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CAPÍTULO VII: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

2 PERSPETIVA PAPEL MEMBRO

Explica o comportamento individual em termos de como a pessoa inconscientemente treina o grupo a responder- lhe de forma a replicar e ligar-se a conflitos passados

4 PERSPETIVA GRUPO-PAPEL

Explica o comportamento do grupo em termos de grupo- como-um-todo delegação de um ou mais dos seus membros para desempenhar papéis de grupo que ligam- se, contém ou expressam conflitos do grupo

Figura 6: A dinâmica dos sistemas grupo e indivíduo, Agazarian e Gantt (2000), adaptado de Agazarian e Peters (1981).

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1.4. Dinâmica.

O termo “dinâmica” deriva de “dynamis” e significa força, i.e., a expressão dinâmica refere-se à interpretação das mudanças, como resultado de forças psicológicas (Lewin, 1942/2006). Ou seja, as mudanças que realmente ocorrem dependem da constelação das forças psicológicas, “o constructo força caracteriza, para um determinado ponto do espaço de vida, a direção e intensidade da tendência para mudar” e que essas forças são a causa dessa tendência, para a locomoção ou mudança (Lewin, 1946/2006b, p. 349). Logo, a dinâmica refere-se à interpretação da mudança e as forças psicológicas são a causa dessa mudança ou locomoção.

A combinação do conjunto de forças, atuando no mesmo ponto, no mesmo momento, designa-se de força resultante (FRes) e para Lewin (1946/2006b) a relação

força e comportamento pode ser explicada do seguinte modo: (i) sempre que a força resultante (FRes) existir, portanto seja diferente de zero, existirá uma locomoção na

direção dessa força ou mudança na estrutura cognitiva equivalente a essa locomoção [FRes ≠ 0 ==> locomoção ou mudança]; e (ii) sempre que existe

locomoção ou mudança na estrutura existem das forças resultantes nessa direção. A força correlaciona-se com as locomoções psicobiológicas na relação de um-para-um e para em qualquer caso de locomoção existe uma resultante de forças nessa direção (Lewin, 1933/1935). Por isso, segundo Lewin (1933/1935), as forças determinam as locomoções (padrões) possíveis, i.e., as possibilidades de locomoção, que irão acontecer num determinado momento, são determinadas pelas forças e as forças são definidas através das suas três propriedades: direção, intensidade e ponto de aplicação. A direção e a intensidade são representadas por um vetor matemático e o ponto de aplicação é representado pelo ponto de aplicação da seta do vetor (e.g., no indivíduo). Lewin (1933/1935, 1946/2006b) distingue dois tipos de forças: as forças impulsoras e as forças restritivas: as forças impulsoras levam à locomoção, enquanto as forças restritivas são barreiras ou obstáculos, não levam à locomoção, mas influenciam as forças impulsoras.

O ambiente psicológico, mesmo que objetivamente o mesmo, depende das características individuais, do estádio de desenvolvimento individual e das condições do momento (Lewin, 1933/1935). No ambiente existem objetos, coisas e eventos que são definidos pela sua aparência e principalmente pelas suas possibilidades funcionais (Lewin, 1933/1935). Segundo Lewin (1933/1935) a perceção de um objeto

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ou evento pode: (a) provocar a formação de um sistema de tensão psíquica (força), que não existia antes, produzindo uma intenção; (b) se o estado de tensão (força) já existia, pode ser experienciado como atração ou repulsão e isso significa que esses objetos têm valência19; (c) as valências funcionam ao mesmo tempo, como campos de forças, que dirigem o processo psicológico; (d) algumas atividades levam a um processo de satisfação e por conseguinte de redução da tensão (força). Isto é, segundo Lewin (1933/1935), os objetos podem provocar uma tensão psíquica (força) de dois tipos, impulsora se leva à locomoção ou restritiva se constituí uma barreira e os objetos não são neutros porque têm valência, leia-se têm um efeito psicológico imediato no comportamento, que deriva dos objetos serem um meio para a satisfação de uma necessidade ou terem alguma coisa que indiretamente satisfaça uma necessidade. “As valências, seu tipo (sinal), intensidade e distribuição têm que ser encaradas como entre as mais importantes propriedades do ambiente” (Lewin, 1933/1935, p. 77). A valência dá a direção à força, ao comportamento, são de dois tipos que se distinguem pelo tipo de comportamento que afetam: as valências positivas provocam atração e influenciam a aproximação; e as valências negativas provocam repulsa e influenciam o recuo, retirada ou afastamento (Lewin, 1933/1935).

