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À semelhança do que aconteceu com o conto anterior, a unidade didática em que este foi inserido realizou-se no âmbito de um momento de avaliação, neste caso para a cadeira de Seminário Interdisciplinar, do segundo ano do mestrado a que se destina a presente dissertação. Com base na obra Problemas fundamentales de la gramática del español como segunda lengua, de Maria Luz Gutiérrez Arauz, foi solicitado a cada mestrando que escolhesse um tema gramatical, analisasse a forma como este é plasmado no texto acima citado e, depois, apresentasse um plano de trabalho para abordar esse conteúdo em sala de aula. Foi-nos dada total liberdade de escolha, tanto a nível do conteúdo como do ano de escolaridade em que poderíamos aplicá-lo.

Nesse sentido, depois de uma leitura diagonal do livro proposto, optou-se pelo estudo do discurso direto e indireto em aula de espanhol língua estrangeira. E como se trata de um tópico abordado ao longo de toda a aprendizagem da nova língua, com diversos graus de dificuldade, decidiu-se criar uma proposta que abrangesse dois níveis de ensino: por um lado o 8º ano, em que é apresentado de forma suave e simplificada; por outro, o 11º ano, nível de continuação, onde o grau de exigência é maior e o assunto é tratado de forma mais profunda. As propostas dividem-se, pois, em dois momentos distintos, embora se tenha mantido, para ambos, o texto de Jorge Luís Borges como eixo central, como veremos de seguida. Propõem- se metas, conteúdos, estratégias e atividades para duas aulas de noventa minutos, em cada um dos casos. (APÊNDICES – doc. C)

No que concerne às propostas para o 8º ano, optámos pela integração do conteúdo na temática das “Relaciones personales” e, por isso, iniciar-se-iam as atividades com um momento de motivação. Iríamos usar uma das canções do filme “Frozen” (na versão dobrada para castelhano) para rever as características físicas e psicológicas, bem como as relações e conflitos familiares. Depois de uma visualização, far-se-ia a interpretação do fragmento musical através de perguntas orientadas. Tentar-se-ia saber se conheciam a história, com o intuito de chegar ao motivo de isolamento de Elsa. A ideia seria que, através do exemplo da jovem rainha, eles entendessem que esconder-se ou fugir dos problemas nunca é solução, pois a solidão só faz aumentar o sofrimento e só conseguimos evoluir se olharmos de frente o que nos atormenta. Além disso, levá-los-íamos a referir com quem têm o hábito de desabafar e falar sobre os problemas do quotidiano (pais, amigos, tios, etc.).

Seguindo esta ideia do isolamento social em que muitas pessoas caem erroneamente, passar-se-ia, então, ao estudo específico do conto “Libro de Arena”. Seria feita a leitura de um primeiro fragmento, situado a meio da sintagmática, que relata a forma como o livro foi ter às mãos do narrador e o efeito nefasto que provocou nele a sua posse. O primeiro passo da interpretação seria tentar dar um título à sintagmática, partindo daquele pequeno extrato. Estimular-se ia a criatividade dos alunos e verificar-se-ia até que ponto a leitura foi entendida. Também se exploraria o verdadeiro título, no sentido de comparar as expectativas e a realidade. Dar-se-ia muito valor à associação metafórica entre nome e adjetivo, tentando relacionar com o conteúdo do texto. Seria igualmente uma preocupação da docente levar a que os jovens notassem o cruzar de temática com a canção anterior, na medida em que ambos retratam a problemática da solidão, do medo de viver em sociedade, por motivos completamente diferentes, mas irracionais em ambos os casos.

Para introduzir de forma intuitiva as estruturas do discurso indireto, seria, logo de seguida, proposto aos alunos que reproduzissem as falas do narrador, utilizando as palavras introdutórias sugeridas pela professora. Antes de explicar formalmente o conteúdo gramatical, ler-se-ia ainda outro fragmento da obra, neste caso o momento em que o narrador trava conhecimento com o vendedor de bíblias e de que resultará a aquisição do livro maldito. Aqui não nos alongaríamos em interpretações, apenas tentaríamos que situassem este momento em relação ao anterior, provando que acontece antes. Interessar-nos-íamos principalmente pelas imagens que, no seu conjunto, formam um resumo da história lida. Para completar o exercício, os discentes apenas teriam de completar a frase proposta com as informações lidas / ouvidas. Mais uma vez, as estruturas sugeridas obrigariam a que usassem o discurso indireto, para que interiorizassem o modo de funcionamento sem necessitar de regra. Só depois de

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corrigidas as frases se apresentaria a regra de formação do discurso indireto, com um texto lacunar que cada um teria de completar com as palavras fornecidas.

