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Módulo III – Grupo de Coordenação Local do Programa de Prevenção e

2. DESCRIÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA DO DESENVOLVIMENTO DE

2.3. Módulo III – Grupo de Coordenação Local do Programa de Prevenção e

O terceiro módulo de estágio corresponde ao Módulo III, que decorreu no Grupo de Coordenação Local Do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (GPL-PPCIRA), no período 26 de Outubro a 19 de Dezembro, com uma carga horária total de 180 horas de contacto.

O Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) surge com a junção do “Programa Nacional de Controlo de Infeção” e do “Programa Nacional de Prevenção de Resistência aos Antimicrobianos”, através do Despacho do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde nº 2902/2013 de 22 de Fevereiro, ambos com estratégias de intervenção comuns e/ou complementares.

A conjugação destes dois programas emergiu da necessidade de priorizar o controlo das IACS e o controlo do uso abusivo de antimicrobianos com relação direta no aumento da resistência dos mesmos pelos microrganismos, dificultando o tratamento adequado ao doente.

Os Grupos de Coordenação Local (GCL) assumem um papel fundamental na divulgação, implementação e verificação de medidas/procedimentos para prevenir e controlar o

aumento da incidência das infecções associadas aos cuidados de saúde que trazem cada vez mais responsabilidades ao nível das organizações de saúde.

As IACS não são um problema novo, assumem cada vez maior importância em Portugal e no resto do mundo. Segundo a Direção Geral de Saúde (DGS, 2012), Portugal é um dos países com taxas elevadas de infeção associada aos cuidados de saúde, de resistência aos antimicrobianos e de uso de antimicrobianos. O objetivo geral deste último Programa é a redução da taxa de infeções associadas aos cuidados de saúde, hospitalares e da comunidade, assim como da taxa de microorganismos com resistência aos antimicrobianos. Como objetivos específicos advém a vigilância contínua da infeção hospitalar, do consumo de antibióticos e da incidência de microrganismos multirresistentes. Para tal feito devem ser adoptadas pelas instituições de saúde as seguintes estratégias:

1- Definição e normalização de estrutura; 2- Reforço da vigilância epidemiológica;

3- Normalização de procedimentos e práticas clínicas; 4- Informação/Educação;

5- Incentivos financeiros por via do financiamento hospitalar.

A GCL-PPCIRA deste Hospital dispõe de um espaço próprio, funcionando todos os dias úteis das 9 horas às 17 horas. É constituído por uma enfermeira especialista em enfermagem médico-cirúrgica a tempo inteiro e outra enfermeira a tempo parcial, um médico coordenador especialista em Medicina Interna a tempo inteiro. Do grupo consultivo, faz parte um médico Infecciologista e um Farmacêutico, nomeados pelo Conselho de Administração que constituem o núcleo executivo. A sua composição integra ainda um núcleo de membros dinamizadores (um por cada serviço do hospital) que têm como função a articulação entre a GCL-PPCIRA e os respectivos serviços, facilitando deste modo a disseminação da informação pelo hospital.

Desde o meu início de exercício da atividade profissional, a atualização contínua de conhecimentos sobre as práticas seguras foi uma preocupação constante, sendo as boas práticas transversais a todas as áreas da saúde e com grande impacto nos cuidados prestados aos doentes e sua família. Na abertura deste hospital surgiu a oportunidade de ser membro dinamizador do atual serviço, deste feito surge o grande interesse em realizar estágio neste serviço.

De acordo com a especificidade do GCL-PPCIRA e as competências a desenvolver, o objetivo geral delineado para este estágio foi: desenvolver competências no âmbito de

controlo de infeção hospitalar para a melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem, integrando a equipa e os programas deste Serviço.

O facto deste estágio não contemplar a prestação direta de cuidados de enfermagem, não deixou de suscitar expetativas e ansiedade no que concerne ao desenvolvimento de competências de enfermeiro especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica.

O período de integração na equipa foi facilitado por exercer funções no mesmo hospital, ser o Membro Dinamizador do serviço e pelo facto de toda a Equipa demonstrar recetividade na partilha de conhecimentos, com especial destaque à enfermeira orientadora que demonstrou ser perita nesta área de atuação e que muito colaborou na prossecução dos objectivos deste estágio.

O GCL-PPCIRA desenvolve diariamente um trabalho de proximidade com os diversos serviços do hospital, de forma a implementar um programa eficaz de prevenção e controlo de infeção, que se traduza em ganhos em saúde, aumentando a segurança dos doentes. Neste estágio, o primeiro objetivo específico delineado foi: conhecer a dinâmica

funcional do GCL-PPCIRA do HBA.

O conhecimento de toda a dinâmica do GCL-PPCIRA e das competências do enfermeiro que trabalha neste serviço implicou uma consolidação de conhecimentos teóricos, pesquisa e leitura de artigos atualizados, das normas atualizadas da Direção Geral de Saúde (DGS), do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos, das Orientações Técnicas relativos à GCL-PPCIRA assim como outros documentos partilhados pela Enfermeira Orientadora.