Logo, no ambiente existem objetos, coisas ou eventos e a perceção da aparência e as suas possibilidades funcionais, podem produzir uma tensão psíquica ou força psicológica com efeito imediato (valência) atrativo (valência positiva) ou repulsivo (valência negativa), que funcionam ao mesmo tempo, constituem o campo de forças e têm que ser encaradas entre as mais importantes propriedades do ambiente (Lewin, 1933/1935).

Este efeito psicológico imediato, (valência), dos objetos nas pessoas é dinâmico (Lewin, 1933/1935) na medida que o objeto ou atividade perde ou ganha valência (de qualquer tipo), isto porque, a valência depende, varia muito, de acordo com os desejos e as necessidades momentâneas do organismo (e.g., que também mudam com a idade) e do estado momentâneo das necessidades, que muda em função da satisfação: (i) a insatisfação de uma necessidade atrai e portanto tem uma valência positiva; (ii) quando a necessidade está a ser satisfeita o objeto é

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O termo valência resulta da tradução direta do inglês “Valence”, contudo o termo em inglês resulta da tradução do termo original alemão “Aufforderungscharakter”, cuja tradução direta para o português corresponde a “carácter imediato”. As valências psicológicas não são estímulos, são antes efeitos imediatos, comandos imediatos, pedidos imediatos. As valências podem ser positivas (atraentes) ou negativas (repelentes) e um objeto ou atividade perde ou ganha valência (de qualquer tipo) de acordo com as necessidades do organismo (Lewin, 1933/1935).

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indiferente; e (iii) quando a necessidade é mais do que satisfeita, torna-se desagradável e adquire uma valência negativa, portanto o efeito dos objetos nas pessoas é dinâmico porque as valências mudam.

As ideias de dinâmica e interdependência da valência estão refletidas na sua definição: “a valência que um objeto ou atividade [Va(G)] tem depende em parte da natureza dessa atividade (G) e em parte do estado das necessidades [t(G)] da pessoa nesse momento [Va(G) = ƒ(G, t(G))]” (Lewin, 1946/2006b, p. 361). Para Lewin (1946/2006b) o efeito que uma determinada valência tem no comportamento de aproximação ou afastamento depende da intensidade da força (fA,G), i.e.,

depende da intensidade da valência [Va(G)] e distância psicológica (eA,G) entre a

pessoa e a valência (fA,G = ƒ[Va(G), eA,G]).

(a) (b) (c) (d)

Figura 7: Representação de valências em função do efeito imediato (valência) dos objetos ou o aparecimento de uma barreira: (a) situação é dominada por uma atração ou valência positiva (D+), irá ocorrer locomoção nessa direção; (b) a ação encontra dificuldades (barreiras, B); (c) direção do campo de forças muda (v2) de acordo com a mudança de posição das relações entre o indivíduo e o objetivo; (d) situação é dominada por uma repulsão, ou valência negativa (T-), irá ocorrer locomoção na direção contrária (Lewin, 1933/1935).

Quando a situação é dominada por uma atração ou valência positiva, relativamente forte em relação às outras forças existentes na situação, irá ocorrer locomoção nessa direção [Figura 7 (a)], mas se a ação encontrar dificuldades (barreiras) [Figura 7 (b)], a direção do campo de forças muda de acordo com a mudança de posição das relações entre o indivíduo e o objetivo [Figura 7 (c)] (Lewin,

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1933/1935). Quando a situação é dominada por uma repulsão, ou valência negativa, irá ocorrer locomoção na direção contrária [Figura 7 (d)].

Essas forças psicológicas correspondem à relação de pelo menos duas regiões (Lewin, 1946/2006b): se a região G (que pode representar uma atividade, posição social, um objeto ou qualquer objetivo) é atrativa para a pessoa, tem uma valência positiva e corresponde um campo central positivo [Figura 8 (a)]; se a região G é repulsiva para a pessoa, tem uma valência negativa e corresponde um campo central negativo [Figura 8 (b)].

