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Tecnologia da Informação e da Comunicação inclui todo o meio utilizado para criação, transferência, armazenamento e manipulação de informações. Nesse campo, destaca-se a telemática, área resultante da fusão da comunicação e da informática, hoje com vasta aplicação no campo educacional. As TICs passam a ser consideradas tecnologias educacionais sempre que estão sendo usadas com o objetivo de gerar um novo conhecimento ou enriquecer a base já existente para o mediador ou usuário, dentro ou fora do espaço escolar.

Para José Armando VALENTE, professor e pesquisador da Unicamp (Nied – Núcleo de Informática Aplicada à Educação), que acompanha o processo de implementação da informática na Educação brasileira e internacional há muitos anos, a informática educacional tem um grande potencial. Ele define informática na educação como a integração do computador no processo de aprendizagem de conteúdos curriculares em todas as modalidades da Educação. Para acontecer, ela pressupõe um professor bem formado e consciente dos potenciais educacionais do computador, bem como das demais tecnologias de informação e comunicação existentes.

VALENTE (1993; 1999), como discípulo de Seymor Papert, prega a utilização das novas tecnologias numa abordagem construcionista. A linha construcionista tem uma fundamentação piagetiana, mas adaptada para o uso do computador como ferramenta de construção de conhecimento, prevendo um aluno num papel protagonista. Nessa linha, valorizam-se a formação do professor e a atuação com projetos em que os aprendizes envolvem-se tanto do ponto de vista prático (o fazer em si, protagonista) quanto do ponto de vista afetivo (motivação para o fazer). Isso é justificado pelo fato de o processo de compreensão estar intimamente ligado com a qualidade da interação entre a criança e o objeto, e não apenas com a existência de uma interação qualquer. Por meio dessa interação qualitativa é que seriam facilitadas as transformações dos esquemas mentais, conforme as

observações dos estudos de Jean Piaget. Entretanto, VALENTE alerta que o que vemos na prática escolar, ainda, é a prevalência da abordagem instrucionista no uso dessas tecnologias, ou seja, usam-se as novas ferramentas para continuar na ênfase de transmitir informação para o sujeito (aluno), o que mantém a prática pedagógica vigente e pouco colabora no caminho em busca da formação reflexiva e voltada para o compreender:

O objetivo da introdução do computador na educação não deve ser o modismo ou estar atualizado em relação às inovações tecnológicas. Esse tipo de argumentação tem levado a uma subutilização do potencial do computador que, além de economicamente dispendiosa, traz poucos benefícios para o desenvolvimento intelectual do aluno. (VALENTE, 1993, p.29)

SACRISTAN E GÓMEZ (1998), ao dissertarem sobre a apresentação dos conteúdos e dos materiais na educação, em sua visão de currículo escolar, reforçam as constatações de VALENTE. Uma parte do problema parece estar ligada à intenção de criar mais uma especialidade, desvinculada das disciplinas já existentes: o de especialista em informática. Nessa ótica, estar-se-ia apostando numa nova vertente da educação tecnicista, fragmentando mais o conhecimento com a criação de novas disciplinas técnicas. Se for essa a opção, as novas tecnologias não seriam muito úteis para avançar no campo metodológico:

Nunca as técnicas de reprodução e toda a tecnologia da comunicação divulgaram tantos meios de expressar idéias e mensagens sob diferentes formas, nem seus comunicados alcançaram tantos homens, enquanto a instituição escolar continua aferrada à forma de produção dos copistas. O debate dos materiais didáticos e das novas tecnologias entra na escolaridade como conteúdo de oficinas e de atividades paracurriculares ... mais do que como meios para utilizar em quaisquer das preexistentes. Quando se incorporam, é freqüente que o façam a serviço da metodologia dominante, como recursos mais para o uso do professor ... Questionar o papel que os meios desempenham é discutir a atividade para que servem e vice-versa. (SACRISTAN E GÓMEZ, 1998, p.290)

Nesse aspecto, MCLUHAN (1964) veria que nada mudou na validade das afirmações que fazia na década de 1960: ele acreditava que as novas mídias, ao aparecerem, veiculam

os mesmos conteúdos anteriores, com poucos questionamentos ou inovações, pois ficam presas aos paradigmas existentes e tornam-se ferramentas à disposição da continuidade de seus valores e práticas.

