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2 PARTE I – TEORIAS E MÉTODOS

2.4 MÉTODOS E DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Além de uma perspectiva teórica herdada de uma corrente pragmatista que remonta a Dewey, Mead, Thomas e Park, esta pesquisa se orientou metodologicamente por ensinamentos do interacionismo simbólico praticado por sociólogos frequentemente categorizados como associados a uma segunda geração da Escola de Chicago, como Herbert Blumer, Raymond Gold e Howard Becker. Há ainda uma inspiração analítica em grande parte devida a trabalhos no âmbito da sociologia dos problemas públicos e as já referidas influências de uma “ciência indisciplinada” (como a que vem sendo feita por cientistas sociais africanos na contemporaneidade) e de uma “história a contrapelo”.

O trabalho de campo foi iniciado pela busca de ampliar a participação do próprio pesquisador no processo observado. Para tal engajamento, tentou-se seguir a recomendação básica de Blumer (1969, p. 86), segundo a qual: “Para capturar o processo, o pesquisador deve realizar o papel de alguém que atua junto com aqueles que estuda”. Dito de um modo mais simples, fez- se como Becker (1985 [1963], p. 107) uma pesquisa cujo método consiste em “partilhar trabalho e lazeres” com os pesquisados.

No caso aqui relatado, o pesquisador é alguém que age a partir de sua posição situada em um cohorte geracional distinto da maioria dos pesquisados, muitos dos seus gostos e prazeres também se diferenciam, a rotina ordinária de seu dia-a-dia só ampliou a frequência de circunstâncias de “encontro casual” durante um período de pouco mais de dois anos em que esteve vinculado a uma Prefeitura da região, trabalhando com a gestão da política de drogas. Assim, os encontros entre pesquisador e pesquisados foram, em sua grande maioria, artefatos do duplo engajamento nas atividades de pesquisa e ativismo. Em momentos pontuais, as buscas

tiveram reciprocidade (como, por exemplo, quando os organizadores da Marcha escolheram e convidaram o pesquisador para falar em audiência pública sobre “Uso medicinal da maconha”, na Câmara Municipal de Recife, em 2013 ou, ao final de quatro anos de interações, quando o Coletivo de Recife já ensaiava voos mais amplos e difundia sua luta abolicionista para todas as transações com drogas, não apenas em Pernambuco, mas em todo o país). Tratava-se já de postular uma posição central para o coletivo pernambucano no ambiente nacional de luta antiproibicionista. Neste momento, as demandas dos pesquisados ao pesquisador se multiplicaram; surgiram telefonemas à noite e em feriados, bem como encomendas de textos sobre assuntos específicos que estavam sendo pautados na Rede Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas (RENCAA) que fora criada durante a Cúpula dos Povos, na cidade do Rio de Janeiro, em 2012, mas se tornou mais notável a partir de 2016 por ocasião do I Encontro Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas (ENCAA), realizado em Recife e majoritariamente organizado por ativistas pernambucanos. Contudo, vale destacar que a aceitação mútua destes diferentes tipos de sujeitos envolvidos na pesquisa gerou uma empatia que, em alguns casos, os aproximou da condição de amigos com quem realmente se tornou possível partilhar lazeres descolados do trabalho.

Vale ressaltar que a legislação brasileira contém interdições explícitas e as normas sociais locais também têm dimensões resistentes ao estudo de práticas que permanecem ilegalmente classificadas, como o ato de fumar maconha34. Assim, o pesquisador tentou executar o difícil plano de expor na Tese apenas aspectos da experiência que fossem mais relevantes para a compreensão dos meios pelos quais os marchadores agem e se transformam sem, contudo, ultrapassar a condição de respeito ao princípio ético elementar de não fazer mal àqueles sobre os quais porta a pesquisa (CEFAÏ, 2010). Assim, é preciso reconhecer que foi evitada a

