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5.1 Material didático do aluno

5.1.2 Livro didático de Língua Portuguesa

Os dicionários foram incluídos no PNLD como material complementar aos livros didáticos de todas as áreas ou disciplinas (RANGEL, 2011). No que se refere ao ensino de língua materna, a desejável articulação desses materiais fica evidenciada no Guia Dicionários

em Sala de Aula (RANGEL, 2012), que sugere como ponto de partida para a seleção das

atividades que traz, o prévio levantamento da abordagem do livro didático adotado sobre ensino do léxico. Dessa maneira, as atividades propostas pelo referido Guia poderiam se diferenciar complementando ou expandindo o trabalho proposto pelo livro didático. Por sua vez, o Guia de Livros Didáticos do PNLD (BRASIL, 2015), para o Ciclo I do EF, orienta que os professores utilizem os dicionários do acervo Tipo 2 como materiais complementares, que desempenham um papel relevante na aquisição da autonomia leitora do aluno.

Contudo, os estudos realizados por Krieger (2011b) comprovaram que essa articulação ainda não se consolidou nos livros didáticos aprovados pelo PNLD. O aproveitamento do dicionário é ainda muito incipiente, geralmente com poucos e esparsos exercícios no livro didático, que não favorecem a compreensão do dicionário como um gênero que apresenta regras próprias de organização, além de sistematizar informações de caráter linguístico, cultural e pragmático.

O livro didático de língua portuguesa adotado para as turmas participantes da pesquisa foi A Aventura do Saber (FERRONATO; SILVA, 2011), correspondente ao triênio 2013, 2014, 2015 do PNLD, não estando disponível para escolha no Guia PNLD/2016, para o triênio seguinte: 2016, 2017 e 2018, embora ainda conste do catálogo da Editora Leya com uma edição totalmente reformulada14 em 2015 e troca de um dos autores.

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65 A análise que aqui se apresenta foi feita a partir da própria obra em comparação com a descrição apresentada no Guia PNLD/2013 (BRASIL, 2012). A coleção disponível no PNLD/2013 se constituía por dois volumes direcionados ao 4º e 5º ano do EF, divididos em seis unidades demarcadas por eixos temáticos, com diferentes gêneros discursivos. O volume do 5º ano traz, respectivamente, as seguintes unidades: Fazendo jornal, Curtindo um som,

Hora de comer, Evitando Acidentes, Há muito tempo, na Grécia... e Sonho de voar, elaboradas

com o propósito de articular-se com os conteúdos de outras disciplinas, o que é perfeitamente possível, desde que as unidades temáticas não sejam trabalhadas na sequência em que se apresentam. Por exemplo, a última unidade do livro – Sonho de voar – articula-se adequadamente e enriquece conteúdos próprios da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), que acontece anualmente no mês de maio. Já as unidades Curtindo um som e Hora de

comer, associam temas tanto relacionados aos conteúdos de Arte e Ciências, respectivamente,

quanto aos elementos culturais afro-brasileiros, que se constituem em objeto de ensino transdisciplinar.

As unidades citadas trazem até dez seções que visam atender aos eixos de ensino de Língua Portuguesa sendo elas: Vamos ler (textos para leitura de gêneros variados), Troque

ideias (discussões orais e coletivas), Entendendo o texto (questões de entendimento sobre o

texto lido), Vamos brincar? (atividades lúdicas envolvendo a análise linguística), Você Sabia? (boxes de curiosidades com informações adicionais sobre o tema apresentado na unidade),

Linguagem Oral e Escrita (questões de reflexão sobre os recursos linguísticos), Hora da Produção (proposta de produção escrita com o mesmo tema e gênero da unidade em estudo), Vamos Pesquisar (propostas de atividades extraclasse), Vamos Ouvir e Leia Também

(indicações de livros paradidáticos que enriquecem o tema tratado na unidade).

Nem todas as seções apresentam-se em ambos os volumes da coletânea ou estão presentes em todas as unidades temáticas do volume. A seção Vamos Ouvir, por exemplo, está presente no índice do livro do 5º ano, porém, sem a indicação de páginas, já que não há nenhuma atividade que a aborde. Não há descrição no Guia PNLD/2013 (BRASIL, 2012) sobre a proposta de abordagem dessa seção, caso trate-se de atividades de linguagem oral, vale a ressalva do próprio Guia que considera como ponto fraco da coleção as propostas para a oralidade.

A seção Vamos Brincar?, que pressupõe atividades lúdicas, aparece no livro do 5º ano, apenas na Unidade 2 com o tema Curtindo um som (FERRONATO; SILVA, 2011, p. 63).

66 Trata-se de um jogo com os diferentes sentidos do verbo tocar utilizado em frases produzidas pelos próprios alunos, sendo essa a única atividade do livro que explora o uso do dicionário. Como os exercícios propostos se articulam em torno do eixo temático Música, que é referência para todo o trabalho nesse eixo, a atividade foi adaptada a outro tema para a intervenção com os alunos pesquisados, que no período de coleta de dados – 1º semestre do ano letivo de 2015 – ainda não conheciam esses textos.

O vocabulário dos textos apresentados tem as palavras consideradas difíceis ao entendimento dos alunos destacadas em cor diferente, com um box ao final do texto indicando os significados. Para Carvalho (2012), esse é um recurso pouco eficaz na aquisição e expansão lexical, por interferir de modo negativo na leitura e compreensão do texto ao antecipar a seleção das palavras que necessitam de explicação; assim nega ao aluno a oportunidade de percorrer os caminhos da pluralidade de interpretações e sentidos por meio das estratégias de leitura.