Mas VALENTE (1999) entende que no Brasil, diferentemente de França e Estados Unidos, a informática na Educação tem um histórico de intenções integradoras, fundamentadas em pesquisas e ações acadêmicas voltadas para a busca de mudanças na prática pedagógica (p.2-5). Na França, que começa seus programas de informática na educação no início da década de 1970, incluindo a formação de professores de seus Liceus para isso, as ações não tinham como objetivo mudanças na prática pedagógica, mas sim a mera “preparação” do aluno para ser capaz de usar a tecnologia da informática. A informática educacional na França fracassou, porque o governo escolheu materiais da pior qualidade, fracamente interativos e inadequados para uso pedagógico, ao mesmo tempo apostando num modelo de formação de professor para mero uso técnico da máquina (LÉVY,

1993, p.9). Ao responder à pergunta “a informática deve ser objeto de ensino ou ferramenta do processo de ensino?”, a França escolheu a primeira opção.

Esta é uma questão que está dentro das três vertentes educacionais possíveis para o uso do computador na escola: a) estudar a informática e o computador como disciplinas próprias da matriz curricular (visão muito comum até um passado recente, nascida da demanda de formação para o mercado de trabalho, mas que ainda prevalece em muitas escolas); b) estudar o computador como máquina de ensinar conteúdos disciplinares (o que está mais para uma visão instrucionista ou “skinneriana” de educação; também como um “fordismo” aplicado a propostas de ensino massificadas); c) usar o computador como instrumento auxiliar ao pensar e ao fazer (nesse sentido, uma ferramenta de apoio pedagógico dentro do processo de ensino-aprendizagem adotado, que pode assumir diferentes características, mas que é mais difícil de se conseguir por conta dos paradigmas existentes).

Aceitando a vigência da dita era da informação, concretizada numa sociedade que vive em rede, o papel do professor contemporâneo não pode ser mais o de mero

transmissor de informações, visto que estas podem hoje ser acessadas pelos educandos de inúmeras maneiras, dentro e fora do espaço escolar. Habilidades técnicas ligadas a operar o computador são, hoje, obtidas pelas crianças e jovens fora da escola. Para a escola, a incorporação de novas tecnologias deve estar ligada à intenção de transformar o processo educativo e de desenvolvimento sócio-humanístico, e nesse aspecto, tornar o tema um novo assunto a ser estudado certamente não irá colaborar para isso. É necessário que se faça destacar, na formação e na prática do educador, seu papel de mediador, planejando e articulando ações e sabendo dispor dos recursos cabíveis para alcançar seus objetivos. VALENTE (1993; 1999), nesse aspecto, tende a valorizar o uso da informática dentro de projetos escolares, de preferência interdisciplinares, por entender que estes são capazes de mobilizar uma maior integração de conhecimentos, sem se prenderem à mera utilização técnica do instrumento.

Mário Sérgio CORTELLA (1995), ao discursar sobre as posições extremas que muitos

educadores tomam quando enfrentam a questão das novas tecnologias na educação, indo do medo à idolatria, afirma que a informática é um instrumento e um método, mas que não pode nunca ser tomada como uma finalidade, como muitas vezes se faz. Trata-se de uma ferramenta pedagógica que só surte efeito positivo se inserida dentro de um projeto pedagógico competente. MASETTO (2004) confirma isso e acrescenta que a solução está em pensar primeiro a que tipo de educação está-se referindo, para depois concluir sobre o papel das tecnologias dentro dessa escolha:

pode-se concluir que é impossível dialogarmos sobre tecnologia e educação, inclusive educação escolar, sem abordarmos a questão do processo de aprendizagem. Com efeito, a tecnologia apresenta-se como meio, como instrumento para colaborar no desenvolvimento do processo de aprendizagem. A tecnologia reveste-se de um valor relativo e dependente desse processo. Ela tem sua importância apenas como um instrumento significativo para favorecer a aprendizagem de alguém. Não é a tecnologia que vai resolver ou solucionar o problema educacional do Brasil. Poderá colaborar, no entanto, se for usada adequadamente... (2004, p.139)