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1. FUNDAMENTOS TEÓRICO SOBRE LUDICIDADE

1.2 LUDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

1.2.2 Lúdico no processo de educar e cuidar das crianças

A infância é a fase da vida que a criança realiza a descoberta pelo brincar. Sua curiosidade, imaginação, aprendizagem, criação e conhecimento são construídos pelo brincar, sozinha, com outras crianças, com adultos, com amigos imaginários.

O lúdico faz com que as crianças tenham mais criatividade, conhecimento e desenvolvimento social com os demais colegas, faz com que a criança viva numa relação do mundo real e o mundo cheio de fantasias propícias para seu aprendizado. E, isso permite que ele desenvolva funções satisfatórios à sua vida cotidiana com maior interação em sua vida social.

“Quando brinca, a criança toma certa distância da vida cotidiana e entra no mundo imaginário” (KISHIMOTO, 2009, p. 24), tudo para ela se torna mais divertido, descontraído e mais prazeroso. Por isso é essencial que o professor use com mais frequência a ferramenta de jogos e brincadeiras, sendo que desta forma, pode facilitar o processo de socialização e aprendizagem das crianças. A infância é a idade das brincadeiras, por meio dela, as crianças satisfazem grande parte de seus desejos e interesses particulares. O aprendizado da brincadeira, pela criança, propicia a liberação de energias, a expansão das criatividades, fortalece a sociabilidade e estimula a liberdade do desempenho.

O lúdico faz com que as crianças se desenvolvam, já que possibilita uma forma diferente de se aprender, testam novos conhecimentos e teorias. Eles reconstituem experiências para solidificar a compreensão. E é aqui que as crianças aprendem e expressam o pensamento simbólico, um precursor necessário para a alfabetização. Brincar é a primeira forma de contar histórias, e é assim que as crianças aprendem a negociar com os colegas, resolver problemas e improvisar.

Partindo desses pressupostos, Vygotsky (apud SANTOS 2014, p. 41-47), classifica o brincar em três fases. Na primeira fase ocorre a separação do seu primeiro grupo social, a família desenvolvendo algumas habilidades inerentes ao ser humano, tal fase estende-se até os sete anos. A segunda fase corresponde a caracterização da imitação, a criança reproduz o modelo dos adultos. E finalmente a terceira fase é identificada pela institucionalização de regras

exigindo um grau maior e mais complexo de socialização. Assim, à medida que o indivíduo vai crescendo, seu nível de interação aumenta, fazendo-o tornar-se um ser social, através do incentivo e uso das brincadeiras.

O tradicionalismo por sua vez torna esse ensino um tanto cansativo e repetitivo para as crianças, por isso a necessidade de desenvolver práticas lúdicas que contribuam para o desenvolvimento integral da criança. Entendendo aqui que esta criança brinca a todo tempo e espaço, e ao mesmo tempo aprende e ensina. Daí a importância do lúdico na educação infantil.

A criança de 0 a 5 anos de idade que estão na educação infantil se expressam pelo brincar, significa dizer que o brincar é o momento de expressão infantil. Estruturar intencionalmente uma oportunidade de aprendizagem baseada em brincadeiras para encorajar brincadeiras criativas, bem como incluir materiais que enfatizem um padrão de aprendizagem apropriado para o desenvolvimento é certamente uma prática de alto nível. De acordo com (TAVARES, 2017) brincar dentro da escola, através da inclusão do lúdico nas propostas pedagógicas, possibilita o desenvolvimento infantil; sobretudo, quando se trata da questão do imaginário e da aquisição dos símbolos, momento quando a criança faz associações e recria no momento em que brinca proporcionando novas vivências e, por consequência, seu desenvolvimento.

Para Tavares (2017) a utilização do brinquedo com a finalidade pedagógica na educação infantil é importante para se pensar na relevância existente na utilização desses materiais no processo de desenvolvimento da criança e de sua aprendizagem. Quando se trata de crianças no nível pré-escolar, o fato de que elas aprendem de modo intuitivo durante os processos de interação com os brinquedos e com as ações que acontecem ao seu redor pode interferir de forma positiva no momento dessa aprendizagem.

Para este autor as crianças aprendem melhor por meio de experiências em primeira mão a brincadeira motiva, estimula e apoia as crianças no desenvolvimento de habilidades, conceitos, aquisição de linguagem, habilidades de comunicação e concentração. Durante a brincadeira, as crianças usam todos os seus sentidos, devem transmitir seus pensamentos e emoções, explorar seu ambiente e conectar o que já sabem com novos conhecimentos, habilidades e atitudes.

