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Quando se fala em limite aos poderes instrutórios do juiz, é comum a indicação da lide ou objeto litigioso como forma de critério objetivo impeditivo da extrapolação do magistrado218. Nesse sentido, José Roberto Bedaque:

A atividade instrutória do juiz, portanto, está diretamente vinculada aos limites da demanda, que, ao menos em princípio, não podem ser ampliados de ofício (CPC, arts. 128 e 460). Nessa medida, à luz dos fatos deduzidos pelas partes, deve ele desenvolver toda a atividade possível para atingir os escopos do processo.219

A lide ou o objeto litigioso220 se prestam a identificar qual exatamente é o ponto controvertido existente entre as afirmações das partes, a fim de que se extraia a eventual necessidade de produção de prova e se estabeleça o tipo probatório adequado ao caso concreto.

Assim, o ponto controvertido encontrado constitui o objeto da prova, sobre o qual o juiz deverá se pautar na fase instrutória do processo, para efeito de admitir as provas requeridas pelas partes, ou produzir as faltantes para a elucidação dos fatos.

Como se observa, o objeto da prova precisa ser identificado, e sobre ele recairá toda a instrução probatória. Após esse procedimento, e tendo sido propiciada às partes a ampla produção de provas, sem que seja possível se chegar a uma conclusão definitiva sobre a questão, o juiz poderá lançar mão de todo o seu poder de atuação probatória.

Porém, mais uma vez se verifica que não se está falando de limitação do poder instrutório do magistrado, mas de técnica processual capaz de definir exatamente o que carece de prova nos autos, bem como a modalidade instrutória que se amolda à situação.

É certo que a definição do objeto litigioso ganha maior ou menor importância conforme as particularidades do tipo de procedimento adotado, porque alguns procedimentos,

218

Na jurisprudência: “O preceito ligado ao poder instrutório do juiz é limitado pelas deduções das partes. Obedecido tal limite, a necessidade da produção da prova deve ser aferida pelo juízo, visando a formação de seu convencimento. Se entendeu o juízo a quo ser necessária a produção de prova pericial, por óbvio não é o caso de julgamento antecipado da lide. Recurso improvido.” (TJSP  AgG n. 1125005002/São Paulo, julgador: 32ª Câmara de Direito Privado, rel. Rocha de Souza, j. 04.10.2007).

219

BEDAQUE, José Roberto dos Santos, Poderes instrutórios do juiz, cit., p. 94.

220

“Essa a razão de entendermos ser o objeto do processo mais amplo que o objeto litigioso ou a lide, desde que no primeiro está contido o segundo (lide), somadas as alegações do réu.” (ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de, Manual de direito processual civil: parte geral, cit., v. 1, p. 385).

em nome do princípio da efetividade, delimitam ou modificam as etapas processuais, que passam a ser desenvolvidas de modo a melhor atender ao direito material.

Esse efeito definidor, que organiza e prioriza a marcha processual, opera sobre todos os envolvidos na relação processual, não só sobre o juiz. Mas, respeitado o procedimento escolhido, o julgador irá conduzir o feito apropriadamente, nos limites da lei.

Ocorre que também não é o poder do juiz que é restringido nessa hipótese, pois, dentro dos limites do procedimento escolhido, ele é livre para definir os atos probatórios mais compatíveis com a situação posta em juízo. Note-se que a delimitação que se fala é apenas procedimental, e não operacional.

Nesse caso, a produção de provas sobre fatos externos à lide desvirtua a finalidade e a celeridade do processo, constituindo um erro de procedimento do juiz, como qualquer outra atecnia processual eventualmente procedida  e não necessariamente sobre a produção de provas , passível de controle pelas partes, através dos meios processuais próprios, mas, definitivamente, não configura um limite à sua função jurisdicional.

Dessa forma, a lide ou objeto litigioso se prestam a organizar o conteúdo probatório, proporcionando principalmente ao julgador o reconhecimento dos atos potencialmente procrastinatórios, irrelevantes, inúteis, impertinentes ou inadequados para a solução do litígio, cuja produção não interessa admitir nos autos, por quem quer que seja. Portanto, o objeto litigioso não serve para amarrar a postura instrutória do juiz, mas somente para preparar o seu campo de atuação.

Sob a ótica dos critérios objetivos de exclusão de limite, verifica-se que o objeto litigioso atende perfeitamente ao requisito da coerência jurídica, já que, de fato, tem pertinência com o direito probatório, constituindo seu objeto, mas peca quanto aos demais. Explica-se.

A identificação da lide pelo magistrado ocorre logo no início da fase instrutória, mais especificamente quando fixa os pontos controvertidos. E é somente após esse momento que o juiz lança mão de sua iniciativa probatória. Como então dizer que a lide constitui o limite de algo que ainda não aconteceu?

Como se vê, não é a identificação do objeto litigioso que impedirá o juiz de ir além ou aquém de seus poderes instrutórios. Esses poderes, após a definição do objeto litigioso, serão amplos.

Por outro lado, em caso de desrespeito pelo juiz quanto ao objeto litigioso, seja para restringindo-lo ou ampliando-lo, tal irregularidade somente surtirá efeito se causar algum prejuízo aos litigantes. Caso contrário, será convalidada.

Portanto, não é correto atribuir a tal causa um limite à tarefa probatória. O que não se quer é que o juiz forme sua convicção sem levar em conta os aspectos fáticos e jurídicos controvertidos nos autos, produzindo atos que não possuem relação com o processo, ou seja, desnecessários e impertinentes.