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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Microfinanças e Microcrédito

2.2.1 Um breve resumo sobre Microfinanças no mundo

Data de 1846, na Alemanha, o que pode ser chamada de primeira iniciativa de microfinanças, quando um pastor, chamado Raiffeinsen, passou a fornecer capital de giro, através de farinha de trigo para a fabricação de pães, aos fazendeiros da região sul, que ficaram falidos após rigoroso inverno e, sem crédito, tornaram-se reféns dos agiotas na condução dos seus negócios (http://www.paginadomicrocredito.com). O forte movimento migratório para as regiões urbanas, decorrente da revolução econômica iniciada na segunda metade do século XX, que provocou o rápido e desordenado crescimento das cidades, fez com que governos do mundo inteiro apoiassem iniciativas de fornecimento de crédito em larga escala para os menos favorecidos, tanto na zona urbana quanto na zona rural, no primeiro caso para combater a pobreza já instalada nas regiões urbanas e no segundo caso, para estancar o movimento migratório que poderia agravar mais ainda o problema.

Assim, muitas manifestações relacionadas a microfinanças, mais especificamente de microcrédito, aconteceram após 1950, mas de um modo geral fracassaram devido aos altos subsídios e a baixa eficiência dos agentes financiadores (NERI, 2008). De um lado, o alto subsídio atraiu a corrupção e o desvio do crédito para aqueles mais favorecidos politicamente; e de outro lado, a ineficiência, além de permitir falhas no controle e fiscalização, estimulou altíssimas taxas de inadimplência, que levaram ao racionamento do crédito. Segundo

BERGER (2006), “ironicamente, o crédito barato visando reduzir a desigualdade acabou tornando-a ainda mais severa”.

Mas, na década de 1970, a experiência do Grameen Bank causou uma verdadeira revolução metodológica no campo das microfinanças, servindo como um divisor de águas e inspirando grande número de instituições ao redor do mundo. O professor de economia Muhammad Yunus, da Universidade de Chittagong, Bangladesh, sensibilizado com a grande fome que se abateu sobre aquele país, iniciou, em 1976, uma pesquisa na cidade de Jobra, buscando entender o problema da pobreza em seu país e encontrar soluções de impacto em larga escala. No seu estudo, constatou que com US$ 27,00 seria possível retirar 42 famílias da pobreza absoluta, pois seriam suficientes para que as mesmas produzissem sem depender da relação predatória com fornecedores de matéria-prima ou com agiotas, os quais abocanhavam a maior parte dos lucros e não lhes permitia sair do círculo vicioso da pobreza (NERI, 2008).

Yunus desenvolveu um modelo onde os tomadores de empréstimos eram organizados em grupos solidários, de modo que todos individualmente avalizavam a dívida de todos do grupo. Esse mecanismo de aval solidário permitia superar a dificuldade que a população pobre tem de oferecer bens físicos como garantia. O pagamento deveria estar sempre atualizado, e micropoupanças eram estimuladas como forma de garantir parte do empréstimo, que não tinha qualquer tipo de subsídio. Os valores pequenos permitiam uma amortização rápida, assegurando a rotatividade dos recursos (NERI, 2008).

Na época, a situação em Bangladesh era de um grande contingente de pobres e de analfabetos, associado a uma situação fiscal do governo que não lhe permitia fazer assistencialismo ou oferecer subsídios. Assim, Em 1979, o Banco Central de Bangladesh autorizou a expansão dos microempréstimos para outras áreas do país, abrindo espaço para a fundação Grameen Bank, em 1983, cujas ações pertenciam aos próprios tomadores de empréstimo (90%) e ao governo (10%). Tratava-se de um novo mecanismo que

potencializava os instrumentos de mercado e, ao mesmo tempo, oferecia oportunidade de crédito aos pequenos empreendedores que tinham grande potencial de exercer uma atividade auto-sustentada, mas estavam presos aos agiotas ou fornecedores inescrupulosos.

Atualmente, programas de microcrédito já estão presentes em mais de 60 países. Existem vários modelos de atuação em microfinanciamentos, dependendo do marco regulatório de cada país. Assim, são conhecidos modelos em que os bancos oficiais repassam recursos a instituições menores, como ONG´s ou organizações sociais sem fins lucrativos, bem como modelos de bancos que oferecem o microcrédito diretamente aos mutuários, junto com outros produtos financeiros. Os programas de microcrédito produtivo cresceram muito a partir dos anos 90, pelo fato de aliarem características de política econômica, baseada no mercado de crédito e um grande impacto social (SOUZA, 2010).

