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“LIDERANÇA NA SALA DE AULA” Conclusões

São estas as conclusões dos trabalhos apresentados ao longo dos dois dias das Jornadas:

Ao abrir a sessão, o Sr. João de Freitas Ferreira dirigiu uma palavra de saudação e boas-vindas aos participantes nestas Jornadas, fazendo votos de um profícuo trabalho. Salientou a qualidade dos muitos oradores que, ao lon- go de 10 anos de realizações, nos brindaram com as suas brilhantes comuni- cações.

Introduziu o tema das Jornadas, sublinhando o papel do professor como elemento preponderante na educação e na formação do jovem nos seus múlti- plos saberes.

De seguida, o Sr. P.e José Maia, Presidente da Direcção do CIC, numa breve intervenção, aludiu à importância da liderança na sala de aula, referin- do que o líder não se nomeia nem se elege, mas faz-se. Não raras vezes é-se muito chefe, mas pouco líder. Este tem de saber incorporar aquilo que, na sua escola, vai acontecendo a diversos níveis, tais como, saberes, técnicas e afec- tos, fundamentalmente numa escola em crise, como é o caso da escola portu- guesa.

De seguida, o Director Pedagógico do CIC, P. Manuel António Rocha, usou da palavra para sublinhar que a problemática referente à figura do pro- fessor tem um carácter inesgotável, pois ele está para a escola como o maes- tro para a orquestra.

Salientou que a inexperiência do professor conduz a procedimentos mais rotineiros, como metodologia de imposição da sua autoridade. À medida que vai avançando na sua carreira, fruto de uma experiência adquirida, o profes- sor verifica que a interacção comunicacional e comportamental lhe facilitam a criação de relações mais empáticas que lhe permitem o êxito no processo de ensino/aprendizagem.

Na primeira conferência, a cargo do Prof. Doutor Alexandre Ventura, su- bordinada ao tema Imagens Organizacionais de Escola, o orador centrou a sua comunicação num conjunto de metáforas/imagens de ordem macro orga-

das, a problemática do microclima organizacional da sala de aula, verdadei- ra caixa negra, será o assunto preponderante de debate.

Começou por apresentar uma visão diacrónica da passagem de uma perspectiva racional para uma perspectiva social da Escola enquanto institui- ção, segundo a concepção de Scott.

De seguida, sustentando as linhas mestras do seu trabalho em Morgan, autor canadiano, referiu um conjunto de oito metáforas que constituem autên- ticas “janelas de oportunidades sobre realidades organizacionais: Organiza- ções máquinas, organismos, cérebros, culturas, sistemas políticos, prisões psí- quicas, fluxos e transformações e sistemas de dominação.

No primeiro Simpósio do dia, intitulado “Liderança e Clima de Escola”, da autoria da professora doutora Ana Isabel Matos, a oradora focou a Escola como sendo uma realidade multifacetada, um lugar de encontro de diferenças e divergências, um espaço de formação aberto e universal. Apartando a esco- la de toda e qualquer organização social, perspectivou-a como organização humana, onde o desenvolvimento, considerado a finalidade da educação, passa, não só pela percepção de toda a sua complexidade técnica, científica e humana, mas também pela capacidade de a gerir. Na sua opinião, uma gestão escolar bem sucedida pressupõe a existência de projectos educativos que envolvam toda a comunidade, a fomentação da cultura (interculturalismo) e a promoção pessoal, ideia que sintetizou em três conceitos lapidares na análise organizacional da escola e em particular da sala de aula: clima de es- cola, cultura organizacional e liderança.

Torna-se, por isso, fundamental que os líderes conheçam os fundamentos que suportam as suas decisões e acções de gestão, no sentido de se tornarem pessoas que façam as coisas acontecer, marquem a diferença, consigam ir além do expectável, abrindo portas permanentes à inovação, verdadeira mis- são profética de uma comunidade escolar.

O segundo Simpósio, intitulado “Como dar boas aulas?”, levado a cabo pelos Mestres Manuel Joaquim Matos e Helena Fernanda Rodrigues, num sis- tema de alternância de intervenção, pretendeu ser uma partilha de perspecti- vas e de experiências pessoais do processo de ensino, quer ao nível do Secun- dário, quer do Superior.

Levando em linha de conta os sete princípios enunciados por Ken Bain, a saber: criar na sala de aula um ambiente natural de aprendizagem crítica; capturar a atenção dos estudantes e mantê-la ao longo da aula; partir dos es-

tes com assistência às aulas; ajudar os estudantes a aprender fora das aulas; envolver os estudantes na forma de pensar da disciplina (recorrendo à evolu- ção das ideias que fazem dela o que é hoje); e utilizar formas diversas de ex- periências de aprendizagem, os oradores propuseram-se demonstrar que o ensino exige uma formação contínua, em que a vontade de melhorar é uma constante e uma meta a atingir.

Todos estes pressupostos, no entanto, esvaziam-se de conteúdo se não es- tiverem alicerçados na Humildade, caminho seguro para a melhoria.

Citando Rómulo de Carvalho “Ser professor tem de ser uma paixão – po- de ser uma paixão fria, mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação”.

Retomando as palavras do poeta, acrescentaremos,

à guisa de conclusão, que “ O sonho comanda a vida e sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança”.

Na Conferência 2, da responsabilidade do Professor Doutor Carlos Silva, intitulada “Incidentes críticos na sala de aula”, foi abordada, de uma forma admiravelmente empática, a problemática da disrupção escolar como trans- gressão de regras que prejudicam as condições de aprendizagem, o ambiente de ensino e o relacionamento na escola.

