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Legislação do Sistema Educativo Português referente à avaliação das aprendizagens

CAPÍTULO 2 – Avaliação das aprendizagens

2.2. Legislação do Sistema Educativo Português referente à avaliação das aprendizagens

Nos últimos trinta anos, os normativos legais que norteiam a avaliação das aprendizagens no sistema educativo português têm sofrido profundas alterações. De uma avaliação quase exclusivamente associada à classificação e à certificação, passou-se para uma avaliação mais associada à melhoria e ao desenvolvimento das aprendizagens e do ensino. As normas legais que regulam actualmente o sistema de avaliação das aprendizagens induzem desafios de ordem conceptual e prática que devem ser entendidos à luz de um certo número de princípios e pressupostos fundamentais. Importa, por isso, rever a legislação actualmente em vigor, a saber:

- Despacho Normativo 30/2001 de 19 de Julho, o qual concretiza e desenvolve orientações já contempladas no Decreto-Lei 6/2001, de 18 de Janeiro, e que se situa no âmbito do processo de reorganização curricular do ensino básico;

- Decreto-Lei n.º74/2004, de 26 de Março, que estabelece os princípios orientadores da reorganização e da gestão do currículo, bem como da avaliação das aprendizagens referentes ao nível secundário de educação;

- Portaria nº 550-D/2004, de 21 de Maio, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão do currículo, bem como da avaliação e certificação das aprendizagens do nível secundário.

No ensino básico, a avaliação é entendida como um elemento integrante e regulador da prática educativa, permitindo uma recolha sistemática de informações que, uma vez analisadas, apoiam a tomada de decisões adequadas à promoção da qualidade das aprendizagens. São objectivos: a) apoiar o processo educativo, de modo a sustentar o sucesso de todos os alunos; b) certificar as diversas aprendizagens e competências adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e à saída do ensino básico; c) contribuir para melhorar a qualidade do sistema educativo (n.º 6 do artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 6/2001).

No ensino secundário, conforme se lê no artigo 7.º da Portaria 550-D/2004, de 21 de Maio, a avaliação: a) incide sobre as aprendizagens globalmente fixadas para as disciplinas e áreas não curriculares constantes nos respectivos planos de estudo; b) visa apoiar o processo educativo, de forma a sustentar o sucesso dos alunos, certificar as competências adquiridas pelos alunos à saída do ensino secundário; bem como contribuir

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para melhorar a qualidade do sistema educativo, possibilitando a tomada de decisões para o seu aperfeiçoamento e reforço da confiança social no seu funcionamento.

O artigo 13.º da portaria acima referida e, no que concerne às modalidades de avaliação, remete para o artigo 11.º do Decreto-Lei n.º74/2004, de 26 de Março. De acordo com este artigo instituem-se no nível de ensino secundário as modalidades de avaliação formativa e avaliação sumativa, sendo que a última inclui a avaliação sumativa interna, da responsabilidade dos professores e dos órgãos de gestão pedagógica da escola; e a avaliação sumativa externa, da responsabilidade dos competentes serviços centrais do Ministério da Educação, concretizada na realização de exames finais nacionais.

Podemos afirmar que a legislação educativa portuguesa define como objecto da avaliação, quer no ensino básico, quer no ensino secundário a aferição de conhecimentos, competências e capacidades dos alunos e a verificação do grau de cumprimento dos objectivos globalmente fixados para os diferentes níveis de educação. Mais, a avaliação é entendida como parte integrante do processo da aprendizagem, como um meio que permite ao professor e ao aluno recolher e interpretar informação de forma a induzir medidas que favoreçam essa mesma aprendizagem.

Fernandes (2007, p. 590) considera a legislação do sistema educativo português consistente com as principais recomendações da investigação educacional uma vez que esta traduz claramente os seguintes princípios:

“1. A avaliação deve ser consistente com a forma como se desenvolve o currículo nas salas de aula.

2. A avaliação deve fazer parte integrante dos processos de ensino e de aprendizagem.

3. A avaliação formativa deve predominar nas salas de aula e ter em vista a melhoria das aprendizagens e do ensino assim como o desenvolvimento da auto- avaliação e da auto-regulação por parte dos alunos.

4. A avaliação formativa e a avaliação sumativa deverão ser articuladas tendo em conta as funções que cada uma deve desempenhar no sistema educativo.

5. As estratégias, as técnicas e os instrumentos de avaliação devem ser diversificados, uma vez que não há nenhuma abordagem que, por si só, seja adequada para todas as situações de ensino e de aprendizagem.

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6. A avaliação deve ser transparente e, por isso, os alunos e outros intervenientes no processo de avaliação deverão conhecer bem os conteúdos, os processos e os critérios da avaliação e deverão participar activamente no seu desenvolvimento.

7. A avaliação não se pode limitar à participação dos alunos e do professor. É necessário que nela participem outros intervenientes tais como os pais, outros professores, técnicos de educação e todos aqueles que, de algum modo, possam estar relacionados com o processo educativo e formativo dos alunos.”

A legislação sobre a avaliação evoluiu bastante nos últimos quinze anos, tendo existido um alargamento das concepções de avaliação, das suas modalidades e seus instrumentos na perspectiva de desenvolvimento de uma avaliação mais formativa, na qual o aluno tem um papel importante na avaliação das suas aprendizagens. Contudo, simultaneamente, no percurso legislativo, outras ideias têm ganho peso, nomeadamente a da avaliação sumativa externa da responsabilidade do Ministério da Educação, gerando uma obsessão avaliativa de tipo sumativo, em nome do rigor e da qualidade do ensino. As sucessivas mudanças na legislação sobre a avaliação e a existência de duas linhas de força, a formativa e a sumativa, não têm criado um ambiente favorável a mudanças nas práticas avaliativas, nomeadamente ao nível do incremento de atitudes e práticas de avaliação mais formativas (Barreira & Pinto, 2006).