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3 O ACESSO À INFORMAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.2 LEI Nº 13.460/2017 E O DECRETO Nº 9.492 DE 5 DE SETEMBRO DE 2018

vistas à promoção do valor público. Nesse sentido, a LAI ao abordar a primazia do acesso à informação e objetivando conferir transparência à administração pública é pilar fundamental na busca de integração governo e sociedade.

Entretanto, não obstante a imprescindibilidade dos aspectos delineados pela Lei nº 12.527/11, se faz necessário a existência de mecanismos por meio dos quais a população possa efetivar seu direito à informação e se conectar diretamente com a Administração Pública.

À vista disso, a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, vem dispor sobre as normas básicas de participação, proteção e defesa dos direitos dos usuários dos serviços públicos que sejam prestados direta ou indiretamente pela Administração Pública direta e indireta de todos os entes federados.

Em seu capítulo IV, a citada lei vem abordar acerca das ouvidorias, conceituando-as como espaços que terão por atribuições precípuas: promover a participação dos cidadãos na Administração Pública; receber as manifestações realizadas pela sociedade; acompanhar as solicitações e as prestações dos serviços, verificando a efetividade; propor os aperfeiçoamentos necessários para a melhoria na prestação dos serviços; auxiliar de forma preventiva e repressiva na correção de atos que estejam sendo praticados em incompatibilidade com a Lei de Acesso à Informação; receber as manifestações repassando-as ao setor competente para que resolução;

atuar como mediador e conciliador entre o indivíduo solicitante e o órgão ou entidade pública. É nesse cenário que surge as ouvidorias, apresentadas como espaço de comunicação cidadão- governo.

Face a importância das atividades desempenhadas pela ouvidoria, esta deverá elaborar relatório anual de gestão, por meio do qual irá apresentar uma análise das manifestações que recebeu, devendo indicar quais as falhas que encontrou na prestação dos serviços e sugerir melhorias que podem ser adotadas para que os problemas não venha a se repetir.

O relatório anual deverá indicar quantas manifestações a ouvidoria recebeu no decorrer do ano, o que motivou cada uma das manifestações, indicando os pontos mais recorrentes e as providências que foram adotadas na solução das demandas.

O trabalho da ouvidoria passa por todo um procedimento que é delineado pela Lei nº 13.460/2017. Inicialmente, a ouvidoria recebe a manifestação feita pelo cidadão. Essa manifestação, de acordo com o artigo 2º, inciso V, da referida lei, é subdividida em reclamações, denúncias, sugestões, elogios, dentre outros pronunciamentos que podem ser feitos pelo usuário do serviço público. Sendo assim, não necessariamente uma ouvidoria irá analisar apenas reclamações, pois o termo manifestações, conforme supramencionado, é gênero que comporta diversas espécies.

Após receber a manifestação do indivíduo, a ouvidoria irá analisar o pedido e enviar para o setor responsável. Posteriormente, ao receber a decisão administrativa, a ouvidoria irá encaminhá-la ao cidadão que requisitou a manifestação, sempre observado o prazo de 30 (trinta) dias8.

Entretanto, ponto importante trabalhado na lei é quanto a descrição do que corresponde a efetiva resolução das manifestações recebidas pela ouvidoria. Desse modo, a resolução da manifestação compreende desde o recebimento desta, com a emissão de comprovante do protocolo, a análise do pedido, a decisão administrativa pelo setor responsável e a notificação do cidadão do desfecho de sua manifestação inicial.

Com vistas a regulamentar a Lei nº 13.460/2017, foi editado o Decreto nº 9.492 de 5 de setembro de 2018. A importância do Decreto não reside somente no fato de que o mesmo regulamente a lei mencionada, mas sim no fato de que ele conceitua o que caracteriza cada um dos tipos de manifestações recebidas pela ouvidoria, bem como institui o Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo Federal.

8 Esse prazo poderá ser prorrogado por igual período, uma única vez, desde que se apresente justificativa, nos

Conforme previsto na Lei nº 13.460/2017, a ouvidoria é mecanismo de participação e proteção na defesa dos direitos da sociedade como usuária dos serviços ofertados pela Administração Pública. Para isso, a ouvidoria recebe manifestações dos indivíduos, as quais deverá analisar e acompanhar todo o procedimento de resolução. As manifestações podem ser de vários tipos, contudo, em que pese a mencionada lei cite as espécies de manifestação, é apenas com o Decreto nº 9.492/2018 que cada uma delas é caracterizada.

Consoante o artigo 3º do Decreto, tem-se que: reclamação é a demonstração de insatisfação, sendo meio pelo qual o indivíduo poderá relatar as falhas que observou na prestação de um serviço ou na conduta de um agente público; denúncia é a indicação de irregularidades ou ilícitos; elogio é a manifestação de satisfação sobre o serviço ou o atendimento que recebeu de um agente público; sugestão é a formulação de uma ideia que poderá ser de auxílio na melhoria do serviço público; solicitação de providências é o requerimento de adoção, por parte dos órgãos e entidades públicas federais, de uma atitude ativa na resolução de uma demanda; certificação de identidade é o comparativo de validade entre o documento do indivíduo e as informações prestadas e decisão administrativa final é o ato por meio do qual o setor competente do órgão ou da entidade pública responde a manifestação solicitada pelo cidadão, seja resolvendo o problema, acatando a sugestão ou informando acerca da impossibilidade de agir.

A prima facie a especificação de cada espécie de manifestação pode parecer insignificante, no entanto, a relevância do tema possui impacto direto na ouvidoria, principalmente no relatório anual. Sem essa individualização do que vem a ser cada pedido formulado pelo cidadão não é possível elaborar um relatório anual da ouvidoria fiel às suas atividades, nem muito menos se adotar os procedimentos adequados a cada espécie. Isso porque, o que aconteceria seria que a ouvidoria receberia como reclamação uma sugestão, ou adotaria como solicitação um elogio.

No final, além de não agir de acordo com o que cada tipo de requerimento requer, não se teria ideia acerca da efetividade da ouvidoria, posto que não se teria conhecimento sequer do tipo de manifestação que ela recebe e o porquê, dificultando o trabalho do ouvidor de encontrar os pontos com maior frequência de falha e as possíveis melhorias. Desta feita, primordial a especificação feita pelo Decreto em análise.

Outrossim, ponto de destaque no Decreto nº 9.492/2018 é a instituição do Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo Federal, o qual possui a finalidade de coordenar as atividades de ouvidoria que são desenvolvidas pelos órgãos e entidades componentes da Administração Pública Federal.

O Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo Federal visa, além de proporcionar uma coordenação nas ações das ouvidorias federais, facilitar o acesso ao serviço de ouvidoria pela sociedade, que contará com canal específico para propor suas manifestações. Assim, o Sistema de Ouvidoria é composto por todas as unidades setoriais e ouvidorias dos órgãos e entidades que manifestarem seu interesse em aderir ao sistema, tendo como órgão central a Ouvidoria- Geral da União (já abordada no capítulo anterior).

Tem-se, assim, que o acesso à informação é pilar de sustentação da participação popular, a qual é efetivada pelos mecanismos que conectam a sociedade com o seu governo. Nesse cenário, as ouvidorias desempenham papel fulcral como conector das demandas sociais e a Administração Pública.

Partindo desse prisma, as Instituições de Ensino Superior, ambiente cuja natureza está pautada no diálogo crítico, produção de conhecimento e incentivo da participação democrática, passa a adotar a ouvidoria como ponto de ligação entre o ambiente universitário e sua administração.

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