Conforme levantamento feito por MONZONI (2006), são diversas instituições governamentais que apóiam iniciativas de microfinanças no mundo. Dentre elas pode-se destacar:

1) A USAID, iniciativa do governo americano, por meio de sua Divisão de Desenvolvimento de Microempresas, através de desenvolvimento de sistemas e métodos de assistência técnica para microempresários, bem como na participação em construção de marcos regulatórios nacionais, regionais ou locais que ampliem a produtividade, os ganhos e a competitividade das pequenas e microempresas;

2) A Agência Austríaca de Desenvolvimento e Cooperação, que utiliza a microfinanças como um dos instrumentos de política para o desenvolvimento de micros e pequenas empresas;

3) O CGAP é um consórcio de 33 agências de cooperação, com o objetivo de capacitar instituições de microfinanças para fornecer serviços de qualidade. Presta serviços para agências de desenvolvimento, instituições financeiras, gestores públicos e reguladores,

auditores e empresas de avaliação. Os serviços incluem consultoria, treinamento, pesquisa e disseminação de informações;

4) O IFC, braço do Banco Mundial, é um dos organismos que tem promovido mais ativamente iniciativas de microfinanças em países em desenvolvimento. Fornece assistência técnica para as instituições de microfinanças e apóia os esforços de governos para criarem capacidade de supervisão do setor financeiro, além do desenvolvimento de arcabouço legal e regulatório para orientar ações de microfinanças;

5) O Banco Asiático de Desenvolvimento, que definiu estratégia para o desenvolvimento de microfinanças no continente, com o intuito de fornecer à população mais carente da região o acesso a serviços financeiros, para seus micros e pequenos negócios. Apóia a criação de políticas em microfinanças, auxilia no desenvolvimento de infra-estrutura financeira, constrói instituições de varejo e dá suporte a inovações e intermediações sociais;

6) O BID, que tem histórico de envolvimento em microfinanças na América Latina e no Caribe, principalmente através do repasse de recursos.

Ainda sobre o levantamento de MONZONI (2006), no que se refere às instituições não governamentais, dentre muitas que apóiam iniciativas de microfinanças no mundo, podemos destacar:

1) A Acción International, foi fundada em 1961, em Caracas, na Venezuela, onde atuava em projetos em favelas da capital. Expandiu-se a partir dos anos 1970 e hoje atua em 18 países;

2) A Freedom from Hunger é uma ONG internacionalmente ativa em programas de microfinanças. Dá suporte técnico para provedores de microfinanças de países em desenvolvimento, principalmente os que trabalham com mulheres em zonas rurais extremamente pobres. Desenvolveu uma metodologia conhecida como “Crédito

Com Educação”, que combina serviços de microfinanças com educação em saúde,

3) A FINCA é uma ONG fundada em 1984, baseada em Washington e atuação em 21 países da América Latina, Eurásia, Ásia Central e África. É conhecida por ter desenvolvido a metodologia chamada de “village banking”, que consiste na formação de grupos de 10 a 50 membros, de preferência mulheres com filhos, que se encontram semanalmente para receber 3 tipos de serviços: crédito produtivo de pequeno valor para expandir ou começar um negócio; incentivos para poupança; e um sistema comunitário de suporte mútuo e de fortalecimento pessoal. Utiliza aval solidário e são definidas regras de convivência, e os líderes para gerenciamento e monitoramento dos empréstimos, incluindo penalidades pelo não cumprimento de regras. Além do crédito produtivo, oferece empréstimos educacionais, crédito para melhorias em habitação, seguros, poupança e serviços de treinamento em empreendedorismo;

4) A PRIDE é uma ONG que atua no continente africano como provedora de serviços financeiros e de informação para cinco países da África Oriental: Uganda, Quênia, Tanzânia, Malauí e Zâmbia;

5) A Planet Finance é uma ONG que atua no segmento de microfinanças para promover a sustentabilidade, através do apoio a intermediários não governamentais, auxiliando-os na sua organização e ampliando suas capacidades técnicas e recursos financeiros;

6) O MFN é uma associação global de instituições comprometidas em melhorar a qualidade de vida da população mais carente, por meio do crédito, poupança e outros serviços financeiros.

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