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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 A percepção dos Objectos

2.3.3 Leis da Percepção

Para interpretar os estímulos captados pela visão e a apreensão das formas em que se baseia a percepção intervêm certas leis. Estas leis, segundo Goldstein (1995), definem a organização perceptual, determinam como se representam os objectos no cérebro e auxiliam na compreensão das suas formas.

76 LEIS DA PERCEPÇÃO

Lei da Forma e Fundo Lei da Boa Forma ou Pregnância

Lei da Semelhança Lei do Fechamento

Lei da Continuidade Lei da Proximidade

Lei do Contraste Lei da Constância Perceptiva

Lei da Simplificação Lei da Conexão

Lei da Região Comum Lei da Conectividade

É a totalidade do conhecimento destas leis que determina, não apenas a forma como os elementos são percepcionados, mas também como são agrupados e o que significam. Goldstein, no seu livro “Sensacion y Percepcion” (1995) define algumas destas leis que se apresentam com interesse para este estudo:

Pregnância das formas, determina a facilidade com que são percepcionadas as figuras apresentadas. São mais facilmente percepcionadas as “boas formas”, ou seja, as simples, regulares, simétricas e equilibradas do que formas complexas e pouco vulgares.

Na figura 2.11 mais facilmente se percebe um quadrado e uma elipse, do que uma figura pouco vulgar e complicada de descrever.

A tendência de percepcionar figuras simples, com a regularidade e a simplicidade que lhes são próprias relaciona-se com a lei da boa continuação, como se pode perceber na figura 2.12: o ponto A dirige-se ao ponto B, e a linha que tem início no ponto C termina no ponto D; as linhas tendem a ser vistas de forma a manterem o percurso mais fácil.

Figura 2.11: Lei da Boa Forma ou Pregnância Tabela 2.1: Leis da Percepção

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Pela semelhança das formas ou a sua proximidade, as figuras tendem a ser espontaneamente agrupadas (Figura 2.13); a associação pode também ser feita pela cor, orientação ou tamanho (Figura 2.14).

Burns (2002) destaca a importância da constância perceptiva, ou seja a capacidade de se reconhecerem tamanhos ou formatos, qualquer que seja a distância ou posição de um objecto. Sem esta estabilidade perceptiva tudo parceria grande, pequeno ou disforme. A familiaridade com os objectos é um factor relevante na resistência à mudança perceptual do tamanho

A constância do tamanho, da forma ou da cor conferem alguma estabilidade na forma com é entendido o mundo.

y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ ƒy ƒy ƒy ƒy ƒy ƒy

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y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ y ƒ Figura 2.12: Lei da Continuidade

Figura 2.13: Lei da Semelhança – agrupamento pelo tamanho

Figura 2.14: Lei da Semelhança – agrupamento pela cor

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Na Figura 2.15 são simultaneamente reconhecidas figuras geométricas - rectângulos e círculos - e uma figura”humana”.

A lei da Forma/Figura e Fundo diz que, quando algo é percepcionado, a “figura” é separada espontaneamente do “fundo”, isto para que possa ser completamente compreendida. Rubinstein (1973) diz que a figura e o fundo diferem entre si: o fundo é indeterminado, ilimitado, enquanto a figura está delimitada por esse mesmo fundo (fig. 2.16), tem um contorno definido. Esta separação figura/ fundo estrutura a percepção da forma.

Tipos de Percepção

Todos os sentidos contribuem para o reconhecimento e desenvolvimento das capacidades perceptivas. O sistema sensorial começa a operar quando um estímulo é assinalado, que pode ser de qualquer tipo: “luz, som, odor, paladar, pressão ou movimento”. Burns, (2002) descreve assim a importância dos sentidos na percepção do mundo:

VISÃO

A percepção visual é a capacidade de ver coisas próximas ou distantes, é também a capacidade de discriminar pormenores, de ver formas e cores, de perceber diferentes intensidades luminosas, de reconhecer objectos, apesar de diferentes posições ou distâncias, de reconhecer rostos e emoções.

As aptidões visuais, segundo Ferland (2006), conduzem a criança a centrar a atenção em objectos, a assinalar as suas características, a compreender distâncias, a observar e transmitir emoções, em suma, a comunicar com os outros.

