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MÉTODO DE VALORAÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS DA CETESB

No documento Apostila Pericia Ambienta (páginas 162-168)

Ambiente i n Sem = 0 Baixo = 1 Médio = 2 Alto = 3 =

MÉTODO DE VALORAÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS DA CETESB

Referência: May., H., P., et. al. “Valoração Econômica da Biodiversidade”, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Brasília, BR, 2000.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade apresentar uma proposta de critério para valoração de danos causados por derrames de petróleo ou de seus derivados no ambiente marinho. Ele foi elaborado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) atendendo à solicitação do Ministério Público Federal do Estado de São Paulo.

Neste trabalho, a questão ambiental analisada é a poluição ocasionada pelos derrames de petróleo e seus derivados no ambiente marinho, prejudicando fundamentalmente a biota marinha através de efeitos letais e sub-letais, tais como aqueles que afetam o comportamento, crescimento, reprodução, colonização e distribuição das espécies. Os principais grupos de organismos considerados são os bentos, o zooplâncton, o fitoplâncton, os peixes, as aves e os vegetais superiores, afetando de maneira direta um dos ecossistemas de maior produtividade primária e importância na cadeia alimentar marinha, chamados manguezais, considerados extremamente sensíveis e vulneráveis ao derramamento de petróleo.

A poluição causada pelos derrames de petróleo traz todos os prejuízos decorrentes dos distúrbios causados às espécies apontadas acima, como a perda de biodiversidade, além de prejuízos indiretos decorrentes da paralisação de atividades pesqueiras e da queda da movimentação turística.

Apesar da atividade petrolífera ser uma atividade econômica fundamental ao desenvolvimento de qualquer país, na atual matriz energética adotada no mundo, o vazamento de petróleo ou derivados pode causar prejuízos muito grandes à população em geral, pelos problemas causados à biodiversidade marinha, e particularmente às

populações que dependem deste ambiente para sua sobrevivência, como as colônias de pescadores, ou aqueles ligados ao turismo costeiro.

II. METODOLOGIA

Este modelo do tipo função exponencial, relaciona o valor monetário total dos danos ambientais com o cinco aspectos relevantes, cada um deles, com seu respectivo grau de importância. Os aspectos considerados relevantes no derrame de óleo no meio ambiente foram o volume de óleo derramado, o grau de vulnerabilidade da área atingida, a toxicidade do produto, a persistência do produto no meio ambiente e, a mortalidade de organismos. O grau de importância atribuído na forma de um peso, para cada aspecto ambiental considerado no modelo varia na faixa de 0 a 0,5.

Hipóteses do Modelo

Por conta da complexidade que envolve a tentativa de quantificar os danos causados pelos derramamentos de petróleo no ambiente marinho, aliado aos inúmeros casos que vêm ocorrendo no litoral de São Paulo, a CETESB desenvolveu uma metodologia própria para quantificar estes danos. Esta metodologia aborda de forma simples os principais aspectos de um acidente ambiental, enfocando basicamente os aspectos visíveis passíveis de provocar danos, não contemplando aqueles que requeiram maiores estudos ou acompanhamentos, para a constatação do impacto biológico. Esta proposta foi idealizada para atingir os objetivos de praticidade e aplicabilidade em curto espaço de tempo.

Segundo os autores do estudo, dentre os modelos testados, a equação do tipo exponencial foi a que melhor representou a realidade dos derramamentos de petróleo e seus derivados.

De acordo com a opção pelos aspectos visíveis, foram escolhidos cinco aspectos relevantes, em termos de danos, cada um deles com uma determinada importância. Para cada item, sempre que possível, foi atribuído um peso correspondente com a severidade do risco ou do dano gerado, variando de 0 a 0,5, conforme mostrado

- Volume Derramado

Este aspecto está diretamente relacionado com a capacidade de assimilação dos poluentes pelo corpo hídrico. Esta capacidade de assimilação varia de acordo com o local, estações do ano e condições meteorológicas. Os pesos atribuídos para este item estão baseados na quantidade lançada no corpo hídrico.

- Grau de Vulnerabilidade da Área Atingida

Em geral, o prejuízo ecológico é mais severo se o acidente ocorrer na costa ou no estuário, especialmente na zona entre marés, áreas mais vulneráveis e de maior importância econômica. O grau de vulnerabilidade baseia-se na interação da costa terrestre com os processos físicos que controlam a deposição e persistência do petróleo. Os pesos neste item estão em função do tipo de ambiente costeiro, mais ou menos vulneráveis.

- Toxicidade do Produto

Para avaliar os efeitos dos agentes químicos sobre a biota aquática têm sido realizados testes de toxicidade com organismos aquáticos. Através dos testes, é possível conhecer as concentrações de poluentes que causam efeitos adversos na sobrevivência, crescimento e ou reprodução de organismos aquáticos. A atribuição de pesos para este item segue dois critérios. O primeiro está baseado na classificação da toxicidade aguda da fração hidrossolúvel do petróleo derramado. O segundo critério está na detecção de toxicidade em organismos teste.

