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CAPÍTULO VII: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

2. Linhas de Investigação dos Grupos

Podem-se identificar três linhas de investigação sobre os grupos, em função de como o grupo foi utilizado, i.e., o grupo tem sido utilizado como veículo para influenciar os membros, o desempenho das tarefas ou os padrões de interação (McGrath, 1997). Por isso, este ponto será estruturado em função destas três linhas de investigação, com particular destaque para o grupo como veículo para influenciar os padrões de interação, por essa linha de investigação ir ao encontro da forma como vamos estudar os grupos.

2.1. O grupo como veículo para influenciar os membros.

Dada a relação de interdependência entre as partes-todo e o comportamento depender da pessoa na envolvente (Lewin, 1946/2006b), leia-se do indivíduo em grupo, então o grupo podia constituir-se como um instrumento para alterar comportamentos (e.g., mudar atitudes), i.e., o trabalho de Lewin originou uma perspetiva de investigação26 que via os grupos como veículos para influenciar os membros. Neste contexto, o impacto das pessoas umas nas outras, o impacto das interações entre as pessoas, os grupos e a dinâmica de grupo, como veículos para influenciar os membros, começaram a ser estudados, pela psicologia, a partir 1930 (Leonard e Freedman, 2000). Esta foi a razão porque, os anos 30 e 40, foram marcados por Kurt Lewin27, que muitos (e.g., Forsyth, 1999) consideram o fundador do estudo científico dos grupos por, entre outras coisas: (a) ter criado e utilizado a teoria de campo28 (Lewin, 1939/2006, 1941/2006a, 1941/2006b, 1942/2006, 1943-

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Nos Estados Unidos, esta perspetiva de investigação ficou conhecida como Michigan School, por muitos dos seus proponentes serem oriundos dessa escola (McGrath, 1997).

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Fundado o "Center for Research in Group Dynamics", em 1945 e estimulou a criação de um laboratório para experiências e investigação na dinâmica dos grupos a Gould Academy, em Bethel, Maine, de onde nasceu o National Training Labs (NTL).

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Para Lewin (1942/2006), os principais atributos ou características da teoria de campo são: (1) a construtividade, enquanto representação de um caso individual, através da construção de um conjunto de elementos (e.g., “posição” psicológica, “forças” psicológicas); (2) o interesse pelos aspetos dinâmicos dos eventos; (3) a abordagem psicológica, i.e., do comportamento. A exigência do campo ser descrito, da forma como existe, para essa pessoa, nesse momento. O estímulo é uma das condições da fronteira e não parte do espaço de vida; (4) a análise começar pela situação como um todo, em vez de seguir factos isolados que nos poderão induzir em erro; (5) o comportamento em função do campo, no momento em que ocorre, os eventos passados não existem “agora” e por isso

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44/2006, 1943/2006a, 1943/2006b, 1944/2006, 1946/2006, 1947/2006) enquanto ferramenta de investigação, método para analisar relações causais e formular constructos científicos, que pode ser expressa através de declarações gerais relativas à natureza das condições de mudança (Lewin, 1943/2006); (b) ter sido pioneiro no método de investigação aplicada "investigação-ação" (Lewin, 1946/2006a); e (c) ter introduzido o termo “dinâmica”, que deriva de “dynamis” que significa força, i.e., a expressão dinâmica refere-se, como já indicámos no ponto 1.4, p. 57, à interpretação das mudanças, como resultado de forças psicológicas (Lewin, 1942/2006).

O efeito da presença dos outros foi observado por Triplett (1898) quando conduziu um estudo de laboratório, através de provas de ciclismo, com 225 pessoas, das quais 40 eram crianças. Os sujeitos foram submetidos a seis tentativas, com dois tipos de provas e 3 designs diferentes. Quanto aos tipos de prova, uma realizava-se com marcação de ritmo (sozinhos) e outra efetuava-se com competição (acompanhados). Relativamente aos designs, foram utilizadas, depois das práticas usuais, 20 crianças em cada design: (a) 20 realizaram 6 tentativas, pela seguinte ordem: sozinho, competição, sozinho, competição, sozinho, competição; (b) as 6 tentativas das outras 20 foram pela seguinte ordem: três sozinhos e três em competição; e (c) outras 20 crianças, com a mesma idade, realizaram 6 tentativas, primeira e segunda sozinhos, terceira em competição, quarta sozinhos, quinta em competição e sexta sozinhos. Dadas as diferenças de tempos, entre as tentativas efetuadas sozinhos e com competição (5.15 segundos por milha até 25 milhas) e por ter isolado todos os fatores que poderiam influenciar os resultados, Triplett (1898) infere que a presença de participação constante e simultânea nas corridas, i.e., competidor, liberta energia latente, que não está habitualmente disponível, ou seja, a presença de outras pessoas pode mudar-nos.

