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CAPITULO IV – ABORDAGEM METODOLÓGICA: OBJETIVOS, MÉTODOS E

4.2. MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

Ora, decorrem da questão central, e tal como já referido na introdução, algumas questões específicas que, no essencial, se prendem, por um lado, com o impacto que as politicas RSI e PER têm nos processos de inclusão da comunidade cigana, residente em Vila Real, ou seja, quais as dificuldades e obstáculos que existem nos processos de integração desta comunidade e que fatores são importantes neste processo? E, por outro lado, quais os procedimentos que têm vindo a ser utilizados para ultrapassar esta situação. O mesmo será perguntar: que estratégias foram utilizadas para minorar os fatores de exclusão? Que estratégias são utilizadas para tornar os princípios das políticas, específicos e integradores das características culturais da comunidade cigana? E as politicas, condicionarão o modo como os técnicos atuam?

Desta forma, e constituindo-se a comunidade cigana como objeto de estudo, afigurasse-nos, essencial, não só a análise da situação em que vivem os ciganos de Vila

Real, e suas perceções, como também o estudo das práticas institucionais, ou seja da atuação dos técnicos que, na prática, executam as políticas em análise (RSI e PER).

Constituem-se, desta forma, dois grandes pilares de análise em que se estrutura esta investigação: o estudo da comunidade cigana de Vila Real, que nos permitirá aprofundar o conhecimento sobre os seus percursos de integração à luz das políticas em análise, e a atuação dos técnicos, defendendo-se por um lado, que a “ relação profissional que o

assistente social estabelece com o utilizador do serviço é concebida como uma relação de ajuda na promoção da autonomia, capacitadora no sentido do empowerment” (Pena, 2014, p. 137) e, por outro, que as instituições assumem um papel preponderante na forma como as políticas são aplicadas. Terão, a este nível, as políticas sociais um papel universalista e unificador, que nivela os grupos beneficiários e, por outro lado, a capacidade de ter em conta a diversidade cultural e a especificidade dos beneficiários? Que tipo de estratégias são utilizadas pelos técnicos na capacitação destas comunidades? Que estrangulamentos sentem os técnicos na sua atuação?

Definidos que estão os objetivos e respetivas questões (central e secundárias), tornou- se mais fácil a escolha dos métodos e técnicas a utilizar.

Como salientam Quivy & Campenhoudt (1992) “ que utilidade tem a aplicação

correta de técnicas experimentadas, se estas estiverem ao serviço de um projeto vago e mal definido?” (ibidem, p. 21)

Ora, segundo Rodrigues (2010a) “os trabalhos de investigação não são uma sucessão

de métodos e de técnicas prontos a ser aplicados, tal e qual como se apresentam, a uma qualquer realidade e numa ordem de imutabilidade” (ibidem, p. 137). Para este autor os trabalhos de investigação possibilitam uma análise sistemática e critica dos pressupostos teóricos, e os resultados obtidos, através dos métodos definidos e utilizados, adquirem “

uma expressão representacional (…) como modo de captar as relações determinantes estáveis subjacentes aos fenómenos” (ibidem).

Relativamente às etapas da presente dissertação procedeu-se, numa primeira análise, à recolha exaustiva de elementos bibliográficos (livros, artigos de revistas e jornais), que

se revelou fundamental para a construção da problemática teórica do estudo, permitindo estabelecer ligações e oposições entre as várias investigações sobre a matéria.

Numa segunda etapa, procedeu-se à escolha do método de trabalho, ou, como salientam Quivy & Campenhoudt (1992) definir como proceder para conseguir uma determinada qualidade de informação. Para estes autores os métodos ajudam, e são concebidos, para apoiar o investigador na adoção de uma “ abordagem penetrante do seu

objeto de estudo e, assim, encontrar ideias e pistas de reflexão esclarecedoras” (ibidem, p. 47).

No que diz respeito a este estudo e, tendo em conta quer os objetivos delineados, quer as próprias características do objeto de estudo, optou-se por uma combinação entre o método qualitativo e quantitativo, recaindo a escolha no método Gruonded Theory, que tem vindo a ser cada vez mais utilizado, pelos investigadores, no âmbito das ciências sociais (Fernandes & Maia, 2001). A opção por um método quantitativo e qualitativo, foi, ainda, determinada por uma necessidade de vigilância, dada a proximidade da investigadora com o objeto de estudo, optando-se por complementar a observação direta e participante com o uso de um método quantitativo: o inquérito por questionário que, além da vantagem já referida, permite, na opinião de Ghiglione & Matalon, 1993, compreender fenómenos como sejam atitudes, opiniões, preferências, representações “e

que só raramente se exprimem de forma espontânea” (ibidem, p. 15).

