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Para Dal-Farra e Lopes (2013), o emprego de métodos mistos nas pesquisas em ciências humanas, como é o caso da Educação, conjugando técnicas quantitativas e qualitativas, permite a ampliação do leque de resultados e sinaliza para questões e respostas ainda não desveladas. Frente à complexidade das técnicas de cariz qualitativo e das inúmeras possibilidades de mensuração advindas dos métodos quantitativos, o campo de estudos em Educação vem cada vez mais se valendo dos métodos mistos.

Os elementos metodológicos das pesquisas na Educação foram aparecendo em momentos marcados por entrecruzamentos de diferentes concepções científicas e do que seria a própria educação. Ademais de suas vivências nas escolas, os estudos em Educação também receberam profícuas influências de campos correlatos como a Psicologia e a

120 Sociologia, por exemplo. Não obstante, por muito tempo o trabalho de coleta e de análise de dados em Educação esteve influenciado “(...) historicamente por polos opostos entre os ‘quantitativistas’ e os ‘qualitativistas’” (DAL-FARRA e LOPES, 2013, p. 68).

Na atualidade vem crescendo as abordagens que utilizam métodos mistos, conjugando assim recursos e procedimentos de análise que interpretam e mensuram os dados ao mesmo tempo. Para a adoção desta postura metodológica diversificada contribuíram a Antropologia, a Estatística e os movimentos sociais sobre a Educação, como é o caso do feminismo, por exemplo: “This is indicative of the rise of mixed methods with the dissolution of the qualitative/quantitative divide that bedevilled many methodology debates within/against feminist research in the 1990s” (BLACKMORE et al, 2015, p. iii).

Nos últimos 20 anos do século XX cresceu o número de temáticas investigadas pela Educação, com isso, muitos/as investigadores/as deixaram de pesquisar os componentes extraescolares e suas consequências junto ao desempenho do aluno e se dedicaram aos chamados elementos intraescolares, como é o caso das micropolíticas das organizações de ensino. Deste modo, temas como cotidiano escolar, currículos, psicopedagogia, didática, interações sociais dentro das escolas, ordenação das atividades pedagógicas, interações face a face em sala de aula, bullying, demandaram métodos qualitativos de fazer ciência e perspectivas teóricas trans/interdisciplinares.

Segundo Dal-Farra e Lopes (2013), aos poucos os pesquisadores em Educação constataram que somente um campo científico, o sociológico ou o psicológico, por exemplo, não era suficiente para se apreender os temas educacionais. Acompanhou essa postura científica o maior uso dos métodos qualitativos com diferentes instrumentos de coleta e de tratamento de dados. Logo, o atual estado da arte neste quesito nas ciências sociais e na educação não é mais ‘quantitativo versus qualitativo’, mas sim definir se um estudo é mais qualitativo ou quantitativo. Um dos pontos mais importantes no uso de métodos mistos é que isso pode neutralizar os vieses inerentes às técnicas de pesquisa bem como compensar as suas limitações reciprocamente. Desta forma,

Os métodos mistos combinam os métodos predeterminados das pesquisas quantitativas com os métodos emergentes das qualitativas (...), incluindo análises estatísticas e análises textuais. Neste caso (...) os dados censitários podem ser seguidos por entrevistas exploratórias com maior profundidade. No método misto, o pesquisador baseia a investigação supondo que a coleta de diversos tipos de dados garanta

121 um entendimento melhor do problema pesquisado (DAL-FARRA e LOPES, 2013, p. 70).

Assim, ultrapassando as fronteiras que separam os métodos quantitativos dos qualitativos, em um mesmo estudo pode-se associar o rigor e o caráter confirmatório de uma análise quantitativa com uma compreensão profunda advinda das análises qualitativas. Dentre as principais potencialidades das metodologias quantitativas está a possibilidade de se comparar grupos e de associar variáveis. Com respeito às abordagens qualitativas, elas permitem uma análise contextualizada e detalhada das experiências humanas, incluindo-se os processos educacionais, não obstante não sejam úteis para prescrições definidas ou para generalizações abrangentes.

Com efeito, entende-se que não existe primazia de um método sobre outro, pois as ferramentas de coleta não são um fim em si mesmo, a preponderância de uma ou outra abordagem em uma investigação com métodos mistos vai depender do enfoque e dos objetivos do estudo. Entretanto, ao conciliar distintas metodologias, há que se levar em conta certas peculiaridades próprias a cada modelo de coleta e tratamento de dados e/ou de informações:

(...) a pesquisa quantitativa busca uma abordagem dedutiva, com base no teste de uma teoria com um olhar sobre o fenômeno social como algo objetivo e mensurável. Já a pesquisa qualitativa utiliza uma abordagem buscando a emergência de uma teoria e considera o fenômeno social como algo construído pelas pessoas (DAL-FARRA e LOPES, 2013, p. 72).

Ademais, é possível o uso de multi-métodos de pesquisa tendo-se um único paradigma epistemológico como acontece nos estudos de gênero pós-estruturalistas. Assim, uma investigação a partir do marco do interacionismo simbólico nas organizações escolares sobre os discursos acerca da sexualidade pode se valer de métodos qualitativos (ênfase no significado das palavras, por exemplo) e quantitativos (ênfase na frequência de certas palavras) para dar conta do fenômeno proposto. A importância da quantificação reside na objetividade das medidas, ao passo que a principal contribuição das abordagens qualitativas é entender o significado dos textos (escritos, imagéticos, falados) e associá- los a um contexto determinado, favorecendo o acesso às subjetividades e à complexidade das pessoas e/ou dos grupos.

Portanto, entende-se que se os métodos quantitativos possuem a vantagem de permitir generalizações para todo um grupo, os métodos qualitativos os completam ao encarar os fenômenos sociais não em si mesmos, mas como construções passíveis de

122 interpretação, focando as dinâmicas das interações humanas dentro de dado contexto (DAL-FARRA e LOPES, 2013). Diante disso, dentre as várias possibilidades de conciliação dos métodos quali e quanti, aqui se optou por começar o presente estudo usando técnicas pertinentes aos segundos e, posteriormente, empregar métodos qualitativos (entrevistas semiestruturadas individuais em profundidade), isto é, um levantamento quantitativo seguido de um estudo de campo qualitativo permite que se confrontem questões mais gerais com locais acerca de um mesmo fenômeno.

Em síntese, hoje em dia, ao invés do conflito entre paradigmas metodológicos qualitativos versus quantitativos nas pesquisas em Educação o que se vê é a tendência em coaduna-los em uma mesma pesquisa. Portanto, no caso ora tratado, optou-se por quantificar a produção científica do corpo docente dos cursos de pós-graduação da UFMG divididos por grupos de sexo bem como os percentuais de mulheres e de homens em cada curso e categoria profissional (titular, adjunto etc.) para, em seguida, apresentar tais dados a algumas pesquisadoras da mesma instituição a fim de entender suas apreensões e explicações sobre os dados usando entrevistas semiestruturadas em profundidade.