra, a representação social não pode ser confundida com idéia pessoal, pois diz respeito a um determinado grupo a que um indivíduo informante em uma pesquisa está inserido e é somente por isso que “é capaz de revelar a natureza contraditória da realidade” (MINAYO, 1997, p. 32).

Por sua vez, a reinterpretação de grupo contará sempre com a contribuição individual dos seus membros, por participarem de vários grupos concomitantemente, bem como terá “um viés cultural de gênero, de idade, de pertinência a determinado país, grupo étnico etc” (MINAYO, 1997, p. 32). É, mais uma vez, a Minayo que se recorre para ratificar esta idéia:

[...] Embora se possam reinterpretar de alguma forma, essas concepções são uma mistura das idéias filosóficas de nosso tempo, uma mistura do próprio senso comum que é elaborado através da experiência dos diversos grupos sociais, vivenciadas no plano das contradições. Por isso, nossas representações sociais, nossas concepções sociais são capazes de revelar a natureza contraditória da sociedade em que vivemos, do grupo social que freqüentamos e, de certa forma, representamos [...] (MINAYO,1997 p.32).

Assim, pode-se falar que as representações sociais, quando vivenciadas por indivíduos numa mesma experiência social (a exemplo do interior de uma organização) ou condição, formam um imaginário social, o qual pode ser capturado através dos discursos apresentados por cada coletividade. Isto se explica pelo fato

de que, em um grupo, pode haver vários discursos concomitantes e entrelaçados sobre a realidade, sem que, com isso, este deixe de se configurar enquanto grupo.

Neste sentido, os indivíduos não elaboram ou redefinem necessariamente idéias, quer sejam sobre o mundo, sobre a família, sobre o trabalho ou sobre qualquer outra questão. Estas são histórica e socialmente definidas (MINAYO, 1997).

Considera-se, pois, que realizar esta pesquisa com trabalhadores no interior da organização em que atuam, implicará um estudo de inspiração etnográfica, um estudo da cultura, onde o pesquisador, enquanto etnógrafo, poderá encontrar significações para o fenômeno da Responsabilidade Social Empresarial a partir das representações sociais e discursos expressos pelos trabalhadores.

Porém, importante salientar que as representações sociais não são um correspondente literal nem do real, nem do ideal, sendo, na verdade, produto de um processo relacional entre sujeito e objeto (MACEDO, 2000). Sujeito neste caso como produtor de sentido, ao exprimir em suas representações o sentido que ele próprio dá à sua experiência no social.

Diante deste contexto, esta pesquisa investigou quais representações sociais e discursos são apresentados pelos trabalhadores quanto à Responsabilidade Social da organização em que trabalham, que se caracteriza como empresa de grande porte do setor industrial. Assim, pretendendo encontrar os sentidos e significados que o grupo atribui à responsabilidade social na empresa, foi feita tentativa de capturar, a partir daí, um reflexo do imaginário social, o qual é fundante das instituições humanas e campo fértil para etnopesquisa, desde que o pesquisador esteja preparado para escutar e atento aos significados trazidos pelos sujeitos (MACEDO, 2000).

Motivou esta pesquisa a premissa de que realizar estudo de inspiração etnográfica com trabalhadores no interior da organização em que atuam, implicaria um estudo da cultura, onde o pesquisador, enquanto etnógrafo, poderia encontrar significações para o fenômeno da RSE a partir das representações sociais e discursos expressos pelos trabalhadores.

Diante do exposto, considerou-se que a abordagem baseada na representação social seria o aporte teórico que permitiria o entendimento e decifração dos discursos do sujeito coletivo, entendendo-se aqui como

representação social aquilo que expressa a percepção dos atores quanto à realidade que os circunda.