A Vigilância Epidemiológica (VE) é uma das atividades do GCL-PPCIRA que está definida no Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de Saúde (PNCI). Esta é uma componente fundamental da prevenção e controlo das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS). Segundo a DGS (2012) as infeções nosocomiais da corrente sanguínea (INCS) são as infeções adquiridas no hospital que mais contribuem para a morbilidade e mortalidade hospitalares e para o aumento de custos na prestação de cuidados de saúde. O envolvimento direto do GCL-PPCIRA e a mobilização da rede de profissionais dinamizadores (Membros Dinamizadores) nos

serviços, criam uma dinâmica de comunicação, favorecendo as atividades de controlo de infeção.

A VE é um dos fatores de maior sucesso no desenvolvimento e estabelecimento de estratégias para compreender e prevenir as IACS, sendo que cerca de 20% das mesmas podem ser evitadas com medidas efetivas de prevenção e controlo da infeção (PINA et al., 2010).

O registo da infeção é um processo contínuo, ativo e sistemático que se inicia com a positividade dos produtos ao nível laboratorial e respetiva identificação do agente, análise epidemiológica, introdução dos dados para estatística e intervenção em tempo real ao nível hospitalar com as seguintes medidas: colocação de doentes em isolamento, identificação de doentes que se enquadram no protocolo de descolonização, aferição da antibioterapia instituída e outros aspetos de intervenção do GCL-PPCIRA. Estuda-se de forma sistemática a infeção nosocomial da corrente sanguínea segundo o Protocolo Nacional de Vigilância de Infeção Nosocomial da Corrente Sanguínea (INCS), no PNCI e também de infeções/colonizações por microrganismos epidemiologicamente significativos (MES). Pode dizer-se também que a VE “encoraja os profissionais de saúde que prescrevem e prestam cuidados a cumprir com as recomendações de boas práticas; a corrigir ou melhorar práticas específicas e avaliar o seu impacto, sendo que por último permite detetar precocemente surtos de infeção e monitorizar periodicamente os dados de avaliação de progresso” (Portugal, 2008, p.10).

No decorrer do estágio houve uma participação ativa em todas as atividades relacionadas com a VE, com o acompanhamento da Enfermeira Orientadora. Desde a análise de processos de doentes com culturas positivas: recolha de dados, registo, análise, interpretação e divulgação dos dados.

Esta participação na VE permitiu a abordagem de questões complexas de modo sistemático e criativo, no sentido de aprofundamento dos conhecimentos, com reflexão na e sobre a prática de forma crítica, baseando todas as intervenções na evidência científica. Foi desenvolvida uma metodologia de trabalho eficaz na assistência ao doente infetado/colonizado com um microrganismo multirresistente e epidemiologicamente significativo, e foi também demonstrada capacidade de trabalhar de forma adequada, na equipa interdisciplinar e multidisciplinar.

A VE é realizada com a colaboração do laboratório de microbiologia do hospital. Neste contexto, houve oportunidade de visitar o Laboratório de microbiologia (APÊNDICE X). Este momento serviu para uma melhor compreensão desta articulação, bem como para a aquisição de conhecimentos aprofundados na colheita e transporte de amostras, funções em que os enfermeiros são fundamentais. Esta atividade foi enriquecedora para a prática profissional, pois resultou de transporte de informação para a o contexto de trabalho, emergindo em conversas informais com a equipa do serviço, nomeadamente como membro dinamizador do GCL-PPCIRA, no sentido de sensibilizar a equipa de enfermagem para a importância de conhecer os princípios e cumprir as regras de colheita e transporte como fundamental na correta deteção do microrganismo do doente. A partilha deste conhecimento permitiu melhorar práticas e reforçar na equipa a importância de priorizar as colheitas de espécimes como um dever inerente ao compromisso que se estabelece com o doente, com o intuito de não atrasar o seu tratamento e consequentemente a sua recuperação, comunicando aspetos complexos de âmbito académico e profissional, demonstrando zelo pelos cuidados que se prestam aos doentes.

A visita à Central de Esterilização foi outro momento único, uma experiência vantajosa e de extrema importância, promotor de aquisição de conhecimentos neste contexto de estágio no GCL-PPCIRA (APÊNDICE IX). Este serviço é uma componente essencial do processo de garantia de qualidade dos cuidados prestados aos doentes e com um forte impacto na prestação de cuidados. O controlo da infecção assume também aqui uma grande importância no sentido de se minimizar riscos para o doente e profissionais de saúde. Esta atividade foi também uma mais-valia na prática de cuidados, resultando na revelação do trabalho efetuado neste serviço e partilhando com a equipa do serviço, nomeadamente como membro dinamizador, no sentido de sensibilizar os colegas para a importância de conhecer os princípios e cumprir as regras de manuseamento e acondicionamento de Dispositivos Médicos contaminados e o acondicionamento do material esterilizado no serviço. Na prática profissional, constata-se que maioria dos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e assistentes operacionais) não estão consciencializados da importância do reprocessamento dos Dispositivos Médicos para a diminuição das IACS, que é a causa de uma elevada taxa de morbilidade e mortalidade a nível mundial.

