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Para se ter noção da dimensão do problema LER-DORT na maior potência política e econômica do mundo atual, os Estados Unidos da América, anualmente, cerca de 19 milhões de pessoas são afetadas pelas LER-DORT, gerando custos de U$ 563 milhões. Desse total, 34,9% são gastos com tratamento médico e 65,1% com indenização ao trabalhador, sendo que as LER-DORT custam quatro vezes mais que as outras doenças que causam afastamento do trabalho. (Couto, 2000)

Em 1997, o governo americano, através do Departamento de Saúde e Serviços Humanitários, do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) e do Instituto National de Saúde e Segurança Ocupacional (NIOSH)28 já alertava para os dados disponibilizados pelo anuário denominado Annual Survey of Occupational Injuries and Illnesses (ASOII), produzido pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), que é um órgão norte-americano que controla todas as estatísticas relacionadas ao trabalho, identificando que no relatório de 1995, 308.000 casos (ou 62% do montante total de doenças do trabalho) ocorreram devido a desordens associadas com o trauma repetitivo e ressaltando que o número de casos aumentou significativamente de 23.800 casos em 1972 para 308.000 em 1995. (NIOSH, 1997)

O Departamento de Trabalho do Governo Americano29 define uma desordem musculoesquelética (MSD), como uma lesão ou desordem dos músculos, nervos, tendões, articulações, cartilagem, ou discos espinhais; não incluindo os distúrbios causados por quedas, acidentes automobilísticos ou similares. (Bureau of Labor Statistics, 2005)

28

U.S. Department of Health and Human Services. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH).

29

Os relatórios emitidos pelo BLS entre os anos de 1996 e 2005 demonstram que as desordens músculo-esqueléticas responderam por cerca de um terço de todas as lesões e doenças relacionadas ao trabalho neste período (Tabela 1).

Tabela 1 – Valores absolutos e relativos dos distúrbios músculo-esqueléticos nos Estados Unidos da América, entre os anos de 1996 e 2005

Anos distúrbios músculo-Número total dos esqueléticos

Porcentagem dos distúrbios músculo-esqueléticos em relação à

totalidade de doenças do trabalho

1996 647.400 34,4% 1997 626.400 34,2% 1998 592.500 34,2% 1999 582.300 34,2% 2000 577.800 34,7% 2001 522.500 34,0% 2002 487.900 34,0% 2003 435.180 33,0% 2004 402.700 32,0% 2005 375.540 30,0% 2006 357.160 30.0% 2007 335.390 29.0%

Fonte: Bureau of Labor Statistics (2009)

Com relação à Comunidade Européia, a análise dos dados fornecidos pela European Agency for Safety and Healthy at Work (2000) demonstra que na Dinamarca, houve aumento no número de notificações desses distúrbios, de 3.576 casos (em 1993) para 4.168 casos (em 1998); na Espanha os distúrbios músculoesqueléticos de origem ocupacional correspondiam a cerca de 30% do total de doenças ocupacionais no ano de 1988, passando a representar 76% deste total em 1997 e que há problemas na disponibilidade de informações em países como a Irlanda, Grécia e Portugal.

De acordo com informações do EUROGIP30, em alguns países da comunidade européia como Espanha, França, Itália e República Checa, verifica-se um aumento da porcentagem dos distúrbios músculo-esqueléticos em relação às doenças ocupacionais. Noutros, como Alemanha e Suécia, houve uma pequena redução, sendo esta mais significativa na Bélgica e Dinamarca (Tabela 2).

Tabela 2 – Porcentagem dos distúrbios músculo-esqueléticos em relação à totalidade dos registros de doenças do trabalho, em países da Comunidade Européia entre os anos de 2000 e 2005

Países 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Alemanha 5,7% − 5,9 % 5,9 % 5,3 % 5,0% Bélgica − − 46,7% 39,4 % 31,7 % 30,5 % Dinamarca − 21,4 % 18,0 % 16,8 % 22,8 % 10,5 % Espanha − − − 85,0 % 86,0 % 89,3 % França − 73,0 % 75,6 % 70,0 % 71,7 % 75,3 % Itália 13,1 % 16,0 % 18,9 % 19,0 % 2,6 % 31,4 % República Checa 36,2 % 32,9 % 35,2 % 33,3 % 27,0 % 39,8 % Suécia − 36,9 % 33,3 % 29,5 % 31,7 % 33,5 % Fonte: EUROGIP (2006) 27

Walsh et al. (2005), a partir da análise do relatório do grupo de trabalho de saúde e ocupação do Governo Britânico, compreendendo os anos de 2002 e 2003, descreveram que a taxa de incidência média anual era de 51.2/100.000 para doenças mentais, 35.9/100.000 para desordens músculo- esqueléticas e de 10.4/100.000 para dermatoses ocupacionais.

