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3 O ACESSO À INFORMAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.1 LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO

Conforme explicitado, a participação popular é forma de incluir a sociedade na definição das decisões da administração pública, sendo forma de aproximar o cidadão do

governo, estabelecendo ponte de conexão que, a partir de uma confluência de ações, de forma colaborativa (BLIACHERIENE; FUNARI; RIBEIRO, 2013, p. 90), atue na busca de soluções para os problemas que se apresentem.

Entretanto, para que a participação social ocorra é fundamental que se tenha, antes de qualquer coisa, acesso à informação para que, a partir do conhecimento dos dados, a população possa moldar a sua atuação e direcionar sua atuação para os setores que mais necessitem de atenção e análise crítica.

Assim, a Lei nº 12.527, publicada no dia 18 de novembro de 2011, conhecida popularmente por Lei de Acesso à Informação (LAI), é fruto do clamor social por transparência e participação na gestão pública. Nesse sentido, a LAI foi elaborada com enfoque nos novos parâmetros do que vem a ser acesso à informação, englobando os princípios da máxima transparência e das formas de publicidade ativa e passiva (PAES, 2012, p. 242).

O direito de acesso à informação e a participação popular são direitos fundamentais e que devem ser base de qualquer Estado que possua como seu regime a democracia (PAES, 2012, p. 243; SANTOS, 2016, p. 107). Desta feita, a LAI, a qual está em vigor desde o dia 16 de maio de 2012, vem tratar do acesso à informação pública, regulamentando este direito que é constitucionalmente previsto, como mecanismo que visa efetivar a transparência e propiciar a fiscalização social da coisa pública (LOMBARDI, 2018, p. 29).

Compreende-se entre os destinatários subordinados ao regime da LAI, os órgãos públicos da Administração Direta do Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como a Administração Pública Indireta. Deste modo, os procedimentos disciplinados na lei visam assegurar o direito fundamental de acesso à informação, bem como estabelecem cinco importantes diretrizes, quais sejam: observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção; divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações; utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia; fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na administração pública; desenvolvimento do controle social da administração pública.

Essas diretrizes são o verdadeiro guia da LAI, de modo que algumas de suas características mais importantes serão tratadas a seguir.

3.1.1. Observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção

Consoante disposto no artigo 5º da LAI, a garantia do direito de acesso à informação é um dever do Estado, o qual não somente deverá disponibilizar os dados, mas sim fazer isso por meio de procedimentos objetivos e ágeis, de modo transparente e que a informação esteja em linguagem clara e de fácil compreensão.

Dessa forma, qualquer pessoa interessada poderá apresentar um pedido de acesso à informação aos destinatários previstos no artigo 1º da referida lei, devendo a solicitação conter identificação do requisitante e especificação da informação que se pretende acessar (artigo 10, LAI). Em que pese a necessidade de identificação do solicitante, é imperioso destacar que não poderão ser solicitados dados do cidadão que venham a inviabilizar a formulação de seu pedido, além de ser vedado requisitar ao indivíduo que justifique o porquê do pedido de acesso.

Após formulado a requisição, a concessão do acesso deve ser imediata. Em caso de não possibilidade, o órgão ou entidade pública irá dispor do prazo de 20 (vinte) dias, prorrogável por mais 10 (dez)7, para especificar local, data e modo para se realizar a consulta; indicar as razões pelas quais haverá recusa parcial ao total no acesso ao dado; ou comunicar que não detém a informação, situação na qual, se for de seu conhecimento, deverá o requisitado remeter ao responsável ou indicar a qual órgão ou entidade o cidadão deverá encaminhar o pedido.

A LAI, portanto, parte do princípio da publicidade máxima, visando assegurar que qualquer pessoa possa ter acesso à informação pública que deseja, exercendo de forma plena o seu direito à informação (ARAÚJO, 2017, p. 44). Todavia, nenhum direito é absoluto, de forma que o sigilo, em determinadas situações, ainda existirá. A mitigação do acesso à informação é de caráter excepcional (BERNARDES, 2015, p. 107), ressaltando-se que até a própria Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXXIII, restringe o acesso a algumas informações quando relativas, por exemplo, à intimidade e vida privada de terceiro.

Nessa perspectiva de sigilo como exceção, não poderão ser alvo de acesso irrestrito as informações que sejam consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, de modo que o acesso livre poderia pôr em risco a defesa e a soberania nacional, a segurança ou a saúde da população, risco à estabilidade financeira, comprometer as atividades de inteligência, dentre outros fatores negativos descritos no artigo 23 da LAI. À vista disso, o sigilo nesses casos não é violador do direito fundamental à informação, mas sim meio de garantir a incolumidade do Estado e de toda a sociedade.