Ferro e Viel (2019, p. 119) afirmam ainda que,

[...] os jogos didáticos podem ser utilizados como uma ferramenta auxiliar na prática pedagógica, permitindo que o educador possa desenvolver diversas habilidades em seus alunos, despertando sentimentos que as aulas tradicionais não propiciam, atraindo os alunos de maneira desafiadora e descontraída, onde o conhecimento é

construído de maneira divertida, pois o aluno aprende brincando, trabalhando também o raciocínio lógico, a memória, onde dificilmente esquecerão o que aprenderam.

Pode-se destacar que através da ludicidade, a criança tem a oportunidade até mesmo de adquirir uma melhor comunicação, e esse fator é essencial para o professor que almeja um ensino de qualidade para seus discentes. Garbarino (apud KISHIMOTO 2009, p. 69) ressalta que é “[...] através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo [...]”, uma vez que o lúdico impulsiona a criança a conversar, a perguntar e debater sobre determinada brincadeira ou jogo, tanto com os colegas como com os professores. Sendo assim, Silva (2018, p. 35) ainda ressalta que,

[...] a ludicidade vem para corresponder a uma configuração de linguagem que possibilita a criança manter um diálogo com o próximo, proporcionando a oportunidade não apenas da liberdade de expressão, todavia também da autonomia criativa, expandindo o seu conhecimento a propósito de a realidade e propiciando por decorrência seu desenvolvimento tanto emocional quanto social.

É através do brincar que as crianças adquirem mais comunicação com o seu próximo, tornam-se mais observadoras, começam a perceber o seu próximo numa questão de alteridade, ou seja, valorizar que o seu colega existe, fazendo com que assim tenham mais interação um com outro, ao mesmo tempo irão estar brincando com o colega enquanto aprendem.

Quando a criança se encontra no meio de outras crianças, brincando e aprendendo, ela estará se socializando e adquirindo novos conhecimentos e saberes que os colegas podem lhe proporcionar, e as brincadeiras que antes não eram vistas como forma de ensino, pode ser considerada agora uma ferramenta necessária para os docentes se apropriarem, e assim proporcionará às crianças uma melhor interação e colaboração, pois o que “a criança é capaz de fazer hoje em cooperação, será capaz de fazer sozinha amanhã”. (VIGOTSKY, 2000, p. 129) Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de forma cognitiva; os objetos têm um aspecto motivador para as ações da criança, desde a mais tenra idade. (MARANHÃO, 2007, p.

34-35). A criança quando se encontra em meio dos brinquedos, ela começa a ter mais criatividade e a ter um raciocínio mais rápido e amplo do meio em que vive, isso motiva seus instintos, até estabelece vivências do seu dia a dia. Conforme Oliveira (2010, p. 22),

Toda criança que brinca vive uma infância feliz, além de tornar-se um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente, conseguirá superar com mais facilidade, problemas que possam surgir no seu dia-a-dia. A criança é curiosa e imaginativa, está sempre experimentando o mundo e precisa explorar todas as suas possibilidades.

É no jogo que as habilidades sociais básicas - como compartilhar e revezar - são aprendidas e praticadas. As crianças também trazem sua própria língua, costumes e cultura para o jogo. Como um benefício adicional, eles aprendem sobre seus colegas no processo. Essa ferramenta possibilita que o aluno deixe o egocentrismo mais de lado, pois quando ela errar no ato de brincar, ela não ficará frustrada e sim vai rir da situação ou vai querer acertar. Com isso ela vai adquirindo novos conceitos em relação às brincadeiras e a vida que a cerca.

A educação por meio do lúdico, além de contribuir e influenciar na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. Sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio.

Conduzir a criança à busca, ao “domínio de um conhecimento mais abstrato misturando habilmente uma parcela de trabalho (esforço) com uma boa dose de brincadeira”

(PIAGET, 1994, p. 78), e assim transforma o trabalho, o aprendizado, num jogo bem-sucedido, momento este em que a criança pode mergulhar plenamente sem se dar conta disso.

Em poucas palavras, Froebel (apud ALMEIDA ,1998, p. 23) contribui dizendo que a

“[...] educação mais eficiente é aquela que proporciona atividade, auto expressão e participação social às crianças”. Tal teoria realmente determinou a atividade lúdica como fator decisivo na educação, partindo do pressuposto de que a verdadeira atividade educativa é aquela que cria no aprendiz o melhor comportamento para satisfazer suas múltiplas necessidades orgânicas e intelectuais, como necessidade de saber, de explorar, de observar, de jogar, de viver e assim por diante.

