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5.2 Avaliando o PME com os Atores Sociais na Escola, na SME e na SER

5.2.8 Mãe de aluno

Na terceira semana, também entrevistei uma mãe de aluno que trabalha ao lado da escola. Quando solicitei um tempo com ela, cedeu-me gentilmente. Essa mãe tem Ensino Médio completo, trabalha o dia todo numa casa de família como cuidadora de idoso e, como não tem horário certo para sair do trabalho, fica muito preocupada com o filho, que é adolescente e passava muito tempo ocioso. Sua maior preocupação é o envolvimento com as drogas “que correm soltas”.

Começamos nossa conversa pedindo a ela que nos falasse sobre qual era seu entendimento sobre o PME, e ela foi categórica. “Eles têm a oportunidade de estudar e de aprender mais, e melhora as condições dos alunos”. Diz que o PME tem uma importância muito grande dentro da escola, pois:

[…] ele diz que ajuda a tirar os meninos da rua, evita que eles se envolvam com drogas e ajuda nos estudos”. E ainda complementa:

Como não tenho horário certo para sair do trabalho, fico muito preocupada com o meu filho que é adolescente e passava muito tempo ocioso e a minha maior preocupação são as drogas que correm soltas. Como fiquei sabendo do programa, que eles, além de estudar no outro horário, eles faziam outras coisas, como aprender a tocar um instrumento, mexer com a terra e fiquei sabendo que tem uma rádio dentro da escola. Aí eu pensei “isso é muito bom por que assim não preciso pagar para o menino ter o que fazer e ele fica num lugar seguro”.

Pedimos para ela avaliar as ações do PME, já que o seu filho participa ativamente das ações e se ela percebe mudanças. Ela respondeu que “eles aprendem a tocar na banda; acho muito bom porque ocupa o tempo dele, pois, mente vazia, moça, é perigosa. Assim, eu posso trabalhar mais tranquila”. Quanto às mudanças, ela responde que notou mudanças no comportamento, no desempenho das tarefas, tornou-se mais responsável e mais respeitoso com os mais velhos e com a mãe também.

Perguntamos o que ela entendia por educação integral e ela responde: “É realmente mais tempo dos meninos na escola aprendendo a ler e a escrever bem”. Perguntamos também qual era a opinião dela sobre o fato de alguns monitores serem da comunidade, se ela concordava com isso ou se ela tinha alguma opinião sobre os monitores. Ela responde:

Acho interessante que os monitores morem na comunidade, assim conhece o menino desde cedo, é mais amigo e atencioso do que uma pessoa que vem de fora, nem conhece a gente e ainda ganha um dinheiro. Os professores da comunidade também são bons.

A mãe continua falando sobre o PME.

O PME deve continuar sim. A escola é boa e organizada, o menino chega lá em casa todo empolgado com a rádio escolar, que ele mais gosta. Ele fala muito bem do professor de matemática, dele da sala de aula, já fui lá na escola conhecer esse rapaz.

Mas também aponta os pontos negativos:

Gostaria que ele almoçasse na escola, pois moramos muito longe e aí ele fica cansado em ter que voltar; outra coisa, os pais não vão à escola saber de seus filhos, escuto as professoras reclamando disso. Mas, pra mim, tá tudo bom: se melhorar isso que eu disse, fica no ponto.

A reflexão diante da fala dessa mãe, quando abordamos os conceitos de educação integral, mesmo colocada de uma maneira simples, não se diferencia das demais já postas no texto. A diferença da mãe é que ela vivencia as dificuldades de trabalhar fora de casa, contexto de milhares de mães trabalhadoras.

A necessidade de a mãe ir à busca da sobrevivência e de um espaço que, ao mesmo tempo, ofereça conhecimento, lazer e possa também oferecer proteção. E esta proteção, por sua vez, não é algo imaginário dessa mãe, é um direito garantido em um dos marcos legais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Para tanto, ela faz observações pertinentes: diz que observa mudanças no menino, como a presença de determinados valores, como respeito aos mais velhos, responsabilidade com suas atividades. Nesse contexto, há um professor que tem feito a diferença, o professor de matemática da sala de aula. Inclusive na entrevista com eles, com os alunos, realmente ressaltam o envolvimento afetivo deste professor.

Enfatiza a vantagem de o monitor ser da comunidade, mostrando que ela valoriza o profissional do seu lugar quando diz “o professor daqui também é bom” ou “Na comunidade também tem coisa boa”.

Outro aspecto avaliativo importante é a opinião que a mãe dá sobre a escola, que é boa e organizada, além de perceber a ausência dos pais, indicando que ela é presente. Ela entende que o PME deve permanecer na escola sim, quando afirma: “O PME é muito bom para os meninos aprenderem mais e outras coisas e a gente pode trabalhar tranquila, pois eles estão sendo cuidados na escola”.

A concepção de educação integral dessa mãe é legítima, pois tem um fluxo que compartilha as ideias de Anísio Teixeira na Escola-Parque na Bahia com os Centros de Educação Primária, de que o Centro Carneiro Ribeiro, em Salvador, constitui a primeira demonstração. Teixeira (2000) explica como deveria ser a educação primária.

[…] No “centro de educação elementar”, a criança, além das quatro horas de educação convencional, no edifício da “escola-classe”, onde aprende a “estudar” conta com outras quatro horas de atividades de trabalho, educação física e de educação social, atividades em que se empenha, individualmente ou em grupo, aprendendo, portanto, a trabalhar e a conviver. (TEIXEIRA, 2000, p. 153).

Ribeiro (1986) também compartilhava das mesmas ideias de Teixeira: ambos queriam ir muito mais além dos conteúdos propostos no currículo. Suas propostas propunham uma educação que trabalhasse a criança na sua integralidade, mas que foram consideradas visionárias e caras. No entanto, ambos também tinham uma visão paternalista da escola de tempo integral, percebiam a escola como o instrumento capaz de fazer o que a família não fez.

O texto fala de crianças abandonadas, mas não entra no mérito do dever do Estado em implementar políticas públicas que garantam os direitos sociais do cidadão como trabalho, moradia e educação para que não viessem carecer de internar seus filhos em escolas que oferecessem esses “serviços” de moradia, alimentação e educação. Vejamos o que falam alguns teóricos sobre o assunto.

Teixeira (1957) afirma que, nesta escola, além dos locais para suas funções específicas, o autor relata a existência de uma biblioteca infantil e a disponibilidade de dormitórios para 200 crianças, o que significava 5% do total de 4.000 vagas oferecidas na escola-parque. Para o autor, esse percentual era destinado a crianças abandonadas, sem pai, sem mãe, que passariam a ser residentes da escola-parque.

Já em Ribeiro (1986), no projeto do CIEPS, o autor no texto propunha o projeto como uma “escola-casa” que pretendia respeitar os direitos das crianças.