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3 LEITURA SOBRE O TERRITÓRIO

3.2 POLÍGONO DE ESTUDO: DA BOA VISTA AO CAIS JOSÉ MARIANO

3.2.1 Leitura dos mapas

A partir de uma primeira visão sobre o território através dos mapas, foi possível identificar “lacunas” em meio ao tecido construído da cidade consolidada. Se fez necessária, num segundo momento, uma visão mais aproximada, com auxílio do

software google earth que permitiu, numa visão planificada superior, observar para a

possível presença de espaços urbanos residuais. Uma vez que nas visitas a campo, o acesso ao interior de alguns dos espaços não foi permitido. Vale rememorar que para a pesquisa, espaços urbanos residuais são vazios intersticiais entendidos como sobras do planejamento urbano. Também recebem a alcunha, lotes que com baixíssima taxa de ocupação (< 25%) que se encontram desafetados e desestabilizados.

No que se refere ao conjunto urbano, a poligonal abrange um território com características bastante distintas, além do sítio histórico estão inseridas duas quadras

que margeiam a avenida Conde da Boa Vista, desde a ponte Duarte Coelho até a rua do Hospício. Nelas, os perfis tipo-morfológicos são muito diferentes do restante do polígono, uma vez que essas quadras passaram por remodelação entre as décadas de 1950-1960, sendo nitidamente percebida a “quebra” da escala em relação ao tecido preservado da cidade colonial.

Além dos edifícios verticais que margeiam a avenida Conde da Boa Vista, nota-se a presença maciça de galpões comerciais nas imediações da avenida Dr. José Mariano, onde se concentram lojas especializadas em marcenaria e congêneres. A presença dessas tipologias coexiste no polígono com edificações térreas e sobrados de até três pavimentos. Destacam-se também algumas edificações religiosas que datam do século XVIII e poucos espaços públicos.

No que concerne aos usos, a partir de mapas cedidos pelo PCC – UNICAP foi feito tratamento a fim de destacar a poligonal da pesquisa. Uma vez que o levantamento foi realizado em todo o centro expandido continental da cidade do Recife no ano de 2017. Foram identificados os principais usos que se desenvolvem no núcleo de formação da Boa Vista, enquadrados em nove categorias: comércio, serviço, uso misto (comércio+serviço, comércio e/ou serviço+habitação), habitação formal, institucional, cultural, educacional e religioso. Também foram contabilizados os lotes e edifícios que Figura 22 - Quadra do largo Machado de Assis. Destaque para o contraste entre as tipologias. Fonte: Google maps (2019).

Figura 21 - Foto aérea do Recife destaque para ponte da Boa Vista. Fonte: IPHAN (1960). Tratada pela autora (2019).

estão vazios atualmente. Seja por estarem desocupados, desafetados ou em processo de construção.

Na primeira leitura sobre o território foi possível identificar os usos que predominam na poligonal: Duas manchas maiores que correspondem respectivamente ao comércio e à habitação formal. Enquanto a mancha que corresponde à habitação formal (amarela escura) se distribui pelas quadras do interior do polígono, a mancha correspondente ao uso comercial (azul escuro) margeia a quadra lindeira ao rio Capibaribe e adentra no polígono em sua porção entre a rua da Imperatriz e a avenida Conde da Boa Vista (Ver figura 27).

A distribuição em relação ao do uso do solo dos 474 imóveis contabilizados na poligonal se dá, da seguinte maneira: 31,43% são de uso comercial, 40,2% correspondem ao uso habitacional, serviços respondem por 9,28% e o uso misto 4,85%. Os imóveis e lotes vazios representam 12,44% do total. As demais categorias como, cultura, educação e o uso institucional tem respectivamente 02 (dois), 1 (um) e 5 (cinco)imóveis sendo utilizados. É pontuada também, a presença de 07 (sete) imóveis de cunho religioso.

Somados, os lotes esvaziados que compõem o polígono totalizam 59 unidades, dentre os quais cerca de 40 unidades se encontram inseridos no SPR 1- ZEPH 8.1, entre as ruas Velha, Matriz e rua da Glória reforçando o raciocínio de que somente a salvaguarda do patrimônio edificado não garante sob hipótese alguma, a sua conservação.