Aspectos psicomotores do comportamento da criança podem constituir condições para o desenvolvimento de determinados aspectos cognitivos. Ambos podem, por sua vez, determinar modificações no desenvolvimento afetivo-social. Condições emocionais e motivacionais podem constituir a base necessária para determinadas aquisições ou constituir bloqueios.

As habilidades psicomotoras incluem a destreza manual e digital, a coordenação mãos-olhos, a resistência à fadiga, o equilíbrio físico, a visão periférica, entre outras. Segundo a autora, “É evidente que a escrita é, enquanto conjunto dos movimentos coordenados, excelente exemplo, complexo, desses aspectos”. (ROSAMILHA, 1979, p. 71)

Nos aspectos cognitivos incluem-se conceitos e habilidades de operação, que envolvem identificar, nomear, descrever, ordenar, construir, redigir, criticar, compreender, relacionar. Atos de ler e de escrever operacionalizados por meio dessas ações. No jogo, as

crianças aprendem quem são, quais são os papéis das pessoas que a cercam e tornam-se familiarizadas com a cultura e os costumes da sociedade. “Elas começam a raciocinar, a desenvolver o pensamento lógico, a expandir seus vocabulários e a descobrir relações matemáticas e fatos científicos” (ALVES, 1981, p. 42).

Quando se analisa tais aspectos psicomotores e cognitivos pode-se perceber que a falta de um determinado, pré-requisito, como conceitos, habilidades, vocabulário ou um nível de inteligência mais baixo prejudicam ou impedem a aprendizagem pela ausência. Já na questão afetiva, Almeida (1998, p. 19) diz que as crianças:

[...] mexem ou movem os brinquedos (bolas, animais, carrinhos de puxar); elas acariciam (bonecas, ursinhos e outros bichos de pano); elas representam, faz-de-conta (roupinhas, marionetes); elas fazem ou modelam (recortes, tecelagem, armações); elas constroem (com madeira, metal) e elas jogam com os outros (peteca, pingue-pongue e etc.).

Se para criança é fornecido material conveniente, a fim de que, jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais, o lúdico toma sua verdadeira forma, onde toda a educação familiar, social, escolar e toda a sua vida centrada na necessidade de um trabalho-jogo conduzem a mesma a retirar as mais delicadas e mais calorosas fruições, dando ao jogo uma concepção harmônica, de equilíbrio, que suscitará uma nova concepção de relações sociais.

Assim, o trabalho é uma atividade intrinsecamente ligada ao ser, como o jogo, que se toma como “uma função cujo exercício constitui por si mesmo sua própria satisfação”.

(BEAUCAIR, 2004, p. 37). De acordo com este autor, Freire é um dos maiores pensadores da educação como prática da liberdade, aborda implicitamente em seus estudos a relação entre a educação e ludicidade afirmando que o ato de buscar, de apropriar-se dos conhecimentos, de problematizar, de estudar é, realmente um trabalho difícil, exigindo desta forma que a disciplina intelectual se alcança somente praticando.

O ensino precisa manter uma relação profunda com a experiência para revelar a si o sentido e o valor daquilo que se vive, uma vez que este é um fator primordial para nossa vida.

Para Freire (apud CHATEAU, 1987, p. 17) sendo o homem, “[...] o sujeito de sua própria história, toda ação educativa deverá promover o indivíduo, sua relação com o mundo por meio da consciência crítica, da libertação e de sua ação concreta com o objetivo de transformá-lo”.

A realização de atividades lúdicas variadas e frequentes, pelas crianças, fornece o seu desenvolvimento, pois elas estarão tendo contanto com as mais diversas formas de ensino, e

“[...] estas atividades geram espaços para pensar, onde fazemos avançar o raciocínio desenvolvendo o pensamento, já que a atividade lúdica provoca a cooperação e a articulação de

ponto de vista, estimulando a representação e engendrando a operatividade”. (OLIVEIRA, 2010, p. 14)

Daí “[...] a importância do desenvolvimento de capacidades físicas através de exercícios regulares e rigorosos para que certos comportamentos corporais não se desenvolvam inadequadamente ou se atrofiem” (ROSAMILHA, 1979, p. 69).

