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CAPITULO IV – ABORDAGEM METODOLÓGICA: OBJETIVOS, MÉTODOS E

5.4. FONTES DE RENDIMENTO E O PROGRAMA RSI

5.4.1. Politicas de Apoio Social: O Programa RSI

No seguimento da linha de promoção do bem-estar social, própria do nascimento do Estado-Providência, surge, em praticamente toda a União Europeia, o Rendimento Mínimo: inicialmente na Alemanha, Holanda e Luxemburgo nos anos 60, posteriormente (anos 70) Bélgica, Dinamarca e Irlanda e em 80 na Suécia, Reino Unido, França, Finlândia e Espanha.

Em Portugal a sua implementação só aconteceu em 1996 o que, para alguns autores, o fizeram beneficiar das experiências acumuladas de outros países.

O Gabinete Técnico de Apoio ao Desenvolvimento Social (GTADS), órgão cooperativo de apoio técnico e administrativo à Comissão Nacional de Rendimento Mínimo, num artigo escrito para a revista Sociedade e Território, em 2002, considera que

os vários países, que adotaram este mecanismo, utilizaram duas vias distintas: a via daqueles para quem a resposta é apenas a do apoio explícito ao rendimento das famílias, e a daqueles que associam esta vertente de apoio pecuniário a compromissos, mais ou menos contratualizados, no sentido da inserção.

A Comissão Europeia recomendou, na altura, a adoção desta medida pelos Estados Membros como forma de combater a pobreza e a exclusão social. Foi com base nesta recomendação que o nosso País veio a incorporar, no seu sistema de proteção social, a medida Rendimento Mínimo Garantido, a qual, inclusive, passou a ser prioridade do XIII Governo Constitucional.

Foi neste quadro de recomendação que foi publicada, a 29 de Junho de 1996, a Lei 19- A/96, que cria o Rendimento Mínimo Garantido (RMG) designado, desde 2003, por Rendimento Social de Inserção, através da instituição de uma prestação do regime não contributivo da segurança social e um programa de inserção36.

Inicialmente prevista para se limitar a um conjunto de projetos – piloto, a fase experimental acabou por se abrir a todas as iniciativas que se foram manifestando num processo muito dinâmico de adesão, Esta fase teve a duração de um ano (até 1 de Julho de 1997) momento em que se deu início à generalização do RMG.

Conforme tivemos já oportunidade de referir, o aparecimento do RMG em Portugal, como noutros países Europeus, correspondeu à constatação de que as políticas tradicionais de proteção social não se revelarem capazes de fazer face aos desafios mais contemporâneos, traduzidos por novas formas de precaridade e de insegurança social. De facto, a estabilidade histórica das estruturas de socialização que garantiam a integração, como a família, a escola, os sistemas produtivos, foi abalada, deixando a inserção de ser

36Alguns anos mais tarde foi publicada a Lei 13/2003, de 21 de maio que altera a denominação desta medida passando a designar-

se, até aos dias de hoje, por Rendimento Social de Inserção. Com o despontar desse novo instrumento de apoio social pretendeu-se alterar o que, até então, funcionava de forma deficiente, mas autores como Rodrigues (2008) consideram que a alteração não foi muito mais significativa que a própria designação.

De assinalar, no entanto, nas alterações que se centraram, sobretudo, pela natureza e pelas condições de atribuição. Assim enquanto o RMG era uma prestação do regime não-contributivo, o RSI é uma prestação incluída no subsistema de solidariedade, e o seu valor deixa de ser indexado ao montante fixado legalmente para a pensão social do regime não contributivo e passa a ser indexado ao valor da pensão social do subsistema de solidariedade. Relativamente aos programas de inserção verifica-se, igualmente, uma ligeira alteração, na medida em que diminui o de 90 para 60 dias o prazo máximo estabelecido para a elaboração de um programa de inserção, agora a cargo dos Núcleos Locais de Inserção (NLI), que substituem a anterior designação de CLA. O não cumprimento dos programas de inserção passa, com a entrada em vigor desta Lei a ser mais severamente penalizado.

um processo social «normal» para se tornar num «problema social» tratado pelos dispositivos públicos.

É assim, que vemos surgir no nosso país um modelo que se inspirou no formato, que associa de forma perentória uma prestação pecuniária de apoio, atribuída a todas as pessoas/famílias e tendo por base a conceção da relevância dos mínimos sociais para sobreviver, a um programa de inserção, negociado e contratualizado entre as famílias beneficiárias e a comunidade, organizada em núcleos de gestão participada do esforço de inserção, designados de Comissões Locais de Acompanhamento (CLA).

Sobre as principais características do RSI Capucha (1998b), sublinha a lógica de parceria e gestão territorial, ou seja um modelo de gestão participada com base territorial, sendo que a questão das parcerias se situa em dois planos distintos mas articulados entre si: por um lado, o grau de articulação entre o Estado, os órgãos do poder local, os parceiros sociais e as instituições particulares de solidariedade, por forma a executar e conceber intervenções de acordo com os recursos de cada uma das instituições; Por outro lado, o nível de articulação sectorial ou seja entre os vários Ministérios numa lógica de que os intervenientes devem ser “definidos pela natureza das intervenções e não pela natureza

dos públicos” (idem, p. 32). Segundo o autor, estes dois níveis de articulação estão bem patentes, quer na composição da Comissão Nacional do Rendimento Mínimo, quer a nível local na composição das Comissões Locais de Acompanhamento.

Por outro lado, ainda, e sendo um direito universal o RSI é gerido numa base territorial de âmbito Concelhio, indo de encontro à ideia de descentralização, e dando autonomia na decisão aos responsáveis mais perto do terreno, dos quais se espera maior conhecimento sobre as populações e as problemáticas adjacentes.

É nesta lógica que funcionam as CLA, de base municipal e compostas por representantes dos organismos públicos responsáveis, nessa área territorial, pelo setor de emprego, saúde, educação, formação profissional e segurança social e, ainda por um representante da autarquia e outros elementos cuja presença se torne necessária. Aos CLA compete, ainda, “ a aprovação dos programas de inserção, a organização dos meios a

afetar à sua prossecução e o acompanhamento e avaliação da respetiva execução” (art.º 15.º da Lei 19-A/96).

Na opinião de Rodrigues (2010a) o RMG contempla uma mudança organizacional assumindo-se uma forte presença ativa do Estado na área da proteção social, característico de uma nova geração de políticas sociais.