(a) (b)

Figura 8: Campos de força em funçao da sua valência, com explicitação da relação entre duas regiões: (a) valência positiva; (b) valência negativa (Lewin, 1946/2006b).

Neste momento somos confrontados com duas situações. Primeiro, o campo de forças está sempre dirigido para o objeto atrativo (objetivo) porque uma mudança de posição do objeto atraente (mantendo-se as outras coisas) provoca uma mudança de direção do movimento, ou seja “um vetor na direção do objetivo irá surgir constantemente e iniciar o comportamento correspondente” (Lewin, 1933/1935, p. 120). Por isso, o comportamento está sempre dirigido para o objetivo. Contudo, como é que, por exemplo, se pode explicar o comportamento contrário aos objetivos?

Segundo, inicialmente partimos de uma definição de grupo onde as características essências são a interdependência, a totalidade dinâmica, a prossecução de alvo(s) comum(s) e a existência de fronteiras psicológicas. Porém, a propósito da aplicação da teoria geral dos sistemas ao espaço de vida e ao grupo, resultou no enquadramento do grupo enquanto sistema humano vivo. Este enquadramento levanta o problema de perceber as propriedades dos sistemas humanos vivos. Agazarian e Gantt (2000) apresentam a hierarquia, o isomorfismo, a estrutura, a função e a energia como os constructos básicos da teoria dos sistemas humanos vivos (TLHS). A estrutura, como veremos, é definida pelas fronteiras.

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Assim, partindo da noção de grupo inicialmente apresentada (ponto 1, p. 39), da sua evolução para a noção de sistema e de forma: (i) a percebermos a razão de comportamentos contrários aos objetivos; (ii) a abordarmos as características essências do grupo em falta [i.e., prossecução de alvo(s) comum(s) e a existência de fronteiras psicológicas]; e (iii) a analisarmos os constructos dos sistemas humanos vivos em falta (i.e., a estrutura, a função e a energia); então os próximos pontos serão dedicados ao(s) alvo(s) comum(ns), à estrutura, à função e à energia.

1.5. Alvo(s) comum(ns): direção, orientação para os objetivos e

sobrevivência.

Partimos do entendimento do alvo, como objeto pretendido ou desejado, como o objeto percecionado como atrativo, como o objeto que possui uma valência positiva, i.e., como o objetivo.

Ao definir o espaço de vida individual e por existir uma tensão motivacional ou força impulsora que liga a pessoa na direção do seu objetivo, Lewin (1933/1935) considera que todo o comportamento é direcionado para o objetivo, i.e., ”um vetor na direção de uma meta surge constantemente e inicia o comportamento correspondente” (p. 121) ou o comportamento é função do espaço de vida ou campo psicológico e a intenção de locomoção é direcionada para o objetivo (Lewin, 1946/2006b). Na terminologia do campo de forças o objetivo, meta ou alvo é um campo psicológico com uma estrutura especial, isto porque todas as forças apontam para a mesma região (Lewin, 1944/2006). Por isso, para Agazarian e Gantt (2000) a explicação e predição do movimento no espaço de vida resulta da relação entre a pessoa (ou sistema) e o sistema de tensão em relação ao objetivo.

Esse alvo ou objetivo será mobilizador, se levar a uma locomoção na direção dessa força ou se provocar uma mudança na estrutura cognitiva equivalente a essa locomoção, ou seja, se existir uma força resultante diferente de zero, do efeito imediato do objetivo no indivíduo, isso implica locomoção ou mudança, portanto, FRes ≠ 0 ==> locomoção ou mudança (Lewin, 1946/2006b).

Contudo, um grupo pode ter um objetivo, por exemplo realizar uma tarefa, mas apresentar comportamentos que evitam a tarefa, i.e., por vezes existe uma diferença entre o que o grupo diz que está a fazer e o que realmente faz (Bion,

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1952/2004), e.g., numa das suas experiências, Bion (1943/2004, p. 18) relatava que “apenas 20%” estavam a trabalhar”, … “os outros 80% são apenas um monte de preguiçosos”. Esta situação aparentemente não apoia a ideia de Lewin (1933/1935, 1946/2006b) de todo o comportamento ser direcionado para o objetivo, na medida em que existe uma tarefa ou objetivo a realizar mas a grande maioria dos elementos não estão a trabalhar.

