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5.2 Avaliando o PME com os Atores Sociais na Escola, na SME e na SER

5.2.2 Técnica da SER

Outro momento interessante da pesquisa ocorreu na última semana de maio de 2012, quando fomos entrevistar a técnica de educação da SER-VI, a qual tem formação acadêmica em Educação Física e acompanha o PME nas escolas há cinco anos. Fizemos algumas abordagens sobre seu trabalho de acompanhamento do PME nas escolas, conversamos sobre concepções de educação e seus fundamentos teóricos e legais, assim como discutimos também sobre algumas experiências exitosas de educação integral no país. Ela faz um arrazoado sobre sua concepção de educação integral e, na sua fala, ela explica.

Para conceber uma educação integral, é necessário existir na escola um currículo que agregue os diversos campos do conhecimento e as dimensões formadoras de nossos alunos. Faz-se necessário rever e superar a dicotomia entre as aulas convencionais, organizadas na grade curricular convencional, com quatro horas de aulas diárias, e as aulas que ocorrem no contraturno com as atividades educacionais complementares.

A técnica faz uma abordagem de educação integral que tem eco nas falas de Moll, quando discute a organização curricular necessária para abarcar essa proposta de ampliação da jornada escolar. (MOOL, 2007).

A proposta da educação integral deve distanciar-se dessa lógica de divisão em turnos, com a diferenciação entre um tempo de escolarização formal, com todas as extensões pedagógicas e outro tempo sem compromissos educativos sistematizados, ou seja, mais voltado à ocupação do que à educação. Portanto, a organização da escola na perspectiva da educação integral vai para além da demanda do aumento do tempo do aluno na escola, passa pela questão de novas organizações curriculares, voltadas

para concepções de aprendizagens compostas de vivências

contextualizadas e inter-relacionadas em todo o período que o aluno permanecer na escola. Ressalto, ainda, que a reorganização do currículo ora citado, deve contemplar todos os alunos matriculados na escola.

Na fala da técnica, constatamos que sua concepção de educação integral pauta-se na extensão do tempo do aluno na escola e é contraditória: ora discute educação integral numa perspectiva não conteudista, ora apresenta a reorganização do currículo como discussão. Portanto, não apresenta nenhuma proposta concreta com o tempo além das quatro horas diárias. Na sua fala, ela faz uso da expressão “ocupação” de maneira obscura, o que pode ser interpretada de duas maneiras: podemos pensar que sua fala estava voltada para a formação profissional ou podemos pensar na perspectiva de simplesmente manter os estudantes ocupados.

Então, quando abordamos sua concepção do PME, ela reproduz o discurso institucional. Vejamos: “É um programa do governo federal que tem como objetivo ampliar a jornada escolar de uma parcela de alunos matriculados na escola…”. Esse discurso é semelhante ao já contemplado anteriormente pela coordenadora da SME.

O que percebemos nestas falas é que as concepções de educação integral ainda se misturam com a ideia de escola de tempo integral. Alguns entendem ainda como a possibilidade dos alunos terem mais tempo na escola, para poder aprender mais, ou seja, uma concepção meramente conteudista. Outra constatação é que muitos dos profissionais que estão inseridos na execução do PME, seja no âmbito das secretarias, seja na escola, também o percebem desta forma. Então, entendemos que as ações e os resultados dependerão da forma como estes profissionais se colocam diante do programa: se na perspectiva de apenas ampliar a jornada ou se na perspectiva de promover uma educação integral que trabalhe o aluno na formação intelectual, mas também na sua integralidade.

Quando pedimos à técnica para avaliar o PME destacando pontos positivos, negativos e o que precisa melhorar, ela o faz de maneira pontual, descrevendo o que precisa melhorar. Ela listou os seguintes aspectos: acompanhamento mais sistemático e eficaz pela SME às escolas; o valor pago aos monitores; ela entende que deve ser dada maior atenção, por parte de algumas escolas, quanto a escolhas das atividades que serão desenvolvidas pelo programa, considerando a sua realidade, como: espaço físico, número de alunos e experiências vivenciadas no entorno da escola; intervenção de alguns coordenadores quanto às questões didático-pedagógicas desenvolvidas pelos monitores; ao controle de frequência dos alunos, buscando sensibilizar as famílias para a importância das suas participações; a articulação com a comunidade, buscando espaços e parcerias.

A técnica faz uma avaliação pertinente ao PME, mas continua reproduzindo o discurso oficial e legitimando a concepção da política neoliberal presente no programa, quando enfatiza a busca pelas parcerias e pelos espaços. Queremos salientar que somos a favor das parcerias, principalmente com a comunidade, trazendo seus conhecimentos para o espaço da escola, para discussão

e apropriação das propostas do PME, para poder se posicionar, acolher e oferecer sugestões com um caráter participativo, e não transferindo para a comunidade a responsabilidade de viabilizar a efetivação do PME.

Ela continua avaliando, descrevendo os pontos positivos:

Maior permanência dos alunos na escola, acesso dos alunos a esportes, artes, música entre outras, despertando talentos, desenvolvimento do protagonismo juvenil, acesso dos alunos a outros espaços da cidade, melhoria do processo de ensino e de aprendizagem, integração da gestão, coordenação pedagógica, professores e funcionários, fortalecimento das relações com a escola e a comunidade, melhoria da infraestrutura da escola, aquisição de materiais diversos, parceria da comunidade com a escola.

Aponta também os pontos negativos:

Atendimento apenas a uma pequena parcela dos alunos matriculados na escola, descontinuidade dos repasses financeiros para a execução do Programa, frequência inconstante dos alunos nas atividades do Programa, grande rotatividade dos monitores; alteração, por parte de algumas escolas, na estruturação do Programa, fugindo às diretrizes propostas.

Quando indagamos se as ações desenvolvidas na escola correspondem às expectativas do PME, ela respondeu:

Correspondem em parte. Observamos que as ações desenvolvidas pelo Programa nas escolas por vezes são prejudicadas devido à rotatividade dos monitores, inconstância na frequência dos alunos como também problemas em suas infraestruturas que comprometem a execução de algumas atividades programadas.

E quando perguntamos se o PME deve permanecer na escola, ela nos diz que sim:

Sim. O Programa Mais Educação tem contribuído para a escola despertar para vários tipos de saberes com o envolvimento da comunidade de seu entorno. Percebemos mudanças significativas, conforme citadas nos pontos positivos, que estão contribuindo no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos envolvidos, favorecendo a esses alunos novas oportunidades de se comunicar com as suas comunidades e com o mundo.