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Ao iniciar o caminho da pesquisa, evidentes demandas são postas imediatamente, outras surgem com as mudanças no percurso do trabalho. Para lograr êxito no estudo que se pretende empreender, é necessário ficar atento às adequações de rota, e nesse itinerário cada passo nos leva a um trabalho de reflexão em torno das barreiras encontradas, falhas cometidas, problemas descobertos e avanços conquistados.

É sabido que não existe um manual universal, que se apresente em tal perfeição que disponha em detalhes os procedimentos, métodos e técnicas, a serem executadas passo a passo na pesquisa acadêmica, e que seguramente gerem resultados satisfatórios para o campo em relevo. Neste cenário, o trabalho empírico é salutar à condução da pesquisa. Permite-nos

mergulhar no universo investigado, e ao emergir, respiramos com as informações necessárias para o nosso estudo.

Em uma reflexão sobre o método utilizado nas pesquisas, Lago e Benetti (2007) com-partilham a preocupação sobre a necessidade de compreensão sobre quais as proposições da disciplina em que o projeto foi gestado, pois deste olhar, sairá a formatação do método.

Para a viabilidade e atendimento dos objetivos da pesquisa, foram escolhidos métodos mistos em termos coletas de dados e análise de informações, os quais explicaremos mais a frente. O plano de pesquisa se desdobrou em etapas, que não ocorreram linearmente, tampouco obedeceram a sequência única, as quais foram acontecendo à medida que nos debruçávamos sobre um determinado platô da pesquisa. Assim, o plano de pesquisa passou pelos seguintes pilares: a) estratégias de investigação; b) escolha da técnica de coleta de dados; e c) tratamento e análise das informações.

O método de pesquisa que norteou a investigação do TEN foi o método histórico com análise documental. Sobre esse método, Lakatos e Marconi (2010, p. 89) explicam:

O método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcan-çaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época.

O método histórico permite analisar documentos, entendidos como evidência, e assim possibilita à pesquisa trabalhar sob a perspectiva de continuidade, ou não, de determinados elementos. Esse método é propício para novas interpretações de fatos inobservados previa-mente, mas que podem ser aplicados a uma lente de estudo específico, no nosso caso, aplicamos a lente das áreas de intervenção da Educomunicação.

Ainda na seara metodológica do TEN, a análise documental foi realizada a partir: de 10 edições do Jornal O Quilombo (de dezembro de 1948 a julho de 1950), publicação oficial do TEN; e do acervo digital do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Sobre esse último, trata-se de um instituto estruturado em 1981, quando foi inaugurado por Abdias Nascimento em seu retorno ao Brasil, após 13 anos de exílio no exterior devido ao regime militar instaurado na sociedade brasileira em 1964. O Instituto foi sediado por um período na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mas desde 1984 a sede do Instituto foi transferida para a cidade do Rio de Janeiro. De acordo com o site do IPEAFRO, o Instituto busca contribuir com a defesa dos direitos de afrodescendentes, da preservação, divulgação da memória, cultura, história e ativismos da população negra. Desde fevereiro de 2020 tentamos agendar uma visita a própria sede do IPEAFRO, mas devido a equipe reduzida de funcionários, num primeiro momento, e posteriormente devido a pandemia causada pela covid-19, foram impossibilitadas a visita à organização. Contudo, trata-se de tarefa que pretendemos realizar após o período pandêmico.

Para seguir a investigação da Adeola e do projeto Diálogos da Diversidade, do CEPAN, realizamos uma entrevista em profundidade, com Denise Teófilo e Raísa Carvalho responsáveis por Adeola, e outra entrevista, também em profundidade, com Francisco Nascimento respon-sável pelo projeto Diálogos da Diversidade, do CEPAN.

Cada entrevista levou cerca de uma hora e trinta minutos, e utilizamos como instru-mentais um questionário semiestruturado. As entrevistas foram realizadas durante o mês de junho de 2020.

Nas entrevistas, abordamos três temas centrais: 1. informações sobre os projetos; 2.

informações sobre a trajetória de vida das pessoas; 3. Informações sobre como se constrói os respectivos repertórios acerca da história e cultura afro-brasileira e africana; 3. o impacto do projeto na vida dessas pessoas.

Entendemos que a entrevista em profundidade busca reconstruir a experiência no encontro com o sujeito que é entrevistado. Mas como se daria essa entrevista em um contexto de distanciamento social? Como imprimir a nossa necessidade quanto a disponibilidade do tempo dessas pessoas sem incomodá-las? Essas inquietações também foram expressas na pergunta do documentarista Eduardo Coutinho: O que quer dizer respeitar uma pessoa? Para ele, significa respeitar a sua singularidade, não importa se estamos lidando com uma pessoa escravizada que ama a servidão, ou uma escravizada que odeia a servidão (LINS, 2004). Segundo Coutinho, muitos documentaristas só ouvem pessoas que dão as respostas de acordo com suas intenções, o que gera um acúmulo de respostas do mesmo tipo, previsíveis, e que são aquilo que o diretor quer ouvir.

Em que pese suas palavras relativas ao universo do cinema, as consideramos oportunas para a escolha da técnica desta pesquisa, a entrevista em profundidade, de natureza subjetiva, torna basilar que as interpretações ponderem a perspectiva da pessoa entrevistada, entendendo que sua vida e seu mundo, nunca serão compreendidos na totalidade, apenas parcialmente.

Trata-se de método útil para uma investigação interpretativa, uma vez que propicia a obtenção com maior riqueza de detalhes de informações pertinentes ao tema estudado.

As entrevistas foram realizadas pela plataforma digital zoom, mas a conexão dos parti-cipantes em ambas as ocasiões apresentou instabilidade, de forma que o registro foi feito em sua maior parte por voz somente, a imagem foi dispensada para garantir maior qualidade da conversa. Todas as pessoas entrevistadas autorizaram o uso das informações nesta pesquisa, e ao final das conversas essa autorização foi formalizada mediante a verbalização de termo de consentimento livre e esclarecido.

Para a análise do conteúdo captado pelas conversas, buscamos apoio na Grounded Theory, traduzida para português como Teorização Fundamentada nos Dados (TFD). A TFD foi concebida na década de 1960, pelos sociólogos Barney Glaser, da Universidade de Columbia, e Anselm Strauss, da Universidade de Chicago, e está ancorada na Sociologia.

A TFD tem enfoque qualitativo, contudo ancora-se em esquema lógico e explicativo acerca dos fenômenos e processos dedutivos, por meio das hipóteses que se relacionam aos conceitos (Strauss & Corbin, 2008). A TFD tem como intuito estabelecer um debate que explique o fenômeno a ser investigado, e possibilite à/ao pesquisadora/or desenvolver e rela-cionar conceitos, cujo peso se dá pela compreensão do fenômeno tal como ele emerge dos dados. Compreende-se que a TFD tem papel valioso no processo de análise e significação dos dados. Por permitir o reconhecimento de um tema, ou até mesmo de uma teoria conceitual, que justifique as experiências investigadas.

Conforme Mayring (2002), a grounded theory parte da suposição de que a/o pesquisadora/

or, já durante a fase de coleta de dados, desenvolve, aprimora e interliga conceitos teóricos, construtos e suposições, de modo que levantamento e análise se superpõem. No percurso do levantamento de dados forma-se um referencial teórico, que está sendo modificado e com-pletado passo a passo.

Aterrissando na nossa realidade, a partir das entrevistas realizadas, aplicamos a lente das áreas de intervenção da Educomunicação, bem como criamos categorias que perpassam as três experiências e estabelecemos um debate a partir dessas marcações.

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