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Considerando que o Brasil se caracteriza por ser um país de grande dimensão territorial o Governo Federal, por intermédio do MEC, tem buscado fomentar ações de

formação inicial e continuada via Educação a Distância – EaD, visando atingir o maior número possível de professores.

Dentre as diversas políticas emanadas pelo MEC, via Secretaria de Educação a Distância, citamos o Programa de Formação Continuada Mídias na Educação8. Este Programa surgiu a partir da avaliação positiva do curso TV na Escola e os Desafios de Hoje9. Com foco na formação de professores para que aprendam a utilizar de forma significativa as diversas mídias no espaço escolar, este programa tem se apresentado como uma oportunidade de preparar o professor para desenvolver projetos educativos que integrem as mídias, ao mesmo tempo que discutam o seu papel de forma crítica e contextualizada.

O Programa Mídias na Educação é desenvolvido em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime). Por meio dessa ação o Governo Federal visa favorecer formação continuada aos educadores das escolas públicas, na perspectiva de que os mesmos incorporem as diversas mídias em suas práticas pedagógicas.

O curso é ofertado pelas Universidades públicas na modalidade a distância, e apresenta como objetivo “proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso”. O programa tem três níveis de certificação, compostos por ciclos de estudo: o básico, de extensão, com 120 horas de duração; o intermediário, de aperfeiçoamento, com 180 horas; e o avançado, de especialização, com 360 horas.

A primeira edição do Mídias na Educação ocorreu em 2006 com a oferta do Ciclo Básico, disponibilizando aos profissionais da Educação Básica 10 mil vagas, e, em 2008 ofertou-se os Ciclos Intermediário e Avançado do curso. De 2006 a 2010 o Programa atingiu o quantitativo de 91.258 alunos, em todo território nacional 10.

Em Pernambuco, esta ação do governo federal também se fez presente mediante a articulação entre a UFPE e as Secretarias de Educação estaduais e municipais. As vagas do curso Mídias na Educação foram distribuídas da seguinte forma: a UFRPE 8 Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/midias/projetobasico.pdf. Acessado em 11/07/2013. 9 Disponível em http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/175900Midiaeducacao.pdf. Acessado em 12/07/2013. 10

Relatório disponível em https://i3gov.planejamento.gov.br/textos/livro3/3.2_Educacao.pdf

coordenou a formação dos professores vinculados à rede estadual e a UFPE a dos educadores da Rede Municipal. No período de 2006 a 2010 mais de 200 professores da RMER realizaram o Curso Mídias na Educação.

Portanto, o Mídias na Educação é mais um programa que se inscreve no contexto da consolidação da política de formação em TIC dos educadores da Rede Municipal de Ensino do Recife. Porém, nos estudos de Santos (2010), que teve como objetivo analisar as concepções de formação continuada que orientaram a política de formação docente da Secretaria de Educação, Esportes e Lazer (SEEL), não há menção de ações de formação em tecnologia para os docentes da Rede, apesar de a autora citar que há uma vinculação da política local com a nacional na área de tecnologia na educação, mencionando inclusive os programas do PROINFO, como as instalações de NTE’s (SANTOS, 2010, p. 200). A ausência da menção à política de formação de professores em TIC existente na Rede reforça a relevância do nosso estudo em buscar compreender como as instâncias responsáveis pela formação continuada dos docentes do município se articulam para planejar e executar ações de formação.

3.3 Escola de Gestores

A Secretaria de Educação Básica (SEB), do Ministério da Educação, responsável pelas políticas educacionais para educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, tem implementado diversos programas com o propósito anunciado de melhorar a qualidade da educação pública em todo o território brasileiro. Dentre os diversos programas desenvolvidos pela SEB, identificamos o Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública que, de certa forma, influenciou na política interna da RMER no que concerne à formação continuada à distância de gestores, coordenadores pedagógicas e demais profissionais de educação integrantes da equipe gestora da escola de educação básica.