Uma grande variedade de atividades e jogos ajudam as crianças a desenvolver habilidades e conceitos que facilitam a transição da educação infantil nas séries iniciais do ensino fundamental, destacando que a autoconfiança é um dos resultados mais importantes a serem conquistados através deles, e como expressos “ao lado das atividades de integração da criança à escola (dramatizações, conversas, recreação, desenho), de preparo para se interessarem pela leitura, são úteis atividades de reconhecimento”. (CRATTY apud FREINET, 1974, p. 64)

A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus objetivos, além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social, cultural, psicológico, pedagógico, enfatizam a libertação das relações pessoais passivas, relações reflexivas, criadoras, inteligentes, socializadora, fazendo do ato de educar um compromisso consciente, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de satisfação individual e modificador da sociedade.

Alain (apud KISHIMOTO, 1993, p. 21) defende o emprego do jogo na escola. Sua justificativa é a de que o jogo favorece o aprendizado erro e estimula a exploração e a solução de problemas no aspecto cognitivo. Segundo o autor, “[...]o jogo, por ser livre de pressões e avaliações, cria um clima adequado para a investigação e a busca de soluções”. O benefício do jogo está nessa possibilidade de estimular a exploração em busca de respostas, em não constranger quando se erra.

O autor vê dois momentos na situação escolar: o trabalho pedagógico de aquisição sistemática do saber e o jogo que, escapando à severa lei do trabalho, tem um fim lúdico, não se submetem à ordem, criando um espaço de liberdade de ação para a criança. Já Chateau (1987, p. 96), entende que,

“[...] o jogo tem fins naturais quando a ação livre permite a expressão do eu. Para o autor, o jogo é um instrumento do adulto para formar a criança, considerando o aspecto social, intelectual, cognitivo afetivo”. Ele valoriza o jogo por seu potencial para o aprendizado moral, integração da criança no grupo social e como meio para a aquisição de regras.

O autor considera que habilidades e conhecimentos adquiridos no jogo preparam para o desenvolvimento do trabalho. Embora estabeleça um estreito vínculo entre o jogo e o trabalho escolar, indica que a educação deve, em certos momentos, separar-se do comportamento lúdico.

Não se pode pensar em uma educação exclusivamente baseada no jogo, uma vez que esta postura isolaria o homem da vida, fazendo-o viver num mundo ilusório. Chateau (1987) ainda diz que,

[...] a escola tem uma natureza própria distinta do jogo e do trabalho. Entretanto, ao incorporar algumas características tanto do trabalho como do jogo, a escola cria a modalidade do jogo educativo destinado a estimular a moralidade, o interesse, a descoberta e a reflexão.

Em suma, a polêmica em torno da utilização pedagógica do jogo, deixa de existir quando se respeita sua natureza. Qualquer jogo empregado pela escola aparece sempre como um recurso para a realização das finalidades educativas e, ao mesmo tempo, um elemento indispensável ao desenvolvimento infantil.

Cada fase da criança vem sendo marcada por acontecimentos particulares e características especificas que estão relacionadas às áreas motoras, cognitivas e afetivas. Para que a criança tenha um desenvolvimento adequado, é fundamental que estes três domínios sejam conjuntamente trabalhados e de modo harmônico.

Se a criança age livremente no jogo de faz de conta em sala, expressando relações que observa no seu cotidiano, a função pedagógica será garantida pela organização do espaço, pela disponibilidade de materiais e, muitas vezes, pela própria parceria do professor nas brincadeiras. Segundo Oliveira (2012, p. 125) “[...] muitos especialistas em educação veem o brincar, especialmente o imaginário, como solução de problemas, criatividade e flexibilidade nas crianças pequenas”.

Além desse grupo de educadores, algumas propostas pedagógicas vêm inserindo-se como práticas relevantes nas realidades dos educandários infantis, que incentivam e difundem a brincadeira como importante estímulo para o desenvolvimento de aprendizagens. Nesse sentido, qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico, apresenta o caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo.

Brincar não é uma obstrução ao aprendizado acadêmico, nem é um ensino preguiçoso.

Experiências de brincadeira podem ser construídas para criar experiências de aprendizagem mais profundas que a criança irá lembrar e internalizar. Salas de aula de alta qualidade que utilizam atividades lúdicas e de aprendizagem prática são espaços bem pensados e intencionais

não apenas um espaço aberto para todos, onde as crianças saltam de uma atividade para outra e um professor se separa e passa seu tempo/seu dia gerenciando comportamentos. Desse modo Tavares (2017) salienta que “[...] as brincadeiras realizadas, na educação infantil, devem ter planejamento, possibilitando o desenvolvimento integral de suas habilidades motoras, mentais e sociais básicas; fundamental para o crescimento saudável”.

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