Apesar de se tratarem de métodos diferentes vários autores (Minayo & Sanches, 1993; Serapioni, 2000), têm vindo a sublinhar a importância de ambas as abordagens, e a defender a tese de que elas “podem e devem ser utilizadas (…) como complementares” (Minayo & Sanches, 1993, p.240).30

A pesquisa quantitativa não se torna “objetiva” e “melhor” por depender de sofisticados instrumentos de análise, se depois desconhecer aspetos importantes dos fenómenos ou processos sociais estudados, e , por outro lado, a abordagem qualitativa não garante, por si só, a compreensão em profundidade desses mesmos fenómenos

30Num artigo que resume o debate metodológico sobre as duas formas de abordagem mais correntes nas investigações, em especial

na área da saúde, Minayo & Sanches (1993), demonstram com argumentações teóricas e práticas, que os métodos quantitativos e qualitativos são de natureza diferente, e que, do ponto de vista epistemológico, nenhuma das abordagens é mais cientifica que outra.

sociais. Considerando, por conseguinte, que estes métodos se devem complementar na compreensão da realidade social optamos por este caminho. “De que adianta ao

investigador utilizar instrumentos de análise altamente sofisticados de mensuração quando estes não se adequam à compreensão dos seus dados ou não respondem a perguntas fundamentais?” (ibidem, p. 247).

Na mesma linha também Serapioni (2000), aborda as especificidades de cada método, concluindo que a adequação de cada um, deve considerar o objeto de estudo e sua aplicabilidade nos diferentes momentos de investigação31. O autor sublinha que os métodos quatitativos são débeis no que se refere à validade interna, á que nem sempre medem o que se pretende medir, e fortes na validação externa, uma vez que os dados obtidos podem ser generalizáveis para uma determinada comunidade. Por oposição os métodos qualitativos têm uma forte validade interna, ao focalizar as especificidades de cada grupo, e fraca validade externa, na generalização dos resultados para toda a comunidade. Neste sentido, “é muito importante poder contar com dados obtidos com

métodos qualitativos e quantitaivos , que permitem garantir um razoável grau de validez externa e interna”(ibidem, p. 189).

Ainda no ambito do esclarecimento da abordagem metodológica subjacente a esta investigaçao de mestrado optamos pela orientaçao da Grounded Theory.

Subscrevendo Fernandes & Maia, 2001 , apesar da Grounded Theory ser considerado um método qualitativo, esta distingue-se dos restantes métodos qualitativos uma vez que, no quadro dos “procedimentos de Grounded Theory” se “poderem combinar técnicas

qualitativas e quantitativas” (ibidem, p. 52). Esta orientaçao metodológica, subscrevendo os autores citados, tem como objetivo “ gerar teoria que é construida com base na

recolha e análise sitemática e rigorosa dos dados e na orientação dos investigadores através de um processo indutivo de produção de conhecimento” (ibidem).

31Ao longo do artigo que escreve sobre o tema, o autor faz alusão às correntes positivistas, por um lado, que definem como cientificas

apenas as pesquisas que se baseiam em instrumentos de mensuração sofisticados, considerando que os métodos qualitativos não originam trabalhos confiáveis; e, por outro lado, os teóricos qualitativistas que defendem que os investigadores que usam métodos quantitativistas, por não se colocarem no lugar dos sujeitos não realizam investigações válidas.

Com efeito, a nossa opção por esta metodologia prende-se com as possibilidades interpretativas que daí decorrem, uma vez que, a sua principal característica é a construção de teoria e não somente a codificação de dados, e o facto da análise e conceptualização serem obtidas, através da comparação constante entre os dados recolhidos e os conceitos existentes (Petrini, 2009).

«Com a emergência da teoria, o pesquisador compara os dados com a

literatura. Grounded Theory trata a literatura como uma outra fonte de dados a ser integrada na análise da comparação constante» (ibidem, p. 3).

O que se pretende neste estudo é, precisamente, este equilíbrio constante entre a teoria existente e os dados obtidos na pesquisa.