34 No Brasil, o ato de fumar maconha constitui um “crime de menor potencial ofensivo”, tipificado na Lei 11343/2006. A sanção a este ato não prevê privação de liberdade, mas aplicação de penas alternativas. A diferença entre “fumar” e “traficar” produz uma grande mudança nas penalidades associadas a cada uma destas transações penais e não há critérios objetivos na legislação nacional para qualificar nenhum dos dois crimes. Portanto, uma mesma quantidade de maconha pode ser considerada como sendo para “uso próprio” de uma pessoa em determinada situação ou como “tráfico” em muitos outros casos. Na prática, a condição física, discursiva e financeira do portador, bem como as circunstâncias do flagrante, da apreensão e do consequente registro pela autoridade competente constituem um primeiro julgamento a que são submetidas as pessoas detidas por um destes motivos. Não são raras as situações em que se postula a “plantação do flagrante” por parte das autoridades, isto é, a inclusão de alguma quantidade da substância em meio às posses do detido para justificar um primeiro registro da autoridade tipificando a apreensão como tráfico. O tema é objeto de uma recente dissertação de Mestrado em Direito (GONÇALVES, 2016) baseada em observação das atividades desenvolvidas por policiais e pessoas detidas na Central de Plantões da Capital (órgão vinculado à Polícia Civil de Pernambuco, situado em Recife). Algumas interdições ao estudo antropológico de transações com maconha são abordadas por MacRae e Vidal (2006).

descrição, por exemplo, de alguns atos presenciados ou praticados pelo pesquisador que também competiram para que ele próprio fosse ratificado como membro do grupo e sobre os quais possa pesar alguma dúvida acerca da adequação ao ordenamento jurídico nacional e às normas sociais locais. Tal precaução esteve presente em outros trabalhos de inspiração semelhante, como relatou explicitamente o antropólogo Gilberto Velho [em entrevista ao sociólogo Maurício Fiore (VELHO, FIORE, 2008)] sobre sua pesquisa de doutorado que abordou atos ilícitos praticados por jovens usuários de maconha e cocaína no Rio de Janeiro dos anos 1970.

Contudo, a ideia de manter um registro sistemático das experiências vividas em situação de pesquisa atravessou todo o período de doutorado que culmina neste texto e conduziu a elaboração paralela do documento intitulado “quase-diário”, que tematiza vivências e insights do pesquisador em diferentes momentos da experiência de pesquisa. Sem pretensões de publicação, o quase-diário também foi organizado em quatro partes – assim descritas em sua apresentação:

[…] a primeira […] é um relato das aproximações iniciais do tema em minha vida. […] Em seguida, eu dedico uma parte mais longa do texto para tratar de minhas aproximações como pesquisador do local de investigação, dos atores e das instituições que estiveram envolvidas no processo que investiguei. A terceira parte é uma reflexão sobre a sedimentação do projeto de pesquisa, passando por três ou quatro diferentes intenções, o projeto de doutorado finalmente se concretizou como um estudo aprofundado sobre um único caso – o que certamente não é um acaso, mas se deve também a algumas contingências tematizadas nesta parte do trabalho. Finalmente, há uma quarta parte – mais extensa – em que registro observações relacionadas à pesquisa nos diferentes anos em que acompanhei a Marcha da Maconha em Recife (quase-diário, p. 5-6).

Deste modo, espera-se justificar a escolha de reservar a análise da própria trajetória do pesquisador para um espaço específico que constitui um documento de caráter mais intimista, cuja narrativa é desenvolvida em primeira pessoa do singular e que teve o objetivo de oferecer suportes à reflexão e escrita da Tese. Ao longo da elaboração da Tese, recorreu-se com muita frequência a este quase-diário, além de uma grande parte dele ter sido literalmente sistematizada, transcrita, escrita e reescrita em período que se sobrepõe à escrita da Tese. A rigor, o quase- diário é um grande conjunto formado por oito cadernos ou blocos de anotações em papel, milhares de fotografias digitais, centenas de horas de registros de áudio e mais algumas horas de registro em vídeo que revelam, por exemplo, as mudanças operadas sobre o próprio

pesquisador. Porém, uma revisão retrospectiva destes registros deu origem ao documento sistematizado do qual foi transcrito o texto citado anteriormente.