Figura 23 - Mapa de usos sobreposto sobre a poligonal da pesquisa. Fonte: PCC – UNICAP (2017). Adaptação própria (2019).

Habitacional Comercial Vazios Serviços Uso misto Outros

Somam-se ainda 4 (quatro) lotes desocupados, que servem como estacionamentos privados, 2 (dois) se encontram na rua da Aurora, margeando o rio Capibaribe, 1 (um) na rua Velha e 1(um) na avenida Dr. José Mariano. A classificação sobre a situação de vacância incide sobre os lotes sem ocupação e também sobre edifícios desocupados e desestabilizados. O número de imóveis esvaziados na poligonal é mais expressivo que a soma dos usos cultural, institucional e educacional juntos. Que somam um total de 7 (sete) unidades. Também possui maior percentual que o uso misto e de serviços. Essas informações refletem a condição de conservação do espaço.

A partir dessa leitura, foi possível identificar os espaços urbanos residuais que se encontram inseridos na poligonal do objeto de estudo da pesquisa. Julgou-se pertinente atentar mais detalhadamente sobre dois “conjuntos” de lotes que se encontram esvaziados e sem ocupação. Considerando o contexto urbano dos centros históricos brasileiros, com construções que ocupavam o lote por inteiro, esses conjuntos esvaziados se destacam porque agem como “lacunas” na malha urbana. As fichas que compuseram o inventário sobre esses espaços são elucidativas. (Ver nos anexos)

Os lotes de numeração 126 e 136 na rua Velha estão inseridos no polígono do SPR 01– ZEPH 8.1, possuem juntos 516m² que junto ao imóvel de número 121, na rua da Matriz, conformam uma esquina “vazia”, configurando assim um conjunto que se constitui como espaço urbano residual. Esse vazio é proveniente do arruinamento da infraestrutura anterior. Os lotes se desconfiguram também quanto à escala urbana, Figura 24 - Gráfico de setores com os usos distribuídos na poligonal de estudo. Elaboração própria (2019).

quando suas divisas se desfizeram. Entre definições metodológicas, os lotes que compõem o conjunto entre a rua Velha e a rua da Matriz podem ser caracterizados como lotes desocupados provenientes do que Borde (2006) caracteriza como vazios arquitetônicos15.

Os quatro lotes sob os números S/N, 71, 79 e 101 que se encontram entre o largo Machado de Assis e a rua da Aurora também foram considerados espaços urbanos residuais por possuírem as características que identificam o objeto teórico da presente pesquisa. A soma das áreas dos lotes chega a 2.497,85m². Os lotes que possuem localização privilegiada na malha urbana recifense estão registrados na plataforma ESIG – PCR respectivamente: nº 71, como imóvel especial, nº 79 como loja e o nº 101 como galpão, o primeiro lote S/N não possui registro definido na plataforma. Porém, os lotes de número 71 e 79 estão totalmente desocupados.

15

Podem ser observados em toda cidade, mas, se intensificam na área central, constituindo-se muitas vezes em patrimônio arquitetônico a ser preservado e outros ainda, em ruínas urbanas, resultantes de edificações desafetadas, compostas apenas por seus elementos remanescentes, como as fachadas com interior vazio delimitadas por legislação específica de preservação urbana. (Clemente, 2012)

Figura 25 - Vista superior do conjunto esvaziado na rua Velha. Fonte: Google maps (2019). Figura 26 - Fachadas dos lotes 126 e 136 na rua Velha. Fonte: Oliveira (2019).

É inegável a característica expectante que os lotes mantém, uma vez que o subaproveitamento da infraestrutura disponível na área urbanizada da cidade proporciona, em detrimento das atividades comerciais desenvolvidas nos lotes que os mantém parcialmente ocupados (Sousa, 2010). Segundo Borde (2006) existem diferenças entre a desocupação (terrenos não ocupados) e a desafetação (terrenos não utilizados).

(...) terrenos não ocupados são aqueles nos quais não há edificação, mas que podem estar sendo temporariamente utilizados para circulação ou lazer, por exemplo; terrenos não utilizados, por sua vez, são terrenos que podem até ser ocupados por edificações, mas onde não se verifica algum uso, ainda que temporário.

(Borde, 2006)