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CAPÍTULO 4 – Metodologia

4.1. Opções Metodológicas

No primeiro capítulo desta dissertação foram apresentadas as questões de investigação. Com o intuito de se recolher dados que permitissem uma reflexão sobre as práticas de avaliação dos professores e formular respostas às questões de investigação inicialmente colocadas, adoptámos uma abordagem metodológica predominantemente qualitativa e do tipo estudo de caso único descritivo e exploratório.

A investigação qualitativa tem, segundo Bogdan e Biklen (1994), cinco características: (1) a fonte directa dos dados é o ambiente natural e o investigador é o principal agente na recolha desses mesmos dados; (2) os dados que o investigador recolhe são essencialmente de carácter descritivo; (3) os investigadores que utilizam metodologias qualitativas interessam-se mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados; (4) a análise dos dados é feita de forma indutiva; e (5) o investigador interessa-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado que os participantes atribuem às suas experiências.

O presente estudo em educação insere-se numa investigação de cariz qualitativo uma vez que a finalidade do estudo se situou ao nível da compreensão e descrição de um fenómeno: as implicações ao nível da mobilização de competências profissionais,

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inerentes ao processo de avaliação, resultantes do envolvimento de investigadores em EC e professores de ciências, numa CoP online, pelo que detém uma natureza qualitativa (Almeida & Freire, 2003).

A análise efectuada não se restringiu aos produtos e inclui também o estudo do processo: para além de se analisar os documentos escritos resultantes do trabalho colaborativo, existiu a preocupação de analisar os registos das interacções online com o objectivo de compreender como decorreu o processo de avaliação das aprendizagens desenvolvido pelos professores participantes. Utilizou-se como fonte de dados o ambiente natural de desenvolvimento do fenómeno estudado: a plataforma online através da qual os participantes interagiram no decurso do projecto IPEC, tendo sido o investigador o agente da recolha dos dados. A técnica seleccionada para a recolha dos dados foi a observação directa não participante, uma vez que o investigador não interagiu de forma alguma com o objecto de estudo aquando da observação (Carmo & Ferreira, 1998).

Segundo Bell (1997), a grande vantagem do “Estudo de Caso”, consiste no facto de permitir ao investigador a possibilidade de se concentrar num aspecto ou situação específica e identificar, ou tentar identificar, os diversos processos que interagem no contexto estudado. Para Ponte (2006), trata-se de uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse. Um caso constitui uma entidade bem definida, necessariamente inserida num certo contexto.

Posto isto, considera-se que os procedimentos metodológicos explorados se enquadram numa metodologia de estudo de caso único. Apesar da diversidade de tipologia de estudos de caso que surgem descritos na literatura, a primeira proposta que autores como Yin (2005) ou Bogdan e Bilken (1994) aludem é a divisão dos estudos de caso em dois tipos básicos: os estudos de caso único e os estudos de caso múltiplo ou multicasos, conforme o estudo visa conhecer um único caso ou diversos casos de algum modo comparáveis respectivamente. O carácter único do caso estudado resulta do facto do trabalho de investigação se ter destinado à compreensão de um só caso, não sendo objectivo compará-lo com outros ou generalizar os resultados obtidos.

Atendendo a problemática definida para esta investigação (ver capitulo 1, secção 1.2.), o caso que constituiu objecto de estudo foi um grupo de professores de ciências e

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de investigadores em EC, envolvidos numa CoP online, constituída no âmbito do projecto IPEC, particularmente ao nível das suas práticas de avaliação das aprendizagens e das competências profissionais que estas exigem.

Tratou-se de um estudo essencialmente exploratório, servindo para obter informação acerca do respectivo objecto de interesse, e fundamentalmente descritivo, tendo como propósito essencial descrever, isto é, dizer simplesmente “como é” o caso em apreço (Ponte, 2006).

Reconhecendo-se as vantagens, mas também as limitações inerentes à investigação de estudo de caso, procurou-se minimizar as limitações intrínsecas e assegurar a validade e fiabilidade do estudo, tendo em consideração recomendações da literatura. Para Yin (2005), a qualidade de um estudo de caso está relacionada com critérios de validade e fiabilidade. Para este autor, a “Validade de Construto” verifica até que ponto uma medida utilizada num estudo de caso é adequada aos conceitos a serem estudados. Ponte (2006) considera que a validade de um estudo tem a ver com a precisão dos resultados, enquanto a fiabilidade de caso refere-se à replicabilidade das conclusões, isto é, diz essencialmente respeito aos instrumentos usados e à forma como foram analisados os dados.

Com o intuito de assegurar a validade dos resultados recorreu-se a “protocolos de triangulação” que existem para o efeito e são identificados na bibliografia por autores como Fortin (2003) e Yin (2005). No que se refere à triangulação de dados, efectuou-se a recolha de dados tirando todo o partido possível de fontes múltiplas de evidências, nomeadamente registos, em formato digital, das interacções de professores e investigadores, em fóruns de discussão registados na plataforma online da CoP, e documentos elaborados e disponíveis na mesma plataforma. No sentido de se conseguir a triangulação de investigadores, foi feita a validação do sistema de categorias construído e utilizado, bem como, da análise de conteúdo efectuada com a sua aplicação, implicando vários investigadores, uns envolvidos no projecto IPEC e outros independentes do referido projecto.

No sentido de aumentar a credibilidade do estudo de caso realizado, a recolha e tratamento de dados foi precedida da identificação clara do fenómeno em estudo. Para tal definiu-se com precisão as questões de investigação, o que permitiu seleccionar o caso a estudar. Seguiu-se a revisão bibliográfica necessária à elaboração do enquadramento teórico de referência, o qual serviu de suporte para a conceptualização do problema, a selecção das técnicas de recolha e tratamento de dados e constituiu um guia na análise dos resultados. Este quadro teórico de referência resultou de uma acurada pesquisa

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bibliográfica relacionada com as linhas temáticas que é possível reconhecer no presente estudo empírico, nomeadamente, “A avaliação das aprendizagens dos alunos”, “As competências profissionais necessárias à prática da avaliação das aprendizagens dos alunos” e “ As CoP online e o DPP”. Tal como Yin (2005) considera-se que o “ (…) estudo de caso (…) beneficia do desenvolvimento prévio de proposições teoréticas que guiem a recolha e análise de dados” (p. 13), bem como conferem um sentimento de segurança relativamente ao trabalho empírico que o investigador desenvolve, principalmente quando se trata de um primeiro trabalho de investigação.

A fiabilidade na recolha e análise de dados pode ser garantida através da descrição pormenorizada e rigorosa de todo o processo da investigação (Coutinho & Chaves, 2002, p. 236), a qual implica a explicitação dos pressupostos e teoria subjacentes ao próprio estudo, bem como a descrição do processo de recolha de dados e da forma como se obtiveram os resultados. Tendo em vista a replicabilidade do estudo, foi efectuada uma descrição tão pormenorizada quanto possível do processo de investigação e da sua contextualização, que se apresentam nas restantes secções deste capítulo.