Por isso, para perceber as várias aparentes contradições que ocorrem no comportamento do grupo, Gantt e Agazarian (2005) diferenciam os objetivos primários e secundários e Agazarian e Gantt (2000) comparam e contrastam os objetivos explícitos, com os objetivos implícitos.

Quanto aos objetivos primários e secundários, Agazarian (1988), cit. in Agazarian e Gantt (2000), refere que o comportamento do sistema implica o estado de equilíbrio dinâmico do sistema e os sistemas objetivos primários e secundários. Para Agazarian (1997/2004) os objetivos secundários são os objetivos declarados ou explicitados, os objetivos para os quais o grupo foi formado20, enquanto os objetivos primários são inerentes a todos os sistemas humanos vivos, i.e., sobreviver, desenvolver-se e transformar-se de simples em mais complexo, em cada fase de desenvolvimento do sistema. A dinâmica, do sistema sobrevivência, desenvolvimento e transformação, é regulada pelo processo de discriminar e integrar informação (Agazarian e Gantt, 2000), pois, a sobrevivência do sistema deriva do desenvolvimento de princípios internos, que organizem e orientem a informação na comunicação dentro do sistema, entre ele próprio e no sistema hierárquico; o desenvolvimento do sistema resulta do melhoramento da permeabilidade apropriada das fronteiras do sistema, abrindo-se à informação suficiente semelhante para ser integrada e fechando-se aquela que é demasiado diferente; e a transformação sistema é função do processo de discriminação e integração das diferenças, mudando de simples para complexo quer na estrutura quer na função. A informação orienta-se em função dos objetivos, que estamos a tratar, as outras questões (i.e., desenvolvimento versus permeabilidade e transformação versus discriminação e integração) serão abordadas nos próximos pontos. A quantidade de energia disponível para os objetivos secundários, e.g., tarefa, é determinada por até que ponto os objetivos primários são atendidos (Gantt e Agazarian, 2005). Ou seja, a

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Isto é, os objetivos secundários do sistema são representados pelas tarefas que o grupo tem que concretizar (Agazarian e Gantt, 2000).

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energia disponível para a tarefa aumenta com a satisfação dos objetivos primários e diminui com a insatisfação.

Relativamente ao contraste entre os objetivos explícitos e implícitos, Gantt e Agazarian (2005) referem que os objetivos secundários podem ser explícitos ou implícitos. Os objetivos explícitos correspondem aos objetivos que são formulados e publicitados explicitamente e só existem no domínio da intencionalidade até serem alcançados (Agazarian e Gantt, 2000) são o que o grupo diz que está a fazer (Gantt e Agazarian, 2005); enquanto os objetivos implícitos são aqueles que podem ser deduzidos pelo comportamento do grupo (Gantt e Agazarian, 2005), são os objetivos que podem estar implícitos no comportamento manifestado, por aqueles em atividade direcionada pelo objetivo e que podem ou não ser congruentes com os objetivos explícitos, refletindo-se, no caso de contradição, numa discrepância entre o que se faz e o que se diz (Agazarian e Gantt, 2000). Ou seja, umas vezes o comportamento é congruente com os objetivos explícitos, outras vezes é contraditório e a congruência ou contradição, entre a direção do comportamento e a direção do objetivo explícito, existe ao nível individual e ao nível do grupo e entre os objetivos individuais e os objetivos do grupo (Agazarian e Gantt, 2000). Quando os objetivos implícitos e explícitos vão em direções distintas, a locomoção ocorre na direção dos objetivos implícitos em vez de na direção dos objetivos explícitos, logo para o sistema alcançar os seus objetivos explícitos estes têm que ser congruentes com os objetivos implícitos (Agazarian e Gantt, 2000) o que leva as autoras a referir que, “como sabemos, a realização de tarefas é fortemente influenciada pela compatibilidade entre a natureza da tarefa e a cultura pressuposto básico” (p.112) e que por exemplo, uma guerra é melhor travada numa cultura de luta.