7 O prazo de 20 (vinte) dias somente poderá ser prorrogado por mais 10 (dez) dias se for mediante justificativa

Entretanto, existem prazos máximos de restrição no acesso de tais informações que serão distintos de acordo com a classificação da informação. Sendo assim, o prazo máximo de uma informação tida como ultrassecreta é de 25 (vinte e cinco) anos, o de uma secreta é de 15 (quinze) anos e o da reservada é de 05 (cinco) anos.

Importante frisar que o sigilo tratado na Lei nº 12.527/11 possui prazo máximo de duração e recai sobre informações específicas e cuja matéria está disciplinada na própria lei, de modo a não deixar grandes espaços abertos que serviriam para o Poder Público, assim como ocorria no período militar brasileiro, decretar o sigilo de forma não fundamentada de diversos dados, pautando-se, assim, em uma suposta garantia da segurança nacional (LOMBARDI, 2018, p. 28).

Sendo assim, a exceção do sigilo não desmerece e nem afasta a regra da publicidade, considerando que o aquele vem acompanhado do caráter de temporariedade. Desse modo, por mais que em determinadas ocasiões se aceite o sigilo de alguma informação da Administração Pública, este dado não permanecerá em tal estado por toda a eternidade, sendo o seu segredo limitado pelo tempo para que não tenha uma extensão indébita.

3.1.2. Divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações

Em conformidade com o explicitado, a informação é pública desde o seu nascimento, contudo, em determinadas situações, objetivando proteger a segurança do próprio Estado, o caráter excepcional de sigilo poderá ser aplicado. Analisando a afirmação com um olhar desatento pode parecer que é mera dedução lógica, mas, ao observar as transições que o Brasil sofreu nos últimos 60 anos, a afirmação inicial é o corolário da superação de que a Administração Pública pode atuar de forma desarrazoada, é promover a busca por um cidadão atuante e que figura como ator principal da gestão pública (BERNARDES, 2015, p. 106).

A lei de acesso à informação objetiva não somente apresentar mecanismos para uma atuação diligente por parte da população, facilitando que esta participe da análise e execução dos atos públicos, mas também procura fixar a ideia de que o próprio Poder Público necessita de uma postura de proatividade no que diz respeito à transparência (PARES, 2012, p. 232).

Em vista disso, o artigo 8º da LAI prevê que é dever dos órgãos e entidades públicas, a quem se destina a aplicação da lei, promover a divulgação das informações de interesse coletivo que estejam sob sua competência, ainda que não tenha sido realizado nenhum requerimento para tanto.

Assim, a Lei nº 12.527/11 trabalha com dois princípios de suma importância, quais sejam a transparência ativa e passiva. Inicialmente, no que diz respeito à transparência ativa, essa diz respeito ao dever que os órgãos e entidades públicas têm de conferir publicidade às informações que detém, ou que foram por eles produzidos, independentemente de solicitação por parte da sociedade. Nesse sentido, a transparência ativa trata de uma atuação proativa pelo Poder Público que não precisa que um indivíduo o provoque para que ele possa cumprir com o direito à informação constitucionalmente previsto (ARAÚJO, 2017, p. 44).

Essa voluntariedade na divulgação de informações pela Administração Pública repercute em inúmeros benefícios, dentre eles economia de tempo, pois o particular não precisará de passar por todo o procedimento de requisição, haja vista que as informações já estão a sua disposição, e economia de recursos, posto que a forma proativa dos órgãos e entidades públicas significa que diminuirão as solicitações e, por conseguinte, será necessário menos pessoal para análise de requisições (ARAÚJO, 2017, p. 46). Outrossim, a transparência ativa reflete em agilidade no próprio agir dos cidadãos que, de posse das informações que lhe foram disponibilizadas voluntariamente, poderá identificar quais as outras que necessitam do mesmo tratamento e proceder ao requerimento apenas destas.

De outro lado, a LAI também aborda o conceito de transparência passiva, sendo esta o ato do próprio cidadão em se dirigir aos sítios oficiais da Administração Pública e formular o requerimento de acesso a determinada informação. Ocorre, assim, quando o órgão ou entidade pública recebe uma demanda de acesso à informação. Nesse caso, a parte demandada deverá diligenciar para fornecer o dado que lhe fora requerido.

Desta feita, as duas principais diferenças entre a transparência ativa e a passiva são: primeiro, que na primeira o próprio órgão ou entidade pública, sem prévio requerimento, disponibiliza voluntariamente a informação, ao passo que na passiva a ação inicial parte do particular que apresenta solicitação de acesso junto à Administração; segundo, que na ativa a informação é publicada e disponível para o acesso por qualquer pessoa, enquanto que na passiva a informação é direcionada somente ao indivíduo que a requisitou, conforme figura ilustrativa abaixo:

Figura 2: Imagem comparativa entre Transparência Ativa e Passiva retirada do site da Controladoria Geral da União.

3.2. LEI Nº 13.460/2017 E O DECRETO Nº 9.492 DE 5 DE SETEMBRO DE 2018

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