CAPÍTULO VII: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
3. O Desenvolvimento do Grupo: Processo Dinâmico-Evolutivo.
3.1.1. O modelo integrado de desenvolvimento dos grupos de Wheelan.
Como referimos anteriormente, a teoria integrada do desenvolvimento dos grupos contribui para a teoria do desenvolvimento do grupo e esses contributos serão reportados nesse momento, mas também contribuí com aspetos específicos que acrescentam informação à teoria do desenvolvimento do grupo. Neste ponto, iremos concentrar a nossa análise nos aspetos específicos da teoria integrada do desenvolvimento dos grupos, através da análise de três modelos integrados de desenvolvimento dos grupos: o modelo integrado de desenvolvimento dos grupos de Wheelan (1990, 1994, 1999); o modelo integrado de desenvolvimento dos grupos de Sheard e Kakabadse (2002a, 2002b, 2004); e o modelo integrado de desenvolvimento dos grupos de Miguez e Lourenço (2001).
O modelo integrado de desenvolvimento grupal de Wheelan (1990, 1994, 1999) empresta seis contributos ao desenvolvimento dos grupos: (1) efetuou uma vasta revisão da literatura (Wheelan, 1994); (2) descreveu detalhadamente o modelo integrado (Wheelan, 1990, 1994) com cinco fases (i.e., dependência e inclusão, contra-dependência e luta; confiança e estrutura; trabalho e terminação); (3) identificou e integrou as estruturas do grupo e os seus processos, ao longo das fases de desenvolvimento (Wheelan, 1994); (4) desenvolveu e aplicou o Group Development Observation System (GDOS; Wheelan, Verdi, e McKeage, 1994)45; (5) construiu e validou o Group Development Questionnaire (GDQ; Wheelan e
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Hochberger, 1996)46; e (6) realizou estudos empíricos47 através da aplicação do GDOS (Verdi e Wheelan, 1992; Wheelan e Abraham, 1993; Wheelan e Krasick, 1993; Wheelan e McKeage, 1993; Wheelan e Verdi, 1992) e do GDQ (Wheelan, Burchill, e Tilin, 2003; Wheelan e Kesselring, 2005; Wheelan e Lisk, 2000; Wheelan, Murphy, Tsumura, e Kline, 1998; Wheelan e Tilin, 1999), que permitiram verificar: (a) que o tipo de declarações e temas, associadas às fases de desenvolvimento, permitiram discriminar padrões de desenvolvimento e observar que estes variam de forma ordenada ao longo do tempo, aumentando as declarações de trabalho ao longo das fases de desenvolvimento (Verdi e Wheelan, 1992; Wheelan e Abraham, 1993; Wheelan, Davidson, e Tilin, 2003; Wheelan e Krasick, 1993; Wheelan e McKeage, 1993; Wheelan e Verdi, 1992; Wheelan e Williams, 2003); (b) a existência de dois fatores, o primeiro contendo 25 dos 30 itens das escalas III e IV e o segundo contendo 20 dos 30 itens das escalas I e II (Wheelan e Hochberger, 1996); (c) a partir da perceção dos membros (Wheelan, Burchill, et al., 2003; Wheelan e Kesselring, 2005; Wheelan e Lisk, 2000; Wheelan, Murphy, et al., 1998; Wheelan e Tilin, 1999) e dos supervisores (Wheelan, 2003), uma relação significativa entre as fases de desenvolvimento e a produtividade, i.e., que os grupos que funcionam numa fase de desenvolvimento mais avançada evidenciam níveis de produtividade mais elevados; (d) que os grupos beneficiavam de intervenções que satisfizessem as necessidades dos grupos nos diferentes estádios de desenvolvimento (Wheelan, 2003); (e) com exceção das declarações de evitamento não existem diferenças nos padrões de desenvolvimento, entre grupos com diferentes tipos de tarefas e com ou sem líder designado (Wheelan e Kaeser, 1997). De seguida passaremos a aprofundar vários desses contributos.