Lewin (1943) estudou os hábitos alimentares e métodos para mudar esses hábitos, i.e., porque é que as pessoas comem o que comem e como é que se podem mudar esses hábitos. Os hábitos alimentares foram analisados através: (i) da aplicação de um questionário, a uma amostra composta por 2300 crianças em idade escolar; e (ii) de entrevistas, a 107 donas de casa, com duração entre 40 a 70 minutos, que formaram a cinco grupos de diferentes estratos sociais (grupo branco

não podem ter efeito “agora”, i.e., não podem ter efeito direto no comportamento, apenas indireto. Isto porque, o campo psicológico passado afeta o comportamento, por ser uma das origens do campo psicológico presente; (6) a representação matemática do campo, i.e., representações matemáticas de situações psicológicas utilizando alguns tipos de geometria (e.g., topologia), para representar a estrutura psicológica da situação.

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de estrato baixo; grupo branco de estrato médio; grupo branco de estrato alto; grupo checo de estrato médio; e grupo negro de estrato alto) cada um deles com aproximadamente 20 donas de casa.

Quanto aos métodos para mudar os hábitos alimentares, este estudo considerou diversas formas de influenciar os outros (i.e., vários graus e tipos de pressão29, abordagem franca e aberta ou manipulativa, método de decisão do grupo30). Dadas as limitações de tempo, Lewin (1943) conduziu duas experiências e escolheu alguns métodos ou meios, para mudar esses hábitos alimentares, a meio termo entre o indivíduo e o conjunto, em grupos face-a-face de 15 a 50 pessoas.

Na primeira experiência, Lewin (1943) tentou determinar a eficácia da decisão de grupo31 com a eficácia da mudança a pedido32, pelo estudo do aumento do pão de trigo em comparação com o pão branco, em oito dormitórios de estudantes Universitários, constituídos por 20 a 44 homens, cada um deles. De início, os oito grupos foram agrupados em quatro pares, com base em idênticas percentagens de consumo de pão de trigo. Durante a semana que antecedeu a experiência e a outra onde se realizou a experiência, apenas foi servido pão de trigo e pão branco, tendo- se registado os respetivos consumos. A percentagem de mudança desejada para os grupos a “pedido” foi idêntica à escolhida pelos grupos de decisão. Cada par de grupos realizava uma decisão de grupo e ao outro par de grupos era apresentado um pedido. Todas as reuniões foram observadas e depois do período experimental, os membros respondiam a um questionário sobre as suas preferências de pão e acerca de vários aspetos da experiência. Os resultados desta experiência destacam três situações: o nível das decisões de grupo e o efeito das decisões de grupo e a pedido. Quanto ao primeiro, todos os grupos de decisão votaram um aumento do consumo de pão de trigo, i.e., de um nível de consumo inicial de pão de trigo de 50%, todas as decisões de grupo votaram um aumento do consumo do pão de trigo: um para 66%, outro para 90% e dois para 100% (destes um dos grupos votou por unanimidade, enquanto o outro votou com uma maioria baixa; este desacordo foi percetível nos dados dos questionários). Os dois grupos a quem foi solicitado o aumento do consumo do pão de trigo para 100% não resistiram à imposição de um

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Desde ordens concretas com ameaça e punição severa até escolha livre (Lewin, 1943).

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Embora tendo muito em comum com a discussão de grupo, é diferente porque a decisão de grupo é uma discussão para gerar uma decisão, feita por indivíduos a propósito dos seus atos, que leva ao estabelecimento de objetivos para agir e estes objetivos podem ser estabelecidos pelo grupo como um todo, para o grupo como um todo, ou por cada indivíduo, para si, no contexto do grupo (Lewin, 1933/1935).

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O grupo decide por si se em que grau deseja mudar os seus hábitos (Lewin, 1943).

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objetivo extremo. Relativamente ao segundo, os resultados do estudo indicaram: (i) o método de decisão de grupo cria uma atitude mais favorável, os indivíduos estão mais desejosos por serem bem sucedidos e o seu desejo por cooperar é mais independente dos seus gostos pessoais; (ii) se a decisão de grupo for baseada numa pequena maioria existe o perigo de o efeito ser inferior ao método por pedido. Para além disso, os resultados apoiaram a ideia de que é mais fácil conseguir uma conclusão, em 45 minutos, da discussão do grupo sem manipulação, criando-se a atmosfera, liderança e utilização de especialistas adequadas.

