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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Instrumentos de avaliação em programas de Microcrédito e o Método PPI

2.4.2 O Método PPI

O Método PPI é uma ferramenta simples e precisa que mede os níveis de pobreza de grupos e indivíduos através de indicadores que contemplam as características do agregado familiar e da habitação, associados à qualidade de vida e capacidade de consumo. Usando o Método PPI, as instituições de microfinanças podem conhecer melhor as necessidades de seus clientes e o que pode ajudá-los a sair mais rapidamente da pobreza, e, a partir daí, construir ou

adaptar seus programas para torná-los mais eficazes. Organizações de apoio à microfinanças, como Fundação Grameen, Fundação Ford e CGAP, endossam o uso do Método PPI como instrumento de avaliação, por considerá-lo eficaz em definir a probabilidade do cliente sair da condição de pobreza. O objetivo desse trabalho é mostrar que o Método PPI pode também ser usado para avaliar o impacto do Programa Crediamigo na qualidade de vida e comportamento de consumo dos seus clientes.

O Método PPI é baseado em uma abordagem de Gestão de Risco de Microfinanças, desenvolvida por Mark Schreiner, que utiliza padrões internacionais para definir a linha de pobreza de cada país, ou a metade mais pobre abaixo da linha de pobreza nacional. O Método PPI, no entanto, utiliza a metodologia universal desenvolvida por Mark Schreiner e agrega indicadores específicos para cada país, gerados a partir das melhores informações sobre receitas e despesas domiciliares, normalmente obtidas através de pesquisas feitas pelos órgãos de governo. Os indicadores definidos para cada país, em número de 10 (dez), são então testados e verificados nas instituições de microfinanças locais.

A utilização sistemática da ferramenta prevê as etapas de medição, análise e tratamento dos resultados. Na etapa de medição, o pessoal de campo visita as casas dos clientes para coleta de informações, tendo por base dez indicadores bem práticos, tais como: tamanho da família, número de crianças na escola, tipo de habitação e outros. A equipe colhe os dados através de entrevistas simples e observação do domicílio. Cada indicador recebe uma pontuação, que reflete a resposta do cliente, e os dez indicadores recebem uma pontuação total, gerando um índice ou “score”. Este índice serve então como linha de base a partir da qual o progresso do cliente será medido.

Na etapa de análise, os totais de pontos do Método PPI de cada cliente são utilizados para estimar o nível de pobreza, através de um “score” simples. Desta forma, os indivíduos são classificados de acordo com a linha de pobreza aplicável, dentre nove disponíveis. Usando

esta análise, as instituições podem avaliar a probabilidade dos clientes saírem da condição de pobreza, agrupando por atividade desenvolvida, setor urbano ou rural, e pelo histórico de crédito do cliente. Na etapa de tratamento dos resultados, numa visão de gestão, o monitoramento dos níveis de pobreza dos clientes, permite que a instituição de microfinanças oriente suas decisões, definindo melhor suas ações, aumentando sua vantagem competitiva, rentabilidade e fidelização de clientes, respondendo de forma mais rápida e eficaz às mudanças nas suas comunidades.

No que se refere à plataforma técnica, o Método PPI utiliza 10 indicadores simples, com os quais os colaboradores de campo podem colher informações rapidamente. Os escores podem ser calculados à mão e em tempo real, com 90 por cento de confiança, e as estimativas de taxas de pobreza são fornecidas com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Os indicadores são derivados da pesquisa nacional sobre despesas/receitas domiciliares mais completa e recente ou de medição padrão definida pelo Banco Mundial para o país específico, a depender de qual conjunto de dados tem informações mais completas. Por exemplo, os indicadores PPI nas Filipinas são derivados dos 38.014 domicílios pesquisados na APIS-2002.

Os critérios para seleção dos indicadores são: 1) ter baixo custo de coleta, ter resposta fácil e rápida, e ter verificação simples; 2) permitir alterações ao longo do tempo; e 3) ser fortemente correlacionado com a pobreza. Geralmente são coletados inicialmente entre 200 e 1.000 indicadores nas pesquisas domiciliares, mas este elevado número é reduzido, deixando apenas aqueles potencialmente indicativos do nível de pobreza, que contemplam características do agregado familiar e habitação (combustível usado para cozinhar, tipo de construção, etc); características individuais (idade, grau de instrução, etc); bens domésticos duráveis (ventiladores, telefones, rádios, televisores, etc). Após alguns testes, um determinado número de indicadores é escolhido para análise posterior, variando de país para país, mas em

geral, entre 50 e 100 indicadores passam para a etapa seguinte. Pode acontecer de indicadores fortemente ligados à pobreza serem excluídos porque são encontrados indicadores semelhantes. Por exemplo, a maioria dos domicílios que têm televisão, têm eletricidade; então, se o Método PPI já inclui o indicador “tem uma televisão”, o indicador “tem eletricidade” torna-se supérfluo. O Método PPI também tem como objetivo medir as mudanças na pobreza através do tempo, assim, alguns indicadores mais poderosos que são menos susceptíveis às mudanças, podem dar lugar a outros indicadores menos poderosos porém mais susceptíveis às mudanças.

