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PERCEÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO, ATITUDES E RELAÇÕES COM A POPULAÇÃO MAIORITÁRIA E

CAPITULO IV – ABORDAGEM METODOLÓGICA: OBJETIVOS, MÉTODOS E

5.6. PERCEÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO, ATITUDES E RELAÇÕES COM A POPULAÇÃO MAIORITÁRIA E

O inquérito aplicado à comunidade cigana residente em Vila Real, continha um bloco de questões que pretendia aferir o tipo de relações deste grupo com a comunidade não cigana, e, ainda, compreender se os inquiridos alguma vez se sentiram discriminados e em que situações.

De acordo com os resultados é possível referir que para 43,4% dos inquiridos, a maioria dos seus amigos são ciganos, o que vem reforçar as conclusões dos vários estudos publicados que dão conta de um certo enraizamento das tradições e cultura, o que tem levado a um isolamento em relação à sociedade maioritária. A percentagem de inquiridos que responderam que a maioria dos seus amigos não são ciganos ou que a maioria dos seus amigos engloba ciganos e não ciganos é, em ambas as situações, de 28,3% (Tabela 16).

Apesar desta ligação à comunidade, a quase totalidade dos inquiridos mantém relações com pessoas não ciganas (95,0%), no entanto estas são predominantemente de vizinhança (82,5%), existindo ainda de inquiridos refere manter relações em contextos de tempos livres/lazer (43,9%). A percentagem de inquiridos que responde manter relações com pessoas não ciganas por causa de negócios/ trabalho é apenas de 12,3%. Em menor proporção surgem os que mantêm relações conjugais com pessoas não ciganas (apenas, 3,5%) (Tabela 16).

Tabela 16 - Inserção na comunidade

N %

A maioria dos seus amigos são

Ciganos 26 43,4%

Não Ciganos 17 28,3%

Ambos 17 28,3%

Mantem relações com pessoas não ciganas? Não 3 5,0%

Sim 57 95,0%

Conjugais (casamento, união facto) 2 3,5%

Vizinhança 47 82,5%

Negócios/trabalho 7 12,3%

Compras 27 47,4%

Outro tipo de relação com pessoas não ciganas (não especifica qual) 1 1,8%

Relativamente à perceção de situações de discriminação, a análise à figura 10 permite- nos concluir que a maioria dos inquiridos afirma já, alguma vez, se ter sentido

discriminado por ser cigano (61,7%), dados que estão em linha de conta com outros

estudos (Marques, 2005; Magano, 2014; Mendes, Magano, & Candeias, 2014).

Figura 10 – Inquiridos que já alguma vez se sentiram discriminados

Aos inquiridos que responderam ter sentido discriminação, foi solicitado que especificassem em que situações. De uma forma geral, os contextos de discriminação mais comuns acontecem na Escola (73,0%) e nos Serviços Públicos (59,5%), o que, do nosso ponto de vista, assume contornos preocupantes e estando bem presentes nos discursos dos inquiridos sendo frequente ouvi-los dizer: “Quando andava na escola as

funcionárias diziam-me «Vai pedir esmola na rua, cigano»”, ou ainda “Os meus colegas

gozavam-me por ser cigano e a professora não dizia nada”, “Quando vou ao centro de

saúde olham para mim de lado, e trata-me de forma diferente”, “Na escola chamavam-

me cigana e eu não gostava porque sei que não sou diferente dos outros”.

A percentagem de inquiridos que afirma ter sentido discriminação nos Transportes Públicos e em Bancos é, em ambas as situações, de 16,2%. A percentagem que se sentiu discriminada em cafés ou restaurantes é de 24,3%, tendo 21,6% respondido ter sentido

23 38,3%

37 61,7%

discriminação noutras situações, tais como: Supermercados, Hospital, Rua e Arrendamento de Habitação (Figura 11).

Figura 11 – Situações em que os inquiridos se sentiram discriminados

Apresentam-se, em seguida, a listagem dos principais episódios de discriminação sentidos pelos inquiridos:

Tabela 17 - Listagem de Episódios de Discriminação sentidos pelos inquiridos

Sentiu discriminação por parte de alguns professores, na Escola 2 Sentiu discriminação por parte de alguns colegas, na Escola. 5 Sentiu discriminação por parte de alguns Funcionários, na Escola 2

Sentiu discriminação, no Centro de Saúde, por parte das pessoas, funcionários. 2

Sentiu discriminação quando tentava arrendar uma casa 1

Sente discriminação e uma atitude de desconfiança por parte das pessoas, em espaços públicos e sempre que vai

às compras ou tem de se dirigir a algum serviço público 4

Sentiu discriminação por parte de algumas pessoas, em idas às Compras (Talho, Padaria,…) 2

Sente discriminação nas idas ao supermercado (quer por parte dos seguranças, que manifestam uma atitude de desconfiança para com eles, quer por parte das pessoas e dos funcionários) 2 Apesar de em Mouçós, não se sentir discriminação, sente-se noutros locais públicos, por parte de algumas pessoas 1 Em geral, sente discriminação e desconfiança.por parte das pessoas 1 Sente discriminação quando os chamam de ciganos e não pelo nome. 2

Não referem nenhum episódio de discriminação 14

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% Serviços Públicos Banco Transportes Públicos Escola Café/ Restaurante Outra situaçao 59,5% 16,2% 16,2% 73,0% 24,3% 21,6%

Esta discriminação de que a população cigana é alvo, pela restante população, também é sentida pelos técnicos, sobretudo os que trabalham na autarquia, que nos referem sentir alguma pressão da restante população no trabalho que efetuam com este grupo especifico.

“ Olhe ainda agora num realojamento que tivemos recentemente o maior receio

que os habitantes dos bairros de habitação social tinham era que os vizinhos fossem de etnia cigana. Recebíamos telefonemas todos os dias a dizer “por favor não nos metam aqui ciganos”. É preciso desmistificar estas crenças por parte da população em geral e não houve esse trabalho. O estigma é tal que a pressão foi brutal. As pessoas ainda têm a ideia de que o cigano é sujo, não cumpre, rouba, mata etc. mas a verdade é que já não é assim.” (Entrevista 2, Técnica Superior Autarquia).

“ Neste último realojamento recebemos alguns moradores dos bairros que

quando ouviram falar que ia haver realojamentos com ciganos vieram aqui pedir justificações e pedir para os tirar, ou mudar. Houve muita pressão” (Entrevista 1, Técnica Superior Autarquia).

Quisemos ainda saber se os inquiridos sentiam que os funcionários que os atendem

nos serviços públicos (Segurança Social, Centro de Saúde/ Hospitais, Câmara),estão

devidamente, informadas sobre a cultura cigana. Também aqui os dados nos parecem preocupantes já que se nos afigura essencial a compreensão da cultura e modos de vida para a integração desta minoria étnica. Assim, a maioria dos inquiridos (58,3%) sente que os funcionários não entendem os seus pontos de vista (Figura 12).

Figura 12 – Inquiridos que sentem que as pessoas que os atendem estão informadas sobre a cultura cigana

35 58,3%

25 41,7%

5.7. POLÍTICAS DE HABITAÇÃO: O PER E O REALOJAMENTO EM