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5.3 – MÚSICA NA INVESTIGAÇÃO DAS QUESTÕES TEMPORAIS DOS DISLÉXICOS

No documento Música e dislexia: uma revisão integrativa (páginas 131-135)

A música é caracterizada por oito atributos de percepção ou dimensões, cada uma podendo ser variada de forma independente: ritmo, altura, timbre, andamento, métrica,

contorno, volume e localização espacial (Levitin, 1999; Pierce 1983 apud LEVITIN; TIROVOLAS, 2009).

Vários estudos relacionados têm explorado o tempo de processamento do som usando sequências auditivas simples. Neste domínio, vários paradigmas classicamente usados em psicologia experimental foram adaptados à neuropsicologia. Em um artigo seminal, Efron (1963) investigou a capacidade de pacientes com lesão cerebral para julgar a ordem temporal de dois tons de freqüências diferentes separados por um intervalo de silêncio. Os resultados mostraram que pacientes afásicos com lesões do hemisfério esquerdo exigiram intervalos mais longos (entre 140 e 400 ms) para discriminar a ordem temporal do que pacientes não afásicos com lesão no hemisfério direito ou indivíduos normais (intervalo de 75- ms)(SAMSON et al., 2001).

Os avanços técnicos no estudo neuropsicológico do desempenho da linguagem tornaram possíveis reavaliar a contribuição das variáveis fisiológicas dos domínios gerais como possíveis causas da origem do prejuízo de leitura na dislexia do desenvolvimento. Por exemplo, quando os pares de estímulos auditivos ou visuais são apresentados em sucessão rápida, os estudantes com distúrbios têm dificuldades de leitura muito maiores do que os leitores normais na detecção de diferenças entre os pares de estímulo ou na determinação de qual dos dois estímulos distintos vem em primeiro lugar (Lovegrove 1993; Tallal, Miller e Fitch, 1993 apud WOLFF, 2002). Tais estudos têm motivado a hipótese de longo alcance que subjacentes disfunções fisiológicas do processamento da informação temporal são os déficits nucleares na dislexia do desenvolvimento, e que os déficits de processamento fonológicos podem ser apenas uma de suas expressões clínicas (WOLFF, 2002).

Um elemento comum das teorias que explicam a dislexia é a convicção de que as habilidades de tempo particularmente rápidas (e até certo ponto habilidades de tempo motoras

– motor timing) são uma área problemática fundamental na dislexia. A extensão e a natureza de cada déficit de tempo estão ainda sendo estabelecidas, mas a variedade de resultados nesta área sugere que o assunto do tempo (timing) justifica uma investigação mais aprofundada (OVERY et al., 2003).

O estudo realizado por Wolff (2002) mostrou que o tempo de antecipação e a variabilidade das antecipações para sequências isocrônicas foram significativamente maiores nos alunos disléxicos do que os leitores normais. Também mostrou que as crianças disléxicas levaram muito mais tempo do que os leitores normais para reajustar a batida na volta do tempo regular, após uma mudança abrupta do tempo do metrônomo. Além disso, tiveram dificuldades significamente maiores na reprodução do tempo absoluto e do tempo relativo na batida manual do ritmo (WOLFF, 2002).

Os resultados encontrados por Overy (2003) sugerem que as crianças disléxicas podem sentir dificuldades com aspectos temporais das habilidades motoras e auditivas. As áreas mais aparentes das dificuldades musicais envolvem habilidades motoras rítmicas e habilidades na rapidez do processamento auditivo, refletindo os pontos fracos semelhantes aos vividos pelas crianças disléxicas no processamento da linguagem. Não foram encontradas dificuldades em habilidades melódicas, embora indicando que o tempo pode ser uma área problemática para as crianças disléxicas (OVERY, 2003).

Em outro estudo realizado por Overy et al.(2003), os resultados afirmam que crianças disléxicas podem sentir dificuldades com as habilidades musicais de tempo. O tamanho da amostra relativamente pequena, o número limitado de itens por teste, e a experiência musical um pouco maior do grupo disléxico tornou difícil avaliar a verdadeira natureza e extensão das dificuldades de timing, e as interpretações são, portanto, feitas com cautela. No entanto, houve indicações claras de que as habilidades temporais rápidas e habilidades de ritmo são

áreas de particular dificuldade para as crianças disléxicas, enquanto as habilidades melódicas parecerem relativamente fortes.

Thomson et al.(2006) realizaram um estudo que sugeriu que uma insensibilidade aos pontos do envelope de amplitude persistem na idade adulta para indivíduos disléxicos. A capacidade de distinguir entre as batidas auditivas mais ou menos salientes (ou seja, sons com curva de ascensão curto/longo) está relacionada com a capacidade de leitura mesmo na idade adulta. Na fala, a duração de uma sílaba também pode afetar a sua relevância, e as ligações entre a discriminação da duração, da leitura e ortografia foram, de fato, encontradas nos adultos testados neste estudo.

Pode-se observar que, em todas as pesquisas realizadas com o objetivo de investigar as questões temporais e a música, os resultados mostraram que as crianças disléxicas podem sentir dificuldades com aspectos temporais nas habilidades motoras e auditivas. As áreas mais aparentes das dificuldades musicais envolviam habilidades rítmicas motoras e habilidades na rapidez do processamento auditivo, refletindo os pontos fracos semelhantes aos vividos pelas crianças disléxicas no processamento da linguagem.

Numa situação onde se pode trabalhar somente com um aluno, o uso do metrônomo torna-se possível para retardar a leitura e manter um fluxo constante, num ritmo onde o aluno consegue uma boa precisão. O pânico não se apresenta tão evidente e uma versão da leitura sem pressa e mais honesta é fornecida (OGLETHORPE, 2008a).

Dentre as hipóteses que explicam os déficits da dislexia, a hipótese de déficit cerebelar pode dar suporte às questões temporais relatadas nos estudos. Como visto no capítulo 01, esta hipótese se desenvolveu a partir da hipótese de déficit de automatização. Problemas na habilidade motora e no ponto de automatização no cerebelo são evidências cada vez mais claras que o cerebelo também está envolvido com a linguagem e com habilidades cognitivas.

O déficit cerebelar, portanto, fornece uma explicação parcimoniosa de uma série de problemas sofridos por disléxicos.

Em estudos recentes, tem-se estabelecido evidências diretas de anormalidades neuroanatômicas no córtex cerebelar posterior e também uma anormal (e debilitada) ativação cerebelar na execução de uma sequência de tarefas de aprendizagem motora.

No documento Música e dislexia: uma revisão integrativa (páginas 131-135)