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Limite Máximo da Pena e o Valor da Cominação

No documento Luiz Carlos Branco.pdf (páginas 128-131)

III. Considerações Gerais

6. CLÁUSULA PENAL EFEITOS

7.2 Limite Máximo da Pena e o Valor da Cominação

O Código Civil revogado cuidava do limite máximo da pena no artigo 920, determinando que o valor da cominação imposta na cláusula penal, não poderia exceder ao valor da obrigação principal. Clóvis Beviláqua já alertava que, sendo a referida disposição, norma de ordem pública, que caberia ao juiz do feito reduzir a pena ao valor da obrigação contratada, independente de requerimento da parte.

Beviláqua também advogava no sentido de que a limitação imposta pelo legislador não se justificava. A melhor doutrina é a da plena liberdade, como o Código Civil italiano, português, venezuelano, alemão, suíço, peruano, permitem a redução da pena quando excessiva. O Código alemão não fixa limites, mas permite a redução quando excessiva.

O Código Civil vigente, no artigo 412, reproduziu a disposição contida no Código Civil revogado:

Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode

exceder o da obrigação principal.

Com efeito, sem a restrição do art. 412, poderia o credor, que na maioria dos casos dita a lei do contrato, impor ao devedor pesada multa, criando um elemento compulsivo que, por excessivo, é de certo injusto. Aliás, como se trata de pena compensatória, ela não deve ser superior ao prejuízo, pois em regra, as normas de direito privado procuram apenas restabelecer o equilíbrio entre as partes e não punir qualquer delas.

Esta última consideração ajuda a explicar o art. 413 do mesmo Código, que faculta ao juiz, em caso de cumprimento parcial da obrigação, a possibilidade de reduzir proporcionalmente a pena estipulada para o caso de mora ou inadimplemento.

Se a pena representa uma indenização, é evidente que ela não pode ser idêntica, tanto na hipótese de integral inexecução do contrato como na de execução parcial. Se, por exemplo, num contrato de locação pelo prazo de dois anos, fixou-se que o seu inadimplemento sujeitava o faltoso ao pagamento de determinada multa contratual, deve o juiz reduzir proporcionalmente a pena se o locatário cumprir por dez meses a convenção, pois seria injusto que sofresse sanção igual à que experimentaria se integral o seu inadimplemento. Aliás, condição já inserida na lei do inquilinato.

A lei fala em redução proporcional da pena, o que vale dizer que não pode o julgador atuar arbitrariamente. De fato, deve o juiz comparar a parte do contrato que foi executada com a que foi descumprida, para ajustar a cláusula penal a essas duas circunstâncias.304

Tito Fulgêncio305 diz que: “Como no sistema alemão e observam os comentadores, não é a convenção relativa à cláusula penal que choca as conveniências e a eqüidade, é o fato de se lhe exigir a execução.”.

O mecanismo da cláusula penal é presidido, segundo Orlando Gomes306,

[...] pelo princípio de que consiste numa avaliação à fortait das perdas e danos. A primeira conseqüência desse princípio é que o credor está dispensado de provar prejuízo, como foi visto. A segunda, que a avaliação do dano para a determinação da quantia a ser paga não precisa obedecer a critérios objetivos. As partes têm liberdade de fixar o valor da indenização, não sendo necessária, assim, a correspondência entre o dano efetivo e a soma a pagar para ressarci-lo. Por outras palavras, pode ser superior ou inferior. A liberdade de determiná-la não é, entretanto, absoluta, nem imutável a avaliação.

Há, em primeiro lugar, limite máximo (teto). O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal, seja qual for a extensão do dano. A parte excedente é excluída, valendo a cláusula até a medida prevista na lei. Tal restrição justifica-se pela necessidade de coibir abusos e injustiças.

304RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Parte Geral das Obrigações. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 2, p. 273-274.

305FULGÊNCIO, Tito. Do direito das obrigações. Das modalidades das obrigações. (Arts. 863-927). Rio de Janeiro: Forense, 1958. p. 432.

A intervenção da lei não se atém à determinação do limite máximo. Esta mesma regra sofre exceções. Em determinados contratos, a cláusula penal não pode fixar indenização além de certo valor proporcional ao da dívida. No mútuo, não pode exceder a dez por cento desse valor, no pressuposto de que se destina à atender as despesas judiciais e honorários de advogado. Nas promessas de venda de terrenos loteados, também vigora este limite. São casos, dentre outros, nos quais não é possível sequer ir até o valor da obrigação principal. O limite percentual só se aplica aos contratos feneratícios.

A cominação estipulada na cláusula penal não pode ser aumentada nem

diminuída, sendo inalterável a arbítrio de qualquer das partes.

Permitem algumas legislações que o valor da cominação seja reduzido pelo juiz. A questão da redutibilidade da cláusula penal é, no entanto, controvertida na doutrina. Sob a inspiração do princípio da autonomia da vontade, sustenta-se que é impertinente essa intervenção judicial na economia do contrato. Contudo, a opinião contrária alicerça-se em melhores razões.

A ingerência do juiz admite-se apenas para diminuir, jamais para aumentar, e, assim mesmo, se a obrigação houver sido cumprida em parte. Neste caso atribui-lhe a lei o poder de reduzi-la proporcionalmente. Não impõe o dever de diminuí-la, o que significa que, ainda havendo execução parcial, o devedor pode ser condenado a pagar integralmente o valor da cominação. Em suma não tem direito certo a redução proporcional. A intervenção judicial pode ser evitada pelas partes mediante expressa estipulação de que a pena será cumprida por inteiro, ainda que a obrigação tenha sido parcialmente satisfeita. A redução ao limite máximo estabelecido na lei constitui declaração judicial de que o excesso é abusivo.

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery307 apontam a diferença entre cláusula penal e multa cominatória:

Há diferença nítida entre cláusula penal, pouco importando seja a multa nela prevista moratória ou compensatória, e a multa cominatória, própria para garantir o processo por meio do qual pretende a parte a execução de uma obrigação de fazer ou não fazer. E a diferença é, exatamente, a incidência das regras jurídicas específicas para cada qual. Se o juiz condena a parte ré ao pagamento da multa prevista na cláusula penal avençada pelas partes, está presente a limitação contida no CC/1916 920 (CC 412). Se, ao contrário, cuida-se de multa cominatória em obrigação de fazer ou não fazer, decorrente de título judicial, para garantir a efetividade do processo, ou seja, o cumprimento da obrigação, está presente o CPC 644, com o que não há teto para o valor da cominação (STJ, 3ª T., REsp 196262-RJ, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, v.u.,j.6.12.1999 – RT 785/197, Boletim da AASP 2226/205).

307NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil comentado e legislação extravagante. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 370.

No documento Luiz Carlos Branco.pdf (páginas 128-131)