• Nenhum resultado encontrado

1. Sociabilidade nas redes sociais

1.2. Laços sociais e capital social

Os sites de redes sociais constituem novas formas de comunicação permitindo digitalmente estabelecer as conexões sociais, gerando interatividades muito vastas, podendo levar à criação de comunidades virtuais e provocar alterações de comportamentos nas massas. Recordamos que de acordo com Ellison et al. (2009), as redes sociais afiguram-se com potencial para mudar os padrões da interação tanto ao nível interpessoal como da comunidade, podendo-se articular explicitamente as conexões e visualizar a rede social de cada um. Ao nível interpessoal, através da informação dos perfis de cada utilizador, podem reduzir as barreiras das interações sociais e estabelecer conexões entre os utilizadores. Ao nível da comunidade, a organização dos sites das redes sociais orienta-se para a conexão entre aqueles que partilham interesses ou preocupações. Para Ellison et al. (2009) o que distingue as características tecnológicas das ferramentas de comunicação já existentes, como enviar messagens ou fotos, das redes sociais, é a articulação social em rede que estas proporcionam.

Encontram-se, na Internet, configurados novos espaços de interação onde as pessoas podem articular ideias, trocar e partilhar informação,

“Não há mais emissores e receptores como dois grupos distintos com mensagens estáticas, e sim, um grande grupo emissor-receptor que pode constantemente reconstruir conhecimentos. A despeito do espaço e do tempo, pessoas podem colaborar, reforçar laços de afinidade e se constituírem como comunidades”. (Okada e Santos, 2003:2)

A utilização da Internet, designadamente das redes sociais, associa-se ao aumento da atividade social e à alteração da forma como os indíviduos comunicam, uma vez que

dedicam mais tempo online, referindo, neste sentido Amante (2013a:1036) “compreender a vida social na contemporaneidade requer considerar o estudo das redes sociais online já que estas alteraram profundamente nos últimos anos a forma como milhões de pessoas se comunicam e compartilham informação entre si”. Considera-se o mundo online como um prolongamento da atividade social da vida offline, onde os utilizadores interagem e formam uma rede de indivíduos ou rede social, resultando em laços afetivos, viabilizando um apoio emocional e uma habilidade para mobilizar os outros para assuntos da atualidade. Quanto maior o número de laços maior a densidade na rede, o que nos transporta para o capital social, que se encontra “embutido nas relações sociais das pessoas”, (Bourdieu em Recuero, 2005:3). Para Putman (2000) o capital social emerge das ligações entre os indivíduos que geram as redes sociais, surgindo uma relação de confiança recíproca entre esses indivíduos, podendo ser usadas como um recurso poderoso, tanto para os próprios indivíduos como para as comunidades. O conceito de capital social prende-se com a interação online e offline, entre os atores sociais que formam uma rede de indivíduos ou uma rede social e corresponde aos recursos disponibilizados dessas interações (Coleman 1988 e Putman, 2000). Segundo Paxton em Ellison et al. (2007) os recursos referem-se à informação útil, às relações pessoais e à capacidade dos indivíduos para organizar grupos. Putman (2000, 2004) distingue entre capital social bonding ou laços fortes e bridging ou laços fracos. O primeiro ocorre das conexões entre familiares, amigos próximos ou entre as pessoas que são semelhantes em etnia, idade, classe social, ou qualquer outro aspeto, fornecendo apoio emocional numa reciprocidade contínua. Bridging ou laços fracos liga-se a um grupo muito insular de pessoas e ocorre quando diferentes indivíduos, de diferentes origens, estabelecem conexões entre as redes sociais. Aguiar (2007:7) salienta que na rede “qualquer pessoa pode contatar certos indivíduos e ignorar muitos outros (sobretudo quando a rede é muito extensa); ou comunicar-se mais intensamente com uns do que com outros: ou seja, pode manter vículos fortes ou fracos, recíprocos e não- recíprocos” indicando os vínculos fortes como intensos e/ou duradouros e os vínculos fracos como eventuais e/ou formais não significando, porém, uma comunicação menos eficaz. As tecnologias de informação e comunicação em permanente atualização e em ambiente aberto da Internet têm “exponenciado a complexidade das redes, que não são obrigatoriamente evolutivas: ganham e perdem nós ao longo do seu percurso, assim como ocorrem mudanças qualitativas nos vínculos entre esses nós” (Aguiar, 2007:9).

Para Garton, Haythornthwaite e Wellman em Recuero (2005:2) o capital social é uma relação social caracterizada pelo seu conteúdo que se refere ao que é trocado pelos envolvidos nos processos de interação e direção, sendo:

“A direção entendida como uma relação que pode ser dirigida a alguém específico ou ao grupo como um todo (…), o conteúdo de uma relação é aquilo que é trocado entre os pares através das interações sociais, como a quantidade de informação, sentimento, conhecimento etc.,”

Vários estudos reconhecem que o capital social, baseado nas redes sociais dos indivíduos, corresponde a um constructo multidimensional, ou seja a um quadro que integra diferentes dimensões ou domínios. Neste âmbito Scheufele e Shah (2000) distinguem três domínios de capital social: (i) O domínio intrapessoal que se relaciona com a satisfação com a vida dos indivíduos; (ii) o domínio interpessoal que se refere à confiança entre os indivíduos, também designado por confiança social e por último (iii) o domínio comportamental que envolve a participação ativa dos indivíduos na vida cívica e política. Poder-se-ão considerar as interações sociais como algo correspondente a laços sociais, gerados pelas redes sociais, na Internet, que produzem capital social. O capital social relaciona-se com as conexões estabelecidas entre indivíduos, de forma aberta e contínua conseguindo gerar comportamentos de confiança entre os mesmos, (Recuero, 2005). Ellison, Steinfield e Lampe (2007) adicionam ao capital social o conceito maintained social capital que se encontra relacionado com a capacidade das ferramentas online permitirem aos indivíduos manterem contacto através das redes sociais. As redes sociais produzem efeitos no que diz respeito ao nível do capital social dos indivíduos, possibilitando uma relação positiva do uso, designadamente do Facebook, podendo levar ao conhecimento de novas pessoas ou estabelecer uma ligação online com contactos já existentes. De acordo com dados de algumas pesquisas, os jovens sentem-se motivados a aderirem às redes sociais para manterem contactos com os amigos e intensificar laços com novos conhecidos, enquanto que para outros o conhecimento de novas pessoas a nível online não se apresenta como carater prioritário (Acquisti e Gross, 2006; Ellison, Steinfield e Lampe, 2007). O capital social tem sido associado a uma variedade de resultados sociais positivos, ou seja, um maior capital social traz benefícios para a comunidade e uma maior mobilidade das pessoas para ações coletivas. Se o capital social diminuir, poderá haver um aumento, nomeadamente da desordem social (Ellison, Steinfield e Lampe, 2007).