A população economicamente ativa no Brasil foi estimada, no ano de 1997, em 75,2 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 36 milhões foram consideradas empregadas, das quais 22 milhões seguradas pela Previdência Social. Números crescentes foram apontados pelas estatísticas de concessão

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Eurogip é um grupo de interesse público do sistema de seguridade social francês de, criado em 1991 para trabalhar sobre o assunto de riscos profissionais na Europa. As informações estatísticas estão disponíveis em: EUROGIP. Musculoskeletal disorders in Europe: Definitions and statistics [text on internet]. In: EUROGIP [homepage on the internet]. Paris; c2006 [updated 2007 Oct; cited 2008 Mar 22]. Available from: http://www.eurogip.fr/docs/TMS_07-Eurogip-25-EN.pdf

de benefícios previdenciários por acidentes e doenças ocupacionais. No período compreendido entre 1985 e 1992, a incidência de doenças profissionais alcançou a faixa de quatro casos por dez mil. A partir de 1993, constatou-se um crescimento epidêmico, registrando-se um coeficiente de incidência próximo a quatorze casos por dez mil, sendo que 80 a 90% dos casos referiam-se ao grupo de doenças denominadas LER-DORT, encontrando-se o Brasil entre os países recordistas em doenças ocupacionais. (Brasil, 2001; Jacques et al., 2007; Picoloto, Silveira, 2008)

A Tabela 3 demonstra que, segundo a Base de Dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, as sinovites e tenossinovites (CID10-M65), as lesões do ombro (CID10-M75), os casos de dorsalgia (CID10-M54) e as mononeuropatias dos membros superiores (CID10-G56) foram os distúrbios músculo-esqueléticos relacionados com casos de LER-DORT e registrados como doenças do trabalho, mais prevalentes no Brasil entre os anos de 2000 e 2006. (DATAPREV, 2009a)

Tabela 3 – Quantidade de acidentes do trabalho registrados por motivo, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no Brasil entre os anos de 2000 e 2007

ANOS Doenças do Trabalho (CID10) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL Mononeuropatias (Membros Superiores) (CID 10 – G 56) 0 842 1.097 1.328 1.669 2.036 2.018 1.324 10.314 Mononeuropatias (Membros Inferiores) (CID 10 – G 57) 0 0 0 0 0 19 28 11 58 Dorsalgia (CID 10 – M 54) 739 870 1.214 1.545 2.357 2.503 2.239 1.580 13.047 Sinovite e Tenossinovite (CID 10 – M 65) 6.015 5.980 7.095 6.733 8.435 7.771 6.301 4.211 52.541

Transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, uso excessivo e pressão

(CID 10 – M 70)

678 741 0 0 0 1.090 805 518 3.832

Lesões do Ombro

(CID 10 – M 75) 972 1.327 1.928 2.658 3.783 4.661 4.981 3.529 23.839

Entesopatias dos membros inferiores (CID 10 – M 76) 0 0 0 0 0 89 69 37 195 Outras entesopatias (CID 10 – M 77) 574 0 1.002 1.073 1.460 1.529 1.442 1.000 8.080 Traumatismo de tendão e músculo ao nível do ombro e do braço (CID 10 – S 46) 0 0 0 0 0 37 30 26 93 Traumatismo do músculo e tendão ao nível do antebraço (CID 10 – S 56) 0 0 0 0 0 30 22 17 69 Traumatismo de músculo e tendão ao nível do punho e da mão (CID 10 – S 66) 29 17 19 20 17 28 18 12 160 Traumatismo de músculo e de tendão ao nível do quadril e da coxa (CID 10 – S 76) 0 0 0 0 0 2 1 2 5 Traumatismos de músculo e de tendão ao nível da perna (CID 10 – S 86) 0 0 0 0 0 12 8 7 27 Traumatismos do músculo e tendão ao nível do tornozelo e do pé (CID 10 – S 96) 0 0 0 0 0 4 5 1 10 TOTAL 9.007 9.777 12.355 13.357 17.721 19.811 15.961 12.275 112.270

