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The Lonesome Death of Hattie Carroll

ANÁLISE DOS TEXTOS DAS CANÇÕES

3.7 The Lonesome Death of Hattie Carroll

The Lonesome Death of Hattie Carroll é inspirada em uma história real ocorrida

em 8 de fevereiro de 1963. O fazendeiro William Devereux Zantzinger atingiu a bengaladas Hattie Carroll, uma faxineira de 51 anos e mãe de onze filhos. Dono de uma fazenda de tabaco, aos 24 anos, Zantzinger agrediu Carrol em um hotel em Baltimore (Maryland). Ela não resistiu e morreu.

Zantzinger se defendeu afirmando que Carroll teria sofrido um derrame por causa de seus ataques verbais e não por causa da agressão. Ele foi condenado a apenas seis meses de prisão. Bob Dylan usou a liberdade poética em seu texto, já que na canção Zantzinger perdeu a letra “t” e Carroll tem um filho a menos. A canção é estruturada em quatro estrofes, todas com onze versos e um estribilho de três versos ao final de cada uma delas.

Para dar o efeito de realidade da canção, ela está ancorada em fatos, lugares e pessoas precisos. Aparecem os nomes próprios de Zanzinger e Carroll, além da referência ao ocorrido no hotel de Baltimore e da cena do julgamento no tribunal. Estes elementos contribuem para a ilusão de realidade do que é narrado na canção.

No nível fundamental, The Lonesome Death of Hattie Carroll trata da injustiça social. Pode-se estabelecer como oposição primordial o conflito entre riqueza x pobreza. Na primeira estrofe, o narrador figurativiza o tema da riqueza em expressões que indicam a condição social privilegiada de William Zanzinger: “seu dedo com anel de diamante”, “reunião social em um hotel em Baltimore”. Após o assassinato de Hattie Carroll, Zanzinger é preso.

No refrão, o narrador/enunciador se dirige ao ouvinte/enunciatário para criticar os que “filosofam sobre a desgraça e criticam todos os medos”, afirmando que ainda não é hora de chorar.

No que se refere à sintaxe discursiva, a debreagem é enunciva durante as estrofes e enunciativa durante o refrão. Nas estrofes, ocorre um efeito de objetividade, de afastamento, enquanto no refrão existe um “eu” instaurado em um aqui e agora que se dirige a um “tu”, também no aqui e agora, tu este que é o ouvinte da canção, causando um efeito de subjetividade e aproximação.

Na segunda estrofe, o narrador explica que William Zanzinger tem 24 anos e é dono de uma fazenda de tabaco de seiscentos hectares. Mais uma vez, o tema da riqueza aparece no texto. Ele tem “pais ricos e abastados que o provêm e o protegem”. A idéia de que a morte da faxineira não tem importância é ancorada na figura dos políticos de Maryland que deram “de ombros”, isto é, agiram com descaso, além de emitirem “palavrões e escárnio”. No fim da estrofe, o narrador conta que em pouco tempo, Zanzinger já estava livre, depois de pagar a fiança.

A história de Hattie Carroll é contada na terceira estrofe. A pobreza é figurativizada no trabalho que ela realizava (“carregava a louça e retirava o lixo”) e na maneira com que o realizava: sempre submissa, calada, sua única função era limpar “toda a comida da mesa”. O narrador descreve o assassinato e observa que “ela nunca fez nada para William Zanzinger”, reforçando a gratuidade de tal ato.

A última estrofe trata do polêmico julgamento do assassinato de Carroll por Zanzinger. Há muita ironia neste trecho: “na honrosa corte, o juiz bate seu martelo para mostrar que todos são iguais e que a corte está neutra”, uma vez que ao final, Zanzinger é condenado a apenas seis meses de prisão. O enunciador/narrador critica o juiz, que “clamou fortemente por penalidades e arrependimentos”, mas deu como veredicto uma pena leve ao réu dada a gravidade da acusação a que estava submetido. Essa crítica é figurativizada na “escada da lei que não tem topo nem fundo”.

Há uma mudança no último refrão. O narrador/enunciador afirma que o ouvinte agora pode enterrar “o lenço em seu rosto, pois agora é hora para suas lágrimas”, liberando-o para chorar a tragédia de Hattie Carroll.

O contrato estabelecido entre o narrador/enunciador e o ouvinte/enunciatário ocorre durante o estribilho, como comentado acima. Desta forma, o objeto-modal do ouvinte são as lágrimas, que conduzem ao objeto-valor, isto é, a conscientização da injustiça ocorrida no julgamento.

A manipulação ocorre por um processo de sedução, pois o destinador/manipulador tem uma imagem positiva do destinatário, que adquire a competência de querer-fazer.