Wheelan (1994) considera cinco estruturas do grupo (i.e., comunicação; objetivos e tarefas; estatuto e papéis; liderança; e alianças e subgrupos) e três processos (i.e., concordância ou submissão e desvios ou desacordos; coesão e conflitos; e identificar o estádio) e integra-os nos diferentes estádios de desenvolvimento. Isto é, este modelo distingue-se da teoria do desenvolvimento dos grupos, porque identifica e integra estruturas e processos no contexto dos quatro primeiros estádios do desenvolvimento dos grupos. O quadro que segue (Quadro 2) apresenta a síntese desse enquadramento, com exceção da listagem dos itens de identificação dos estádios de desenvolvimento, por ser muito extensa, i.e., 92
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Será abordado no ponto 5.2.2, ver p. 171.
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características segundo Wheelan e Hochberger (1996). Os contributos desta teoria, concretamente construção de instrumentos, serão reportados no ponto 5.2.2 deste capítulo, p. 171 qualidades psicométricas conhecidas e as evidências constarão no ponto 6 deste capítulo, p. 180, e as evidências de estudos anteriores sobre o desenvolvimento dos grupos.
Quadro 2: Integração das estruturas e processos dos grupos nos quatro estádios de desenvolvimento, construído a partir de Wheelan (1994).
Estádio 1 Estádio 2 Estádio 3 Estádio 4
E s tr u tu ra s d o G ru p o C o m u n ic a ç ã o Centralizada Hierárquica Delicada Convencional Mais igualitária
Liberdade de expressão sem medo de rejeição
Mais aberta
Orientada para a tarefa Descentralizada
Ajustada à complexidade da tarefa (centralizada nas simples e descentralizada nas complexas) O b je ti v o s e T a re fa s Dependência do líder Segurança, estatuto e relação com o líder Não são claras nem consensuais Escolha de tarefas demasiado difíceis
Estabelecer consenso nos valores e objetivos Procura de acordo
Tarefas de grau de dificuldade mais realistic
Clareza dos objetivos atrai os membros para as tarefas
Visão e missão partilhadas Escolha de tarefas de grau de dificuldade intermédio Redefinir normas
Adequar métodos do grupo às exigências da tarefa E s ta tu to e P a p é is Ambíguo
Não resulta da avaliação das capacidades
Experimentam-se os papéis Testa-se o ajustamento Conflito entre papéis
Redefinição e reavaliação dos papéis disfuncionais Clarificação das ambiguidades
Membros e grupo concordam com os papéis Os papéis correspondem às competências L id e ra n ç a Proporciona direção, segurança, proteção e ordem Grande influência Fonte de recompensa Elevada na tarefa e baixa na relação
Desafia-se a autoridade, controlo e poder do líder Redefine-se o papel do líder Elevada na tarefa e na relação
Redistribuição de poder Perda de influência Apoiante
Baixa na tarefa e elevada na relação
Consultiva
Baixa na tarefa e na relação Pouco input A lia n ç a s e S u b g ru p o s Mínimas ou inexistentes
Os subgrupos são sinal, indicador e critério do desenvolvimento Alianças são inevitáveis São um desafio e uma necessidade para o
desenvolvimento por permitirem a diferenciação
Parecem ameaçar e capazes de dividir
Continuam a emergir, funcionar e dissolver Conotação menos negativa e mais tolerância São importantes na organização e realização do trabalho
Meio dos membros influenciar o grupo
Surgem para influenciar as decisões do grupo e com base nas necessidades
Consideram-se factores internos e externos ao grupo P ro c e s s o s C o n c o rd â n c ia e D e s v io s Submissão excessivamente elevada baseada no medo de exclusão
Desvios são punidos
Diminui a pressão de submissão que permite as diferenças e desacordo
Os desvios são permitidos mas não deve provocar
descoordenação ou desunião
Aumento da pressão para concordar
Concordância baseada em acordos partilhados, pertença e confiança Desvios sujeitos a sanções menos severas
Encorajam a inovação
Concordância elevada Consensos
Desvios são tolerados, se relacionados com a tarefa e pode resultar em oportunidades de melhorar C o e s ã o e C o n fl it o s Evita-se o conflito Groupthink em torno do líder
Conflitos são uma oportunidade de clarificação e podem melhorar a coesão e confiança
Aumentam os níveis de coesão e cooperação Groupthink Negociação
Pode escalar provocando regressão
Coesão e cooperação aumentam a produtividade
Conflitos periódicos têm resultados positivos
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3.1.2. O modelo integrado de desenvolvimento dos grupos de