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M ETODOLOGIA E P ROCEDIMENTOS DA P ESQUISA , A NÁLISE E D ISCUSSÃO

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3. M ETODOLOGIA E P ROCEDIMENTOS DA P ESQUISA , A NÁLISE E D ISCUSSÃO

Para o desenvolvimento do presente trabalho, realizou-se uma pesquisa teórica e um levantamento histórico, com o objetivo de conceituar os termos pertinentes e de contextualizar o tema no atual panorama sócio-cultural e educacional.

A pesquisa teórica foi fundamentada em referências bibliográficas que cunham termos e conceitos e que situam os principais objetivos das mídias e das tecnologias educacionais, relacionando-as com as principais correntes da Educação e com suas respectivas interpretações no campo de ensino de Ciências.

A técnica de coleta de dados utilizada foi a de entrevistas no formato semi- estruturado, com gravação do depoimento dado em resposta ao questionário. Segundo LAVILLE E DIONNE (1999, p.188), essa técnica é caracterizada pela aplicação de uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em determinada ordem prevista, embora o entrevistador possa acrescentar perguntas que julgue importantes para o melhor esclarecimento da temática. Recorre-se, assim, a fontes primárias que podem dar subsídios não só ao objeto de estudo específico, mas também ao delineamento do panorama histórico, já que os entrevistados protagonizaram algumas das ações e programas citados na pesquisa histórica.

Sendo constituída assim, a pesquisa aqui desenvolvida possui caráter qualitativo e, predominantemente, histórico, já que utiliza documentos e depoimentos orais. Segundo DEMO (2000, p.151-2), pesquisas que trabalham com a história oral e a aplicação de questionários abertos e gravados são consideradas metodologias qualitativas, uma vez que fazem jus à complexidade da realidade, que nem sempre pode ser captada pela chamada metodologia dura, mais ligada a métodos qualitativos das ciências exatas. Ainda segundo esse autor, depoimentos de peso tendem a aparecer somente com questionários e entrevistas desse tipo (p.156). LAVILLE E DIONNE (1999, p.190) complementam a fundamentação dada para essa escolha, afirmando que bons resultados com essa metodologia são obtidos incentivando o entrevistado a “se expressar livremente, contentando-se [o entrevistador] em retomar as últimas frases deste a fim de prosseguir” em

busca de informações relevantes para o objeto da pesquisa. Quando necessário, o entrevistador pode retomar “o controle das direções tomadas nas interações” para garantir que se mantenha o foco previsto.

O objeto de estudo é a história das mídias e das tecnologias educacionais voltadas à educação, que será analisada com a intenção de se descobrirem alguns dos motivos que explicam o pouco recurso às tecnologias e mídias de apoio ao ensino por parte dos professores de ensino médio, em particular os professores de Física.

Certamente, não basta citar aqui as razões comprovadamente mais óbvias para explicar o problema, constatadas em amplas pesquisas feitas com alunos e professores, incluindo pesquisas patrocinadas pelo próprio MEC, pela Unesco e pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo: formação frágil do professor que ministra aulas de Física e até ausência de habilitação específica, aliadas à falta de recursos e equipamentos em muitas das escolas públicas (tais como salas de microcomputadores com número suficiente de máquinas, laboratório de Ciências, biblioteca etc.). O intuito é buscar a opinião de especialistas mediante uma abordagem histórica do tema, reunindo informações num panorama de investigação que ultrapasse as razões e as características mais óbvias.

Tendo em vista esse objetivo, escolhi como entrevistados três educadores que trabalham com formação docente na universidade. Todos têm atuação destacada na área de instrumentação e tecnologias para o ensino de Física, foram ou são professores ligados a programas de formação docente, têm ampla e importante produção e pesquisa na área e atuaram como protagonistas em diferentes momentos cruciais da história dos programas afins ao tema. Certamente, outros profissionais poderiam ser incluídos nessa lista, mas a escolha metodológica e o tempo limitado do programa de pesquisa indicaram os professores Ernst Wolfgang Hamburger, Cláudio Zaki Dib e Norberto Cardoso Ferreira, todos vinculados ao Ifusp.