Sintetizando, muito brevemente, a trajetória da observação participante, vale destacar que a primeira imersão na organização da Marcha da Maconha de Recife, enquanto pesquisador, foi acompanhada por uma forte preocupação de justificar a presença e anunciar alguns recursos que estavam sendo utilizados, como o telefone celular que fazia as vezes de gravador e máquina fotográfica. O quase-diário registra estratégias previamente definidas pelo pesquisador para negociar sua presença e o uso de seus instrumentos de trabalho. O uso destas estratégias nunca se revelou necessário. O acompanhamento da própria Marcha em 2012, primeiro ano de efetiva pesquisa de campo, foi uma verdadeira maratona em que o pesquisador corria para ver, ouvir, sentir, perceber, fotografar e ainda tentar registrar em áudio e vídeo alguns recortes de sua perspectiva do cortejo: depois de fazer algumas anotações atrás dos manifestantes (ainda no local da concentração), disparou literalmente na carreira para a frente da Marcha e registrou outras impressões para, em seguida, “invadir” um shopping center e observar a deambulação a partir de cima (sobre uma passarela do referido centro comercial que liga seu prédio principal ao edifício que lhe serve de garagem). Do alto, ao lado de espectadores alheios ao que se passava, tentou registrar algumas opiniões daquelas pessoas que estavam em um shopping center, em pleno domingo, e se depararam com um ato de protesto. Não obstante, aquele ano também teve muitos registros do pesquisador de “dentro” da Marcha.

No ano seguinte, uma rede de relações externas foi mobilizada e o pesquisador conseguiu apoio de dois amigos que vivem em outra cidade e se dispuseram a viajar, acompanhar a experiência e produzir registros fotográficos e audiovisuais em diversos pontos análogos aos que ele correra sozinho um ano antes e revisitara, na véspera, com a intenção de apresentar a seus colaboradores algumas posições que permitiriam observar de modo panorâmico a passeata que seria realizada pela primeira vez em novo endereço, passando pelos bairros Derby e Boa Vista.

Os anos subsequentes foram testemunhando uma progressiva transferência de atenção da manifestação para os processos organizativos que a precediam e as ações e reflexões que a sucediam, bem como viram se tornar ociosa a preocupação de anunciar ferramentas de trabalho em encontros com os “pesquisados”. Não houve mais o convite e treinamento de agentes externos para registrar impressões da Marcha. Ao cabo de dois ou três anos de investigação, todos que ocupavam o lugar de organizadores daquele ato já tratavam o pesquisador como alguém que os pesquisava, mas que também era um “brother”, um “parceiro”, podia ser

chamado de “bicha”35 sem constrangimentos. Em um estágio de interação como este, o gesto

de direcionar câmera ou gravador para um organizador já não tinha muita semelhança com o mesmo gesto realizado por alguém externo ao processo.

Ao longo do período de pesquisa de campo, 2012 a 2016, o acompanhamento das atividades de organização e realização da Marcha da Maconha de Recife teve o objetivo de permitir a compreensão de como os organizadores interagem entre seus pares, entre os demais marchadores e entre outras pessoas que não os acompanham em sua Marcha, mas demonstram algum interesse sobre ela. Esta compreensão foi se produzindo por meio da inserção do pesquisador na interação. Deste modo, pesquisar marchadores foi se afastando da grande divisão habitual entre pesquisadores e pesquisados, dando lugar à possibilidade de compreender – por exemplo – como defensores da regulamentação de transações com maconha agem de modo particular nas diversas cenas em que suas reivindicações podem produzir efeitos destacáveis. Em meio à busca de compreensão, o pesquisador também era provocado a agir e respondia às provocações agindo. Não deixou de participar da maioria dos atos e discursos a que foi chamado. Isto posto, ratifica-se que a observação participante ocupa lugar central na metodologia dessa pesquisa.