Fonte: DATAPREV (2009a)

O percentual médio dos distúrbios músculo-esqueléticos em relação à totalidade de doenças do trabalho entre os anos de 2000 e 2005 correspondeu a 32,95% nos Estados Unidos da América (Tabela 1); a 86,78% na Espanha, 73,12% na França, 37,07% na Bélgica, 34,06% na República Checa, 32,98% na Suécia, 17,9% na Dinamarca, 16,83% na Itália e 5,55% na Alemanha

(Tabela 2). Observando-se a Tabela 4, verifica-se que no Brasil, a porcentagem média neste período foi correspondente a 54,07%.

Tabela 4 – Porcentagem dos distúrbios músculo-esqueléticos relacionados com casos de LER- DORT e registrados como doenças do trabalho em relação à totalidade dos registros de doenças do trabalho, no Brasil entre os anos de 2000 e 2006

Anos Totalidade dos registros de doenças do trabalho

Distúrbios músculo-esqueléticos relacionados com casos de LER-DORT e

registrados como doenças do trabalho

2000 19.134 9.007 (= 47,07%) 2001 18.487 9.777 (= 52,88%) 2002 22.311 12.355 (= 55,37%) 2003 23.858 13.357 (= 55,98%) 2004 30.194 17.721 (= 58,69%) 2005 33.096 19.811 (= 59,85%) 2006 30.170 17.967 (= 59,55%) 2007 20.786 12.275 (= 59,05%) Total 198.036 112.270 (= 56,69%)

Fonte: DATAPREV (2009a)

Os registros de patologias músculo-esqueléticas relacionadas com casos de LER-DORT geralmente evoluem para demandas judiciais que requerem o enquadramento em uma das espécies de benefícios previdenciários (E-31 ou auxílio-doença previdenciário / E-32 ou aposentadoria por invalidez previdenciária); ou de benefícios acidentários (E-91 ou auxílio- doença acidentário / E-92 ou aposentadoria por invalidez acidentária), de acordo com o que preconiza a Lei n. 8.213 de 27/07/1991. (Brasil,1991)

Para se ter uma noção do impacto econômico-financeiro dos benefícios concedidos pela previdência social no Brasil, a partir da análise dos dados do Ministério da Previdência Social, fornecidos pelo DATAPREV (Tabela 5), demonstra-se que os gastos com apenas estas quatro espécies de benefícios (E-31, E-32, E-91, E-92) vêm apresentando um crescimento significativo, na quantidade e no valor gasto, no período compreendido entre 1996 e 2006. (DATAPREV, 2006b)

Tabela 5 – Histórico da quantidade e valores de benefícios concedidos pela previdência social no Brasil entre os anos de 1996 e 2006