Na segunda experiência, Lewin (1943) investigou a eficácia da mudança dos hábitos alimentares, pelos métodos de decisão de grupo com especialista e com uma aula pelo mesmo especialista. Foram selecionados seis grupos, dois grupos de mulheres de cada estrato económico, um para o método de decisão de grupo e outro para sala de aula, entre 13 e 17 elementos cada, que já se reuniam regularmente. Foi realizado um levantamento etnográfico dos dados, quer para a sala de aula, quer para as decisões de grupo. Os resultados desta experiência demonstraram que as aulas levaram a 10% de ação e as decisões de grupo conduziram a 52% de ações. Mais, depois da decisão de grupo 23% das donas de casa serviram comida que nunca tinham servido, enquanto o efeito correspondente das aulas foi de 3%. Ou seja, quando o nutricionista funcionou num contexto de grupo, as mudanças foram definitivamente maiores e a resistência à mudança menor, do que quando o mesmo nutricionista funcionou em aula. Lewin (1943) destaca que o grupo de decisão se trata de um grupo que discute para tomar uma decisão e que a decisão de cada indivíduo é relativa à sua ação (i.e., elas decidiam o que elas iriam fazer em casa), pelo que o grupo incentiva a decisão e facilita e reforça a decisão.

Na revisão da literatura realizada, Leonard e Freedman (2000) revelaram que as experiências realizadas no NTL, a propósito da interação, mostraram que a forma como nos sentamos na sala de aula tradicional: a) desencoraja a interação; b) encoraja a dependência nos pensamentos do líder; e c) sufoca a criatividade. Nas experiências com grupos de treino, os “T-Group”, depois de uma breve intervenção, raramente superior a 10-15 minutos, os facilitadores não assumiam o papel tradicional do líder. Em vez disso, os facilitadores forçavam o grupo a ser auto- organizável. No seu estudo sobre o suicido, Durkheim (1951) indica a fraca integração do indivíduo na sociedade como a sua primeira causa e que portanto, o

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ato de terminar com a própria vida, pode ser previsto em função da ligação do indivíduo aos grupos sociais.

Embora grandes avanços sejam conhecidos através desta corrente de investigação33, "a falta de estrutura em relação à tarefa e papéis típicos dos grupos estudados pelos psicologistas sociais na década 50 tinha poucas semelhanças nas organizações formais" (Leonard e Freedman, 2000, p. 9). Isto porque, embora se tenha começado por estudar grupos naturais, rapidamente passou-se a usar grupos de laboratório34 (McGrath, 1997). Por isso, grande parte dos estudos desta escola foi do tipo experimental em laboratório, envolvendo: (a) grupos indiscriminados de estranhos; (b) trabalhar sobre condições artificiais; (c) trabalhar por períodos de tempo curtos (e.g., uma hora ou duas).

2.2. O grupo como veículo para influenciar o desempenho das tarefas.

Ao abordar as causas do comportamento instintivo nas multidões, Le Bon (1896/2001) específica que dependendo da natureza da sugestão “(…) a multidão pode, (…), ser melhor ou pior do que o individuo.” (p. 20). Dado que em multidão, as qualidades gerais da raça, i.e., o inconsciente, tornava-se na sua propriedade comum e portanto em multidão, os indivíduos só acediam a essas qualidades medíocres do inconsciente, então em multidão ou grupo, os indivíduos não conseguiam concretizar ações que exigissem um elevado grau de inteligência. (Le Bon, 1896/2001). McDougall (1927) apoiava esta ideia, i.e., que o nível mental em multidão não melhorava, mas distingue as multidões que resultam da congregação fortuita de pessoas, daquelas que se reúnem pelo interesse comum dos seus membros num objeto ou tópico, na medida em que as segundas revelam maior homogeneidade quanto aos sentimentos e interesses dos membros. Essa homogeneidade intensifica as peculiaridades da vida do grupo, quanto à intensidade da emoção coletiva, mas também não eleva o nível mental da multidão com interesse comum, acima do nível mental da multidão fortuita (McDougall, 1927).

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Que utilizava os grupos como sistema para influenciar os membros, ficou conhecida, nos Estados Unidos, por Michigan School (McGrath, 1997).

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Segundo McGrath (1997), a grande parte dos estudos desta escola foi do tipo experimental em laboratório, envolvendo: (a) grupos indiscriminados de estranhos; (b) trabalhar sobre condições artificiais; (c) trabalhar por períodos de tempo curtos (e.g., uma hora ou duas).

