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Métodos e Instrumentos de Recolha de Dados

A partir da década de 70 do século XX, a investigação educativa começou a adotar uma abordagem qualitativa para além de uma abordagem quantitativa, focando o seu estudo na compreensão e na procura de significados através de narrativas verbais e de observações numa realidade enraizada nas perceções dos intervenientes (Bento, 2012). Com a adoção de uma abordagem qualitativa, como a adotada neste estudo, surgem novos métodos de recolha de dados.

Neste capítulo apresento as opções metodológicas adotadas na recolha dos dados para este estudo, nomeadamente a observação participante e a recolha documental, e os motivos subjacentes a essas escolhas.

Foi pedida autorização à escola e aos encarregados de educação dos alunos da turma na qual fiz a intervenção letiva para a realização deste estudo. Dos alunos que foram autorizados, todos participam neste estudo.

De referir que os participantes deste estudo foram todos os alunos da turma em que realizei a intervenção letiva.

4.1. Observação participante

No início da lecionação da unidade de ensino eu já conhecia os alunos da turma, os seus métodos de trabalho, alguns dos seus conhecimentos matemáticos e capacidades transversais e algumas das suas dificuldades com alguns tópicos da disciplina. Mas sabia que durante a lecionação da unidade de ensino a observação que efetuaria na sala de aula teria de ser mais cuidadosa e focada, perante o papel que desempenharia.

No decorrer deste estudo assumi um papel de observador participante. A observação participante torna-se bastante vantajosa, pois permite descrever o que acontece, quem e o que está envolvido, quando e onde as coisas acontecem, como ocorrem e porquê (Jorgensen, 1989), e ao mesmo tempo permite fazer essa descrição quando as pessoas que estão a ser estudadas se encontram no seu ambiente natural (Kawulich, 2005). Este método de observação traduz assim uma grande utilidade para o estudo pois permite-me como investigador conhecer o ambiente em que estou inserido e os participantes envolvidos. Além disso, também me permite interagir com os alunos no sentido de compreender o trabalho que eles desenvolvem assim como potenciais dificuldades que demonstrem. A observação participante torna-se assim “o meio mais direto de se estudar uma ampla variedade de fenómenos” (Queiroz, Vall,

Souza & Vieira, 2007, p.281). De acordo com Ferreira, Torrecilha e Machado (2012), a observação participante permite rápido acesso a dados sobre situações habituais a que os membros da comunidade estão envolvidos e permite obter qualquer esclarecimento sobre o seu comportamento. No entanto é preciso ter atenção até onde a interação entre observador e observados pode ser conduzida na aplicação da observação participante. Apesar de não poder abdicar da minha posição como professor, especificamente na ajuda aos alunos com eventuais dificuldades na resolução das tarefas, foi necessário garantir que a minha posição como investigador não ficasse comprometida. Assumir uma posição conjunta de professor e de investigador torna-se até vantajosa para a obtenção de bons resultados num processo de observação participante, visto que Kawulich (2005) defende que em troca de dados por parte da comunidade em estudo, o investigador tem a responsabilidade de dar algo em troca.

Considerando o referido, verifica-se que a observação participante contribuiu de forma substancial para a recolha de dados deste estudo. Recordando que se pretende analisar a aprendizagem dos alunos no tópico dos números irracionais, assim como as dificuldades resultantes, torna-se difícil basear-se apenas num processo de observação não participante. Como o professor tem a possibilidade de interagir com os alunos é possível ouvi-los a explicarem como procedem na resolução das tarefas e a exporem as suas dúvidas. Nesta última situação, com o professor a apoiá-los através do processo de questionamento, ele também tem a oportunidade de descobrir a origem das dúvidas dos alunos, assim como eles constroem os seus conhecimentos.

