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2.1 A AMPLITUDE DO VAZIO

2.1.4 Subutilizado X abandonado

Segundo Minock (2007) tanto os termos “vazio” quanto “subutilizado” denotam condição atual de improdutividade e até de indefinição ou imprevisibilidade quanto ao futuro. Clemente (2012) faz a distinção entre os dois termos a fim de reconhecer a situação de esvaziamento como uma das etapas rumo ao vazio urbano, porém indicando a inapropriação ao classificar as edificações de tal maneira (como vazios urbanos) já que a sua transitoriedade não pressupõe o futuro. Sendo o vazio urbano, o resultado de um processo cumulativo, relacionado ao abandono e/ou especulação imobiliária se faz necessário acompanhar sistematicamente a sua situação de vacância.

Subutilização indica algo que é utilizado abaixo de sua capacidade. Ainda de acordo com Clemente (ibid.) a subutilização no cenário urbano é comumente associada a lotes e edificações, uma vez que a sua condição pressupõe um déficit de ocupação/uso de determinada estrutura. O aspecto de subutilização dos lotes e edifícios situados na região central das cidades, em especial, é exemplificado pelo uso parcial que os casarios coloniais desenvolveram ao longo do século XX. Essas edificações foram subutilizadas tanto nos aspectos de uso e ocdefrioupação, quanto no seu potencial urbanístico como elemento componente da paisagem. A desfuncionalização pôde ser considerada a primeira característica identificadora da subutilização, uma vez que a sua morfologia não acompanhou a alteração dos usos desenvolvidos.

Para Sousa (2010), espaços urbanos subtilizados “têm uma ocupação e/ou uso, mas que atualmente essa ocupação/uso é inadequada, ou tem potencial para uma ocupação/uso mais eficaz e eficiente no tecido urbano enquanto um todo.” Para Borde (2006) a subutilização é um dos critérios definidores dos vazios urbanos em relação ao seu potencial construtivo. A autora estabelece a subutilização como critério definidor dos conceitos de vacant lands, brownfields e delerict lands no território norte americano, como exemplos do que a autora intitula como vazios esvaziados 12(Pagano e Bowman, 2000 apud Borde 2006).

“A subutilização nem sempre é identificada como vazio urbano pelos cidadãos uma vez que, em alguns casos, neles se desenvolvem usos e atividades que atendem a uma função não atendida pelo poder público” (ibid.) Existem termos que são geralmente associados à classificação dada aos vazios urbanos e espaços subutilizados. Dentre eles estão à deterioração e a degradação, embora também sejam associados à sua identificação a desocupação e a desafetação. É importante salientar que, todavia o abandono seja uma condição muito ampla que identifique o que foi deixado para trás, ao que se renunciou e que mesmo sendo classificatória, não define a condição de vazio urbano (ibid.).

De acordo com Clemente (2012) “os conceitos de deterioração e degradação estão associados a perda de função, danos em estrutura física ou redução do valor de transação de um lugar.” Porém, enquanto deterioração diz respeito à perda de

qualidade, onde algo se mantém estragado, denotando uma condição de inferioridade,

degradação se refere ao que está destruído, algo que perdeu suas características

naturais, como uma perda irreversível, uma situação de desmoronamento. Dessa

maneira busca-se estabelecer uma relação síntese entre as classificações e os fatores identitários relacionados aos vazios urbanos.

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Vazio esvaziado é o vazio que não preexiste à relação de cheios e vazios da cidade. É o modelo de vazio produzido e fruto da racionalidade moderna e das intervenções urbanas que datam desde a segunda metado do século XIX (Borde, 2006).

Embora Clemente (ibid.) reconheça que uma série de autores, incluindo Borde (2006) consideram a subutilização, uma classificação dada ao vazio urbano, onde o mesmo é apresentado como escala global, à autora argumenta quanto a divergências entre conceituações e nomenclaturas dadas pelos teóricos. Para Clemente (ibid.) é inoportuno considerar desafetado ou não utilizado um lote que possui edificação e a mesma se encontra atualmente sem uso, pois a promoção do uso passa a ser relacionada à edificação e não mais ao terreno.

Esse argumento vai de encontro ao artigo 5º do Estatuto das cidades (2001), que considera subutilizado o imóvel cujo “aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente”. A autora justifica que em casos de lotes que possuem edificações, termos como “subaproveitamento” ou “subocupação” configurem uma melhor relação de classificação diante dos vazios urbanos.

Associa-se também ao imóvel e lote subutilizados, o termo vacância que para Borde (2006) está relacionada “a alteração nas condições de uso e ocupação, por esvaziamento, de um espaço urbano, que até algum tempo atrás apresentava uma relativa estruturação”. (Clemente, 2012). Borde (ibid.) amplia a abrangência do termo, uma vez que o mesmo é mais comumente associado a sua função imobiliária. Para Bonfim (2004) além do tempo inativo, a vacância é um dos aspectos que determina o abandono da estrutura urbana, porém não podendo ser considerados vacantes aqueles espaços cuja falta de uso é temporária ou aqueles que estão disponíveis ao mercado imobiliário.

Deterioração Se refere a perda de qualidade; estragado

Degradação Destruído, relacionado a ruína

Desocupação Sem ocupação

Desafetação Perda do seu caráter público anterior

Abandono Relaciona-se com o que foi deixado para trás

Apesar de não figurar diretamente como objeto de estudo da pesquisa, os lotes e, sobretudo os imóveis subutilizados fazem parte do universo relacionado ao vazio urbano, de maneira aproximada aos espaços urbanos residuais, pois diferentemente dos vazios urbanos caracterizados por grandes glebas, áreas ferroviárias ou portuárias, os imóveis subutilizados comumente se encontram inseridos no mesmo contexto de deterioração e degradação dos espaços esvaziados. Nesse aspecto, é entendido inclusive, que a subutilização da estrutura mediante a sua não manutenção e/ ou recuperação, pode acarretar a destruição do imóvel, dando lugar ao espaço urbano residual fundiário por meio do arruinamento da sua estrutura física.

Para entendimento, a subutilização apresentada nesse trabalho coaduna com o raciocínio apresentado por Clemente (2012) que a apresenta como critério de categorização de análise dada ao vazio urbano. Aqui, busca-se estabelecer uma relação entre os aspectos de subutilização e abandono como componentes do processo de esvaziamento urbano. Todavia, parece ser uma constância a dissonância entre os termos relacionados aos vazios urbanos. Dessa forma, se fez necessária a revisão bibliográfica apontando as colocações das principais autoras relacionadas, para a partir desses entendimentos, estabelecer uma relação lógica com o objeto de estudo.