O Programa constituído no âmbito da SEB/MEC apresenta como objetivos: - Formar, em nível de especialização (lato sensu), gestores educacionais efetivos das escolas públicas da educação básica, incluídos aqueles de educação de jovens e adultos, de educação especial e de educação profissional.

- Contribuir com a qualificação do gestor escolar na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação escolar com qualidade social.

A primeira edição do Programa ocorreu em 2005 como uma experiência-piloto, a partir de um curso de extensão, com carga horária de 100 horas, ofertado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A meta traçada nesta primeira experiência era atingir 400 gestores, em exercício em escolas públicas.

Em 2006, o Programa passou para a coordenação da SEB/MEC e ofereceu no período de 2006 a 2010 os seguintes cursos:

QUADRO 4

CURSOS DA ESCOLA DE GESTORES/SEB/MEC

ANO CURSO CH PÚBLICO-ALVO

2006 Curso de Pós-graduação (lato sensu) em Gestão Escolar

400 horas

Diretores e Vice-diretores

2009 Curso de Pós-Graduação (lato sensu) em Coordenação Pedagógica 405 horas Coordenadores pedagógicos e\ou profissionais que exercem função equivalente 2010 Curso de Aperfeiçoamento em Gestão Escolar 200 horas Diretor e Vice-Diretor,

ou o equivalente Fonte: MEC/SEED – Relatórios de Gestão 2006/2010

O desenvolvimento desses cursos ficou sob a responsabilidade de Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) existentes em todo o território nacional em estreita parceria com a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), Secretarias Estaduais e Municipais da Educação.

O Curso de Pós-graduação (lato sensu) em Gestão Escolar11 destina-se aos dirigentes das escolas públicas de educação básica e o currículo está estruturado em três eixos, a saber: o direito à educação e a função social da escola básica; políticas de educação e gestão democrática da escola; projeto político-pedagógico e práticas democráticas da gestão escolar. A forma para ingresso no curso dá-se através de duas etapas: os sistemas estaduais e municipais realizam uma pré-inscrição e as Universidades realizam uma seleção técnica com os candidatos. Prioritariamente são atendidos os municípios com baixo Ideb (Índice de Desenvolvimento da educação Básica). 11 Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14669&Ite mid=947.Acessado em 15/07/2013.

Os candidatos também precisam preencher os requisitos básicos, quais sejam: - Ter concluído curso de graduação plena.

- Ser gestor, efetivo e estar em exercício, de escola pública municipal e/ou estadual de educação básica.

-Ter disponibilidade para dedicar-se ao curso.

- Estar disposto a compartilhar o curso com o coletivo da escola.

- Evidenciar disposição para construir, com a comunidade escolar e local, o projeto político-pedagógico no estabelecimento de ensino onde atua.

A avaliação e certificação são de responsabilidade da Universidade sede do curso. Desde o seu lançamento até 2010, a Escola de Gestores promoveu duas edições do Curso de Especialização em Gestão Escolar. A Secretaria de Educação do Município do Recife também foi contemplada com algumas vagas. Vale ressaltar que a distribuição das vagas ficou a cargo da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) de Pernambuco.

Compreendendo a dimensão do trabalho do coordenador pedagógico, bem como sua importância para uma boa gestão escolar, a SEB/MEC também ofereceu o Curso de Pós-Graduação (lato sensu) em Coordenação Pedagógica12, no âmbito do programa Escola de Gestores. O curso tem carga horária de 405 horas e é desenvolvido na modalidade à distância pelas Instituições de Ensino Superior (IES). O currículo desse curso é estruturado em torno do eixo Organização do Trabalho Pedagógico, abrangendo a dupla função do trabalho exercido pelo coordenador pedagógico: o espaço da escola, no que se refere a questão da gestão, e o espaço da sala de aula.

Foram definidos pela Coordenação do Curso em articulação com a Secretaria de Educação os requisitos necessários para participar do curso:

• Ser graduado em Pedagogia ou outra licenciatura plena.