A Formação é outra das atividades desenvolvidas pelo GCL-PPCIRA. Surgiu a oportunidade de participação como observadora ao “Curso Básico de prevenção e controlo de infeção para Assistentes Operacionais”. O objetivo desta formação é garantir que os

profissionais de saúde conheçam as precauções básicas do controlo de infeção (PBCI), para segurança dos doentes e dos profissionais de saúde, contribuindo para a prevenção das IACS. Este grupo profissional é funcionalmente dependente da supervisão dos enfermeiros, como enfermeira especialista, esta formação permitiu desenvolver pensamento reflexivo e competências a nível da supervisão. No decorrer da formação foram identificadas dúvidas e erros na prática de cuidados por parte desta categoria profissional, tendo sido efetuado os esclarecimentos necessários para a melhoria dos cuidados prestados, contribuindo para a prevenção das IACS. Este momento foi oportuno para analisar as dificuldades e as principais dúvidas dos Assistentes Operacionais e alertou para determinadas situações que ocorrem no meu serviço.

Neste percurso surge também a oportunidade de participar como formanda nas 1as

Jornadas PPCIRA (ANEXO III). Esta participação foi importante, pois proporcionou o

aprofundamento dos conhecimentos nesta área. O objetivo central deste evento foi a reunião dos diversos profissionais de norte a sul do país e o debate das intervenções e estratégias adoptadas e outras a adoptar, nas várias instituições de saúde. Houve divulgação de diversas experiências de boas práticas nos três vetores fundamentais de intervenção do PPCIRA: vigilância epidemiológica, programa de apoio à prescrição de antibióticos e campanha de precauções básicas de controlo de infecção. Este encontro permitiu a troca de experiências e discussão de estratégias de implementação. Mediante as temáticas abordadas a sensibilização para esta área aumentou havendo também partilha de informação com colegas do serviço. Do que foi transmitido durante as Jornadas, pude apurar que ainda há muito a modificar nas nossas práticas em Portugal, no que diz respeito à prevenção das IACS.

Outro dos assuntos abordados nestas Jornadas foi a apresentação das propostas dos vários Feixes de intervenções (bundles) a implementar nos Hospitais, aprovadas pela DGS. Foi apresentada a proposta do Feixe de intervenções para a prevenção da PAV, publicada a 16 de Dezembro para discussão pública (Norma nº 021/2015 de 16/12/2015 - ANEXO IV). Para consecução do segundo objetivo proposto para este módulo: contribuir para a

melhoria e segurança dos cuidados na prevenção da Pneumonia associada ao ventilador (PAV), foi uma mais-valia a abordagem que houve nas Jornadas relativamente

A implementação do Feixe de Intervenção da PAV na UCI do Hospital e a redução da taxa de incidência da PAV é um dos objetivos do GCL-PPCIRA e do próprio serviço. Nesta linha de acção foi agendada uma reunião com o Director Clínico da UCI, a Médica Intensivista e o Enfermeiro responsáveis pelo Grupo de trabalho das PAV’s na UCI, Enfermeira e Médico responsáveis do GCL-PPCIRA onde foi apresentado o feixe de intervenções para a prevenção da PAV, ostentado pela DGS, e a proposta de um estudo prévio/auditoria a ser realizado na fase pré implementação do Feixe de intervenções. O objetivo deste pré-teste referente às intervenções a implementar na UCI, foi a validação dos critérios definidos pela norma da DGS, verificação das intervenções em não conformidade e sugerir oportunidades de melhoria. Foi elaborada uma checklist/grelha de observação (APÊNDICE X), discutida com a enfermeira orientadora e a enfermeira responsável da UCI, e procedeu-se a uma observação direta das práticas, no total de cinco auditorias. Nesta fase do percurso foi possível exercer supervisão do exercício profissional. Os resultados obtidos foram comunicados e submetidos a uma análise crítica, numa reunião previamente agendada, com a mesma equipa (APÊNDICE XI). Esta sessão foi apresentada em powerpoint e conjeturou-se discutir e sugerir melhorias perante o que tinha sido observado.

Face à importância dos resultados obtidos, tornou-se pertinente e importante a partilha desta informação à restante equipa de enfermagem, que não conseguiu estar presente nesta reunião por sobrelotação de doentes na UCI. Pela indisponibilidade do serviço e pelo término do período de estágio, ficou o compromisso, junto dos responsáveis do serviço, de assegurar a transmissão desta informação em futuras formações previstas no plano de implementação do Feixe de intervenções no serviço.

Este último módulo de estágio, no GCL-PPCIRA encerra com o aperfeiçoamento de competências que foram adquiridas ao longo do tempo, não só durante todo o percurso profissional em contexto de trabalho, como no percurso académico relatado neste relatório.

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