Não havendo dúvidas, seria proposta a realização de uma atividade que visa exatamente consolidar o uso dos estilos direto e indireto: assim, cada aluno teria de escolher um cartão com uma frase, retirada ou não do conto acima citado, descobrir em que estilo se encontrava e passar a proposição para o discurso contrário, realizando as devidas alterações. Seria uma maneira mais lúdica e menos monótona de aplicar os conhecimentos adquiridos. Sob a forma de jogo, mais facilmente se captaria a atenção dos jovens, se conseguiria a sua adesão à atividade, promovendo a sua aprendizagem efetiva da língua. Seria ainda explicado o trabalho que deveriam realizar como deveres: completar uma ficha de trabalho, com exercícios de substituição sobre discurso direto e indireto.

Na segunda aula, o primeiro passo seria corrigir os trabalhos realizados em casa, com o intuito de verificar a real apreensão dos conteúdos e realizar uma sistematização dos assuntos abordados na sessão anterior. Seguir-se-ia uma atividade de expressão oral, centrada na visualização e comentário de imagens, todas integrantes do tema em estudo “Relaciones Personales”. Na primeira é visível a cumplicidade entre mãe e filha, num passeio alegre pelo campo. A segunda apresenta um conjunto de amigos ou uma família, numa sala de estar, a jogar animadamente numa consola. A terceira volta a centrar-se na amizade, desta vez num cenário de verão, à beira-mar, dando a sensação de se tratar de um festival ou outro tipo de atividade social, com o por do sol em pano de fundo. Depois de um diálogo interpretativo dos documentos icónicos, a turma dividir-se-ia em pares, e teriam de inventar diálogos com as personagens e situações imaginadas. No momento das apresentações à turma, alguns dos textos produzidos seriam passados ao discurso indireto por outros colegas selecionados.

Continuando no tema das relações interpessoais, iríamos visualizar e estudar um vídeo sobre uma família dos nossos tempos. Em poucas palavras, trata-se de um momento em família, à hora da refeição, em que o pai se sente frustrado e cada vez mais incomodado com a falta de comunicação entre todos, já que os dois filhos nem na mesa colocam de lado os telemóveis e estão constantemente a enviar mensagens. Nem respondem às tentativas de diálogo do progenitor. Por isso, este toma uma medida radical: vai à arrecadação “resgatar” a sua velha máquina de escrever e coloca-a com estrondo em cima da mesa, conseguindo finalmente a atenção desejada. A interpretação desta situação seria o ponto de partida para a realização de um debate sobre as relações familiares no mundo tecnológico em que vivemos.Com esta atividade se termina esta proposta de abordagem para o 8º ano.

No 11º ano, dado o nível C1 dos alunos em questão, todo o processo pressupõe um conhecimento anterior dos conteúdos a adquirir, tratando-se, pois, de uma revisão aprofundada dos mesmos. A unidade temática escolhida para o estudo do conteúdo gramatical e do conto em causa foi “Personajes Célebres”.

Como pré-atividade, apresentar-se-iam várias imagens, referentes a personalidades relevantes do mundo hispano. Os alunos teriam de identificar a personagem e relacioná-la com a área em que se destacou e a respetiva nota biográfica. Teriam igualmente um exercício de identificação: seriam apresentadas várias imagens, que teriam de fazer corresponder a palavras definidoras, no sentido de encontrarem a palavra mágica, LITERATURA. E, para introduzir devidamente a questão literária, escolhemos um texto que aponta os nomes de autores hispanos galardoados com prémios Nobel da Literatura. A interpretação das informações far-se-ia em forma de diálogo vertical e horizontal, fomentando a expressão oral e o desenvolvimento da interculturalidade. Seriam questionados sobre autores, obras ou filmes de modo a chegar ao nome de Jorge Luís Borges.