Ironicamente, apresentou a opinião dos “ideólogos de poltrona” (prati- cantes de mapling), para quem não há aumento de indisciplina, ou, se existe, não é problemática, ou fica a dever-se a condições de vida degradantes, à baixa motivação e à falta de diálogo.

No seu entender, contrariando esses conceitos, o problema da incivilidade é uma realidade, pelo que urge encontrar meios para a minimização destes incidentes críticos que podem assentar na conjugação de três classes de evi- dências.

Curiosamente, em oposição às tradicionais noções de reforço e de puni- ção, o conferencista deu por terminada a sua intervenção, apelando para a necessidade de motivação do aluno, principal factor de sucesso educativo.

No início do 2º dia de trabalhos, a Professora Doutora Ângela Azevedo, abordando o tema “As Relações Sociais na Escola e o Sucesso Educativo”, co- meçou por destacar a importância das relações sociais, extremamente perti- nentes para o sucesso educativo, apesar da imagem pouco abonatória que a escola frequentemente possui como resultado de factores endógenos e exóge- nos.

a importância das relações interpessoais no sucesso do aluno, sempre indisso- ciáveis do seu grau de satisfação.

Sendo a escola um sistema aberto, vários são os factores que contribuem para o almejado sucesso educativo, nomeadamente a família, a escola, o meio social e os valores e ideologias da sociedade.

Dado que a motivação dos alunos emerge da própria motivação dos pro- fessores, impõe-se que este crie relações pedagógicas de agrado, nunca des- curando o equilíbrio entre diferentes dimensões, nomeadamente as dimensões técnico/científica e humano/artística.

Parafraseando a aluna que disse “Mãe, não te esqueças de me acordar! …sabes, amanhã, quero ir para a escola…hoje, tive a minha melhor nota… fiz um amigo”, é imprescindível que todos nós, enquanto professores/educa- dores, sintamos a mesma apetência pela escola, fruto das excelentes notas que ambicionamos, dos nossos amigos, dos nossos alunos.

“Ser Professor e Líder” foi a temática do 3º Simpósio, da autoria do Mes- tre Vítor Manuel Martins, que visou delinear o perfil do professor enquanto lí- der, na escola do século XXI.

Questionando sobre o caminho a seguir, ilustrou a sua interrogação com a dúvida que Alice do País das Maravilhas apresentou ao Mestre Gato acerca do rumo a tomar. O Gato, laconicamente, disse-lhe que, desde que andasse o suficiente, não interessava o percurso, pois encontraria sempre um destino.

Atrevemo-nos a acrescentar, citando José Régio “ Não sei por onde vou,… mas sei que não vou por aí”.

Mais importante do que conhecer o caminho é alcançar a meta.

Para atingir os desideratos propostos pelo conferencista, o professor do século XXI não tem por que temer riscos, devendo capitalizar todas as suas competências (tendencialmente optimista, crítico, criativo, sedutor, cooperante, resistente, pensante) de forma a assumir-se como pessoa.

Como conclusão da sua tão entusiasmante quanto profícua intervenção, o orador consubstanciou as condições imprescindíveis ao perfil de um bom pro- fessor: Arte, Paixão, Teimosia e Transpiração.

De seguida, o Professor Doutor Jorge Silvério, no 4º Simpósio, intitulado “Comunicação e Liderança na Sala de Aula”, começou por exemplificar como se pode exercer liderança, na medida em que apesar do atraso involuntário do início da sua comunicação, conseguiu criar um ambiente de empatia com o auditório, que lhe possibilitou estabelecer a comunicação predefinida. Esta deve ser fluente e perceptível, desprovida de ambiguidade, permitindo estabe-

lidade e eficácia.

Falando dos mitos da comunicação, desmistificou alguns chavões e fez com que todos pudéssemos concluir que, ser líder, não é uma questão inata, mas algo que se adquire e aperfeiçoa ao longo dos tempos. Ninguém nasce líder, mas com base na teoria tridimensional, assente em factores pessoais, so- ciais e comportamentais, todos podemos lá chegar.

Para que a comunicação se estabeleça, será necessária uma boa percep- ção dos códigos verbal e não-verbal, dar e receber, nunca esquecendo a per- tinência da assertividade do nosso discurso.

Na Conferência final, da responsabilidade do professor Doutor Júlio Sou- sa, intitulada “Condução de Grupos”, o orador, retomando a ideia de que as relações interpessoais estão implícitas no processo e no sucesso do ensino, sintetizou as características de qualquer grupo humano, e realçou a necessi- dade e a importância da “participação efectiva e da interacção” de todos os elementos do grupo, com vista à criação de uma “consciência colectiva”, que é muito mais do que o somatório das “consciências individuais”.

Tendo por denominador comum a confiança e a motivação, a cooperação e a coesão, qualquer tarefa é feita em e pelo grupo.

Esta coesão, num processo circular, reforça as relações interpessoais, que, por sua vez, consolidam a coesão do grupo. Assim, conduzir/liderar um gru- po constitui não só um desafio, mas também uma necessidade estrutural de qualquer professor.

Como conclusão destas Jornadas, e tomando por base as várias interven- ções, atrevemo-nos a invocar a veia poética de Camões que, através de uma longa anáfora, escreveu que:

“Amor é fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem-querer, É um andar solitário entre a gente, É nunca contentar-se de contente;

raizar a nossa postura nesta vertente anafórica da persistência, de maneira a que a Arte, a Paixão, a Teimosia e a Transpiração sejam o motor dinamizador do acto educativo.