Figura 1 – Exemplo de glossário do livro Aventura do Saber

Quanto aos conhecimentos linguísticos da obra, o Guia PNLD/2013 (BRASIL, 2012, p.160), alerta que “progressão e sistematização de conteúdos não constituem a preocupação principal do trabalho nesse eixo de ensino, pois não há predeterminação e sequenciação rígida dos conteúdos”. A observação refere-se à seção Linguagem Oral e Escrita, que traz como conteúdos: uso dos porquês, prefixos e sufixos, pronomes oblíquos, adjetivos, verbos haver/existir, sinônimos, aspas, abreviaturas, interjeições, conjunções, discurso direto e indireto, ortografia (j/g; x/ch; m/n), hiato, palavras ora/hora, gênero das palavras, verbos Fonte: Ferronato e Silva (2011, p.60).

67 haver/fazer e entrar/sair, sinais de pontuação, crase, preposição ‘a’, verbo viajar, proparoxítonas e grau comparativo de igualdade. A proposta das autoras para esta seção é trabalhar com questões relacionadas à coesão, vocabulário, polissemia e variação linguística, ou seja, uma proposta tão ampla para uma única seção que se torna inconsistente na sistematização desses recursos.

Ainda segundo o Guia PNLD/2013 (BRASIL, 2012, p.160), “embora não haja muita diversidade na formulação das atividades, [elas] são boas porque são simples, claras, objetivas e acessíveis à compreensão dos alunos”. Porém, em algumas situações apresenta-se a regra pronta, sem solicitar a observação dos fenômenos linguísticos para que haja a tentativa de uma formulação própria, o que leva à perda da oportunidade de percepção da lógica do fenômeno em si mesmo.

No que se refere à metalinguagem apresentada no livro didático, nem sempre os termos utilizados no índice de conteúdos da obra acompanham as atividades em seus enunciados. Por exemplo, o que o índice nomeia como adjetivos pátrios ou gentílicos, o enunciado no interior do livro chama de palavras compostas. Ainda quanto aos adjetivos, o grau comparativo de

igualdade é nomeado tanto no índice quanto nos exercícios como comparação entre elementos. Quanto aos nomes em geral, o índice traz como gênero das palavras o que o

enunciado no interior do livro chama de equivalentes masculinos.

A coleção é indicada ao professor que queira enfatizar a leitura e a produção de textos15, considerada pela pré-avaliação do PNLD como o ponto forte da obra, ficando a seu cargo a sistematização de conteúdos que orientem a revisão dos textos produzidos pelos alunos. A opção das autoras é por um trabalho pautado pela abordagem discursiva, por isso, os conteúdos não são predeterminados sequencialmente como nas abordagens tradicionais (BRASIL, 2012).

No entanto, a falta de padronização na nomenclatura gramatical dos livros didáticos dificulta a aquisição da metalinguagem. Deve-se levar em conta ainda que o aluno poderá ter em mãos durante os nove anos do ensino fundamental até quatro coleções - pelos triênios do PNLD - de diversos autores que poderão optar em suas obras por nomenclaturas diferentes quanto aos aspectos gramaticais. Tais aspectos são nomeados no Guia PNLD/2013 (BRASIL,

15 O termo produção de texto em substituição à redação escolar foi utilizado pela primeira vez, por João

Wanderley Geraldi, em O texto na sala de aula (1984). Geraldi (2014) explica que a redação tem caráter monológico, pois o autor escreve para mostrar que sabe escrever; já na produção de texto existe a busca de diálogo: Para que escrevo? Para quem? Sobre o quê? Por que escrevo?

68 2012) como conhecimentos linguísticos, mas apesar da mudança de nome, o conteúdo, em maior ou menor sistematização, continua o mesmo e em nenhuma das obras deixou de constar. Diante do exposto, é possível afirmar que o livro didático adotado está, apesar de algumas ressalvas quanto às seções, em conformidade com o que propõem as autoras para um trabalho pautado por unidades temáticas, que possibilite o trabalho interdisciplinar e privilegie a produção escrita dos alunos. O livro em questão não sistematiza reflexões sobre recursos linguísticos e não enfoca a utilização do dicionário, no entanto, essas restrições estão devidamente descritas no Guia PNLD/2013 (BRASIL, 2012), a partir das quais se presume que a escolha tenha sido uma opção efetiva dos professores por esta abordagem no ensino de língua portuguesa, uma vez que, para a escolha do livro didático a cada triênio, o professor tem às mãos tanto o Guia PNLD, que descreve cada uma das obras pré-aprovadas, quanto os próprios livros didáticos fornecidos pelas editoras.

Quanto aos dicionários, a possibilidade de análise prévia das obras adotadas não está ao alcance do professor, pois os acervos chegam prontos às escolas, no entanto, vêm acompanhados do Guia Dicionários em Sala de Aula que descreve as obras, justificando a seleção, e sugere atividades práticas de trabalho com os dicionários. Sendo assim, o professor tem duas obras a ele destinadas com orientações sobre a escolha e utilização dos materiais do PNLD - livros didáticos e dicionários – que elegemos como fontes prescritivas que merecem um olhar mais atento.