Espécies de Benefícios

Benefícios Previdenciários Benefícios Acidentários A N O S Auxílio-Doença Previdenciário (E31) Aposentadoria por Invalidez Previdenciária (E32) Auxílio-Doença Acidentário (E91) Aposentadoria por Invalidez Acidentária (E92) Total 1996 (R$ 148.775.320,13) 573.588 (R$ 18.224.851,55) 99.620 (R$ 49.822.230,23) 159.289 (R$ 1.884.524,37) 5.758 (R$ 218.706.926,28) 838.255 1997 (R$ 175.353.657,15) 606.596 (R$ 27.358.704,31) 129.806 (R$ 54.520.770,44) 159.272 (R$ 2.764.369,12) 7.499 (R$ 259.997.501,02) 903.173 1998 (R$ 194.333.480,42) 630.972 (R$ 34.136.336,06) 144.777 (R$ 52.996.454,81) 149.872 (R$ 2.706.956,69) 6.737 (R$ 284.173.227,98) 932.358 1999 (R$ 218.183.786,41) 653.456 (R$ 47.363.449,75) 182.246 (R$ 50.531.310,39) 136.024 (R$ 3.322.515,43) 7.801 (R$ 319.401.061,98) 979.527 2000 (R$ 280.679.547,41) 766.888 (R$ 46.914.480,97) 148.414 (R$ 58.476.310,11) 142.588 (R$ 4.285.468,38) 8.801 (R$ 390.355.806,87) 1.066.691 2001 (R$ 316.916.843,53) 793.825 (R$ 47.178.108,44) 125.020 (R$ 57.980.150,75) 130.960 (R$ 3.961.159,05) 7.173 (R$ 426.036.261,77) 1.056.978 2002 (R$ 557.979.270,87) 1.288.270 (R$ 74.582.814,54) 174.554 (R$ 89.778.334,00) 180.335 (R$ 6.076.985,88) 9.687 (R$ 728.417.405,29) 1.652.846 2003 (R$ 712.232.349,02) 1.371.221 (R$ 88.968.511,92) 174.687 (R$ 85.240.000,57) 145.769 (R$ 8.504 (R$ 892.700.913,35) 1.700.181 2004 (R$ 952.373.287,70) 1.725.781 (R$ 125.554.804,74) 214.530 (R$ 101.925.854,16) 165.219 (R$ 7.692.871,10) 9.069 (R$ 1.187.546.817,70) 2.114.599 2005 (R$ 1.093.923.739,14) 1.860.695 (R$ 168.153.291,70) 265.543 (R$ 97.565.274,36) 156.168 (R$ 8.778.668,98) 9.658 (R$ 1.368.420.974,18) 2.292.064 2006 (R$ 1.393.978.578,43) 2.188.671 (R$ 118.005.511,70) 171.853 (R$ 91.736.468,95) 140.998 (R$ 5.971.294,75) 5.854 (R$ 1.609.691.853,83) 2.507.376 2007 (R$ 1.219.019.917,61) 1.825.508 (R$ 97.228.074,23) 135.211 (R$ 193.441.530,15) 274.946 (R$ 4.467.697,05) 4.495 (R$ 1.514.157.219,04) 2.240.160 Total (R$ 7.263.749.777,82) 14.285.471 (R$ 893.668.939,91) 1.966.261 (R$ 984.014.688,92) 1.941.440 (R$ 58.172.562,64) 91.036 (R$ 9.199.605.969,29) 18.284.208 Fonte: DATAPREV (2009b)

Estes benefícios apresentam importantes repercussões econômico- financeiras, previdenciárias e sociais no atual sistema previdenciário brasileiro, pois são habitualmente concedidos a pessoas em idade produtiva, particularmente acometidas por patologias resultantes do processo de industrialização e urbanização (Moura et al., 2007)

O aumento da quantidade e do valor médio dos benefícios fez com que a despesa com benefícios pagos pela previdência social no Brasil mais do que duplicasse, passando de 2,6% do PIB em 1988 para 6,1% em 2000. Desta forma, se não houver nenhuma reforma estrutural significativa, a projeção de evolução da despesa com benefícios, em percentual do PIB, será de

aproximadamente 8% do PIB em 2014 e 10% do PIB em 2025. (Stephanes, 1999; Ferreira, 2006)

Ainda sobre a questão do impacto econômico-financeiro do pagamento de benefícios pela previdência social, esclarece-se que se as determinações constitucionais fossem obedecidas, os recursos destinados à Seguridade Social, em 2001, seriam da ordem de R$ 137,52 bilhões e a despesa correspondente a R$ 105,41 bilhões, restando um saldo de R$ 32,11 bilhões. Considerando-se somente as receitas previdenciárias líquidas, advindas das contribuições obrigatórias (R$ 62,49 bilhões) versus o total de pagamento de benefícios (R$ 78,70 bilhões), a previdência, entretanto, apresentaria um déficit da ordem de R$ 16,21 bilhões, aspecto agravado devido ao fato dos recursos da Seguridade Social serem utilizados pelo Governo Federal para cobrir outros tipos de compromissos, como o de gerar superávit no critério das contas primárias no Orçamento Federal, ou seja, as receitas menos as despesas, desconsiderando-se os juros. (Batich, 2004)

Corroborando esta linha de pensamento, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que é um órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em setembro de 2004 publicou no seu boletim de conjuntura n. 66, uma Nota Técnica que abordava o assunto “O aumento das despesas do INSS com auxílio-doença”. De acordo com esta Nota, houve um elevado crescimento 4,7% (a.a.) do número de benefícios assistenciais no interstício de 1999/2003 e, na composição dos benefícios previdenciários, o forte crescimento do item “auxílio-doença” cresceu à estonteante taxa média de 24,0% (a.a.) neste período, movimento esse concentrado nos últimos dois anos. (Cechin, Giambiagi, 2004)