Assumindo que o comportamento é dirigido para o objetivo (Lewin, 1933/1935, 1946/2006b) e que os objetivos podem ser implícitos e explícitos, Agazarian (1988), cit. in Agazarian e Gantt (2000), estabeleceu a relação entre o comportamento e os objetivos sejam eles implícitos ou explícitos. Partindo destes pressupostos e aplicando a teoria do stress (Howard e Scott, 1965), que sugere que todo o comportamento é dirigido, dirigindo-se tanto no sentido da aproximação ou afastamento do problema a ser resolvido (objetivo), Agazarian (1988), cit. in Agazarian e Gantt (2000), inovou o campo psicológico de Kurt Lewin na medida em que vê as forças impulsoras e as forças restritivas num equilíbrio dinâmico relacionado com os objetivos, onde as forças restritivas não são apenas barreiras às forças impulsoras, mas também elas são forças orientadas para os seus objetivos,

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no caso para os objetivos implícitos e que por isso, os objetivos implícitos podiam ser deduzidos21 pela observação das implicações do comportamento. Nesta medida, as forças impulsoras referem-se às forças que aproximam o sistema dos objetivos explícitos, enquanto as forças restritivas referem-se apenas às forças que afastam o sistema dos objetivos explícitos (Agazarian, 1988, cit. in Agazarian e Gantt, 2000). Portanto, ao contrário do campo psicológico de Lewin (1944/2006), onde apenas as forças impulsoras podiam significar locomoção, nesta aplicação, ambos os tipos de forças, impulsoras ou restritivas, podem implicar locomoção.

Assim sendo, a discriminação de objetivos implícitos e explícitos (Agazarian, 1988, cit. in Agazarian e Gantt, 2000) permite perceber que, quando o grupo evita o objetivo explícito ou tarefa, isso não quer dizer que o comportamento observado não apoia a expressão que o comportamento é direcionado pelos objetivos (Lewin, 1933/1935, 1946/2006b), mas pode significar que o comportamento não está direcionado para o objetivo explícito, mas para outro tipo de objetivos, os implícitos. Portanto, o comportamento é dirigido, tanto no sentido da aproximação como afastamento (Howard e Scott, 1965) dos objetivos (Lewin, 1933/1935, 1946/2006b), sejam eles implícitos e explícitos, onde as forças restritivas estão orientadas para a aproximação dos objetivos implícitos e as forças impulsoras estão orientadas para a aproximação dos objetivos explícitos (Agazarian, 1988, cit. in Agazarian e Gantt, 2000), a energia disponível para a tarefa, (objetivos secundários explícitos), aumenta com a satisfação dos objetivos primários (Gantt e Agazarian, 2005) e com a congruência entre os objetivos implícitos e os objetivos explícitos (Agazarian e Gantt, 2000) e quando os objetivos implícitos e explícitos vão em direções diferentes, a locomoção ocorre na direção dos objetivos implícitos (Agazarian e Gantt, 2000).

Quanto à relação dos objetivos primários com os objetivos implícitos, Gantt e Agazarian (2005) realçam: (i) o objetivo implícito de evitar ou congelar está mais relacionado com a sobrevivência; (ii) o objetivo implícito de lutar está mais relacionado com o desenvolvimento; (iii) ambos evitar e congelar, afastam o grupo do trabalho ou tarefa; e (iiii) a luta contém conflito e uma vez resolvido liberta energia para o trabalho. Ou seja, se se pretender a aproximação ou abordagem dos objetivos secundários, e.g. tarefa, evitar e congelar afastam-se desse objetivo e lutar, uma vez resolvido o conflito, liberta energia para a sua abordagem, para a concretização da tarefa e por isso a luta está relacionada com o desenvolvimento.

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Os dados de um campo de forças, recolhido num grupo, podem ser usados, para deduzir os objetivos implícitos de um grupo (Gantt e Agazarian, 2005).

