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Passando agora à aplicação do conto enunciado no título, podemos desde já afirmar que este foi incluído numa unidade didática dedicada em parte ao desporto, elaborada para um público específico, do 10º ano de escolaridade, e cujos alunos se integram no nível B1 do QCERL. A unidade proposta responde ao título “Dioses del deporte”, foi preparada para quatro sessões de noventa minutos e integra, além de aspetos linguísticos, socioculturais e gramaticais ligados ao mundo desportivo, o estudo de uma obra de leitura integral do programa. Neste caso, foi selecionado o romance breve de Gabriel García Márquez “Crónica de una muerte anunciada”. Deste modo, como veremos adiante, o conto em estudo teve um papel secundário dentro da unidade, servindo como ponte entre o conteúdo lexical e a obra literária do autor colombiano, o que não diminui a sua importância dentro do contexto da sala de aula, acaba antes por provar uma vez mais que os contos podem ter inúmeras utilizações na aprendizagem da língua estrangeira. (APÊNDICES – doc. E)

Assim, para iniciar a unidade de forma descontraída e original, a sala de aula foi previamente equipada com objetos diversos, os quais permitem praticar a mais variadas modalidades desportivas. Quando os alunos chegaram para a primeira aula, foram convidados a descrever o que encontravam na sua mesa, desde um arco de ginástica a um carro de fórmula-um, para dar alguns exemplos (ver doc. E). À medida que iam falando de possíveis desportos, a professora ia escrevendo o vocabulário novo no quadro.

Em estreita relação com esta atividade, apresentou-se, depois, um conjunto de imagens de desportistas espanhóis famosos, a que se associaram algumas informações de relevo. No sentido de levar os jovens a desenvolver a competência comunicativa e, ao mesmo tempo, rever os pronomes interrogativos, estes foram convidados a realizar questões para as respostas

apresentadas na ficha de trabalho. Aproveitou-se para insistir nestas estruturas linguísticas, recordando aos discentes que, em castelhano, não podem esquecer de colocar o acento e salientando que, para maior aprofundamento do tema, poderiam realizar em casa os exercícios apresentados no seu manual e, em caso de dúvida, solicitar ajuda na aula seguinte.

Prosseguindo com as atividades propostas, apresentou-se um conjunto de dados estatísticos sobre hábitos desportivos dos espanhóis. Começou por estabelecer-se um diálogo vertical e horizontal sobre os desportos praticados pelos jovens portugueses, concluindo-se que apenas quatro dos vinte alunos da turma praticam regularmente uma atividade desportiva. Os restantes confessaram-se preguiçosos e desleixados a este nível. Foram, depois, confrontados com a pregunta “E os espanhóis, será que têm os mesmos hábitos que nós?” Para comprovar as hipóteses colocadas, foi-lhes proposto um jogo interpretativo: a ficha tinha duas versões, A e B, cada uma com aspetos escondidos que cada par tinha que desvendar, através de um diálogo em que utilizaram os interrogativos e algum do vocabulário estudado. Neste exercício, aproveitou-se para reiterar a importância do uso do artigo, definido ou indefinido, antes das percentagens. Notou-se alguma excitação na consecução deste momento, com grande adesão dos alunos.

O mesmo se poderá dizer do preenchimento do teste “Qué tipo de deportista eres?”, que visava sistematizar as opiniões que foram sendo dadas sobre hábitos desportivos de espanhóis e portugueses. Dadas as respostas, os jovens podiam somar os pontos alcançados e associar a sua personalidade a uma das alíneas. Tratou-se de uma forma divertida de abordar o léxico em estudo, com claro balanço positivo, como aliás tinha já acontecido com as atividades anteriores.

A última tarefa da primeira sessão prendeu-se com o estudo do conto de Pedro Pablo Sacristán. Introduziu-se a temática através de questões orientadas, que levaram os discentes a referir-se ao futebol, desporto de massas que move milhões, em termos económicos e de adeptos. E, para uma aproximação progressiva ao texto, iniciou-se o seu estudo com a exploração do título. Facilmente associaram as expressões ao desporto rei e a um acontecimento de relevo para os protagonistas. Passou-se, de seguida, à leitura em voz alta, realizada por alunos voluntários. Propositadamente, não se esclareceu vocabulário potencialmente desconhecido, já que a primeira questão interpretativa visava o enriquecimento lexical. Tratava-se do jogo “palavras em linha”, que previa que os alunos descobrissem no texto as palavras correspondentes às definições dadas e, depois, com as letras designadas, completassem a expressão sintetizadora da moralidade do texto. Pretendia- se que eles compreendessem a importância do fair-play, ou jogo limpo, ou seja, que é mais

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importante participar que ganhar, jogar em equipa é sempre uma mais-valia, ao contrário do egoísmo e individualismo que, normalmente, não terminam bem. Seguiu-se, por fim, a interpretação propriamente dita, com questões de verdadeiro e falso, cuja verificação teria de ser feita com frases do texto. Notou-se empenho na realização das tarefas, bem como no debate temático que o texto motiva, com estes jovens a demonstrarem já algum espírito crítico e, assim, permitirem ao docente cumprir os objetivos comunicativos, mas também lexicais e socioculturais propostos para a sessão.