O professor Hamburger possui graduação e pós-graduação pela Universidade de São Paulo (1954/1955), doutoramento e pós-doutoramento pela University of Pittsburgh (1959 e 1967, respectivamente). Além de professor da USP, foi diretor da Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O seu currículo mostra vasta atuação na área de pesquisa e desenvolvimento em divulgação científica, bem como em projetos de educação e de popularização das ciências. Liderou ou participou de diversas ações, entre elas os primeiros desdobramentos do PSSC no Brasil, o Projeto de Ensino de Física (PEF) e o Projeto ABC na Educação Científica – “Mão na Massa”. Mais recentemente, passou a exercer o cargo de diretor da Estação Ciência da USP.

O professor Dib é doutor em Física pela USP (1973) e tem currículo relevante dentro da área de tecnologias aplicadas à educação. Participou de projetos importantes, como o Projeto Piloto da Unesco de Ensino de Física. Exerce atividade de consultoria para empresas, onde aplica princípios da tecnologia da educação, notadamente em sua vertente instrucional. Tem publicações destacadas nos temas Tecnologia da Educação, Educação a Distância, avaliação e criação de materiais e sistemas instrucionais. Ministra, desde a década de 1970, as disciplinas “Tecnologia da Educação I” e “Tecnologia da Educação II”, para estudantes da USP dos cursos de graduação e licenciatura nas áreas das ciências da natureza.

O professor Ferreira é licenciado em Física pela USP (1966), mestre em Ensino de Ciências e doutor em Educação pela USP (1980 e 1985, respectivamente), e tem pós- doutorado pela Université de Paris VII (1988). Atualmente é professor colaborador da Universidade de São Paulo, onde ministra há vários anos diversas disciplinas de graduação, com destaque para “O Computador e o Vídeo no Ensino de Física”, “Produção de Material Didático” e “Instrumentação para o Ensino de Física”. Foi um dos principais nomes no projeto Física Auto-Instrutiva (FAI) e no desenvolvimento e manutenção da Ludoteca do Ifusp. Participou como co-autor e colaborador na Proposta Curricular de Física da Cenp para o Segundo Grau (SEE-SP, 1982) e no Telecurso 2000 (Editora e TV Globo, 1996). Seu currículo mostra ênfase em Formação de Professores para o ensino de Ciências, atuando especialmente nos temas “atividades experimentais, lúdicas e de baixo custo”, e “mídias como apoio ao ensino de ciências”.

Todos os entrevistados continuam engajados em ações ligadas à área e produzindo trabalhos dentro e fora do campo acadêmico, além de ministrarem aulas nos programas de graduação (licenciatura) em Física. Os professores Hamburger e Ferreira também orientam alunos do mestrado e do doutorado em Educação e ou Ensino de Física.

Foram aplicados três questionários. Cada um deles continha questões específicas, adequadas ao perfil do entrevistado, mas em todos os questionários pelo menos três questões eram fixas, por estarem mais diretamente relacionadas ao objeto da pesquisa. As entrevistas foram feitas presencialmente, na forma oral, e registradas por meio de gravação. Posteriormente, foi efetuada a transcrição dos depoimentos – e a íntegra dos questionários e respectivos depoimentos estão nos Anexos 4, 5 e 6.

O passo seguinte consistiu em destacar os trechos mais importantes para ajudar a compor o referencial histórico-teórico e os trechos mais pertinentes à discussão do objeto de pesquisa – notadamente a discussão sobre os motivos do baixo índice de utilização de mídias educacionais na prática de sala de aula do ensino médio da rede estadual, dando especial atenção às mídias mais ligadas ao ensino de Física. Assim, foi possível categorizar os dados para facilitar uma discussão mais organizada.