• Pertencer à rede pública municipal e/ou estadual de educação básica, incluindo a Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação Profissional.

• Ter disponibilidade para dedicar, no mínimo, 10 horas/semanais ao curso.

O Programa Escola de Gestores ofereceu em 2010 o Curso de Aperfeiçoamento em Gestão Escolar. O curso objetivava contribuir com:

- a qualificação do gestor escolar, por meio de formação continuada em serviço, na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação básica com qualidade social;

12

Disponível em

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14670&Ite

- a formação técnico-política de gestores de instituições de Educação Básica por meio da reflexão sobre os desafios atuais enfrentados pelas instituições educacionais, a gestão democrática, os processos de planejamento, participação e decisão colegiada.

A “gestão democrática para garantia da qualidade da educação” constituiu o eixo norteador do curso. As temáticas vivenciadas neste curso foram divididas em quatro salas ambiente, a saber: Escola Pública e Desafios Atuais; Planejamento e Organização da Escola; Gestão Democrática Colegiada e Qualidade da Educação; e Gestão Financeira nas Instituições Educacionais.

Com esta grade curricular este curso se propunha preparar o gestor para lidar com a complexidade da dinâmica de gerir uma escola pública, no sentido de refletir melhor sobre sua atuação e saber solucionar os problemas inerentes do cotidiano escolar.

Na primeira edição do Curso da Escola de Gestores, foram selecionados os gestores e vice-gestores das escolas da RMER os quais apresentavam perfil pouco afeito ao uso das tecnologias, ou seja, havia dificuldade para que os gestores enquanto cursistas interagissem com a plataforma e realizassem as atividades propostas. Em paralelo, a RMER já dispunha de estrutura e equipe consolidadas com aptidão para realizar o acompanhamento às políticas de educação tecnológica implementadas pela Secretaria de Educação. Dessa forma, foi disponibilizado a esses cursistas o apoio tecnológico necessário por meio dos profissionais das UTEC para que pudessem realizar o curso utilizando as ferramentas digitais de forma a otimizar o desempenho dos mesmos. Nas edições posteriores da Escola de Gestores, as UTEC exerceram o mesmo papel de auxiliar os gestores e coordenadores pedagógicos no transcorrer do curso. Acreditamos que a experiência tenha possibilitado aos gestores a compreensão da potencialidade da EaD na formação dos educadores, como também proporcionado uma melhor reflexão acerca da gestão das tecnologias no ambiente escolar.

Percebemos que um dos principais ganhos para a RMER ao participar das edições da Escola de Gestores, foi além de especializar o corpo docente para as funções de gestão e coordenação pedagógica, proporcionou ampliar o olhar para o uso pedagógico das tecnologias na medida em que lhes foi possibilitado vivenciar uma formação a distância, ocorrendo dessa forma, a descoberta das inúmeras ferramentas de apoio ao processo de ensino-aprendizagem.

3.4 O Pradime

Visando contribuir com os dirigentes da educação municipal no que se refere ao gerenciamento e a implementação de políticas educacionais nos municípios, o MEC criou, em 2009, o Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (Pradime13) em parceria com a UNDIME. A finalidade do Programa é proporcionar aos dirigentes municipais de educação um espaço permanente de formação e troca de experiências, visando cumprir com as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) e pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE14). O PDE surgiu em 2007 e tinha como principal finalidade traçar as estratégias e definir as ações necessárias para que fossem alcançadas as metas do PNE, buscando a melhoria da qualidade da educação.

Em sua primeira edição, abril de 2009, o Pradime atendeu prioritariamente os municípios dos estados do Nordeste e foi coordenado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A partir de 2010 a oferta do curso se expandiu a todos os municípios brasileiros por meio de parceria com as Instituições Federais de Ensino Superior – IFES.

