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O locus e o clima da pesquisa

Optei em concentrar minha pesquisa na região nordeste do Estado de São Paulo, mais precisamente em escolas da Diretoria Regional de Ensino (DIREN) de São Joaquim da Barra14, amparado em três razões: acessibilidade, conhecimento da

realidade e contribuição para a região.

A primeira destas razões remonta ao tempo em que exerci o cargo de Diretor do Departamento de Educação em Ipuã/SP. Naquela ocasião, embora dirigente municipal, portanto, com rede própria e independente da DIREN, meu contato com a Diretoria era inevitável por haver professores da rede estadual que optaram por lecionar na rede municipal, criada após a municipalização do ensino.

Contribuiu também para o bom relacionamento, a parceria que Prefeitura e DIREN mantinham na única escola estadual do município de Ipuã, no transporte de alunos e na ajuda da manutenção desta escola que, embora fora de nossa responsabilidade, o poder público municipal colaborava dentro de suas possibilidades.

Não apenas as condições favoráveis de acesso às escolas, mas o bom nível de conhecimento da realidade das cidades pesquisadas pesaram na escolha das escolas que foram o locus da minha pesquisa.

A proximidade entre as cidades da minha região proporciona um contato inevitável entre seus moradores. Tive a oportunidade de, além da militância política,

também como aluno e professor, frequentar e conhecer, um pouco melhor, a realidade das cidades da minha região. Esse conhecimento sobre a cidade e as escolas representou um ponto positivo no desenvolvimento da minha pesquisa.

A terceira razão para a minha escolha trata da contribuição que espero que esta pesquisa traga para a discussão da questão do bônus em geral e, em particular, para a região onde milito.

Ao iniciar a escolha das escolas a ser pesquisadas, deparei-me com o seguinte problema: a maior parte das escolas da minha região encontra-se municipalizada.

Como a Bonificação por Resultado afeta apenas os professores da rede estadual, o espaço amostral da minha pesquisa reduziu-se significativamente. Muitas das cidades da Diretoria de Ensino de São Joaquim da Barra, conta com apenas uma única escola estadual de ensino médio (modalidade de ensino ainda sob a responsabilidade do Estado).

A realidade das pequenas e médias cidades do interior do Estado de São Paulo, que nunca tiveram rede de ensino própria, é, desde o final dos anos de 1990, a adesão à municipalização do ensino, fruto da política de descentralização da educação promovida pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002).

Este processo, iniciado no final dos anos de 1990, atingiu o ápice na década seguinte, a primeira deste século. Das doze cidades que compõem a DIREN de São Joaquim da Barra/SP, onze delas encontram-se com seu ensino fundamental inicial e dez, com o ensino fundamental final, municipalizados.

Uma única cidade é exceção a esta regra, justamente a cidade sede da DIREN, São Joaquim da Barra, que ainda conta com todo o ensino fundamental sob a obrigação do Governo do Estado de São Paulo, e por isso, vislumbrei, nesta cidade, o cenário para a minha pesquisa.

Após a escolha da cidade, as escolas selecionadas para a aplicação do questionário foram definidas de acordo com o recebimento e o não recebimento do bônus no ano de 2010.

A relação das escolas que receberam e que não receberam o bônus foi obtida em pesquisa realizada na DIREN, em junho de 2011 e a escolha das escolas pesquisadas teve, como critério, o recebimento do bônus no ano base de 2010. Nessa ocasião, entrei em contato com a dirigente regional no sentido de pedir

permissão para a realização da pesquisa nas escolas, no que fui prontamente atendido.

Dessa forma, escolhi três escolas para aplicar os questionários, que, no presente trabalho, serão denominadas por: “Escola A”, “Escola B” e “Escola C”. Os sujeitos participantes serão identificados pela letra “S”, numerados de 01 a 15.

Na “Escola A”, que oferece apenas o ciclo inicial do ensino fundamental (1° ao 5° ano), foram entrevistados seis professores do 5° ano. Nesta escola, o cumprimento da meta estabelecida pelos critérios do IDESP atingiu o índice máximo de 120% no ano de 2010, por ter superado em muito o índice estabelecido para esse ano.

Nesta escola, com total apoio da direção, em uma reunião de hora de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) em que esclareci sobre os propósitos da pesquisa e a voluntariedade da participação, todos os professores do 5° ano aceitaram responder ao questionário.

Na “Escola B”, a única pesquisada a oferecer os dois ciclos do ensino fundamental, tanto o inicial (do 1° ao 5° ano), que atingiu, em parte, o índice estabelecido pelo IDESP para o ano de 2010, como o ciclo final (do 6° ao 9° ano), que não atingiu o índice, ficando excluída do recebimento do bônus. A aplicação do questionário ocorreu em dia de replanejamento escolar, ocasião em que todos os professores estavam presentes na escola.

Nessa escola, havia apenas dois professores lecionando no 5° ano do ensino fundamental e ambos aceitaram, prontamente, a responder ao questionário.

Encontrei alguma resistência entre os professores do ciclo final do ensino fundamental. Apenas 4 professores, dois de língua portuguesa e dois de matemática, se dispuseram a participar respondendo os questionários. Outros dois se negaram a fazê-lo, sendo que apenas uma justificou a sua recusa, alegando que estava decepcionada com a política educacional do Estado de São Paulo, que era contrária ao bônus e que tinha medo de sofrer represália ao responder a pesquisa.

Na “Escola C”, que também oferece apenas o ciclo inicial do ensino fundamental, não foi atingida a meta do IDESP para o ano de 2010, ficando, portanto, excluída do recebimento do bônus no ano de 2010.

Nesta escola, novamente encontrei resistência por parte dos professores em responder ao questionário. Dos cinco professores do 5° ano do ensino fundamental

apenas três aceitaram participar da pesquisa. Nessa escola, os professores que se recusaram em participar não revelaram os motivos da sua decisão.

A resistência por parte dos docentes é um elemento recorrente em pesquisas desse tipo. Vários são os motivos que levam os sujeitos a abster-se de responder: vergonha, desconhecimento do assunto, receio de ser identificado, medo de sofrer represália, dentre vários.

De antemão, cerquei-me de todas as precauções que um pesquisador deve ter na hora de realizar a coleta de dados. Enviei um processo ao comitê de ética da PUC/SP, exigido para pesquisas envolvendo sujeitos, explicando os termos da pesquisa e deixando claro que não haveria qualquer risco ou dano de natureza ética aos envolvidos. Meu processo teve parecer favorável (anexo 4) e, só a partir de então, dei início à pesquisa com os docentes.

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