AUDIÇÃO

A audição ajuda a perceber a tridimensionalidade da realidade. Os cegos conseguem ultrapassar obstáculos pelo “barulho” do espaço que os rodeia. As características do

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estímulo auditivo são importantes, a aprendizagem ajuda a localizar os sons no espaço.

É através do sistema auditivo que o homem percebe o ambiente sonoro que o rodeia. Quando as vibrações chegam ao ouvido, normalmente através do ar, são percebidas como um som.

As crianças, para Ferland (2006), ao perceberem os sons e ao reconhecerem esses mesmos sons, alcançam um sentimento de segurança, reconhecem a afectividade e desenvolvem também o interesse por escutar novas palavras, novas vozes.

OLFACTO E PALADAR

Estão interligados, estes dois sentidos, o olfacto é mais sensível, consegue detectar odores distantes que chegam ao organismo por formas diversas e em pequenas quantidades. O paladar apenas detecta sensações quando estas estão presentes na boca.

Ferland (2006) considera que o paladar não é tão importante para o desenvolvimento da criança como os outros sentidos, mas o olfacto tem um papel importante na definição e vinculação dos afectos das crianças, já que as sensações olfactivas estão associadas à memória e às emoções.

TACTO

O sentido do tacto resulta de um sistema de receptores existentes na pele, que são sensíveis ao toque, pressão, calor, frio, e dor, que posteriormente envia esses sinais para o cérebro e aí são descodificados e interpretados.

As áreas mais sensíveis da pele são os dedos e as mãos, os lábios e a língua, é através destas áreas que se explora e percebe o mundo.

Ao analisar o sentido do tacto, Ferland (2006) refere que é este sistema que permite o contacto com outros objectos ou pessoas, permite também, nas crianças, que se desenvolvam sentimentos de segurança e afectividade, que tomem consciência do seu corpo, que registem as características dos objectos.

Sonneveld e Schifferstein (2008) ao abordarem este tema referem que a interacção física com o mundo não se faz apenas através do contacto das mãos, envolve todo o

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corpo. A consciência de tocar e ser tocado, transmite a percepção do próprio corpo como “objecto”, que partilha um espaço com outros objectos.

Apesar de o corpo poder ser visto, é necessário conhecer o espaço físico que ocupa, perceber que pode interagir com o que o rodeia.

Estes autores constataram ainda que, através da visão é possível ver formas e cores, pelo olfacto perceber cheiros, a audição conhecer sons, mas é o tacto que permite interligar os conceitos observados e ainda perceber as características físicas dos objectos.

Quando é utilizado apenas o sentido do tacto é possível perceber correctamente todo o objecto integralmente.

A caracterização táctil de uma textura, apesar de ser um conceito largamente estudado, é uma noção que pode suscitar algumas incertezas e indecisões ao ser descrita, a lista de adjectivos apresentados por Sonneveld e Schifferstein (2008) é extensa, quando citam vários investigadores e as suas conclusões, referem as “dimensões da textura das superfícies” como áspero/liso; macio/duro; elasticidade; pegajoso/escorregadio; instável/uniforme; macio/áspero; fino/denso; relevo/não relevo.

A experiência de tocar em algo ou ser tocado por esse mesmo objecto ou textura proporciona sensações e conhecimentos diferentes (Goldstein, 2005). Como a interacção homem/objecto pode ser vivenciada de formas diferentes, é inevitável fazer a distinção entre tacto passivo e tacto activo ou sistema háptico4 (Batista, 2005). A sensação táctil que cada objecto proporciona difere na possibilidade de controlar a estimulação táctil (activo) ou pela sensação interna sentida na pele (passivo).

O tacto activo proporciona um maior conhecimento do objecto que é tocado, a sua identificação é mais precisa, permite reconhecer no objecto a sua forma, temperatura, fragilidade ou o tamanho.

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Sistema Háptico: Refere-se à sensação de toque. O sistema háptico está relacionado com a percepção de textura, movimento e forças através da coordenação de esforços dos receptores do tacto, visão, audição e propriocepção. A função háptica depende da exploração activa do ambiente.

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Através do tacto passivo é possível sentir a sensação, a pressão efectuada na pele, a temperatura, mas nunca o tamanho ou a forma do objecto, (Sonneveld & Schifferstein, 2008).