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3 OS INSTRUMENTOS NORMATIVOS COMO FERRAMENTAS DE

3.2 Legislações ambientais

Na escala federal, o zoneamento de proteção e preservação ambiental foi se sofisticando desde a metade do século passado. Um dos mais antigos na zona costeira brasileira é a demarcação de Terras de Marinha (Decreto-Lei nº 9.760 de 1946), declaradas como terras da União desde que estejam dentro de uma faixa de 33 metros a partir da linha de Preamar média. Ela é fundamental na história da ocupação litorânea nos últimos 70 anos, já que garante que as faixas de praia permaneçam livres em meio à ocupação acelerada desses espaços. Portanto, são bens públicos de uso comum à população, a não ser quando não estiverem em uso especial pelo país. Dessa forma, edificações que estiverem dentro do limite estipulado devem pagar um imposto pelo uso da terra. Entretanto, atualmente as edificações individuais que avançam sobre Terras de Marinha não são necessariamente prejudicadas, por causa da aprovação da Lei nº 13.465 de 2017, fruto de um governo afinado aos interesses do mercado imobiliário. Foi facilitada a aquisição legal dessas terras pelos proprietários, visando acabar com a cobrança de impostos e, consequentemente, valorizando os empreendimentos que estejam dentro deste zoneamento, especificamente aqueles que têm as condições econômicas para adquirir o benefício.

Mais de 20 anos depois é aprovado o Código Florestal (Lei no 4771 de 1965), uma das mais importantes normativas ambientais por conta da delimitação que faz das Áreas de Preservação Permanente (APPs) ao longo de corpos d’água, restingas e manguezais. As APPs garantem a conservação de recursos naturais, com o intuito de preservar os recursos hídricos, a fauna e a flora, permitindo apenas atividades agrosilvopastoris, de ecoturismo e de turismo rural instaladas até 2008. Essas faixas de proteção podem variar de 30 a 500 metros, dependendo das dimensões dos corpos d’água e de sua situação urbana ou rural.

Complementar a ele, se soma o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a partir da Lei no 9.985 de 2000, com a criação de novas modalidades de zonas de proteção e preservação ambiental. Foram distribuídas ao longo do território brasileiro Parques Nacionais, Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas, Reservas Extrativistas, Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (APA).

Na área de estudo, há 2 APAs e uma Estação Ecológica (Figura 19) delimitadas antes mesmo da criação do SNUC. Elas estão localizadas entre o CIPP e o tecido urbano da sede do Pecém, área que visivelmente sofre muita pressão para expansão dos limites urbanos. Elas funcionam como um cinturão verde que resguarda as aglomerações urbanas da produção da atividade industrial e são geridas pelo Governo do Estado, mais especificamente pela SEMACE.

As APAs do Pecém e do Cauípe, a primeira localizada próxima ao porto e a segunda em Caucaia, foram criadas pelo Decreto Estadual nº 24.957 de 1998 e permitem o parcelamento do solo, na condição de que os usos estejam de acordo com a conservação dos recursos naturais. Enquanto a de SGA já foi parcelada em um loteamento, a outra só apresenta atividades turísticas em sua Lagoa, com passeios de Buggy organizados pelos resorts do Cumbuco.

A Estação Ecológica do Pecém, originária do Decreto Estadual no 25.708 de 1999, é um ecossistema de mangue e dunas de domínio público que se encontra dividida entre os municípios de SGA e Caucaia. Conforme o SNUC, ela é uma Unidade de Proteção Integral, o que a impede de ser loteada e de ser acessada por grupos de visitação grandes, sendo permitido apenas estudos científicos. Entretanto, o número máximo de visitantes não é fixado pelo seu decreto, deixando uma brecha na lei. Atualmente, ela funciona como corredor ecológico que conecta as duas APAs, sendo uma forte garantia da continuidade ambiental entre os dois municípios. Ela também age como barreira para a expansão da zona urbana do Pecém a sul, delimitando fortemente seus limites. Entretanto, a partir de imagens de satélite percebe-se que, em vários pontos, ocupações e loteamentos ainda não consolidados adentram a Estação Ecológica antes da sua delimitação, resultando em limites recortados em demasia. O mesmo ocorre com uma área de mangue residual, que, apesar de não apresentar nenhum zoneamento ambiental extraordinário, é considerada pelo Código Florestal como área passível de preservação (Figura 20).

Figura 19 – Áreas federais e estaduais de preservação e proteção ambiental dentro da área de estudo

Fonte: Mapa elaborado pela a autora sob base do Censo IBGE 2010 com dados do IPECE 2012 e da base do CAD de SGA 2012.

A Agenda Estratégica do CIPP reconhece ocupações irregulares nas APAs e na Estação Ecológica e até sugere a correção dos decretos dessas áreas. No caso da Estação Ecológica do Pecém, deve ser feito o georreferenciamento correto dos seus limites e a redação

correta de seus objetivos. Além disso, aponta como insuficiente a discussão sobre a questão ambiental na área, por isso é proposta a criação de mais oito Unidades de Conservação (UC) na região44. Dentre elas está o Lagamar do Gereraú, corpo d’água de dimensões consideráveis que se encontra em posição de risco juntamente a todos os corpos d’água dentro da poligonal do CIPP, tendo em vista a prática de algumas indústrias de aterrar pequenas lagoas para a sua implantação, como aconteceu com a CSP.

Figura 20 – Áreas de interesse ambiental na zona urbana do Pecém.

Fonte: Mapa elaborado pela autora sobre base do Google Earth.

44 Lagamar do Gereraú, Serrote Olho D’água, Estuário do riacho Guaribas; (SGA) Serra do Camará (ou Japuara); Vertedouro da Lagoa do Banana no Lagamar do Cauípe; Cordão de dunas entre Icaraí e Barra do Cauípe; Planície fluvial ao sul do Lagamar do Cauípe; Áreas inundáveis no baixo curso dos rios Juá/Tapeba (Caucaia).

As normativas referentes ao parcelamento do solo citam em vários pontos essas leis e decretos ambientais, em especial o Código Florestal, tendo em vista que as diretrizes de parcelamento do solo devem deixar claro em quais espaços é permitido que haja ocupação. O próximo item tratará sobre elas.