• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO VII: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

3. O Desenvolvimento do Grupo: Processo Dinâmico-Evolutivo.

3.1.3. O modelo integrado de desenvolvimento grupal de Miguez e Lourenço.

O modelo integrado de desenvolvimento grupal de Miguez e Lourenço (2001) presta vários contributos a esta temática.

Primeiro, assente numa perspetiva sócio-técnica, o modelo integra dois subsistemas, social e tarefa, i.e., o desenvolvimento comporta e ocorre, configurando dois ciclos evolutivos – sócio-afetivo e tarefa, ambos indissociáveis, interdependentes e presentes ao longo de toda a existência do grupo (Miguez e Lourenço, 2001), i.e., ambos os sistemas sofrem mutações ao longo do tempo (Pinto, Lourenço e Dimas, 2010). Contudo, estes dois subsistemas apresentem objetivos específicos e distintos (Guzzo e Shea, 1992), ou seja, enquanto os objetivos do sistema sócio-afetivo se relacionam com a satisfação das necessidades emocionais, as necessidades da tarefa circunscrevem os objetivos do subsistema tarefa (Araújo, 2011). Lourenço (2002) realizou dois estudos empíricos. Um deles pretendia testar o modelo tetra-dimensional da eficácia (Beaudin e Savoie, 1995; Savoie e Beaudin, 1995). Os resultados da análise fatorial desse estudo não apoiaram as quatro dimensões da eficácia, mas revelaram duas dimensões interdependentes que Lourenço (2002) designou por Organização e Manutenção e por Produção e Reputação e que “refletem as polaridades grupais estruturadas em torno de dois subsistemas dinamicamente indissociáveis – o sistema afetivo e o sistema tarefa” (p. 222). Isto é, esse estudo apoiou a existência destes dois subsistemas. Esta natureza sistémica do grupo, apoiada na interdependência dos seus dois subsistemas fundadores (afetivo e tarefa), foi igualmente suportada pelos resultados encontrados por Lourenço (2002) relativos à relação entre a conceção de eficácia e o desempenho grupal, que mostraram que só uma valorização simultânea destes dois subsistemas se relaciona com o desempenho.

Segundo, como já referenciamos, embora estes subsistemas sejam indissociáveis e estejam presentes ao longo da vida do grupo, eles apresentam diferentes predominâncias, i.e., segundo Miguez e Lourenço (2001) nas duas primeiras fases observa-se um domínio do sistema sócio-afetivo, dado que o alvo das preocupações recai nesta dimensão, enquanto nas duas fases seguintes o subsistema tarefa está mais saliente, em resultado da preocupação do grupo estar na realização da tarefa, levando-os a distinguir dois ciclos, o primeiro ciclo

107

englobando as duas primeiras fases (i.e., estruturação, a primeira e reenquadramento, a segunda) e o segundo ciclo englobando as outras duas fases (i.e., reestruturação, a primeira e realização a segunda) – Figura 20.

Figura 20: Modelo Integrado de Desenvolvimento Grupal (Miguez e Lourenço, 2001).

Terceiro, paradoxalmente e de forma inovadora, este modelo propõe a intervenção do líder no subsistema menos saliente, ou seja, o líder pode potenciar o subsistema sócio-afetivo, através de intervenções ao nível da tarefa e melhorar o funcionamento do subsistema tarefa, através de intervenções ao nível sócio-afetivo (Dimas, 2007; Miguez e Lourenço, 2001). A importância deste contributo resulta do bom ou mau funcionamento dos subsistemas determinar o sucesso ou insucesso (Dimas, 2007; Lourenço, 2002; Miguez e Lourenço, 2001; Pinto, et al., 2010).

Quarto, este modelo contempla uma sucessão de quatro fases e prevê várias possibilidades entre elas: de avanço ou estagnação, como na lógica dos modelos lineares; de recuos, como nos modelos cíclicos; e da existência de pólos tensionais opostos, i.e., de forças de valência contrária (e.g., identidade individual vs identidade grupal; dependência vs independência; maior proximidade e abertura pessoal vs menor proximidade e abertura pessoal) cuja relação dinâmica suscetível de provocar mudança (Lourenço, 2002) como nos modelos polares.

Quinto, nesta lógica, este modelo indica que a transição entre as fases exige a satisfação de três necessidades: (i) inclusão, da fase de estruturação para a fase

108

de reenquadramento; (ii) de aceitação da diferença, temida e evitada, na primeira fase e fonte de discórdia por inabilidade de coabitação, na segunda fase, como marco que assinala o início do segundo ciclo e da terceira fase (Dimas, 2007), portanto a transição entre a fase de reenquadramento e a fase de reestruturação; e (iii) normalização, para alcançar a fase de realização.

Sexto, os resultados encontrados Lourenço (2002), apoiaram a ideia que a grupos em fases de desenvolvimento mais elevadas, correspondem melhores desempenhos e indicou “(…) a existência de uma interdependência entre desenvolvimento grupal e conceção de eficácia, a qual reforça a indissociabilidade destes dois processos…” (Lourenço, 2002, p. 224).

Sétimo e provavelmente mais importante a este nível de análise dos contributos da perspetiva integrada, o modelo integrado de desenvolvimento grupal de Miguez e Lourenço (2001), ao contrário das teorias tradicionais sobre os vários processos grupais, que os analisa isolada e descontextualizadamente, contextualiza seis processos grupais às fases de desenvolvimento. Isto é, para este modelo os processos grupais (e.g., liderança, comunicação, tomada de decisão, conflitos, eficácia e negociação) dependem do contexto em que se inserem e as fases de desenvolvimento constituem esse contexto (Miguez e Lourenço, 2001). Este contributo permite um novo olhar sobre os processos grupais pois, cada um deles é analisado no contexto de cada fase. Araújo (2011) analisa as diferentes fases e processos deste modelo e compara-os com as teorias da liderança de Hersey e Blanchard (1977), da comunicação de Nelson e Quick (2003), tomada de decisão de Vroom e Yetton (1973), conflito de Thomas (1976), eficácia de Beaudin e Savoie (1995) e Savoie e Beaudin (1995) e da negociação de Schermerhorn, Hunt e Osborn (2002) encontrando um mapa que vai para além da posição classificativa dos processos grupais, passando-os a compreender como parte de um contexto. Esse mapa permite uma leitura horizontal desses processos (Figura 21), i.e., de cada um deles ao longo das fases de desenvolvimento, mas também permite uma leitura vertical dos processos grupais em cada fase (Figura 22), i.e., dos seis processos grupais no mesmo contexto, leia-se fase de desenvolvimento51.

Oitavo, a integração destes processos permite uma intervenção, por exemplo do líder, adequada à situação e uma gestão das expectativas do líder face ao grupo.

51

Para os interessados em aprofundar esta temática sugerimos a leitura do trabalho realizado por Araújo (2011).

109

Figura 21: Leitura Horizontal dos Processos de Grupo, Modelo Integrado de Desenvolvimento Grupal de Miguez e Lourenço (2001), segundo Araújo (2011).

Figura 22: Leitura Vertical dos Processos de Grupo, Modelo Integrado de Desenvolvimento Grupal de Miguez e Lourenço (2001), segundo Araújo (2011).

110

3.1.4. Teoria dos sistemas humanos vivos e treino centrado nos