Nesse sentido, continuaríamos a sessão com a exploração de um documentário sobre a vida e obra do autor argentino. Depois da visualização, far-se-iam questões orientadas para que os discentes captassem os pontos essenciais sobre o escritor. Posteriormente, para verificar o grau de apreensão, deveriam colocar em ordem a biografia de Borges, que lhes seria apresentada de forma desordenada.

Passar-se-ia, de seguida, ao estudo do conto, desta vez em versão integral, apenas com pequenas adaptações para facilitar a sua compreensão. Antes da leitura, apresentar-se-ia apenas o título, cujas associações metafóricas seriam exploradas, de maneira que os jovens entendessem a ligação da areia ao tempo que passa, mas também ao infinito, porque a areia é incontável. Proporíamos ainda que antecipassem possíveis histórias com este título, fomentando o desenvolvimento da imaginação e do espírito crítico. E a leitura seria o ponto de partida para uma análise actancial e temática da sintagmática, em que deveriam referir as categorias da narrativa, bem como comparar a versão original com as possibilidades por eles apresentadas, evidenciando o seu grau de adesão à história aí veiculada.

O momento posterior apareceria intimamente ligado ao texto, na medida em que se centraria na análise e reprodução das falas das personagens, para introduzir de forma progressiva o conteúdo gramatical: discurso direto e indireto. A docente colocar-lhes-ia algumas frases retiradas do texto, ajudando-os inicialmente a mudá-las. Para isso bastaria introduzir marcadores temporais e verbos declarativos, como por exemplo “Hoy el narrador me ha dicho…” ou “Ayer, él me dijo…”. Neste caso, dado o grau de ensino, e como se trata

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de uma revisão, seriam abordados todos os aspetos a ter em conta na passagem do discurso direto para o indireto, com e sem mudança dos tempos verbais. Quantos mais exemplos de frases lhes colocássemos, mais profundamente reveriam as estruturas e mudanças gramaticais de um discurso a outro.

Também aqui usaríamos a atividade lúdica dos cartões com frases para identificar e transformar, insistindo na globalidade do tema e com um grau de dificuldade superior ao aplicado no 8º ano. Como trabalho de casa, para consolidação dos conteúdos, ser-lhes ia fornecida uma ficha de trabalho, com exercícios diversificados sobre o assunto.

Na aula seguinte, iniciaríamos os trabalhos com a correção dos deveres e com a dedução das regras de funcionamento do tema gramatical, que culminaria com o completamento de uma tabela e de um pequeno texto. Deixou-se propositadamente esta revisão teórica para o final, por se tratar de um conteúdo já abordado ao longo do percurso escolar destes jovens.

E uma vez esclarecidas todas as dúvidas, passaríamos à pós-atividade, ligada à abordagem de outro tipo de personalidades importantes, desta vez do mundo cinematográfico. Assim, seriam mostradas algumas imagens de atores e realizadores, com frases soltas, que seria preciso relacionar com a cara conhecida. Apresentar-se-iam, igualmente, alguns dados sobre os Prémios Goya, mundo importantes em Espanha, através de um PowerPoint ilustrativo. O grande objetivo destas atividades seria fazer a passagem suave da Literatura para outras artes. Neste sentido, explorar-se-iam várias curtas-metragens vencedoras ou nomeadas para estes prestigiados prémios. Veríamos as apresentações dos filmes “El vendedor de humo”, “Cuerdas”, “La bruja” e “Hiyab” e, em colaboração com todos os alunos da turma, escolher-se-ia um deles para um estudo mais aprofundado. Com esta atividade, encerramos as propostas relacionadas com o conto de Jorge Luís Borges.

Consideramos ter desenvolvido, aqui, todas as competências inerentes à aula de língua estrangeira, com grande prevalência para a necessidade comunicativa, e com grande preocupação de apresentar documentos e situações autênticos, que mostrassem aos estudantes a língua espanhola no seu real contexto de uso, motivando-os para a sua aprendizagem. Provou-se novamente que a literatura tem papel relevante nesta tarefa.