A sessão seguinte iniciou-se com uma breve recapitulação dos assuntos abordados anteriormente, dando-se grande destaque ao futebol, considerado desporto rei, e que iria permitir fazer a ponte entre a temática dos desportos e a obra de Gabriel García Márquez. Assim, voltámos a falar da moralidade do conto, da necessidade de superar rivalidades, por de parte egocentrismos para vencer, não só no desporto, mas também na vida. Os alunos referiram que, em caso de problemas, se estivermos sós, teremos mais dificuldades em superá-los do que se contarmos com um grupo coeso, amigo, a acompanhar-nos. E que isso não tem a ver só com a amizade, mas também com a vida profissional / escolar. Revelou-se um diálogo interessante, em que se partilharam opiniões e se usou a língua num contexto real de comunicação, o que representa, em última instância, a grande meta a alcançar.

Passou-se, de seguida, à exploração de uma canção, de uma dupla colombiana chamada Cali y el Dandee, e cuja temática complementa o conto que estivemos a explorar anteriormente. De facto, a composição musical refere-se ao mundial de futebol, à necessidade de superação e de trabalho de equipa para ultrapassar os problemas e chegar ao estrelato. Deste modo, realizou-se uma primeira audição, depois da qual os discentes apresentaram opiniões sobre a temática, sobre o videoclip, insistindo-se na vertente social, dado que os cantores escolheram crianças carenciadas, criando uma verdadeira campanha contra o trabalho infantil e a favor da inclusão pelo desporto. A segunda audição foi já mais direcionada, na medida em que tiveram que destacar as palavras referentes ao mundo do futebol e relacionar a mensagem da canção com o conto da aula anterior.

No momento seguinte, apresentou-se aos alunos uma ficha contendo imagens e textos desordenados. O objetivo era que fossem capazes de identificar as personalidades, concluir que quase todas se ligam ao futebol, completar as suas biografias e destacar os intrusos, ou seja, os três elementos que não são desportistas. Destes, pretendia-se que destacassem García Márquez. Os alunos comentaram que nenhum dos três tem nada a ver com desporto e, nesse sentido, a professora apressou-se a provar-lhes exatamente o contrário, com dois documentos biográficos sobre o autor colombiano. Começou por mostrar-lhes a conexão entre o escritor e

a canção anteriormente estudada, e, com a leitura dos textos, perceberam que, afinal, literatura e desporto podem estar interligados, já que o artista era adepto fervoroso do seu clube natal, jogou futebol e ténis ao longo da sua vida e, a nível profissional, teve oportunidade de misturar crónicas futebolísticas e ficção. Foram convidados a realizar uma sopa de letras que sistematizava as informações textuais e a dar a sua opinião sobre os aspetos biobibliográficos do escritor. Notou-se um claro desconhecimento por parte dos jovens, mas uma curiosidade em saber mais. Foram bastante inquiridores, tornando o momento bastante interativo.

E, para entrar com o pé direito no estudo do texto literário, optámos pela apresentação de um dos trailers da adaptação cinematográfica da obra. Com base no que viram e ouviram realizou-se uma tempestade de ideias, de modo a que encontrassem na apresentação os elementos mais relevantes da narrativa. De notar que, quando questionados sobre a leitura prévia da obra selecionada, os alunos mostraram desconhecimento total da mesma, o que já era de prever pelas características destes jovens, pouco dados a atividades extra aula e afastados da literatura, que ele próprios consideram ser “uma seca”. Ainda assim, aderiram bem às estratégias e tarefas propostas. De facto, retiraram ideias sobre as personagens, sobre o crime e o narrador. Não conseguiram compreender à primeira o motivo da desgraça, mas foram fazendo deduções a partir das palavras apresentadas no documento multimédia.