O Pradime está formatado da seguinte forma: encontros presenciais e formação à distância. Nos encontros presenciais são realizadas palestras, oficinas e socialização de experiências bem-sucedidas de gestão. O curso à distância aborda, dentre outros temas, o planejamento, a gestão e a avaliação do sistema educacional.

Assim como o Curso de Gestão Escolar, a participação dos gestores em uma formação a distância como a do Pradime, poderia representar uma sensibilização para que os mesmos gerissem da melhor forma possível as tecnologias presentes nas unidades de ensino. No entanto, desde 2009 quando o programa foi implantado não houve participação dos gestores municipais na referida formação. Tal fato caracteriza uma falta de investimento do poder público na formação continuada dos gestores, dimensão importante para o desenvolvimento profissional destes profissionais.

13 Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=219&Itemid =448 Acessado em 15/07/2013 14 Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=176 Acessado em 15/07/2013.

A análise destas iniciativas do governo federal na área de educação permite afirmar que várias políticas governamentais foram construídas na última década com o objetivo de fortalecer as políticas educacionais locais.

No caso estudado, que trata da política de formação de professores em TIC na RMER, constata-se que o desenvolvimento de programas federais, tais como ProInfo, Mídias na Educação, Escola de Gestores e Pradime repercutiram na constituição de políticas locais voltadas para essa área. No âmbito da Secretaria de Educação do Recife os referidos programas, em especial o ProInfo, repercutiram na política pedagógica interna da rede, demandando toda uma infraestrutura para que esta política encontrasse as bases necessárias para a sua consolidação. O Departamento de Tecnologia na Educação (DTE), existente em 2001 e que estava subordinado a Diretoria de Programas Especiais, eleva-se ao status de Diretoria Geral de Tecnologia na Educação e Cidadania (DGTEC) de acordo com a lei 10.108/05 do Decreto 21120/05, num reconhecimento do estatuto e da importância do trabalho que estava sendo desenvolvido na área.

A DGTEC tinha como responsabilidade, além de equipar as unidades educacionais com laboratórios de informática, via ProInfo/MEC, coordenar/acompanhar as atividades de formação de gestores e professores em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) da RMER, conforme detalharemos no capítulo seguinte ao analisarmos a trajetória da política de formação de professores em TIC na RMER no período de 2001-2010.

4 POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM TIC NA RMER

Conforme descrito no capítulo anterior, a DGTEC passa a ocupar um lugar estratégico na estrutura da Secretaria de Educação, ao dialogar no mesmo nível com as demais diretorias da SEEL, incluindo a diretoria de ensino, a qual detinha anteriormente a primazia na definição da agenda política de ensino e formação docente.

Nesta condição, a Diretoria Geral de Tecnologia na Educação e Cidadania inicia um processo de influência na agenda de formação continuada dos professores, constituindo-se enquanto lócus responsável pela estruturação, inserção e acompanhamento dos envolvidos nos cursos de formação continuada promovidos pela SEB/MEC.

Assim, neste capítulo, analisaremos a política de formação de professores em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) implementada pela Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER), no período de 2001 a 2010. Neste período, que corresponde a três gestões na Prefeitura do Recife, ocorreram reformas administrativas no âmbito da Secretaria de Educação e que influenciaram a referida política. Entender as dimensões dessas reformas e suas consequências para a política educacional requer revisitar o contexto sociopolítico da cidade do Recife e que interferiram na construção das políticas de formação do magistério no âmbito da Secretaria de Educação.

Inicialmente descreveremos as primeiras ações de inserção das TIC na política de formação de professores da RMER, por meio da Secretaria de Educação (SE), em seguida, discutiremos as diversas reformas administrativas ocorridas na esfera municipal que, na nossa compreensão, concorreram para o processo de construção/reconstrução da referida política e, finalmente, apresentaremos como ocorre o processo de articulação entre as duas diretorias da Secretaria de Educação responsáveis por ações de formação continuada para os educadores da RMER.