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Compreendem-se como sujeitos do processo de formação na LEdoC, educandos, educadores e comunidade. Educadores, como sujeitos responsáveis pela formação; comunidade, como elemento que também contribui com o processo de aprendizagem; e educandos, como sujeitos da formação.

O processo de formação desenvolvido por esses sujeitos situa-se na ideia de formação ominilateral (conforme anteriormente apresentado), como uma totalidade da qual decorrem as relações sociais. Estamos compreendendo o processo ensino aprendizagem, na LEdoC, como um espaço de construção coletiva que se dá a partir da práxis pedagógica. Para entender essa relação, convém citar o conceito de práxis apresentado por Konder (1992, p. 115).

A práxis é a atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade objetiva e, para poderem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É ação que, para se aprofundar de maneira mais consequente, precisa da reflexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que remete à ação, que enfrenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos, cotejando-os com a prática.

Sujeitos coletivos, para Maria da Gloria Gohn (2008, p. 112), são “[...] uma categoria fundamental, que constitui e posiciona indivíduos na história dos processos sociais, culturais e políticos de uma sociedade”. Eles se constituem enquanto “atores políticos, sociais, e culturais” historicamente situados. Notamos que o conceito de sujeitos coletivos é imbuído de historicidade. Nesse sentido, não pode ser concebida uma separação entre indivíduo e a situação social na qual está inserido.

4.7.1 Estudantes

Na LEdoC, o educando é o sujeito, o autor de sua formação. Formação esta comprometida com a luta pela escola rural, com a construção de um projeto de sociedade e de desenvolvimento para o campo, bem como com a organização dos sujeitos e de suas comunidades.

A formação coloca os educandos em contato com a pesquisa, que supera o mero reconhecimento da realidade que os cerca. Prima pela investigação como elemento pelo qual o sujeito se forma, tornando-se uma ferramenta de intervenção e inserção na realidade. Não basta apenas conhecer a escola, a comunidade, o contexto das lutas sociais e as contradições nas quais estão imersos - a escola e o campo brasileiro -, é necessário pensar novas formas de se colocar como sujeitos coletivos dentro de tal contexto, a ponto de se perceber capaz de ressignificá-lo.

Pistrak (2009), ao falar da formação do estudante, destaca que ele a deve partir de pelo menos duas categorias: atualidade e autogestão. Em relação a

essas categorias, se tomarmos como base o exercício da organização vivenciado pelos estudantes da LEdoC/UnB nos grupos de organicidade, podemos trazer as reflexões de Freitas (2009, p. 25) para definirmos que o estudante da licenciatura é aquele que deve “[...] vivenciar a atualidade entendida como compromisso, com os interesses e anseios da classe trabalhadora no processo de transição, de construção de uma nova sociedade sem classes”.

Nesse sentido, a formação na LEdoC pretende contribuir para que se compreenda que, atualmente, nas escolas do campo, é preciso um professor- construtor cientificamente formado, um professor-lutador que saiba se autogerir e se

auto-organizar no combate. Não um simples professor. Mas, um militante, um sujeito em luta, que também ensina na perspectiva da organização coletiva, contraponto ao modo de ser professor na visão capitalista que ensina a partir de uma ótica individualista e de competição.

O papel deles vai para além da educação escolar; trata-se de educadores do povo do campo cuja “[...] ação formativa desenvolvida [...] deverá ser capaz de compreender e agir em diferentes espaços, tempos e situações” (MOLINA, 2009, p. 191).

4.7.2 Professores

Na escola capitalista, o professor é o centro do processo e o detentor do conhecimento. Na LEdoC, o educador é um sujeito da formação que atua na perspectiva da construção coletiva do conhecimento, cuja premissa é a produção do saber por meio da pesquisa.

É o agente que contribuirá no processo ensino-aprendizagem na medida em que busca relacionar teoria e prática, conhecimento científico e os diversos saberes da realidade do estudante. Outra questão fundamental em relação ao papel do educador é que ele deve trabalhar na perspectiva de colocar a teoria a serviço da construção de um projeto de sociedade contra-hegemônico. Nesse sentido, a teoria deve ser apresentada aos educandos como uma ferramenta de libertação, para isso deve ser caracterizada pela categoria da historicidade.

A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais,

efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática

transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de

organização dos meios materiais e planos concretos de ação: tudo isso

como passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que materializa, através

de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como

conhecimento da realidade, ou antecipação ideal de sua transformação (SANCHEZ VAZQUEZ, 1968 apud SAVIANI, 2011, p. 31-32) (grifo do autor).

A relação do educador com o conhecimento deve evidenciar a materialidade e a totalidade da formação na perspectiva de crítica à escola capitalista e negação do currículo que prepara para a domesticação. A atividade docente possibilita a

construção de um processo crítico em relação ao modelo tradicional de formação de educadores, bem como sobre o modo de produção do conhecimento em uma perspectiva emancipadora:

Para tanto, a atuação política e pedagógica pressupõe, portanto, a tomada de consciência dos próprios agentes educacionais acerca do papel que eles exercem nesta sociedade e das condições atuais de trabalho docente, especialmente aqueles que se inserem na rede pública (TONET, 2005).

4.7.3 Comunidade

A comunidade na LEdoC refere-se aos diversos grupos sociais, às famílias, às instituições, dentre outros atores das regiões de origem dos educandos. É um dos sujeitos da formação na medida em que é compreendida como um espaço de relações sociais, de produção da cultura, de valores, de saberes, o que a torna um espaço de vida que aglutina os elementos sociais e humanos. É nesse espaço que são estabelecidas as conexões entre as pessoas em reciprocidades e as trocas.

No âmbito pedagógico, a comunidade é o espaço onde acontecem o TC e as atividades de inserção IOE e IOC, com vistas a favorecer a gestão de processos educativos nas comunidades que, de acordo com o PPP, consiste na:

[...] preparação específica para o trabalho formativo e organizativo com as famílias e ou grupos sociais de origem dos estudantes, para liderança de equipes e para a implementação de iniciativas e ou projetos de desenvolvimento comunitário sustentável que incluam a participação da escola (PPP, 2009, p. 18).

A comunidade é um espaço no qual o educando vivenciará a experiência de fazer parte dela e de ser educador nesta mesma comunidade. Dessa forma, ela atuará na construção da identidade de campo e de camponês, uma vez que se estabelece nas relações sociais. É um espaço de constituição de sujeitos coletivos no movimento de criação e recriação da realidade cotidiana.

Uma vez que o planejamento de TC deve ter como princípio a “[...] vida concreta dos estudantes, que inclui: seu trabalho em vista a reprodução da existência; sua vida familiar; sua inserção na vida da comunidade; sua militância numa organização social” (PPP, 2009, p. 50), ele está concebendo a comunidade (entendida como relações sociais) em sua totalidade, como acolhedora e promotora

da identidade de sujeitos coletivos e, por essa razão, constitui-se em um dos sujeitos da formação.

A seguir, retomaremos algumas das categorias apresentadas neste capítulo com vista a discuti-las a partir da compreensão dos sujeitos da formação da licenciatura. Serão analisadas as categorias: alternância no Ensino Superior e os diferentes tempos de formação – Tempo Escola e Tempo Comunidade –, produção de conhecimento, concepção de alternância, hegemonia e contra-hegemonia, formação humana, auto-organização e interdisciplinaridade.

5 LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM CAMINHO EM