Prevendo que seriam poucos os discentes a ler previamente a obra em estudo, tinha-se já preparado a apresentação de um breve resumo dos cinco capítulos. Contudo, aproveitou-se para acrescentar algo mais à atividade. Assim, juntou-se à compreensão leitora a revisão dos tempos do passado, propondo tarefas específicas para completar cada síntese, numa lógica de progressão que pressupunha o domínio dos pretéritos perfecto, imperfecto, indefinido e pluscuamperfecto. Começou-se com um exercício simples de seleção verbal, para, depois, passarem a conjugar os verbos nos tempos e pessoas pedidos.

Por fim, ainda se procedeu à divisão da turma em grupos de três ou quatro elementos, de modo a realizarem, na sessão seguinte, um trabalho de interpretação em grupo. Assim, para cada conjunto de alunos foi proposto um fragmento da sintagmática, correspondente a cada um dos momentos mais relevantes da história. Os jovens tiveram ainda tempo para ler os excertos e discutir com os colegas algumas das questões propostas. Como entretanto tocou, ficamos de dar continuidade ao assunto na aula seguinte.

Assim, a terceira sessão iniciou-se com uma breve recapitulação dos conteúdos vistos anteriormente, centrando-nos sobretudo nos aspetos biobibliográficos acerca de García Márquez e nas temáticas da obra destacadas no trailer. Os alunos tiveram alguns minutos para

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preparar as suas respostas, passando-se logo de seguida à correção coletiva, de modo a que todos os colegas completassem as fichas e pudessem, depois, utilizá-las para sistematização.

Procedeu-se, posteriormente, a uma atividade de síntese, referente ao comportamento das categorias da narrativa no texto em análise. Assim, foram apresentados pequenos fragmentos, que tinham de ser relacionados com os respetivos títulos, no sentido de criar associações válidas. Além de que se usou esta atividade para rever as diferentes utilizações dos pronomes relativos. Com base nas etiquetas do exercício anterior, deviam formular frases em que estivessem presentes os conetores propostos pela docente, bem como sínteses dos conteúdos da obra.

Finalmente, realizou-se um trabalho de expressão escrita, relacionado com as opiniões de cada jovem sobre o texto estudado. O primeiro passo foi apresentar um cartoon animado, em que vários jovens de uma escola secundária imaginária discutem as temáticas mais importantes da obra. A ideia era levar os jovens a, também eles, pensarem nos aspetos que consideram principais e secundários na sintagmática que estiveram a estudar e, sobretudo, desenvolver a sua capacidade de produzir enunciados críticos. Deste modo, depois de um diálogo sistematizador, cada aluno foi convidado a realizar, por escrito, um comentário à obra “Crónica de una muerte anunciada”, salientando o que considerou mais importante e quais os sentimentos despertados pela leitura / estudo do texto. Alguns dos textos produzidos foram lidos aos restantes colegas, no sentido de comparar opiniões e corrigir eventuais erros coletivos.

Chegados à última sessão, teceram-se as derradeiras considerações acerca da obra em estudo, bem como da unidade temática dos desportos. Começámos pela leitura e interpretação da cena final da obra, no sentido de confirmar o destino das personagens e a morte de Santiago. Além disso, o objetivo era confrontar a obra escrita com a adaptação cinematográfica homónima, desvendando os aspetos semelhantes e divergentes entre os dois. Os alunos gostaram especialmente das cenas visualizadas, pedindo inclusive para os deixar ver o filme completo, o que não foi possível, devido aos constrangimentos temporais a que está sujeito o nosso estágio. Verificou-se que existem sobretudo aspetos diferentes, ligados à especificidade do documento cinematográfico. Tratou-se de um momento bastante positivo, que permitiu aos jovens desenvolver a competência comunicativa e o espírito crítico, tecendo comentários sobre obras de arte variadas do mundo hispano. E, para sistematizar o estudo da obra, a professora apresentou-lhes um documento em Prezi, uma ferramenta informática que permite a realização de apresentações interativas, com os elementos fundamentais da obra em estudo. O ficheiro foi lido e comentado, aproveitando-se o momento para insistir na

necessidade de lerem a obra integral e para esclarecer eventuais dúvidas que ainda persistissem.

Terminámos a unidade com uma atividade lúdica que reunia todos os conteúdos abordados ao longo das sessões, a nível lexical, cultural e gramatical. Tratava-se do Jogo da Serpente, em que cada grupo (composto por quatro alunos) tinha de lançar dois dados: um com os números e o outro com o tipo de pergunta a que tinham de responder. Só avançariam o número de casas previstas depois de responderem corretamente à questão colocada. Existiam três categorias: gramática, desporto e obra. Seria vencedor o primeiro grupo a chegar ao fim do tabuleiro digital. Todos os grupos responderam de forma esforçada, com um desportivismo muito adequado à moralidade do conto estudado. Tratou-se de um momento extremamente divertido, em que, de forma descontraída, os discentes retomaram temas e estruturas já estudadas, utilizando-as em contextos reais de comunicação, muitas vezes quase de forma instintiva, o que mostra a utilidade destas tarefas e prova que os objetivos previstos para a unidade foram em larga escala cumpridos.