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Contudo, uma multidão temporária e desorganizada, na presença de um propósito claramente definido e comum a todos os seus membros, irá apresentar as características de uma multidão comum35, mas não irá apresentar a inconstância de uma multidão comum e por isso elevará o comportamento (McDougall, 1927). Para McDougall (1927) as ações de um grupo, se for um grupo bem organizado, expressam um grau de inteligência e moralidade muito superior, do que a média dos membros do grupo, i.e., "o todo é elevado acima do nível da média dos seus membros; e até mesmo, em razão de exaltação da emoção e da cooperação organizada na deliberação, acima da dos seus melhores membros." (p. 53). Ou seja, o nível mental em grupo varia, i.e., enquanto as multidões fortuitas e homogéneas não elevam o nível mental (grupo desorganizado), se existir um propósito comum e claramente definido entre os seus membros (grupo organizado), então os grupos expressam uma inteligência e moralidade muito superiores aos indivíduos.

McDougall (1927) foi pioneiro do estudo dos grupos como veículo para melhorar o desempenho das tarefas, porque prestou um grande contributo aos grupos, quando distingue três tipos de multidões ou dois tipos de grupo e porque indicou as cinco condições necessárias para a elevação da vida mental coletiva para um nível superior. Isto é, independentemente da homogeneidade da multidão quanto às ideias, sentimentos, desejos e vontades dos seus membros, para McDougall (1927) existem dois grupos e a elevação da vida mental coletiva para um nível superior (passagem de grupo desorganizado para grupo organizado) pressupõe cinco condições de capital importância: (1) algum grau de continuidade da existência do grupo, i.e., os grupos melhor organizados exibem quer a persistência dos mesmos indivíduos, quer a persistência do sistema de posições que os indivíduos ocupam sucessivamente; (2) nas mentes dos membros do grupo deve ser formada uma ideia adequada do grupo, da sua natureza, composição, funções, capacidades e das relações dos indivíduos para o grupo; (3) interação do grupo com outros grupos semelhantes, animada pela diferença, i.e., interação na forma de conflito ou rivalidade, por promover o auto-conhecimento e o auto-sentimento de cada grupo; (4) a existência de um conjunto de tradições, costumes e hábitos, na mente dos membros do grupo, que determinem as relações de uns com os outros e com o grupo como um todo; (5) a organização do grupo, i.e., a diferenciação e especialização de funções dos indivíduos ou grupos de indivíduos dentro do grupo.

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“A violência e brutalidade da emoção e impulso, a falta de moderação, o sentido de responsabilidade diminuído, a sugestibilidade aumentada e incapacidade para se chegar a conclusões corretas por deliberação e ponderação.” (McDougall, 1927, p.48).

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Para McDougall (1927) a organização eficaz de qualquer grupo humano assegura: (i) o fim comum, da ação coletiva, é desejado por todos; (ii) a escolha de meios é deixada, para os melhores qualificados e em melhor posição, para deliberar e escolher; e (iii) a coordenação das ações voluntárias das partes deriva do fim comum e dos meios escolhidos.

Para além dos contributos enumerados, McDougall (1927) constatou que a organização imposta e mantida, por uma autoridade exterior, tornará a capacidade da vida coletiva pouco superior à de uma simples multidão, por exibir melhor controlo dos impulsos e continuidade na direção das atividades, mas por não ser resultado da sua vida mental coletiva.

Estes pressupostos conduziram ao estudo dos grupos como veículo para influenciar o desempenho das tarefas.

“The Hawthorne Studies” iniciaram-se em 1924 e durante nove anos, na tentativa de melhorar a produtividade dos trabalhadores da Western Electric Company Hawthorne Works em Cicero, Illinois. Mayo (1933) estudou o comportamento dos trabalhadores e conduziu uma série de experiências, que mostraram a importância do efeito dos grupos no trabalho dos indivíduos, nomeadamente como melhorar a produtividade, e.g., impacto das normas do grupo no desempenho, concluindo que os grupos podiam ser utilizados para beneficiar as organizações e que a produtividade dependia quer de questões sociais, quer do conteúdo do trabalho. Ao analisar esse conjunto de experiências, Landsberger (1958) e Dickson e Roethlisberger (1966) definiram por Hawthorne Effect, a mudança temporária no comportamento e no desempenho como resposta a alterações das condições ambientais, i.e., no caso, introdução da observação do desempenho ou resposta a estarem a ser observados.