As atividades que foram acompanhadas propulsionaram a reflexão sobre questões do tipo: Como os ativistas decidem o quê demandar e onde apresentar suas demandas? Como aproveitam suas relações profissionais, familiares e amigáveis para apresentar suas reivindicações? De que modo – e em qual medida – as experiências precedentes contribuem para que organizem suas táticas e estratégias de afirmar a existência de um problema e as alternativas de que dispõem para tentar solucioná-lo? Em quais circunstâncias, como, por que, com quem, contra quem – e com quais argumentos e práticas – os ativistas da Marcha da Maconha se apresentam no espaço público para defender sua causa? Além de marchar, o que fazem durante a Marcha? O que tem mudado nesta Marcha, nas pessoas que se engajam nela e na sociedade como um todo? Tentando esclarecer questões como estas, a pesquisa seguiu um roteiro fundado na participação ativa em experiências vivenciadas pelas pessoas sobre as quais ela se refere.

35 Originalmente, o termo é uma denominação vulgar aplicada aos homossexuais masculinos, mas a pesquisa constatou um uso intimista e amigável que se estende entre indivíduos de todos os gêneros, independentemente de suas práticas sexuais. Como disse um dos organizadores da Marcha, tratar-se de “bicha é mais uma forma de solidariedade com um setor oprimido” (Eduardo Nunes, em depoimento informal ao pesquisador, em 2015).

As entrevistas exploratórias, realizadas em 2011 e 2012, com defensores da regulamentação das transações com maconha, apontaram uma receptividade mútua entre ativistas e pesquisador. A continuidade da pesquisa, após o estabelecimento da co-tutela internacional de tese de doutorado na UFPE, no ano de 2013, foi acompanhada da intensificação das relações com os sujeitos pesquisados e da consequente participação sistemática nas reuniões do Coletivo Marcha da Maconha de Recife, onde o pesquisador tomou parte na organização da Frente Pernambucana Drogas e Direitos Humanos e na formação do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco.

Como já sinalizado, além da inserção em um campo de militância social que visa mudanças nas leis de drogas, o pesquisador também se envolveu com a gestão governamental de ações que visam a resolver (ou reduzir) problemas relacionados com drogas em um município da Região Metropolitana de Recife. Como assessor técnico da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, entre julho de 2013 e dezembro de 2015, o pesquisador esteve envolvido principalmente em três missões: 1) supervisionar pesquisa que visava a identificar representações sociais sobre drogas e usuários de drogas nesta localidade, 2) monitorar ações de diversas Secretarias Municipais que compunham o Plano Municipal de Ações Integradas sobre Drogas e 3) implementar um programa local de redução de danos decorrentes de transações com drogas. No âmbito deste trabalho, houve possibilidade de discutir as diretrizes de ação daquele município com gestores locais, estaduais e federais que apoiavam iniciativas naquela cidade – isto favoreceu o acesso e a interlocução com autoridades públicas em momentos além do trabalho na Prefeitura, bem como possibilitou conhecer outras pessoas engajadas com o tema das drogas que não participavam diretamente das reivindicações analisadas, mas demonstraram alteração de sensibilidade às demandas dos marchadores. Ainda em relação a este trabalho, vale destacar que ele permitiu uma interação mais constante com alguns protagonistas da performance enfocada, a saber: Priscila Gadelha, Anamaria Carneiro e, em menor prazo, Gilberto Lucena Borges. Estes três performers – além de ativistas da Marcha da Maconha de Recife – foram colegas de trabalho do pesquisador em diferentes projetos da referida Prefeitura. Assim, os cinco anos de pesquisa asseguraram uma relação de proximidade e interação com autoridades públicas e ativistas, permitindo ao pesquisador desempenhar papéis que transitam entre a participação e a observação, como postula Gold (2003 [1958]) ao reconhecer que os pesquisadores desempenham uma multiplicidade de papéis sociais nas interações que estabelecem visando à realização de seus trabalhos de campo.