Depois de todos os indicadores serem testados, um é selecionado, com base em vários fatores, quais sejam:

• Melhor precisão;

• Maior aceitação pelos usuários, tendo por base a simplicidade, custo de coleta e validade do indicador, neste caso, tendo como referência a experiência, teoria e o senso comum;

• Capacidade para alterar os valores com o estado de pobreza ao longo do tempo;

• Variedade em relação a outros indicadores já utilizados;

• Facilidade de absorção e verificação.

O indicador selecionado é então adicionado ao Método PPI, e os passos anteriores são repetidos até que 10 indicadores sejam definidos. Finalmente, as respostas são ponderadas e as pontuações são derivadas de tal forma que o menor escore possível é 0 (zero) e o maior escore é 100 (cem).

O Método PPI deve ser concebido para ajudar os usuários a entender e confiar nele, equilibrando precisão e praticidade, com características como “indicadores observáveis” (por exemplo, material do revestimento e não o valor da casa); e “pesos amigáveis” (utilizando valores inteiros positivos, para garantir uma aritmética simples)

O Método PPI constitui o núcleo de um quadro de desempenho social abrangente, oferecendo aos gestores de instituições de microfinanças a possibilidade de: agrupar os clientes em faixas distintas de pobreza; integrar indicadores financeiros e sociais; correlacionar ofertas de produtos e canais de distribuição para os vários níveis de pobreza; monitorar o movimento de clientes através das linhas de pobreza; avaliar as ações traduzidas em missão social; gerar informações para decisões sobre processos, programas, produtos e serviços; ajudar na resposta às pressões da concorrência, pela compreensão do equilíbrio de retornos financeiros e sociais; e fornecer informações de desempenho oportunas e precisas para órgãos reguladores, investidores sociais, doadores e agências de rating.

No caso do Brasil, já existe Método PPI customizado, cuja versão mais recente foi criada em março de 2010. Os dez indicadores foram definidos com base na PNAD, edição de 2008. Já foram desenvolvidos outros métodos para avaliar a pobreza no Brasil, uns mais complexos outros mais simples, mas as principais vantagens do Método PPI, é que ele supera todos os outros em simplicidade, facilidade de aplicação e custos, além de ter utilizado bases de dados mais atualizadas para sua construção, calibragem e validação. Na calibragem, foram definidas 9 (nove) linhas de pobreza, o que permite maiores possibilidades de análise com os resultados obtidos na aplicação do modelo. A seguir, são citados os principais modelos existentes no Brasil:

1. Filmer e Scott (2008), utilizaram PPV, em 4.940 domicílios no ano de 1996, e selecionaram 28 indicadores relacionados com “características da residência” e com a “propriedade dos bens de consumo duráveis”. Eles não fornecem as pontuações, ficando esta atribuição por conta da instituição que for utilizar o modelo;

2. Cosenza Faria, Britz do Nascimento Silva e Aparecida Feijó (2007), usam a PNAD- 2003 e o “meio-salário mínimo” como linha de pobreza para construir o modelo, que utiliza 14 indicadores relacionados com “demografia das famílias”, “escolaridade”,

“características da residência”, “propriedade imobiliária” e “localização geográfica”. Este modelo foi empregado como elemento de comparação, por também utilizar a PNAD, além de outras semelhanças com o “score” da pobreza no Brasil baseado no método PPI;

3. Gwatkin et al. (2007), apresenta um modelo de índice PCA, que utiliza 13 indicadores selecionados de pesquisa do Brasil DHS, com 13.283 famílias, em 1996; 4. Vyas e Kumaranayake (2006), assim como Gwatkin et al., também utiliza a PCA, mas o índice é apurado com 10 indicadores que se relacionam com “características da residência” e “posse de bens”. A pesquisa que serviu de base também foi a Brasil DHS, de 1996. Produz índices distintos para a área urbana e rural;

5. Barros e Victora (2005), usaram uma amostra de 1% (418.348 domicílios) a partir do Censo Demográfico Brasileiro de 2000, para construir um índice de PCA para as áreas urbanas. Utiliza 13 indicadores e os escores variam de 20 (mais pobres) até 1.086 (menos pobres);

6. Elbers et al. (2004), construiu 10 indicadores regionais de pobreza, utilizando medidas diretas das despesas de cerca de 5.000 famílias da PPV. Ele produziu o mapeamento da pobreza e não a pontuação da pobreza, servindo mais para ajudar os governos no desenho das políticas sociais, do que para as instituições que gerenciam programas sociais utilizarem na monitoração dos efeitos dos programas por elas geridos.

O capítulo seguinte, que trata da “Metodologia” utilizada no desenvolvimento deste trabalho, faz o detalhamento do Método PPI para o Brasil quanto a sua construção, bem como a forma como este foi aplicado aos clientes do Crediamigo na Região Metropolitana de João Pessoa – PB.

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