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6. RELATO DA APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA

6.6 Módulo 04

Os alunos receberam as cópias do artigo de opinião "Redes Sociais: exposição ou intromissão? “, fizeram um a leitura silenciosa, individual, e depois leram a projeção do texto em slides. A discussão a partir do artigo se deu com as seguintes perguntas, "tudo me é permitido na internet?", " sei me comportar nas redes sociais". Por se tratar de um tema do cotidiano deles, cuja repercussão de um problema recente na escola envolvendo exposição indevida, ainda estar sendo sentida por eles, percebi nos alunos uma resistência em querer posicionar-se diante da turma, acredito que por medo de represálias.

Figura 06- Print do texto, exibido em sala de aula.

Fonte: Acervo da autora- 2014.

Para contornar essa resistência, projetamos um vídeo "Pense antes de postar",44 cujo tema é a impossibilidade de controlar aquilo que se joga nas redes

sociais. Após o vídeo, os alunos ficaram mais à vontade para discutir o assunto e se

que os alunos produzem o Diário como se estivesses respondendo perguntas estanques, sem relacioná-las ou configurá-las como um todo coeso.

44 Vídeo on line. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=Vlh8aZWAYJg > acesso em 15

posicionaram de forma bem incisiva sobre os benefícios das postagens. Indaguei se havia algum ponto negativo no uso das redes sociais, ou se existia entre eles alguém que já se envolvera em algum problema por postagem indevida.

Figura 07- Print do vídeo exibido em sala.

6.6.1 Primeiro texto do aluno - o retrato de um plágio

Esse fragmento foi selecionado se tratar de plágio total da internet. O aluno apenas copiou o primeiro texto que apareceu na ferramenta de busca45. Ele não

seguiu nenhum dado referente à definição de Diários de Leituras, ou tentou de alguma forma se posicionar no comentário produzido. Essa atitude pode ser interpretada apenas como tentativa de burlar uma atividade, fazendo-a do jeito mais simples. No entanto, prefiro analisar o artigo de opinião reproduzido como testemunha do silêncio escolhido pelo aluno-autor. Isso é bastante revelador do que o aluno imagina ser a produção de texto e a aula de Língua Portuguesa, produzir algo que agrade a professora, e é possível agradar mais expondo o texto de outra pessoa, que mesmo sem ter participado da discussão, tem mais domínio do assunto e cuja opinião será

melhor recebida pela professora.

Nesse sentido, encontramos em Casado Alves,

A linguagem como interação social pressupões a interlocução, a relação intersubjetiva que considera os níveis dessa interação, os projetos de dizer, os posicionamentos sociais, as ideologias, os valores, como também o contexto maior no qual essa interação acontece e que abarca necessariamente, os sujeitos, as histórias e os lugares. ( in Rodrigues, Casado Alves e Campos, 2014, p. 14)

Mesmo uma cópia comunica algo. Mesmo um texto reproduzido fielmente de terceiros revela um enunciado concreto, produzido por um sujeito concreto, pois o que revela essa atitude.

A concordância é uma das formas mais importantes de relações dialógicas. A concordância é muito rica em variedades e matizes. Dois enunciados

45 Fizemos a experiência de digitar a temática do texto numa ferramenta de buscas, e esse foi o

primeiro texto que apareceu.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1365417&seccao=Paulo%20Almeida&tag=Op ini%E3o%20-%20Em%20Foco acesso em 23/12/2014. O título do artigo de opinião copiado é “O

perigo das redes sociais”, de Paulo Pereira de Almeida.

Redes sociais: Exposição ou intromissão

Existem milhões de pessoas em todo o mundo ligadas ás chamadas redes sociais virtuais. Sendo um espaço virtual em que por definição, o contato físico não existe e tratando-se de um lugar onde é fácil cada um inventar uma personagem ou uma personalidade.

idênticos, se são dois enunciados pertencentes a diferentes vozes e não só a um enunciado, estão ligados por uma relação dialógica de concordância. (BAKHTIN, p. 331, grifo do autor, 2011)

Ainda sobre a cópia, uma indagação pode ser feita. É possível afirmar, que após nove anos de educação básica, esse aluno é destituído de voz, no sentido de projeto de dizer. A resposta a essa pergunta é de paradoxal, uma vez que sendo sujeito ele tem o que dizer, mas a colocação de um texto de outro assinado como se fosse dele, revela a que tipo de situações esse aluno foi submetido. É importante refletir que escolher reproduzir a voz de um outro faz com que esse aluno afirme: “nesses anos de escola, não me sinto preparado para opinar sobre tema algum, mesmo que seja um tema do meu cotidiano”. A que silêncios esse aluno foi submetido, ao ponto de ele acreditar que a voz do especialista era a que deveria ser ouvida pela professora. Ele se sentia incapaz de opinar sobre o assunto, a tal ponto de usar a internet para burlar uma atividade de aula? Ironicamente, ele se utiliza do estratagema “Ctrl+ C, Ctrl+ V”, ferramenta tão combatida nos meios acadêmicos, a fim de reproduzir a fala de um interlocutor, que no seu ponto de vista teria mais condições de falar sobre o assunto.

Ele teve o trabalho de copista de reproduzir manualmente o texto, com alguns desvios ortográficos, para conferir mais confiabilidade a seu trabalho. Assim, a linguagem para ele não é meio de comunicação, revelador de intenções e sentidos. É mecanismo de engodo, de humilhação, de não-pertencimento, cuja possibilidade de posicionar-se foi alijada pelos anos de escola. Para que falar, se ninguém me escuta, apenas me corrige, me faz copiar, refazer.

Se a estrutura de uma oração pode ser resultado da aplicação de um conjunto de regras, um enunciado, ainda que composto por apenas uma frase, jamais se deixa produzir como resultado mecânico da aplicação de um conjunto de regras. (Geraldi, ler e escreve na escola, p. 3)