Antes de nos despedirmos, houve ainda tempo para o preenchimento de uma ficha de auto e heteroavaliação, em que os jovens refletiram sobre os aspetos formais, pedagógicos e metodológicos da unidade, avaliando tanto a docente como o seu próprio desempenho. Se olharmos para a tabela que abaixo se apresenta, nota-se que 99% dos jovens apreciou as atividades desenvolvidas, vendo como interessantes tanto os textos escritos como os audiovisuais. Todos notaram a pertinência dos temas abordados e das atividades desenvolvidas e se sentiram à vontade para exprimir sentimentos, ideias e dúvidas.

Na parte do questionário referente aos conhecimentos adquiridos, notou-se que apenas um dos discentes respondeu em sentido contrário ao esperado, pois os restantes concordaram

¿Cómo veo la unidad didáctica?

No

Regular

El tema me ha parecido interesante. 16 1

Los textos escritos son interesantes. 16 1

He entendido el contenido de los textos escritos. 16 1

Me han gustado los textos orales / audiovisuales. 17

He entendido los mensajes de los textos orales / audiovisuales. 16 1

Las actividades han sido interesantes. 17

Las actividades me han permitido reflexionar sobre temas importantes.

17

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na aquisição de vocabulário, estruturas e aspetos socioculturais de relevo, tanto para o sucesso escolar como a sua construção enquanto cidadãos do mundo, conscientes e críticos, que compreendem que falar línguas é uma mais-valia para o seu futuro. Para confirmar estas afirmações, podemos observar o quadro abaixo, que contém a relação das respostas dadas pelos jovens.

Foi-lhes ainda pedido que refletissem sobre aspetos concretos da aprendizagem, autoavaliando-se de acordo com o que, no final da unidade, se sentiam capazes de realizar, com os resultados que se veem na tabela abaixo. O único domínio em que se nota mais dificuldade é exatamente na obra literária, bem como nas questões teóricas a ela ligadas. Dos dezassete elementos em aula, quatro notam que não se sentem totalmente seguros para escrever ou falar sobre García Márquez, enquanto existe um discente que afirma mesmo ter dificuldade em formular discursos orais e escritos sobre a obra. Tal deve-se, decerto, ao facto de nenhum dos jovens ter lido previamente a sintagmática e, por isso, persistirem pequenas dúvidas que o estudo em sala de aula não conseguiu dissipar.

Conocimientos

No

Regular

He adquirido mucho vocabulario nuevo. 15 1 1

He adquirido conocimientos sobre la cultura española. 15 1 1

He adquirido conocimientos sobre realidades socioculturales diferentes de la mía.

16 1

He repasado contenidos importantes para mi éxito escolar y personal.

15 1 1

Reconozco las ventajas de hablar idiomas. 16 1

Soy capaz de…

Muy

bien Bien

No muy bien

…hablar sobre deportes y objetos relacionados. 14 3

…reconocer figuras del mundo deportivo hispano. 15 2

…hablar y escribir sobre Gabriel García Márquez. 13 4

…hablar y escribir sobre “Crónica de una muerte anunciada”. 14 2 1

…expresar mi opinión y justificarla. 16 1

…utilizar correctamente los tiempos verbales. 15 2

Por fim, quando questionados sobre a realização das tarefas propostas, 24% dos alunos (quatro) confessou nem sempre ter participado ativamente, enquanto praticamente metade da turma apontou o facto de ter necessitado ajuda na consecução de algumas atividades mais complexas, sobretudo as que se ligaram ao domínio da obra literária em estudo. Ainda assim, notou-se um grande empenho e cooperação por parte do grupo, que conseguiu superar dificuldades (especialmente de oralidade) e terminou a unidade num balanço muito positivo, como prova a última resposta da tabela abaixo: o grupo foi unânime ao afirmar que a unidade didática foi bem conseguida, alcançando os objetivos / metas desejados e desenvolvendo as competências previstas para o ano / nível.

¿Cómo he trabajado?

Siempre Casi

siempre Nunca

He realizado las tareas propuestas… 13 4

He realizado las actividades fácilmente. 9 7 1

Me he divertido haciéndolas. 14 3

Me he sentido cómodo trabajando en parejas/grupo. 14 3

En resumen

No

Regular

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