O início do doutorado foi marcado por um período de trabalho junto ao Centro de Estudos dos Movimentos Sociais, em Paris, do final do ano 2011 até o início de 2013. Correspondendo à época de maior dedicação à análise da bibliografia acerca da maconha no Brasil, este período foi favorecido pela extensão e qualidade do acervo da Biblioteca da Maison des Sciences de l'Homme que – integrada a uma rede internacional de bibliotecas – deu condições de acessar e analisar um corpus literário que cobre um campo de conhecimentos que ultrapassa vastamente as ciências humanas e permitiu identificar quatro ciclos de atenção à maconha nesta região (BRANDÃO, 2014a; BRANDÃO, 2014b; BRANDÃO, 2016a) em que as áreas da economia (notadamente agrícola), saúde, segurança e sociedade se sobressaem por meio da produção de dezenas de autores que escreveram sobre o assunto entre o século XVIII e a primeira metade do século XX. Destacando dez destes autores que lançaram questões relevantes e desenvolveram trajetórias exitosas nos campos da política, da economia e/ou da produção literária academicamente reconhecida, tenta-se demonstrar alguns dos meios pelos quais duas versões acerca da chegada e do papel desempenhado pela maconha neste território foram repetidamente omitidas na primeira metade do século XX, legando às gerações posteriores uma única versão e produzindo o efeito de suspensão provisória da controvérsia sobre o tema nos registros intelectuais.

Esta revisão da literatura não professa, portanto, a certeza de um Ricoeur (1971, p. 534) no fato de que “o que o texto diz agora importa muito mais do que o autor quis dizer”. Tampouco tem a pretensão de um Gadamer (1975 apud ALEXANDER, 1999, p. 76) que afirma a determinação do texto pela “totalidade do curso objetivo da história”. De fato, os textos referenciados, principalmente na Parte II, foram interpretados com base no que eles próprios dizem, mas cotejados às impressões sobre o tempo e o lugar em que disseram, as trajetórias dos autores e destinatários de seus conteúdos e ainda os interesses de emissores e receptores, incluindo o pesquisador autor desta Tese, é claro.

Além da análise bibliográfica, a primeira etapa dos estudos doutorais foi importante para ampliar a discussão sobre a relevância da circulação internacional de saberes e de “sabidos”, por meio dos seminários conduzidos por Afrânio Garcia Jr. no âmbito do Centro de Pesquisa sobre o Brasil Contemporâneo que este brasileiro coordenou por longos anos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. Finalmente, mas não menos importante, o período de doutorado vivido na França foi fundamental para ampliar conhecimentos acerca das relações entre o pragmatismo e as ciências sociais, por meio de seminários, orientação e grupo de estudos

dirigido por Daniel Cefaï.

Já no Brasil, o ingresso, em 2013, na co-tutela junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, possibilitou a participação em cursos ofertados por esta Universidade e o acesso a referências importantes para aprimorar a abordagem do problema investigado. Dentre os cursos, vale destacar aquele conduzido por Silke Weber, em 2014, sobre a Sociologia das Profissões, no âmbito do qual a noção de Gusfield de “propriedade do problema” foi aplicada à pesquisa e será adiante restituída. Em encontros de pesquisadores, como os da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), firmou-se um canal de discussão especializada acerca da literatura sobre o tema, para o qual foram organizadas diferentes comunicações (BRANDÃO, 2012 e 2013). Ainda na UFPE, Remo Mutzenberg assegurou o acompanhamento sistemático do processo de escrita da Tese e a orientação atenta aos avanços do pesquisador em meio a seu campo de pesquisa – o que completou as condições de realização deste trabalho que foi beneficiado por uma bolsa concedida pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Vale ainda ressaltar que o pesquisador havia integrado a equipe do Governo de Pernambuco, como consultor da extinta Secretaria Especial de Juventude e Emprego (SEJE), entre meados de 2007 e 2008, coordenando a metodologia de consulta popular sobre as demandas dos jovens pernambucanos – o que se tornou objeto de pesquisa de mestrado (BRANDÃO, 2011) e de um recente artigo (BRANDÃO, 2016). Além disso, o trabalho no Governo de Pernambuco possibilitou estreitar relações do pesquisador com dois membros do Coletivo Marcha da Maconha Recife, tendo sido um facilitador da consulta popular e um assistente da SEJE. A mais idosa das mulheres que figurou entre apoiadores identificados na primeira edição da Marcha da Maconha de Recife também esteve envolvida com ações daquela extinta Secretaria Especial. As relações com as pessoas pesquisadas favoreceram a construção de laços de interação análogos aos que Becker (1963) manteve com os artistas que fumavam maconha e eram – a um