Segundo Jorgensen (1989) é extremamente importante que as observações feitas em qualquer ambiente sejam registadas o mais cedo possível e com o máximo de detalhe possível. Tendo em conta esta exortação é essencial encontrar todos os instrumentos que possam dar esse contributo para a investigação. Segundo Cohen, Manion e Morrison (2000), citados por Coito (2016), a utilização de vários instrumentos de recolha de dados possibilita uma maior confiança nos dados obtidos a partir de diversas fontes, conferindo assim maior fiabilidade ao estudo. Jorgensen (1989) diz que a observação direta é o principal método de recolher informação, mas que o observador participante costuma recorrer a outras estratégias. Dias, Pitolli, Prudêncio e Oliveira (2013) defendem que o diário de bordo pode constituir um bom apoio à memória para o futuro professor e ajudá-lo a compreender as experiências

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vividas na sala de aula, contribuindo assim para a reflexão e delineamento de novas estratégias de ensino. No entanto, Stein e Smith (1998) defendem que “usar o vídeo para refletir pode, de facto, ser mais vantajoso do que a reflexão baseada na memória ou em notas” (p.12), pois o que é gravado em vídeo possui maior objetividade, permitindo também ver e tornar a ver uma determinada parte de uma aula, “tentando perceber exatamente o que se estava a passar no pensamento dos alunos enquanto eles trabalham numa tarefa específica” (pp.12-13). No seu trabalho Oliveira, Menezes e Canavarro (2012) também apontam as vantagens do uso de equipamentos de gravação no caso de uma professora cuja aula que ela orienta é gravada, em que se pode compreender como a professora preparou a aula, as escolhas que teve de fazer e os motivos por detrás dessas escolhas.

Perante o referido foi feita a recolha de dados contendo as interações entre os alunos e entre o professor e os alunos, recorrendo à gravação de imagens e áudio decorrentes da sala de aula. Como os alunos já tinham participado num estudo efetuado por um outro estudante universitário no ano letivo anterior e tinham conhecimento que as aulas da unidade de ensino seriam gravadas, eles não se mostraram de nenhuma forma constrangidos com a presença desses equipamentos tecnológicos, realizando o seu trabalho na sala de aula de forma regular.

4.2. Recolha documental

A recolha documental foi um outro método de recolha de dados utilizada no âmbito deste estudo. Tendo em conta o objetivo do estudo e, especificamente, as questões que o orientam, compreende-se que é necessária uma análise do trabalho dos alunos na resolução das tarefas propostas e, como tal, foram recolhidas as suas resoluções escritas. Apesar da importância da recolha documental, também é essencial refletir como a efetuar, pois quando se a propôs foi necessário pensar como a fazer sem pôr em causa o funcionamento da sala de aula. Primeiro foi considerada a hipótese de recolher as resoluções ao fim do trabalho autónomo para apurar quais tinham sido as estratégias adotadas pelos alunos, assim como possíveis erros que tinham cometido, mas depois percebeu-se que os alunos necessitariam do seu trabalho para o apresentar e discutir no momento de aula seguinte. Quando era proposta aos alunos uma tarefa que consistisse numa ficha de trabalho elaborada pelo professor da turma, os mesmos estavam acostumados a receber um enunciado por mesa. Depois de resolverem e discutirem a tarefa, o professor recolhia-as e trá-las-ia

na aula seguinte fotocopiadas para que cada aluno tivesse um exemplar para si. Considerou-se assim essa hipótese, mas essa decisão impossibilitaria distinguir o trabalho realizado no trabalho autónomo dos alunos daquele que efetuaram durante a discussão. Desta forma seria difícil averiguar as estratégias de resolução adotadas pelos alunos, assim como as suas eventuais dificuldades, dificultando a intenção de responder às questões do estudo. Portanto decidiu-se recorrer a outra estratégia: foram entregues dois enunciados por par de alunos, não isentando os alunos de trabalharem a pares, e no fim do trabalho autónomo, os alunos entregariam uma das versões da tarefa e a outra seria entregue ao professor no final da discussão coletiva. Também foi pedido aos alunos para que resolvessem as tarefas a caneta pois a lápis os alunos poderiam apagar algumas das suas estratégias de resolução utilizadas e no âmbito do estudo é importante analisar qualquer tipo de estratégia adotada pelos alunos, independentemente de estar correta ou não. No início da unidade de ensino os alunos tiveram dificuldades a adotar este novo método de trabalho, mas depois acostumaram-se facilmente.

Para além das resoluções das tarefas dos alunos, também foram fotocopiadas as resoluções dos seus minitestes em que foram avaliados os conhecimentos dos alunos referentes aos números irracionais.

Para a recolha de dados acerca da escola foi usado o regulamento interno da escola e acerca dos alunos foram disponibilizadas informações pelo professor cooperante, que tinha recolhido antes do início do ano letivo.

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