- Persistência do Produto no Meio Ambiente

A persistência do produto é uma agravante dos danos causados. Como regra geral, quanto menor for a gravidade específica de uma substância, menor será a sua persistência. Neste item, os produtos serão classificados de acordo com suas propriedades físicas. Na ausência destas informações, serão considerados persistentes

todos os tipos de petróleo e seus derivados escuros e não persistentes, todos os derivados claros.

- Mortalidade de organismos

A vida marinha pode ser afetada tanto pela natureza física (recobrimento / asfixia), quanto pelos componentes químicos do produto (efeitos tóxicos). Como são necessários estudos de acompanhamento para a avaliação de efeitos sobre os organismos plantônicos e bentônicos, para este critério são avaliados os efeitos sobre a mortalidade de peixes, aves e mamíferos, mais facilmente observáveis.

MODELO

A equação proposta pela CETESB para o valor monetário a ser pago pelos agentes que causarem os danos decorrentes do derramamento de petróleo e que incorpora os critérios supracitados tem a forma,

Valor (US$) = 10

(4,5 + x)

onde, x é a somatória dos diversos pesos atribuídos de acordo com a gravidade do evento.

O modelo considera também a freqüência de acidentes causados pelo mesmo infrator, o que indica a negligência sistemática para com os aspectos ambientais e de segurança, além de uma clara ausência de um fator inibidor eficiente.

Neste sentido, visando uma maior penalização dos reincidentes, o modelo incorporará um fator k , que aumentará infinitamente a partir de 2 (dois) em progressão geométrica, toda vez que essa fonte ocasionar novo acidente. Assim, o modelo proposto pela CETESB assume a forma,

onde k representa a penalização adicional imposta às fontes reincidentes e, varia no intervalo de 2 a infinito, em progressão geométrica.

Avaliação

Na verdade, este método é uma tentativa de criação de taxas ambientais mais ancoradas nos danos e prejuízos reais causados pelo derramamento de petróleo. Neste sentido, a proposta tem seu mérito porque provavelmente aumentará o poder coercitivo da penalização, além da possibilidade de geração de recursos para o desenvolvimento científico e tecnológico das instituições públicas que trabalham com este tema.

Para os fins propostos, os critérios adotados e relacionados com os aspectos visíveis e mais facilmente observáveis, tem um mérito muito grande, na medida em que agilizam todas as operações de penalização e cobrança, além de serem provavelmente muito mais baratos de serem praticados. Esta escolha certamente reflete o grande conhecimento dos técnicos da CETESB sobre o assunto, o que chama a atenção da importância do conhecimento técnico específico, quando da tentativa de valoração de qualquer recurso ambiental com todas as suas especificidades.

III. EXEMPLO

Como exemplo de aplicação do modelo proposto, os autores fazem uma simulação do dano ambiental causado por um navio que vaza 30m3 de petróleo atingindo costões rochosos abrigados. O ensaio de toxicidade realizado com o produto revelou uma CL50 de 5% da fração hidrossolúvel. O produto apresenta API 30 e não foi constatada mortalidade de organismos.

Aplicação dos critérios e Cálculo do Valor de x

I – Volume derramado = 30m3 = 0,3

IV – Persistência = API = 30 = 0,5 V – Mortalidade de organismos = 0,0

Valor Total dos pesos dos aspectos ambientais do modelo = 1,6

Valor (US$) = 10 (4,5 + x) = 10 (4,5 + 1,6) = 10 6,1 = US$ 1.258.925,40

IV. CONCLUSÕES

Não há nenhum comentário dos autores do modelo em relação ao resultado final deste exercício. Seria interessante chamar a atenção para o que este valor significa em relação aos valores cobrados atualmente, e também em relação aos volumes financeiros movimentados pelos agentes infratores (fretes, valores dos navios, etc), para um esclarecimento inclusive em relação à capacidade de pagamento.

Como já citado anteriormente, este trabalho procura estimar as taxas ambientais que cobririam os danos decorrentes dos derramamentos de petróleo, ao mesmo tempo em que serviriam para inibir estas ações. A valoração total dos danos não foi possível, porque foram escolhidos critérios de maior visibilidade e de mais fácil aferição. Os pesos adotados para cada critério parecem estar por demais arbitrariamente colocados e é exatamente neles que se estabelece a valoração. Para esta proposta ser implementada necessitaria de uma maior validação experimental, sob o risco de sofrer inclusive reações pertinentes na esfera judiciária.

No documento Apostila Pericia Ambienta (páginas 162-168)

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