Trist e Emery desenvolveram a abordagem sócio-técnica do desenvolvimento organizacional [ver Emery e Trist (1965), Trist (1959)]. Trist aplicou a teoria geral dos sistemas, à sua investigação nas minas de carvão britânicas, em conjunto com os seus colegas do Tavistock Institute, em Londres (e.g. F.E. Emery, A.K. Rice) e ficou impressionado com o impacto das características do trabalho, em si mesmo, tinha na forma como o trabalho era organizado (Leonard e Freedman, 2000). Trist (1989) relata e analisa um episódio, do projeto de investigação, desenvolvido pelo Tavistock Institute of Human Relations, nas minas de carvão britânicas, dando conta da introdução de uma nova forma de trabalho, conhecida por “trabalho composto”, enquanto alternativa à burocracia tecnocrata, onde grupos de trabalho

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autorreguláveis e multi-especializados estavam na base de uma forma de organização do trabalho, mais democrática, mais eficiente, mais produtiva e com maior satisfação dos trabalhadores, por rejeitar o imperativo tecnológico e procurar o melhor ajustamento ou otimização do sistema social e técnico e que por isso ficou conhecida pela abordagem “sócio-técnica”36. Na perspetiva dos sistemas gerais, a primeira tarefa de uma organização é saber como é que as componentes, técnica e social, se relacionam uma com a outra (Leonard e Freedman, 2000). Para a gestão científica do trabalho (Taylor, 1911/1998): (i) havia uma forma melhor de realizar o trabalho; (ii) esse processo seria definido e ensinado pelos especialistas do estudo do tempo-e-movimento; e (iii) a regulação seria feita pela gestão. Em oposição, para a perspetiva sócio-técnica, como os membros das equipas de produção têm contacto direto com as tarefas primárias ou trabalho da organização, então os membros estão em melhor posição, do que a gestão, para saber como é que a equipa deve organizar-se, como é que o trabalho deve ser concretizado, o que deve funcionar melhor e assim sucessivamente (Leonard e Freedman, 2000). Por isso, a perspetiva teórica e de investigação sócio-técnica inovou nas equipas auto- organizáveis e autorreguladas (Leonard e Freedman, 2000). Trist tinha descoberto que, sem envolver as pessoas que têm que trabalhar no novo contexto, no planeamento das mudanças dos aspetos técnicos do trabalho, não é possível incrementar mudanças significativas nesses aspetos (Leonard e Freedman, 2000).

Porém, segundo Leonar e Freedman (2000), esta descoberta foi negligenciada e ignorada na indústria durante os anos 80 e 90. Contudo, o contexto de recessão, dos anos 80, resultado de vários indicadores (e.g., de perda de confiança na capacidade de competir a nível internacional; da diminuição significativa dos trabalhadores; da eliminação do contrato económico, i.e., os trabalhadores podiam esperar emprego para toda a vida, em troca de lealdade; da necessidade de desenvolver novas formas de motivar os trabalhadores em resultado dessa eliminação; e da necessidade de melhorar a produtividade e reduzir os custos) a sobrevivência dos negócios dependia da capacidade de inovação e da capacidade de conseguir o melhor do capital humano (Leonard e Freedman, 2000). Neste contexto e dado o sucesso da aplicação das equipas no Japão, as empresas Americanas começaram olhar para as equipas de modo diferente e as equipas auto- geridas começaram a emergir, por esta nova forma de organizar o trabalho não só

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O trabalho composto resultou na designação de “teamwork” ou trabalho de equipa, que pensámos ser uma das razões da dialética equipa ou grupo, ou associação da equipa ao grupo bom em vez de uma das formas de organizar o trabalho do grupo.

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ser populista, como conduzia a uma melhoria da criatividade, motivação pessoal e compromisso com o trabalho (Leonard e Freedman, 2000). Incentivados pela necessidade de melhorar a produtividade e a qualidade, i.e., a procura da produtividade e redução de custos, e pelo sucesso das equipas no sector da alta tecnologia, as organizações, no geral, incorporaram estruturas organizacionais baseadas nas equipas (Leonard e Freedman, 2000).

2.3. O grupo como veículo para influenciar os padrões de interação.

O estudo dos grupos, como veículos para influenciar os padrões de interação, originou duas correntes de investigação e teoria, sobre o desenvolvimento do grupo; uma preocupada com a dinâmica de grupo e a outra concentrada com as fases de resolução de problemas (Gersick, 1988; Morgan, Salas, e Glickman, 1993). Bion (1952/2004)37 está na génese da linha de investigação que estuda os padrões da