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2. ANÁLISE DE RISCO NA ÁREA NAVAL

2.4. O processo de análise de risco

2.4.2. Limitações do processo de avaliação de risco

Apesar do processo de avaliação de risco ser uma ferramenta poderosa de tomada de decisão, deve-se atentar ao fato de que este também possui algumas limitações, especialmente relacionadas às análises quantitativas. As limitações mais significantes giram em torno das incertezas nas informações: incertezas dos dados e dos modelos do sistema e nos métodos de análise (ABS, 2000).

A falta de dados estatísticos é provavelmente a limitação mais comum no setor naval, onde a frequência dos acidentes de larga escala é baixa. Por conta disso, é possível que um problema, o qual se deseja estudar, não possua dados estatísticos; ou não se ter recursos suficientes para a coleta destes dados; ou que a qualidade destes dados seja duvidosa. Ou ainda, no caso de um novo desenvolvimento (um novo tipo de navio ou um novo tipo de plataforma offshore, por exemplo) nem sempre os dados históricos de sistemas semelhantes são adequados. Outra limitação comum é a incerteza dos modelos utilizados na análise. Isso ocorre pelo fato de ser necessário analisar sistemas complexos, e, por conseguinte, se elaborar modelos que incorporam simplificações e suposições. Nem sempre é possível realizar experimentos em escala real, ou utilizar simulações computacionais complexas. As simplificações também geram incertezas.

Paté-Cornell e Dillon (2006) classificam as incertezas em epistêmicas e aleatórias. As incertezas epistêmicas são aquelas relacionadas ao conhecimento do sistema, e podem ser reveladas através da opinião de especialistas, os quais podem discordar sobre determinada consulta. Estas poderiam ser reduzidas através do aumento do conhecimento do sistema e seus modelos, ou com a coleta de mais dados do sistema. As incertezas aleatórias não podem ser reduzidas, e correspondem à variabilidade do sistema não compreendida. Estas incertezas podem envolver:

 falhas no sistema técnico;  erros humanos;

 acoplamentos de fatores do sistema técnico, ou dos erros humanos, ou de ambos.

Possíveis propostas para o tratamento das incertezas poderão ser encontradas em (PATÉ-CORNELL, 1996), a qual julga a necessidade da análise e detalhamento destas incertezas de acordo com cada caso.

Por outro lado, os métodos de análise, ou métodos de tomada de decisão, também não são perfeitos. Mesmo com dados estatísticos confiáveis, a decisão final pode não ser a melhor, se utilizados critérios ou métodos de tomada de decisão inadequados. Em todos os níveis, o processo de tomada de decisão pode envolver o tratamento de incertezas ou informações incompletas (WANG et al., 2004).

Kristiansen (2005) também cita a não consideração de fatores humanos e organizacionais como uma importante limitação de alguns métodos. Dada a enorme relevância destes fatores em acidentes, tanto como um fator causador como na mitigação das consequências, ignorar a influência da organização e dos erros humanos implica resultados incompletos. Normalmente, os fatores humanos e organizacionais são mais facilmente empregados em análises qualitativas, devido à dificuldade de se incorporar estes fatores de forma quantitativa. O modelo de análise que será apresentado nesta tese abordará justamente uma análise probabilística, que inclui a influência destes fatores.

Em (ABS, 2000), uma lista de problemas potenciais do processo de avaliação de risco é apresentada:

 Definição inadequada do escopo e objetivo da análise.

 Utilização de métodos quantitativos, quando seria suficiente utilizar métodos qualitativos.

 Escolha da técnica de análise não apropriada.

 Escolher obter resultados absolutos quando resultados relativos (comparativos) seriam suficientes.

 Não prover recursos ou dados suficientes.  Estabelecer expectativas irrealistas.

 Descartar a importância das limitações do método e simplificações do problema.

 Utilizar os resultados de forma errada, como por exemplo, aplicar os resultados de uma análise para em um cenário diferente.

Ainda, é preciso também ter em mente que a análise de risco não avalia as preferências do tomador de decisão. A utilização dos resultados da análise de risco será empregada de acordo com o julgamento do tomador de decisão, ou ponderada através de uma função utilidade, quando em um contexto de um processo de tomada de decisão formal. Pode ocorrer que a análise de risco esteja desconectada das expectativas ou do perfil do tomador de decisão, e apesar de prover bons resultados e conclusões, estes podem ser questionados ou subaproveitados.

Desta forma, pode existir um paradoxo entre realizar uma análise de risco acessível e útil aos tomadores de decisão, ou realizar a análise de forma independente e sem influências no resultado, mas incorrer de receber um peso menor durante o processo de tomada de decisão.

O processo de análise probabilística de risco (PRA) possui também algumas limitações particulares. Primeiramente, muitos destes métodos foram desenvolvidos para a indústria nuclear. Embora eles sejam largamente aplicados em outras indústrias, deve-se ter o cuidado de fazer as adaptações pertinentes, ou explicitar as hipóteses adotadas. Além disso, caso não tenha sido feita a análise de risco no sistema técnico nas fases de projeto e construção, geralmente assume-se que o sistema em análise foi corretamente projetado, construído e operado. Assim, o analista irá pesquisar as falhas nas situações onde a solicitação excede a resistência descrita em projeto. Se o sistema foi corretamente projetado, este tipo de falha é raro, o que é impossível garantir. No entanto, esta suposição pode causar uma estimativa errônea da probabilidade de falha, e mascarar as oportunidades de melhoria na segurança do sistema (PATÉ-CORNELL, 2002).

Por fim, o processo de avaliação de risco também possui limitações devido às incertezas do sistema. Para expressar as incertezas, Guimarães (2003) utiliza os conceitos de domínio do conhecimento e do desconhecimento relativo ao funcionamento dos sistemas. O domínio do conhecimento compreende a região onde é possível descrever precisamente todos os estados de funcionamento e probabilidade de um modo de falha. O domínio do desconhecimento, ou ignorância, compreende a região onde não se sabe os estados de funcionamento do sistema, ou sobre seu ambiente. O domínio do conhecimento ainda é dividido em zona de certeza, onde se tem o conhecimento determinístico do sistema, e a zona de

incerteza, onde se tem apenas um conhecimento qualitativo do sistema. A Figura 8 ilustra estes conceitos.

Figura 8 – Domínios de funcionamento de um sistema – adaptado de (GUIMARÃES, 2003)

Toda quantificação de probabilidades de risco deve ser feita sempre dentro do domínio do conhecimento. No entanto, Guimarães (2003) discute que atividades de engenharia podem ter ramificações no domínio do desconhecimento. Neste caso, o autor menciona que mais importante é a busca da melhoria dos níveis de segurança, e que nenhum método deve ser descartado “a priori”, mas devem-se utilizar os resultados qualitativos ou quantitativos criteriosamente, levando em conta as incertezas do processo. Isto é feito entendendo os resultados como indicadores comparativos, para hierarquizar riscos, ou priorizar os resultados qualitativos.