A performance ocorre no último refrão, quando o destinador/manipulador ordena que o destinatário enterre o lenço no rosto e chore. A sanção do destinador é positiva, pois “agora”, isto é, quando as lágrimas escorrem pelo rosto do ouvinte, ele/destinatário foi transformado: adquiriu uma consciência sobre o que estava por trás

do julgamento de Hattie Carroll, ou seja, que o fato de ela ser uma faxineira e seu assassino ser um fazendeiro fez com que a pena fosse abrandada.

The Lonesome Death of Hattie Carroll, portanto, se configura como uma canção

de protesto por fazer o ouvinte refletir sobre todo o caso de maneira mais profunda do que uma simples narração ou crônica do ocorrido. O enunciador/narrador faz com que o ouvinte tome parte da tragédia, inserindo-o na história e fazendo com que ele tome uma posição diante dos fatos narrados.

Original Tradução

William Zanzinger killed Poor Hattie Carroll with a cane

That he twirled around his diamond ring finger

At a Baltimore hotel society gath'rin' And the cops were called in

And his weapon took from him

As they rode him in custody down to the station

And booked William Zanzinger For first-degree murder

But you who philosophize disgrace And criticize all fears

Take the rag away from your face Now ain't the time for your tears

William Zanzinger, who at twenty-four years

Owns a tobacco farm of six hundred acres With rich wealthy parents

Who provide and protect him And high office relations In the politics of Maryland Reacted to his deed

William Zanzinger matou

A pobre Hattie Carroll com uma bengala Que ele girava no dedo com o anel de diamante

Em uma reunião social em um hotel em Baltimore

E os tiras foram chamados E sua arma foi tirada dele

Enquanto o levaram até a delegacia E acusaram William Zanzinger Por homicídio qualificado

Mas você que filosofa sobre a desonra E critica todos os medos

Tira a máscara da sua face

Agora não é hora para suas lágrimas

William Zanzinger, que aos vinte e quatro anos

Tem uma fazenda de tabaco de seiscentos acres

Tem pais ricos e influentes Que o ajudam e o protegem

E contatos nos altos escalões da política de Maryland

With a shrug of his shoulders And swear words and sneering And his tongue it was snarling

In a matter of minutes on bail was out walking

But you who philosophize disgrace And criticize all fears

Take the rag away from your face Now ain't the time for your tears

Hattie Carroll was a maid of the kitchen She was fifty-one years old

And gave birth to ten children

Who carried the dishes and took out the garbage

And never sat once at the head of the table And didn't even talk to the people at the table

Who just cleaned up all the food from the table

And emptied the ashtrays on a whole other level

Got killed by a blow

Lay slain by a cane that sailed through the air

Came down through the room

Doomed and determined to destroy all the gentle

And she never done nothing to William Zanzinger

But you who philosophize disgrace And criticize all fears

Take the rag away from your face

Reagiu a seu ato

Com um encolher de ombros Com palavrões e escárnio E sua língua estava grunhindo

Em questão de minutos, sua fiança estava paga e ele saiu caminhando

Mas você que filosofa sobre a desonra E critica todos os medos

Tira a máscara da sua face

Agora não é hora para suas lágrimas

Hattie Carroll trabalhava na cozinha Ela tinha cinqüenta e um anos E deu à luz dez filhos

Ela lavava os pratos e retirava o lixo Sem nunca sentar à cabeceira da mesa Nem sequer falou com as pessoas à mesa Apenas limpava toda a comida da mesa E esvaziava os cinzeiros de outro andar inteiro

Foi morta com um golpe

Assassinada por uma bengala que voou pelo ar e caiu

Destinada e determinada a destruir tudo o que é nobre

E ela nunca fez nada contra William Zanzinger

Mas você que filosofa sobre a desonra E critica todos os medos

Tira a máscara da

Agora não é hora para suas lágrimas

Now ain't the time for your tears

In the courtroom of honor The judge pounded his gavel To show that all's equal

And that the courts are on the level And that the strings in the books Ain't pulled ‘n persuaded

And that even the nobles get properly handled

Once that the cops have chased after And caught 'em

And that the ladder of law has no top and no bottom

Stared at the person who killed for no reason

Who just happened to be feelin' that way Without warnin'

And he spoke through his cloak Most deep distinguished

And handed out strongly For penalty and repentance

William Zanzinger with a six-month sentence

Oh, but you who philosophize disgrace And criticize all fears

Bury the rag deep in your face For now's the time for your tears

O juiz bate seu martelo

Para mostrar que todos são iguais E que a corte é neutra

Que não se deturpam nem falsificam os livros da lei

E que até os nobres recebem tratamento adequado

Uma vez que a polícia o caçou E o prendeu

E que a escada da lei não tem degrau superior nem inferior

Encarou a pessoa que matou sem motivo Que simplesmente cedeu à tentação sem se prevenir

E protegida em seu manto, falou com tanta distinção e profundidade

E condenou duramente

Para servir de punição e expiação

William Zanzinger a seis meses de prisão Oh, mas você que filosofa sobre a

desgraça

E critica todos os medos

Esconda bem a cara nesse trapo Pois agora é hora para suas lágrimas