As patologias compreendidas pelos termos LER-DORT causam dor, disfunção e danos, sendo, muitas vezes, controversa a interpretação quando se investiga a relação com o trabalho. Alguns estudos demonstram que a associação de sintomas ao trabalho pode exercer um efeito negativo acentuado quanto à duração do estado de doença e à recuperação, fazendo com que a análise e concessão médica continuada do benefício propiciem a denominada “incapacidade gerada por médico” (Miller, Topliss, 1988; Higgs et al., 1995; Bednar et al., 1998; Oliveira, 1999b). Este aspecto, socialmente, valorizaria a cultura da dor e desestimularia a adaptação a circunstâncias

adversas. Neste sentido, a facilidade de concessão de benefícios poderia levar a um aumento do número de pessoas acometidas e ao aumento dos custos previdenciários e sociais. (Durbin, 1997; Rossignol et al., 1997; Oliveira, 1999b)

A preocupação do Governo Federal com o aumento progressivo do número de benefícios concedidos e com o montante de recursos destinados a pagá-los, fez com que, em 24 de março de 2005, houvesse a publicação da medida provisória 242 que, em última instância, almejava redimensionar o acesso à concessão destes benefícios. (Brasil, 2005)

Desta forma, nos últimos anos, de modo similar ao que ocorreu em outros países, como Estados Unidos da América, Inglaterra Alemanha e Argentina, a Previdência Social ganhou relevância na agenda político- econômica do Brasil, passando a ser consensual o entendimento acerca do equacionamento adequado da questão previdenciária, como um dos pilares para a organização das contas públicas, visto que o equilíbrio financeiro até então existente mostrou-se frágil, tendo se desvanecido e transformado rapidamente em crescentes déficits. (Afonso, Fernandes, 2005)

Apesar do conhecimento sobre o estado da arte dos aspectos diagnósticos, periciais e jurisprudenciais das LER/DORT no Brasil ser de fundamental importância para todos aqueles que lidam rotineiramente com a matéria, como os médicos peritos e do trabalho, advogados, membros do ministério público e da magistratura (estadual, federal e do trabalho), as informações sobre o assunto estão difusamente fragmentadas em livros e periódicos médicos, assim como no banco de dados de jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior do Trabalho, dos cinco Tribunais Regionais Federais, dos vinte e quatro Tribunais Regionais do trabalho e dos vinte e sete Tribunais Estaduais de Justiça, o que se constitui num fator limitante para o conhecimento e aplicabilidade destes conceitos.

As patologias compreendidas pelos termos “LER/DORT” causam dor, disfunção e danos, sendo, muitas vezes, controversa a interpretação quando se investiga a relação com o trabalho. A identificação de marcadores objetivos da doença ou dos desencadeadores dos sintomas depende da perícia, do entusiasmo e do conhecimento do examinador sobre as manifestações da doença e da limitação das técnicas propedêuticas. A sociedade espera que o

médico interprete, verifique ou rejeite a legitimidade desses argumentos e fatos. Sendo assim, o clínico precisa agir face à incerteza, avaliando causa e capacidade com base na organização legal e burocrática, o que não é absolutamente uma tarefa fácil. (Brasil, 2001)

A relevância deste estudo se reveste no fato de que tanto o conteúdo dos laudos periciais (que atestam ou refutam a existência de condições patológicas porventura existentes num individuo), como as decisões das sentenças judiciais, são os dois fatores determinantes no processo de concessão, ou não, do beneficio previdenciário em casos de LER/DORT.

Desta forma, destaca-se a importância das premissas de que um correto diagnóstico das diversas patologias englobadas na sigla LER/DORT (pelo médico-perito ou do trabalho, através da interpretação dos diversos sinais e sintomas clínicos, além da correta utilização dos novos exames complementares que surgem com a evolução da medicina), assim como um amplo conhecimento da jurisprudência sobre o assunto (por parte de todos aqueles que atuam junto às diferentes instâncias judiciais), são fundamentais para que o benefício previdenciário ou acidentário continue sendo concedido, no futuro, a todos que realmente demonstrem, tanto pericialmente, como juridicamente, dispor deste direito, contribuindo, em última análise, para construção de um modelo crítico e consciente que colabore com a garantia de sustentabilidade do sistema previdenciário no Brasil.

2.2.2 Aspectos evolutivos da legislação brasileira de interesse pericial