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Segundo Gantt e Agazarian (2005), cada fase de desenvolvimento é um sistema, portanto, cada fase é direcionada por um objetivo, tem uma estrutura e função característica e os objetivos das fases podem ser analisados a diferentes níveis. Por isso, cada fase de desenvolvimento pode ser definida em termos de campo de forças impulsoras e restritivas (Agazarian e Gantt, 2005) onde os objetivos primários de cada fase de desenvolvimento podem ser ligados a cada fase específica de desenvolvimento através de um campo de forças Gantt e Agazarian (Gantt e Agazarian, 2005), que para Lewin (1951) representa a posição do sistema no seu caminho dos objetivos. Para Gantt e Agazarian (2005), o campo de forças de cada fase de desenvolvimento constituí uma ferramenta diagnóstica e de intervenção, por identificar a força restritiva que deve ser enfraquecida, libertando as forças impulsoras para o desenvolvimento e libertando energia para o trabalho. Os objetivos desenvolvimentais serão desenvolvidos posteriormente (ver 3.1.4., p. 110). Para Gantt e Agazarian (2005), cada fase de desenvolvimento tem um objetivo desenvolvimental definido ao serviço da sobrevivência, desenvolvimento e transformação do simples para mais complexo, que se resume no Quadro 1.

Isto é, a fase de desenvolvimento autoridade apresenta três subfases, cada uma delas com o seu objetivo desenvolvimental: desenvolver uma orientação para a resolução de problemas (subfase evitar); aprender a construir uma relação de trabalho com a liderança (na subfase lutar); assumir a sua autoridade para desempenhar a sua tarefa (na subfase papéis presos). A fase de colaboração apresenta dois objetivos desenvolvimentais: (i) trabalhar em colaboração uns com os outros; e (ii) usar os diferentes recursos dos membros do grupo. Trazer a energia e recursos de cada um para o seu papel e em função do objetivo do contexto é o objetivo desenvolvimental da fase de trabalho e jogo (Quadro 1).

Agazarian e Gantt (2005) discriminam ainda os objetivos dos membros, dos subgrupos e do grupo-como-um-todo: (i) o objetivo do membro é juntar-se a um subgrupo funcional em vez de a um grupo estereotipado; (ii) o objetivo do subgrupo é discriminar, conter, explorar e integrar as diferenças; e (iii) o objetivo do grupo- como-um-todo é usar os seus recursos para resolver os problemas que se encontram no caminho das metas. Neste enquadramento, o desafio ou objetivo da abordagem centrada-nos-sistemas passa por desenvolver uma cultura funcional, não estereotipada, que apoie quer os objetivos primários, quer os secundários do sistema e que a sua formação resulte do desenvolvimento deliberado de apropriada permeabilidade das fronteiras (Agazarian e Gantt, 2005).

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Quadro 1: Objetivos desenvolvimentais das fases de desenvolvimento, construído a partir de Gantt e Agazarian (2005).

Fase Subfase Objetivo

Autoridade

Evitar - Desenvolver uma orientação para a resolução de problemas. Lutar - Aprender a construir uma relação de trabalho com a

liderança. Papéis

Presos

- Assumir a sua autoridade para desempenhar a sua tarefa.

Colaboração - Trabalhar em colaboração uns com os outros.

- Usar os diferentes recursos dos membros do grupo.

Trabalho - Trazer a energia e recursos de cada um para o seu papel e

em função do objetivo do contexto.

Partindo da importância de objetivos claros, Gantt e Agazarian (2005) destacam o alinhamento entre os papéis e o objetivo de um contexto específico e a sua clareza a todos os níveis do sistema (e.g., alinhar os objetivos do subsistema com os objetivos do sistema mais amplo). No caso de desalinhamento entre os papéis e o objetivo de um contexto, Gantt e Agazarian (2005) consideram que se verificarão poucos progressos em relação ao objetivo.

Por último, Saavedra, Early e van Dyne (1993) distingue os objetivos individuais e os objetivos do grupo. Os primeiros destacam o desempenho individual e a ação independente, enquanto os segundos estimulam a cooperação e o desempenho coletivo. Rodrigues (2008) chama à atenção para a necessidade de alinhamento entre os objetivos individuais e os objetivos do grupo, caso contrário a colaboração e eficácia do grupo pode baixar.

1.6. Estrutura: fronteiras, permeabilidade e desenvolvimento.

A estrutura de cada sistema é similar e definida pelas suas fronteiras no espaço, tempo, realidade e papel (Agazarian e Gantt, 2000). A teoria dos sistemas humanos vivos define estrutura em termos de fronteiras, que demarcam o que está dentro do sistema do que está fora do sistema (Agazarian e Gantt, 2005; Gantt e Agazarian, 2005), i.e., as fronteiras geográficas e de tempo estabelecem o que está