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A LGUNS DOS DESAFIOS PARA DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA

No documento Escolarização e deficiência (páginas 85-91)

1) Rever a deinição de urbano e rural para deinir políticas públicas:

como toda a discussão sobre o rural no Brasil é tensa e espaço de conlito, explicitamos que a deinição entre urbano e rural traz esse embate. Veiga (2003, p.58) discute os critérios utilizados na atual legislação para a deinição entre urbano e rural e argumenta a necessidade de revisão desses critérios, mostrando que, na realidade, 30% da população do país vivem

em “milhares de pequenos municípios do vasto Brasil rural”. Lopes (2003, p. 24) acompanha a contestação referente ao fato de o país ser mais de 81% urbano:

[...] sendo o rural visto como mero resíduo, destinado a rápido desaparecimento. Cálculos mais adequados indicariam para o ano 2000 um espaço rural abrangendo a maioria do território nacional e cerca de 30% da sua população... para uma parte substancial dessa população rural a tendência é mais para o crescimento e não para sua diminuição.

2) Ampliar a produção de conhecimento na área: na trama cultural

do campo muitas perguntas se impõem. Como é a participação da pessoa com deiciência na vida e na luta do campo? As pessoas com deiciência trabalham na terra? Participam dos movimentos sociais? Qual é o “olhar” das mulheres e dos homens do campo sobre a pessoa com deiciência: é de incapacidade? De caridade? De direito? Qual é a expectativa da família e da comunidade diante da vida da pessoa com deiciência? Como o fenômeno da deiciência se apresenta nas matrizes culturais do campo? As respostas a essas perguntas podem trazer elementos para se compreender os modos como se expressam a presença ou a ausência de alunos com deiciência nas escolas do campo. Com isso, avançar na relexão sobre um projeto e uma prática pedagógica no campo em que pessoas com deiciência, sujeitos do campo, também se constituam sujeitos da educação do campo.

3) Ampliar as políticas públicas de inanciamento da educação do campo: vários autores desvelam que é histórico o descaso com a

manutenção da educação pública no Brasil (SAVIANI, 2008; GENTILI, 2006). A Conferência Nacional de Educação (BRASIL, 2010) reairma a necessidade de investimento na área:

Desenvolver uma política pública de inanciamento da educação do campo, adequada ao atendimento de todas as necessidades da educação nacional, com deinição de padrão de qualidade, tomando-se por base o custo-aluno/a. A educação escolar do campo demanda mais recursos que a urbana, quando se considera a localização da instituição de ensino. Por isso faz-se necessário um valor per capita maior para os/as estudantes das escolas do campo (p.137).

4) Conhecer a educação do campo para organizar propostas relevantes para a interface: a história da educação do campo é marcada por uma

proposta pedagógica urbana, em que o espaço rural é compreendido como inferior e em extinção. Os movimentos sociais pela reforma agrária têm debatido intensamente qual é a identidade da educação do campo. Nessa direção, Arroyo (2005, p. 78) airma que para a construção de um projeto e uma prática de educação básica no campo é necessário compreender quais são as matrizes culturais do campo.

Há uma cultura da terra, da produção e do trabalho, do modo de vida rural... Sempre foi tensa a relação do homem com a terra; as relações sociais no campo foram e são tensas... Como educadores, temos que pensar na força que têm as matrizes culturais da terra e incorporá-las a nosso projeto pedagógico. Sobretudo, incorporar as transformações que as lutas no campo provocam nessas matrizes culturais. A cultura é dinâmica. Ao longo da história a luta pela terra acelerou essa dinâmica cultural (ARROYO, 2005, p.79).

Ainda pouco se sabe como ensinar os alunos com deiciência na atual estrutura escolar urbana, classiicatória e excludente. No esforço de construção da identidade da educação do campo, enquanto um direito de todas à educação (CALDART, 2005, p.151), a educação das crianças e jovens com deiciência é desaio coletivo.

REFERÊNCIAS

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No documento Escolarização e deficiência (páginas 85-91)

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