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CAPITULO IV – ABORDAGEM METODOLÓGICA: OBJETIVOS, MÉTODOS E

4.3. TÉCNICAS E RECOLHA DE DADOS

Como já tivemos oportunidade de referir, a presente dissertação assume dois grandes pilares de investigação que têm, como objetivo último, perceber a importância das medidas RSI e PER na integração da comunidade cigana residente em Vila Real.

Para tal afigurou-se-nos fundamental complementar o estudo da comunidade cigana de Vila Real que, como veremos de seguida, assentou nos métodos de observação direta e inquérito por questionário, com o estudo da abordagem ao modus operandi dos técnicos que aplicam, no terreno, as medidas, bem como a sua perceção das mesmas.

Assim, para perceber os níveis de integração da comunidade cigana residente em Vila Real, fez-se uso da observação dos contextos e dos processos de integração, a partir da análise e interpretação da investigadora, enquanto técnica da autarquia, que acompanha alguns membros da comunidade em estudo, aplica a medida PER, e, foi durante anos, representante no NLI.

No entanto, esta proximidade da investigadora relativamente ao terreno, se por um lado lhe favorece, na interpretação da dimensão subjetiva da comunidade cigana, pois nas palavras de Serapioni (2000, p. 192) “ a sensibilidade é um atributo necessário e

desejável em todos os tipos de pesquisa social”, tem, por outro lado, riscos de não ser isenta e de não ser suficiente, pois muitas vezes não basta observar um comportamento,

é preciso saber como é que o individuo o explica e que importância tem para ele. (Ghiglione & Matalon, 1993).

Tal como acontece nos estudos já efetuados a nível nacional, desconhece-se o número exato de indivíduos ou agregados ciganos a residir em Vila Real, não existindo nenhum levantamento exaustivo sobre esta matéria.

No entanto e, com base em dados não publicados, existentes no Município de Vila Real e, tal como referido anteriormente, a comunidade cigana de Vila Real encontra-se sediada em quatronúcleos residenciais, onde foram aplicados os inquéritos, porta a porta, a 60 indivíduos ciganos, maiores de 18 anos, distribuídos da seguinte forma:

Quadro 3: Caracterização da Amostra

Núcleo Residencial Características do

Alojamento Numero aproximado de agregados de etnia cigana a residir no local

Número de

inquéritos aplicados

Mateus Alojamentos de tipo barraca, sem condições de habitabilidade, instalados em terreno de ocupação ilegal.

Aproximadamente 13 agregados familiares num total de 45 pessoas (25 adultos e 20 menores).

20

Mouçós Casas próprias de estilo abarracado, algumas delas ainda com falta de infraestruturas básicas.

Aproximadamente 20

agregados familiares 16

Borbela (Bairro

Norade) As habitações são tipo abarracado e propriedade das próprias famílias que aí residem.

Aproximadamente 14

agregados familiares 11

Habitação Social nos bairros da Laverqueira, Araucária e Telheira Apartamentos (Araucária e Telheira) e pré fabricado na Laverqueira 9 Agregados familiares 13

O inquérito32, teve, ainda, os principais blocos temáticos de questões:

a) Perguntas de caracterização demográfica e social: sexo, idade, habilitações literárias, situação face ao trabalho, local de residência e tipo de habitação. b) Perguntas sobre as condições de habitabilidade: infraestruturas existentes, tempo

de permanência na habitação.

c) Perguntas sobre a situação económica e de trabalho: proveniência dos rendimentos, inscrição no centro de emprego, situaçao face ao emprego,

d) Perguntas para avaliar a relação e perceção relativamente à medida do RSI: tempo de duração na medida, tipo de acordo de inserção efetuado, importância do acordo; e) Perguntas par aferir o nivel de apoios de que beneficiam : que outros tipos de apoio

recebe, com que frequência;

f) Perguntas para aferir o nivel de participação politica, social e associativa: pertença a associações, frequência de voto, tipo de relações com a sociedade em geral.

g) Perguntas sobre representações e sua perceção relativamente à discriminação e ao seu nivel de vida: se já se sentiu discriminado, em que situação, como avalia o seu nivel de vida e quando comparado ao dos seus pais.

h) Perguntas sobre representações e práticas no espaço habitado, e realojamento (PER): se tem pedido de habitação, há quantos anos, formas de solucionar problema de habitação da comunidade cigana, e se já foi realojado: gosta da casa, convive com vizinhos, gosta do bairro?

Por último, de salientar que a maior parte das questões do inquérito eram fechadas mas outras houve em que se deu margem de manobra ao entrevistado, o que acabou por acontecer em alguns casos em que os inquiridos, relataram situações que os apoiassem nas suas respostas.

Relativamente à interpretação das práticas institucionais, nomeadamente a atuação dos técnicos num raciocínio interpretativo, que analisasse a ação e o espaço de manobra, optou-se pelo recurso à entrevista semi-estruturada ou semi-diretiva (Quivy & Campenhoudt, 1992) permitindo uma maior flexibilidade pois, como referem este autores, apesar de existir um guia elaborado pelo entrevistador, permite-se que o entrevistado tenha alguma liberdade para desenvolver as respostas segundo a direção que considere adequada dando, muitas vezes, ao entrevistador, outros focos de estudo até então não explorados e que podem trazer novas dimensões ao facto estudado o que aqui se nos afigurou como essencial.

Por outro lado, ainda subscrevendo Quivy & Campenhoudt (1992), a entrevista é o instrumento mais adequado para delimitar os sistemas de representações de valores, de normas veiculados pelos indivíduos.

A entrevista33 foi aplicada a 8 técnicos superiores, e o seu guião foi estruturado por forma a identificar e caracterizar quais as estratégias e práticas de intervenção social de empoderamento, de adaptação e de inclusão desta comunidade, de que forma lidam com as políticas sociais RSI e PER, quais as dificuldades e estrangulamentos que sentem na intervenção quer com esta comunidade, quer com as próprias políticas e a sua perceção sobre a inclusão desta comunidade.